13º Instituto Remanescência escrita por Vico


Capítulo 21
Capítulo 21 - Janelas




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         Dentro da sala estava escuro, como todos os outros lugares da escola. Talvez tivessem despistado os Cranks. Talvez não. De toda forma, era mais seguro ficarem escondidos atrás das mesas e armários de madeira. O local não era nem um pouco seguro, a porta de vidro não impediria ninguém de invadir o lugar.

         De onde estava, Cláudio conseguia ver a porta de vidro, embora fosse difícil distinguir o que estava além dela. Observava por cima de um pequeno armário de madeira, enquanto Vitor e Juliana estavam atrás de uma mesa, atentando por baixo a qualquer movimento que surgisse próximo à porta. Luiz estava mais ao fundo da sala, abaixado no canto. Andreia e Adrielly estavam atrás de um armário perto do fim da sala.

         Havia outras áreas na sala além de onde estavam os seis. O local era dividido por placas de madeira, plástico e vidro, de modo a existirem vários departamentos, cada um com suas mesas, cadeiras e armários.

         Estavam parados ali por um bom tempo. O suficiente para a muralha parar de se elevar. Tudo estava silencioso. Havia apenas zumbidos dos barulhos que ocorriam em outros lugares distantes da escola. Talvez a respiração de cada um deles também contribuísse para o som sem forma, mas onipresente e suave.

         Os olhos de Cláudio não se desviavam da porta. Assim como os de Vitor e Juliana. Os demais apenas esperavam o momento certo para sair daquela sala e ir para o local desejado: o gerador. Era o plano inicial, desde antes de o grupo maior se separar no caos gerado pelos Cranks.

         A escuridão incomodava os garotos. Luiz cogitou várias vezes acender o Workpad, mas sabia que, se o fizesse, poderia entregar a localização do grupo. Esperaram mais um pouco até que Cláudio sussurra:

         - Já esperamos o suficiente. Eles devem estar distantes.

         - É a melhor hora para sairmos daqui e irmos ao gerador. – Adrielly sussurra de volta.

         Todos concordam.

         Em silêncio, eles vão seguindo para a porta. Juliana, que estava abaixada atrás da mesa mais próxima, se levanta e vai na frente. Seguida por Cláudio, que sai de detrás do armário, Luiz, Andreia e Adrielly, respectivamente, em fila indiana. Vitor começa a sair do esconderijo para se unir à fila no momento que Juliana toca a maçaneta da porta.

         Com a mão direita, Juliana segura a pequena furadeira que pegou no laboratório de física, com a mão esquerda, ela gira a trava que tranca a porta por dentro e lentamente começa a girar a maçaneta, quando um som espalhafatoso de gritaria passar pela porta, assustando os garotos. Eles se retraem e entram em posição de combate, mas o som se afasta. Fora apenas um Crank que passou correndo divertidamente pelo corredor indo mais a fundo do Bloco A.

         Todos respiram forte depois do susto e agradecem por seu espanto não ter sido muito audível. Eles decidem esperar um pouco mais para tentar abrir a porta novamente. Ficam parados na formação em que estavam, olhando fixamente para a porta. Nada acontecia até que lentamente alguém se encosta no vidro e tenta olhar o que havia lá dentro. Juliana se apoia na parede para evitar ser vista. Os demais tentam fazer o mesmo da maneira mais calma possível.

         É difícil identificar quem está na porta olhando o interior da sala, mas os garotos subentendem que é uma ameaça. A pessoa encosta as duas mãos na porta na tentativa de empurrá-la e percebe que ela está fechada. Juliana vê a pessoa encostar a lateral do rosto no vidro para olhar melhor o que há dentro da sala. Ela vê com dificuldade a parte de trás da cabeça ensanguentada de alguém. A garota fica nervosa com a situação. Observa atônita aquela pessoa ali, à espreita. A jovem fica tão chocada que não chega a notar a maçaneta começar a se mexer lentamente. Em um movimento abrupto e silencioso, Juliana leva a mão até a trava que só existe na parte de dentro da porta e a gira, fechando o trinco. A maçaneta gira lentamente até seu limite e depois começa a se mexer de maneira frenética. A pessoa chega a gritar e bater no vidro com a palma da mão.

