Embry POV

Com certeza tinha algo de muito errado com aquela garota. No minuto em que ela colocou os pés em La Push o cheiro de vampiro impregnou-se em minhas narinas como uma pulga finca-se em um cão. Mas ela não era vampira. Ouvia claramente sua respiração e seu coração batendo. Então, o que ela era?

– Aposto que ela é uma vampira. O olhar sempre atento, a pele clara e principalmente esse cheiro maldito... – disse Paul enquanto seguíamos o carro da visitante para a escola.

– O coração está batendo. Isso é loucura! – respondeu Quil. Loucura era apelido para o que estávamos enfrentando ultimamente. Desde que Jake resolveu se isolar em sua casa e afastar-se do bando, por causa de Bella, as coisas ficaram um tanto complicadas por ali. Paul sempre nos arranjava problemas pela sua falta de controle. Quil tinha acabado de sofrer um imprinting com a pequena Claire e desde então passava boa parte do tempo como babá. Ainda tínhamos o triangulo Leah, Sam e Emily, que deixava o bando ainda mais desestabilizado. Jared, Seth e eu éramos os únicos que ainda conseguiam agir racionalmente ali.

E agora, essa garota surge de um buraco, para atormentar ainda mais o nosso bando já atormentado. Quer dizer, estávamos basicamente em um impasse. Não podíamos atacá-la sem ter certeza de que ela realmente era um vampiro. E se ela fosse humana? Teríamos matado uma vida inocente por um erro bobo. Mas também não é como se pudéssemos perguntar. Se ela fosse mesmo uma humana o nosso segredo seria revelado e o caos definitivamente estaria formado.

Então, o plano de Sam era vigilância total. Não deveríamos tirar o olho dela até que tivéssemos certeza do que ela realmente era. No primeiro dia em que ela chegou, após adormecer, Jared e eu invadimos sua casa a procura de pistas. Nada. Seja lá o que ela fosse, não havia evidências em lugar algum.

Seguimos a garota por todo o caminho até o colégio. E bem, acho que ela tinha notado algo estranho, pois olhava desconfiada para todos os lados antes de entrar. Se ela fosse uma humana comum não teria notado alguém a seguindo, certo?

– Se continuarem lentos assim, vamos perdê-la de vista! – disse Paul nervoso.

– Relaxa cara, ela não fez nada até agora – rebateu Seth tranquilo. Ele parecia o único não afetado. Eu realmente invejava a ingenuidade dele. Ele sempre era muito simpático com qualquer pessoa ou vampiro, ou monstro ou seja lá o que fosse. E com aquela criatura não foi exceção. Ele tinha conversado e até a ajudado quando, após Paul esbarrar propositalmente nela, os perdemos de vista por um instante.– Não devia ter se exposto tanto assim Seth! – repreendeu Paul.

– Eu não fiz nada! Na verdade, corrigi a burrada que você fez.

– O quê?! – disse Paul avançando sobre Seth. Ele não cansava nunca?

Estávamos agora no estacionamento. Achamos melhor não ficarmos muito próximos da criatura. Aparentemente ela não era uma ameaça. Até ouvirmos um grito...

– SOLTA ELE, SEU IMBECIL! – gritou a garota estranha que estávamos seguindo.

– E quem vai me impedir? Uma pirralha como você?

– Estou te avisando. Se não soltá-lo eu juro que vou machucá-lo... – E cara, eu juro que me arrepiei quando a ouvi falando aquilo. Eu devia rever meu conceito sobre ameaça. O rosto dela definitivamente afirma que ela é uma ameaça.

– Você e mais quantos? – desafiou o grandão do time de basquete e o melhor amigo de Jake. O garoto que estava sendo agredido saiu correndo assim que viu uma oportunidade. Agora eram somente os dois. Olhei para o lado e percebi que tanto Paul como Quil estavam tremendo, prontos para se transformarem caso fosse necessário. Só tinha um problema... Qual seria a reação das pessoas ao verem dois lobos gigantes no colégio?

– Acho melhor eu ir embora – disse a garota retomando sua face quase angelical. Essa menina é muito estranha.

– Escuta aqui, garota, se acha que vai... – falou Brad a segurando pelos ombros, mas foi interrompido quando com um simples toque dela, foi arremessado para o outro lado do estacionamento, batendo fortemente seu corpo contra um carro. Tanto eu como a criatura arregalamos os olhos diante da cena. E a partir daí as coisas quase saíram do controle. Jared e Seth tentavam controlar ferozmente Paul, mas antes que ele se transformasse no meio de todos correu para a floresta.

– Quil, tudo bem? – Encarei-o antes que pudesse ter uma reação parecida com a de Paul.

– Estou bem. O que faremos agora?

A criatura caminhou até Brad e o chamou, parecia assustada com o que tinha acontecido. Ele, em resposta, apenas retorceu seu rosto em uma pequena careta de dor. A garota tentou levantá-lo, sem sucesso. E foi aí que ela pareceu nos notar. Correu os olhos de mim para Quil.

– Dá para vocês me ajudarem aqui?

Olhei para Quil, que me encarava igualmente confuso. Seja lá o que ela fosse, não nos considerava uma ameaça.

– O que houve? – perguntei observando a reação da criatura, que fez uma careta.

– Esse idiota aqui estava implicando comigo. Soquei a cara dele. Acho que foi um pouco forte demais... – Sabíamos que ela estava mentindo. E afinal quem acreditaria que uma garota pequena e frágil, conseguiria abater um cara do tamanho de Brad? – Vão me ajudar a levá-lo para enfermaria ou não?

Levantamos o rapaz com facilidade e o levamos até a enfermaria. A garota usou a mesma desculpa que nos deu para relatar o ocorrido. O enfermeiro pareceu surpreso com a resposta, mas aceitou sem perguntar muita coisa. Segundo ele, o rapaz estava bem, mas provavelmente acordaria com alguns hematomas.

A menina suspirou aliviada e agradeceu a ele antes de sair.

– Obrigado a vocês também, meninos. – Sorriu simpática. Naquele joguinho eu não iria cair. Essa garota era duas caras.

– Como é o seu nome? – Quil perguntou, recusando o agradecimento.

– Aria.

– Como conseguiu atingi-lo a ponto de derrubá-lo?

– Descarga de adrenalina... – disse dando de ombros e sorrindo marota. Não entendi exatamente o porquê daquele sorrisinho, mas me conformei com a resposta. Vendo que tanto eu como Quil a encarávamos como dois bocós, ela aproveitou a oportunidade e saiu sem dizer mais nenhuma palavra.