Chuva de Lágrimas escrita por Skadi, Ana Gomez


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Ei pessoal, aqui é a Jaci, tô dando uma passadinha bem rápida só pra explicar: a Ana não tá conseguindo abrir o site, então estou postando no lugar dela. Mas ela mandou essa mensagem para vocês.

"Ei, tudo bem com vocês? Aqui é Ana Gomez. Ainda não tinha aparecido aqui nas notas, mas respondi alguns dos seus comentários hoje (falando nisso: SUAS LINDAS!) Aqui tem mais um capítulo, não deixem de comentar se gostaram ou não. Eu e Jaci, estamos muito felizes que vocês estão nos acompanhado. Beijos."



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— Senhora...

Sua voz estava rouca, a garganta doía e foi difícil engolir o que resultou em um acesso severo de tosses.

— Por favor, não chegue perto! — havia tanto pânico na voz da mulher, um medo que a fez arregalar os olhos.

Ele deixou que a dor no peito e a falta de ar o dominassem momentaneamente, deixou seu corpo se curvar e as mãos se apoiarem nos joelhos. Ele já estava acostumado com olhares cheios de nojo, desdém, asco e todos os seus sinônimos, mas o medo era algo novo. Entendia, claramente, que sua aparência não devia ser uma das melhores, e bem, seu cheiro não era agradável nem mesmo para seu próprio nariz. Tudo que queria era se livrar do frio que chegava até seus ossos.

— N-Não v-vou roubar você — o ardor da febre mexeu com seus pensamentos, desespero se acumulou e saiu em forma de risada. — E-Estou com frio. Faço qualquer coisa, o que a senhora quiser. Basta dizer e farei. Apenas... Apenas me dê um cobertor. Está tão f-frio.

— Um cobertor? — ela repetiu. Ele apenas balançou a cabeça acima e para baixo, sua garganta queimava. — Hnm... S-Sim.

— Senhorita Swan? — a voz soou ao mesmo tempo em que uma forte luz foi direcionada até seus olhos.

Isso dói, ele pensou indignado. Não era um ladrão, muito menos um assassino. Não havia necessidade de deixa-lo cego. Com dificuldade, devido ao ombro machucado, levantou as mãos para proteger os olhos.

— Ele está lhe incomodando, senhorita? — era um homem que falava, dono da voz que soou antes.

— Está tudo bem, Phill — a mulher respondeu ao mesmo tempo em que a forte luz direcionada ao rosto do maltrapilho diminuía. — Ele só quer um cobertor para afastar o frio.

Talvez tenha sido um erro sequer se aproximar da mulher, talvez se tivesse simplesmente continuado no meio fio... Os “talvez” começavam a surgir em sua cabeça, isso não o alegrava. Na verdade o deixava ainda mais desesperado do que antes.

Agora, sentado apoiado no muro da propriedade daquela mulher que sentira medo, mas que ainda assim tinha aceitado lhe dar algo para se proteger do frio, ele se perguntava o porquê dela ter feito isso. Por quê?

Todos os outros a quem ele pediu ajuda sempre viraram suas caras, com seus narizes empinados como se fossem os reis do mundo, e o deixaram com as mãos estendidas e com as palmas abertas na espera de uma coisa que nunca aconteceria. O homem é uma raça impiedosa, ele sabia disso na pele. Vivenciava tal afirmação todos os dias. E era horrível e escuro e solitário.

— Não perca sua fé, filho. O Senhor tem planos para você — um Padre havia lhe dito em um dia qualquer. — Tenha fé.

Se ao menos tivesse tido a coragem de dizer que fé não faz a dor no estômago ir embora, que a fé não faz um teto e roupas quentes surgirem do nada. Mas não o fez. Não o fez e no dia não sabia o porquê de não ter falado tais pensamentos macabros para o senhor bondoso que apenas queria confortá-lo. Não o fez porque lá no fundo, enterrado em sua alma e próximo às memórias perdidas, ele tinha fé. Talvez Ele mandaria um de seus anjos para cuidar dele.

Sonhos, esperanças, coisas que não o levariam a lugar nenhum, mas que eram seus mais preciosos tesouros.

Jake latiu e se levantou. A chuva continuava a cair forte e o vento aumentava.

♦ Momento atual. ♦

Isabella se aproximou com cautela. Ele provavelmente já devia estar apavorado depois do breve encontro com Phill e não era sua intenção deixa-lo ainda mais assustado. Só queria ajuda-lo, apenas isso. Mas antes que conseguisse sequer chegar perto dele viu que havia um cachorro, completamente molhado, que rosnava e até chegou a latir para ela.