         Cada um daqueles sons era uma facada no coração dos garotos, mas a tortura não se prolonga. Logo o silêncio se instaura novamente no lugar. Eles esperam mais um pouco e nada acontece. Mais silêncio. Juliana move a mão esquerda lentamente em direção à trava, segurando a furadeira com a mão direita próximo à porta, se precavendo. Seu polegar e seu indicador seguram a trava e ela a gira devagar. O silêncio é tamanho que se ouve um estalido metálico quando o trinco destrava a porta. Ela leva a mão à maçaneta e a segura com firmeza. Após uma respiração, ela começa a girar a o cilíndro quando, de repente, alguém faz isso por ela, de maneira indelicada e violenta.

         No segundo seguinte, a porta está se abrindo. Um Crank entra rapidamente na sala puxando a primeira coisa que viu pela frente: o braço de Juliana. O movimento faz a garota se desencostar da parede e ser puxada para perto do Crank, que tenta agarrá-la. Nesse tempo, os outros têm uma reação e partem para cima dos dois, na tentativa de afastar o Crank. Andreia acende o Workpad que carregava para iluminar o local. Cautela não era mais necessário naquele momento. Luiz chuta o joelho do Crank, que cai para trás. Por estar tendo seu braço segurado com muita força, a garota o acompanha. O Crank bate a nuca na mesa próxima antes de chegar ao chão. Ouve-se um barulho agudo de motor e de rotação que significa que Juliana ligou a furadeira em sua mão, mas seus braços então presos e é difícil atacar o Crank com a arma naquela situação. Os dois se debatem no chão frio da sala e Juliana se esforça para mover os braços enquanto grita:

         - Me larga, seu idiota! Imbecil! Estúpido! Eu te odeio! Me larga! Eu te odeio!

         De repente, algo começa a puxar os dois mais para debaixo da mesa. Vitor estava mais atrás puxando o Crank pelo pescoço, pressionando seu maxilar de maneira que ele não pudesse mexer a boca.

         - Tragam a furadeira aqui! Rápido! – grita o garoto.

         Nesse momento, Juliana solta a furadeira. Rapidamente, Luiz pega a arma e se dirige a Vitor. Lá fora, um som de algazarra começa a se tornar audível. Adrielly, Andreia e Cláudio colocam a cabeça para fora da sala para verem um grupo de Cranks dobrando o corredor no fim do Bloco A e correndo em sua direção.

         - Rápido! Precisamos sair daqui logo! – grita Adrielly.

         - Fura o cérebro dele, Luiz! – Vitor grita.

         Luiz fica sem reação. Não conseguiria enfiar aquilo na cabeça de quem quer que fosse.

         - Luiz! – Juliana grita.

         - Eles tão se aproximando! – grita Andreia.

         - Na cabeça, cara! Não tenha medo! É um Crank! – Vitor tentava dar forças ao garoto.

         - Eu não... – Luiz tentava explicar enquanto suava frio.

         - Luiz! Por favor! – Juliana gritava em um misto de raiva e dor. A pele dos seus braços estava sendo rasgada pela unha do Crank.

         Vitor tenta resolver o problema pegando a arma da mão do garoto. Com o movimento, o Crank morde um dos seus braços antes de ter seu cérebro perfurado pela furadeira.

         - Agora vamos! – diz Adrielly saindo da sala, após ver o corpo do Crank ficar estático.

         Cláudio puxa a garota de volta para a sala, fazendo-a cair sentada perto do corpo do Crank. Ele empurra a porta para fechá-la e gira a trava. A garota olha para ele confusa e furiosa.

         - Não ia dar tempo. – ele fala para ela, exatamente no momento em que vários Cranks começam a bater na porta atrás de si.

         Todos ficam assustados com a situação na qual acabaram de se meter. Não havia mais como sair pela porta naquelas condições.

         - Vamos pelas janelas. – Cláudio fala para o grupo em um tom que significava uma ordem e não uma sugestão. Ele precisava agir. Havia se cansado de apenas observar e seguir ordens. Tinha certeza que seu plano daria certo e que conseguiria tirar todos dali.

         - Não conseguiremos sair. – diz Adrielly.

         - E se tiver algum Crank à nossa espera do outro lado? – completa Andreia.

         - Não conseguimos passar pelo espaço do basculante, mas passamos pelo espaço do vidro se o quebrarmos.

         - Vamos nos cortar! Isso não vai dar certo! – diz Juliana.

         - Esse vidro é temperado... mas mesmo assim, pode não ser uma boa ideia. – responde Adrielly, ainda incerta quanto ao plano.

         - Então enquanto vocês bolam um plano melhor, eu vou colocar o meu em ação. – diz Cláudio se afastando da porta. – E acho bom colocarem algumas coisas na porta para atrasá-los.

