13º Instituto Remanescência escrita por Vico


Capítulo 20
Capítulo 20 - Casaco




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Estava escuro e apertado. Abaixo, suas costas encostavam em algo duro. Acima, suas mãos tateavam algo gelado. Era metal. Havia objetos por todo o lugar, alguns pontiagudos, outros esféricos. Objetos de todas as formas sobre si. Rafaela tenta empurrar a superfície metálica no alto, mas nada acontece. Ela começa a se lembrar. Havia se escondido no armário e permanecido lá por um tempo. Depois ouviu barulhos de tiros e uma explosão. Depois disso, sentiu o armário despencar. Após isso, havia apagado.

Estava no armário nesse momento e precisava sair dali. Passou a empurrar com força a parede de metal a sua frente, mas as portas não abriam. A garota se vira um pouco, seu corpo tocando desconfortavelmente os objetos dentro do armário, e fica de bruços. Ela tateia a superfície metálica abaixo de si até encontrar um pequeno trinco preso no centro do armário. Ali era a porta. A porta estava contra o chão e ela não fazia ideia de como sair daquela situação.

O desespero começou a tomar conta da garota. Aos poucos, seus olhos começaram a ficar marejados e vermelhos. Sua respiração lentamente se tornava mais ofegante. Estava cada vez mais difícil respirar ali dentro. Cada vez mais impossível. Em segundos, Rafaela já estava desferindo socos e chutes desesperados dentro do armário. Se contorcendo freneticamente a ponto de nem sentir as dores que cada objeto ali dentro lhe causava.

Ela só parou de se debater quando desabou em lágrimas. “É assim que eu vou morrer? Presa aqui dentro? Eu sou uma idiota” eram sentenças que se passavam em sua mente de diversas formas. A garota colocava a mão no rosto e o pressionava enquanto suas lágrimas escorriam.

Depois de um tempo, desistiu de chorar. Estendeu os braços ao longo do corpo e apenas respirou. Refletindo sobre sua situação. Pensou em diversas soluções para sair daquela prisão e começou a tatear, a procura de algum artefato que a pudesse ajudar.

Não demora e ela encontra o que precisava. Não enxergava o que era, mas podia sentir com a mão que era algo com um cabo talvez de madeira e uma haste metálica que terminava em uma ponta levemente afiada. Rafaela segura no cabo do objeto e o leva até sua outra mão. De maneira determinada, encosta a lâmina sobre seu pulso e respira fundo. Pressiona a lâmina levemente, de forma a afundar sua pele, mas na primeira sensação de dor afiada, desiste.

Ela larga novamente as mãos ao longo do corpo, deixando cair o artefato. A garota balança a cabeça como em negativa e desaba em choro novamente.

Ela começa a gritar e espernear. Batendo em todas as partes do armário. Enquanto isso, tateia o local novamente em busca do objeto que acabará de manusear. Ao achá-lo, o leva novamente ao pulso e o pressiona contra a pele. Um filete de sangue começa a escorrer e ela chora ainda mais. Um choro angustiante de criança, como uma birra que não causa antipatia. Ela desiste novamente de concluir o corte no pulso, mas leva a lâmina até a palma da mão e a pressiona forte contra a pele até que o sangue comece a escorrer por seu antebraço.

Cada gota do líquido começa a pingar na superfície metálica da porta sob a garota e a se espalhar vagarosamente no tecido de suas vestes. Ela grita e chora, fazendo um barulho tão alto que só foi superado por uma batida no metal do armário. Uma batida na lateral. Rafaela cessou seu ímpeto de desespero naquele momento. A batida fora na parte externa.

O armário lentamente começou a se mover, arrastando-se pelo chão. Depois começou a ser erguido, na parte próxima a cabeça da garota, por alguns poucos centímetros, mas caía logo em seguida. Alguém estava tentando levantar o armário, pelo que Rafaela pôde entender. A garota ficou quieta, apenas enchendo a atmosfera dentro do armário com nervosismo e tensão. Ela sabia que o silêncio não ia despistar sua presença ou evitar que quem quer que estivesse tentando levantar o armário soubesse que ela estava ali dentro. Esse alguém já sabia e estava tentando tirá-la de lá. Talvez para ajudá-la, talvez para devorá-la.

Rafaela não estava conseguindo raciocinar. Cada pancada que o armário fazia no chão dispersava seus pensamentos e ela logo tinha que recobrá-los para bolar alguma forma de sair daquela nova situação.

Era difícil se concentrar. Ela nunca foi de se manter calma em situações de muito estresse e ela sabia disso. Precisava se controlar. Precisava pensar com calma. Era apenas uma única pessoa que estava ali tentando levantar o armário. Pelo menos é o que se podia imaginar devido à dificuldade que estavam tendo. Ela estava conseguindo se concentrar. Estava pensando. Qual seria o próximo passo?