O medo momentâneo a fez travar, já tinha sido mordida por um cachorro antes quando foi para um pavilhão militar, a experiência a deixou ligeiramente traumatizada e a dor. Bem, não estava nem um pouco ansiosa para senti-la novamente.

O animal parecia ser feito apenas de osso e pele de tão magro. Assim como seu dono devia estar por baixo de todos aqueles panos velhos e acabados que chamava de roupa. Eles não deviam fazer uma refeição decente há dias.

Seu coração se contorceu e começou uma batalha contra si mesmo. O certo seria lhes dar alimento e um abrigo aquecido pela noite, não deixa-lo à mercê da sorte. Mas estava sozinha em casa e... Não, esqueceria os diversos “e” que circulavam seus pensamentos e agiria corretamente. Seria errado permitir que os dois sofressem naquele frio.

O homem, aparentemente inquieto, se esforçou para levantar. Isabella supunha que o braço esquerdo deveria estar machucado, havia notado a posição estranha com a qual ele pendia do ombro mais cedo, sem contar que a chuva forte o deixou ensopado o que deve ter resultado em uma febre. Ele tentava acalmar o cachorro ao seu lado o melhor que podia, uma tarefa difícil, mas que foi completa após algumas palavras carinhosas.

Então ele se virou e olhou para ela, e depois para o cobertor ainda seguro em seu braço.

— Desculpe, senhora — sua voz estava mais rouca agora e ele parecia forçar as palavras para fora. — Jake só queria me proteger.

— Não precisa se desculpar — ela sorriu um pouco, descendo o olhar para a bola de pelos molhados e escuros. — Então o nome dele é Jake?

— Sim — ele balançou a cabeça.

O silêncio entre os dois reinou por alguns segundo, desconfortável.

— Não sei se é certo o que vou fazer agora, mas... — murmurou para si mesma, trocando o peso do corpo da perna direita para a esquerda. — Venha, entre e tome um banho. Pode comer algo e depois descansar. Esse cobertor não vai ser de muita ajuda se continuar chovendo assim.

— Agradeço, mas eu não posso — ele a olhou diretamente, com tanta honestidade que Isabella engoliu em seco.

— O quê? — a surpresa estava presente não só em sua voz, mas também em seu rosto. Os lábios entreabertos e os olhos verdes arregalados.

— Não seria correto — ele deu de ombros —, e tem o Jake também. A senhora não precisa se preocupar, vamos...

— Prefere pegar uma pneumonia então? — um brilho esperançoso passou rapidamente pelos olhos dele a deixando curiosa e fazendo com que o choque se dissipasse.

— N-Não — ele respondeu. A tosse tinha voltado, e o corpo dele era sacudido por violentos tremores. Isabella deu um passo para frente, o impulso a fazendo agir sem pensar. O cachorro latiu e rosnou e ela parou no lugar.

Ele devia estar mais doente do que tinha imaginado de início. Não podia deixar esse homem ali.

— Certo. Traga ele... Jake, certo? — um aceno de cabeça confirmando. — Está ficando mais frio.

Isabella se virou e fez o caminho de volta.

— Obrigado — a voz rouca falhou, mas ela conseguiu ouvir apesar da chuva. Um sorriso iluminou seu rosto.

Claro que sabia que o que estava fazendo era muito arriscado. Quem em santa consciência levaria um morador de rua para dentro de sua casa no meio da noite? Ainda mais quando vivia sozinha. Só que não se arrependia, estava fazendo a coisa certa. Do que adiantaria ter entregado a ele o cobertor se ele não teria um lugar seco para dormir?

Ele tropeçou e se desiquilibrou no decorrer do caminho até a casa, mas encontrou força suficiente para continuar. Ainda estava um pouco desconfiado da situação, surpreso, agradecido, mas ainda assim desconfiado.

Besteira, tinha pensado, não tenho direito de ficar desconfiado quando milagres estão acontecendo.

Então ele continuou a seguir a mulher, sem dizer nada, e com Jake em seus calcanhares.

Isabella deixou o guarda chuva vermelho na entrada e também seus tênis, um hábito desnecessário, mas que não conseguia abandonar. Colocou a senha de acesso no pequeno painel eletrônico e escutou o som da porta destravando.

— Sejam bem vindos — a saudação foi sincera e ela se escorou na porta, para sair do caminho e deixá-los entrar. Como uma criança, sentiu vontade de dar uma risada ao ver a expressão maravilhada dele. Seus olhos estavam bem abertos, como se tudo fosse sumir se ele os deixasse um pouquinho mais fechados.