         Cláudio corre pela sala, passando para outro departamento. Ele abre as persianas das janelas e vê o vidro. O garoto pega um objeto metálico de decoração e quebra o vidro. Vai quebrando cada pedaço até que haja apenas o espaço vazio. Enquanto isso, os outros colocam mesas e cadeiras contra a porta de vidro, que já começa a fazer estalos.

         Juliana chega perto de Cláudio e usa a furadeira para quebrar mais outro vidro enquanto ele observa se há Cranks pela área externa. A janela dava direto em uma caminho de ladrilhos ao lado de um dos lagos da escola. Luiz, Andreia e Adrielly chegam ao departamento, seguidos por Vitor, que já cobriu sua mordida com um pedaço de pano da sua camisa. Eles fecham a porta que separa os departamentos, uma porta também de madeira, vidro e plástico.

         - Eu vou na frente. – avisa Cláudio antes de começar a passar pela janela.

         Juliana faz o mesmo pelo espaço que acabara de abrir. Está passando sua cintura pela janela quando Cláudio tem seu corpo completamente do lado de fora da sala. O garoto cai sobre alguns arbustos e logo se põe de pé. Ajudando a garota a sair também. Dentro da sala, Adrielly e Andreia se preparam para passar pela janela, enquanto Luiz olha para o chão, desolado. A porta de vidro na entrada emite um barulho de vidro espatifando. Os Cranks conseguiram quebrá-la.

         Cláudio e Juliana ajudam Adrielly e Andreia a passarem pela janela. Todos preocupados com a porta que acabara de ser aberta. Andreia tenta olhar para trás, mas Juliana pede para que ela não se preocupe e mantenha o foco em sair dali. Luiz e Vitor olham a retaguarda, para ver a situação. As mesas e cadeiras já sendo derrubadas.

         - Desculpa, cara. Eu vacilei. – diz Luiz para Vitor.

         - Relaxa. – o outro responde sem conseguir olhar em seus olhos. Observando apenas a porta e as janelas.

         Adrielly também está do lado de fora e parte para ajudar Andreia, que estava tendo dificuldades para sair. Vitor começa a passar pela janela, com a ajuda de Cláudio. Andreia agora também está do lado de fora da sala. Luiz olha para trás, nervoso, antes de ir passar pela janela. Ele vê vários Cranks já amontoados e batendo na porta que divide os departamentos. Ele passa a sua cabeça pelo espaço. Vitor já está quase fora. Depois os ombros. Vitor está totalmente fora. O tronco. A cintura. Vitor está de pé. A porta de madeira se rompe. As coxas de Luiz tocam a janela. Os cinco vão ajudar o garoto a passar. Ele é magro, não tem muitas dificuldades, mas é alto. Seus joelhos acabam de passar pelo espaço. Os Cranks correm em sua direção. Seu pé.

         Seu pé direito sai da sala. O esquerdo está sendo segurado por um Crank. Os cinco garotos puxam Luiz para fora ao passo que outros Cranks começam a puxá-lo para dentro. Luiz sente mãos passando por sua perna, sobre sua calça jeans. Algumas mãos seguram forte sua panturrilha, enquanto outras puxam seu tórax, braços e ombros para longe da sala. Os Cranks gritam. Alguns garotos gritam. A furadeira faz seu barulho característico. Vitor começa a furar as mãos que seguram Luiz. A guerra persiste até que, abruptamente, Luiz cai sobre os garotos, deixando para trás o seu sapato.

         Os Cranks gritam tentando agarrar os garotos, colocando seus braços para fora das janelas, desesperados. Alguns tentam passar pelo espaço, mas o amontoado de corpos e a impaciência os impede de conseguir. Os garotos se põem de pé e começam a se afastar dali o mais rápido possível, indo em direção ao gerador.

         - O que houve com o seu braço? – Juliana pergunta a Vitor enquanto eles correm.

         - Não foi nada grave. A furadeira pegou de raspão quando tentei furar o Crank. – Vitor responde.

         Luiz ouve a conversa e se sente triste por não ter conseguido tomar uma atitude. Ele para, se abaixa e tira o sapato que sobrou. Antes de retomar a corrida, olha para trás, para a janela por onde acabara de passar, e vê que não havia mais nenhum Crank ali.

         O grupo corre ao lado de um dos lagos da escola, passando também ao lado do pequeno estacionamento vazio. Não há muito barulho na escola, exceto por um ronco forte de um motor de carro em alta velocidade. O grupo para com aquele som peculiar e começa a observar ao redor, em busca da fonte daquele barulho.

         Não demora e eles ouvem uma estrondosa atroada. Como se tivesse acabado de ocorrer um acidente de trânsito em plena escola.


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