Sendo só uma pessoa, as chances de escapar seriam altas. Só restava esperar enquanto tinha em mãos algo para se defender. O objeto que usara há pouco tempo para cortar sua mão. Ela passou a respirar. Seu foco era manter-se calma.

         De repente, o armário para de bater constantemente no chão. Tudo fica em silêncio por alguns vários segundos, até que o a garota considerava seu caixão até pouco tempo começa novamente a ser erguido, dessa vez pelo lado direito. Ele não despenca dessa vez. Apenas começa a ir lentamente para a posição lateral. Dentro dele, os vários objetos começam a se mover graças à gravidade, indo para o novo fundo do armário. O mesmo não ocorre com o corpo de Rafaela.

         A medida que o objeto é levantado, seu corpo empurra as portas abrindo-as lentamente. Logo ela está fora do armário, deitada sobre uma das portas e sobre um das laterais dele. O caos se instaura novamente.

         A pessoa que estava levantando o armário se joga contra ela, chegando a arranhar sua pele. Rafaela luta contra o agressor desferindo golpes com o objeto que estava em sua mão. Na luta, os dois giram pelo chão da sala até que as costas da garota colidem com as pernas de uma das mesas de alunos. Ela não para de atacar. Sente que conseguiu furar alguma parte do corpo do agressor e tenta se afastar para ter mais espaço e reagir.

A luta começa a ocorrer debaixo da mesa. Os dois derrubam cadeiras e se agarram. Rafaela sente seu cabelo ser puxado e empurra para cima o agressor, que bate as costas na parte de baixo da mesa, mas ele logo revida apertando o pescoço da garota. Ela o empurra novamente para cima e ele bate as costas na mesa. No movimento, puxa a garota pelo pescoço e a faz bater a nuca no chão.

Eles continuam desferindo golpes desgovernados um contra o outro, empurrando a mesa e fazendo-a sair do lugar. Algumas cadeiras viram e caem no chão. Rafaela sente seu ombro bater em algo. Depois sente sua lâmina perfurar a carne do seu agressor novamente.

Após isso, Rafaela ataca a cabeça do seu inimigo, sentindo a lâmina entrar em seu crânio até que o cabo de madeira se choca com o osso e não consegue mais penetrar o rival.

Não demora até ela perceber que a luta acabara. Ela sai de debaixo da mesa e se levanta lentamente. A iluminação no local é precária, mas ela consegue distinguir alguns objetos. Livros pelo chão, cadeiras pela sala, a mesa do professor ao centro e um casaco aos seus pés. As listras são quase imperceptíveis, mas estão lá.

— É o casaco de Vico... – ela diz para si mesma.

Ela pega a vestimenta do chão e se veste, cobrindo os dois braços que não paravam de sangrar. Ela veste o capuz do casaco, na intenção de se sentir acolhida e começa a caminhar para fora da sala. Seus olhos ainda cheios de lágrimas.

Ela chega à porta e cautelosamente olha para o corredor. Não vê nenhuma movimentação, apenas destroços de vidro, metal e cerâmica e mais à frente alguns corpos.

Ela novamente tenta manter o foco e a calma para raciocinar. “São Cranks, pelo que parece. Deviam estar perseguindo alguém que foi naquela direção. Talvez perseguindo as pessoas que estavam aqui comigo. O professor falou sobre um ônibus no Bloco F. Eu devo seguir por essa direção”, ela pensa.

Com muito cuidado, ela começou a caminhar pelo percurso por onde passaram os garotos mais cedo. Passou pelos corpos, inclusive o do Crank vigia; passou pelo corredor com os laboratórios de mecânica logo abaixo; passou pelo corpo de Débora Santos, embora não a tenha reconhecido; passou pela escada fechada com armários, onde Cranks gritavam e batiam no metal; caminhou como se estivesse em outra dimensão. Era como se estivesse tonta, com a vista escura. Andava sem conseguir notar direito o que estava ao seu redor e com a sorte de não se deparar com mais nenhum Crank. O casaco chamativo listrado preto e cinza não conseguia atrair nenhum olhar naquele momento, por incrível que pareça, mesmo com suas orelhinhas no capuz.

A vista da garota estava turva. Alguns pontos de luz se moviam ao seu redor. Os objetos parecendo girar. Isso tudo se aliava a uma vontade de vomitar. A garota andou mais um pouco até que se viu em um banheiro.

Ela se apoia na pia. Liga a torneira e passa água no rosto. Respira fundo e levanta a cabeça. Ao olhar para a frente, se depara com o espelho e vê alguém. Aquela visão a faz sorrir, deixando-a tranquila a ponto de falar:

— Finalmente encontrei alguém em quem posso confiar!


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