Quando ele colocou os pés no piso de mármore e estava completamente dentro da casa, Isabella ficou observando a cena contraditória que ele formava. A decoração de sua casa era luxuosa, clássica e, em sua maioria, branca e o contraste entre toda ela e o homem olhando ao redor era gritante. Uma peça de quebra cabeça sendo encaixada em uma paisagem a qual ela não foi projetada para pertencer. Era triste, angustiante, fazia seu coração doer. Era um tanto poético também, se ela parasse para analisar. As roupas que ele usava pareciam ser todas pretas de tão encharcadas que estavam — ela tentou imaginar quais teriam sido as cores originais e falhou —, e pingavam, assim como o pelo do cachorro. Não que estivesse se importando, poderia muito bem passar um pano ali mais tarde e o problema seria resolvido.

— Venha, vou mostrar seu quarto — ela chamou, fazendo sinal para que ele a acompanhasse até um dos quartos de hóspedes. Jake os seguia de perto. — Vocês podem ficar aqui — ela abriu as portas duplas e moveu a mão para que ele entrasse.

Ali o conceito era diferente do resto da casa, todos os quartos de hóspedes eram mais simples, delicados. A intenção era fazer a pessoa que dormisse neles se sentir confortável e tranquila.

— Aquela porta ao lado da janela é o banheiro, shampoo e sabonetes estão perto do chuveiro e as toalhas no armário abaixo da pia. Vou estar na cozinha fazendo algo para comerem, quando terminarem é só descer o corredor, virar a primeira direita e depois à esquerda.

Sem esperar pela resposta, que tinha consciência de que não receberia, ela saiu e fechou a porta. Sua respiração saiu um pouco trêmula e o coração parecia um tambor. Isabella endireitou os ombros e seguiu o mesmo caminho que tinha acabo de ensinar para o homem.

O som da madeira encontrando madeira enquanto a porta se fechava, apesar de baixo, foi o que o despertou do transe maravilhado em que se encontrava. Olhou para o cômodo com seus móveis de madeira escura e reluzente, para as cortinas de cor cinza como o céu havia ficado mais cedo minutos antes do temporal começar, para as cobertas brancas como a neve e de aparência aconchegante. Estava sonhando, sim, era tudo um sonho conjurado por sua mente febril e demente. Nada disso poderia ser verdade, coisas assim não aconteciam a pessoas como ele.

Mas quando tocou, com receio, a parede pintada em um leve tom de azul seu coração se acelerou. A respiração ficou difícil e a garganta doeu quando a gargalhada saiu. Seus olhos ficaram rasos em lágrimas e ele os limpou rapidamente, com medo de que se piscasse tudo desaparecesse.

— É de verdade, Jake — ele gaguejou, se abaixando e abraçando o cachorro. — É de verdade.

Enquanto pôde, manteve os braços ao redor do amigo, mas o fedor que ambos começavam a exalar agora que estavam um pouco mais secos revirou seu estômago já sensível. Apoiou-se em um dos braços para poder levantar e imediatamente gemeu de dor. Tinha esquecido que estava machucado. Fez um pouco mais de esforço, mas atingiu seu objetivo. Desajeitado começou a se movimentar, a respiração difícil e o frio aumentando.

Teve cuidado ao andar pelo piso bem polido, suas botas ainda estavam molhadas e ele tinha certeza que deixava um rastro de pequenas poças com água meio marrom. Desviou do tapete felpudo na cor creme ao lado da cama de casal de proporções monstruosas, esbarrou sem querer em um vaso de vidro — cristal, mas ele não sabia — e com muita sorte conseguiu segurá-lo antes que um desastre acontecesse. Assim que o colocou no lugar, a porta se abriu e lá estava a mulher, o anjo de cabelos escuros e olhos cansados, que o havia tirado da escuridão das ruas e lhe colocado em um mundo claro e branco, entrou novamente no quarto.

— Oh... Achei que já tivesse ido tomar banho — ela falou.


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Notas finais do capítulo

Oi galerinha! Jaci aqui. Espero que tenham gostado do capítulo. Sintam-se livres para apontar qualquer erro ou criticar (construtivamente, certo?). Estamos aguardando vocês no próximo capítulo.
Obrigada por todos os comentários amáveis e as palavras gentis e carinhosas. Nem chegamos ao capítulo cinco ainda e temos tantas de vocês nos acompanhando e visualizando a história. Nos sentimos as escritoras mais orgulhosas por termos pessoas tão especiais conosco.
Um beijos na testa de cada uma.
Com amor,
Jaci ♥