Jacob POV

Era incrível como passar somente um dia com Aria podia ser revigorante. Estava em casa deitado em minha cama, refletindo sobre tudo que estava acontecendo em minha vida. Passei de depressivo para alegre de uma hora para outra. E tudo isso por causa de Aria. E devo admitir que por causa de Bella também. A ideia de vê-la casada com um sanguessuga era muito para a minha cabeça. Sentia meu corpo ficar tenso cada vez que seu nome me vinha à cabeça. Sempre que pensava em Bella, era como ser arrastado para o fundo do poço novamente. E eu estava esperando que com o imprinting esse sentimento não viesse mais.

 Então, lembrei-me das palavras de Aria. “Precisa resolver as coisas com essa garota! Só assim seu coração se abrirá para outra pessoa.”

Ela estava certa. Bella ainda me abalava muito e eu precisava superar isso. Precisava resolver as coisas com ela.

Subi em minha moto, decidido a encontrá-la. Então, dirigi até sua casa em Forks, encontrando um Charlie muito concentrado, minutos depois, concertando algo em sua viatura. Chamei-o.

— Charlie!

— Jacob. Há quanto tempo!  – respondeu com as mãos sujas de graxa. – Chegou em boa hora! Pode me ajudar com isto? – Apontou para o carro.

— Sinto muito, Charlie, mas estou com um pouco de pressa. Onde está Bella? – perguntei.

— Está organizando os preparativos para o casamento – disse receoso. Ela devia estar na casa dos Cullen. Desde que decidiu se casar, ela não desgrudava mais de Edward. Revirei os olhos com aquilo. Simplesmente desnecessário.

Agradeci a Charlie e subi em minha moto novamente. Não sabia se ainda estava pronto para vê-los felizes e contentes preparando o casamento, mas eu também não queria postergar. Já que eu tinha remexido a ferida, agora, eu iria até o fim.

Minutos depois, avistei a mansão dos Cullen. Era agora ou nunca. Aproximei-me da residência, mas algo estranho aconteceu: ninguém foi me receber. Estava tudo muito silencioso. Onde eles estavam?

Entrei na casa procurando por alguém, até que ouvi um barulho da cozinha. Segui a direção do som e encontrei Bella sentada na mesa. Parecia chateada.

— Pensei que estivesse animada com o casamento – falei, interrompendo seus pensamentos.

— Jacob! – disse alegre. – O que está fazendo aqui?

— Eu preciso falar com... – Mas antes que terminasse a frase, um cheiro familiar atingiu-me. Estava distante, mas ainda assim era perceptível. A fragrância doce era dela. Aria!

Corri em direção ao cheiro, deixando uma Bella confusa para trás. O que Aria estava fazendo aqui afinal? Sentia meu corpo ferver com a súbita descarga de adrenalina, precisava me controlar. Atravessei uma pequena mata e cheguei a um campo improvisado de baseball, onde a cena em minha frente me fez perder a cabeça.

Aria estava sendo segurada por Edward e tentava soltar-se desesperadamente. Outro sanguessuga iria atacá-la a qualquer momento. Senti meu sangue ferver. Não ia deixar que eles a machucassem. Corri para o centro do campo, transformando-me no meio do caminho e chamando a atenção de todos ali.

— Jacob, não! – gritou Bella segundos depois, atrás de mim. Ataquei o vampiro sem pensar muito. Ia protegê-la!

— O QUE ESTÁ ACONTECENDO?! – gritou Aria assustada. Mas as vozes de todos ali me pareciam longe.

O sanguessuga chutou-me para longe, o que me deixou atordoado por alguns segundos.

— Aria, acalme-se – alguém disse. Ouvia sua respiração totalmente desregulada, o ar parecia faltar-lhe. E eles eram os culpados!

De repente, a vampira loira saltou em minhas costas.

— Se você machucá-lo de novo, vou arrancar sua cabeça! – gritou.

— Jacob, acalme-se. – Ele estava mesmo me pedindo para ter calma? Justo ele?

— Eu vou matar você! – gritei em resposta.

— Por que Jacob está tão descontrolado? – perguntou Carlisle assustado.

— Eles tiveram um imprinting— esclareceu Edward.

SAIA DA MINHA CABEÇA!— uivei. Livrei-me da vampira loira e corri para Aria. Ela estava sendo agarrada por mais dois sanguessugas. Precisava salvá-la! Preparei-me para atacar com os dentes afiados, prontos para abocanhar a presa.

— NÃO! – gritou Aria. Os olhos azuis brilhavam assustados. Então, uma ventania muito forte impediu-me de continuar.  Senti minhas patas saírem do chão e quando dei por mim, já estava longe deles.

Olhei-a assustado. Ela tinha feito aquilo? Ela era um deles? O que estava acontecendo?

Ela não é humana, Jake, Embry disse em minha mente.

Ela não era humana? Ela era uma vampira? Uma dor dilacerante machucava meu peito.

Jacob, estamos chegando! Espere por nós!— disse Sam.

Tudo começou a ficar embaçado e eu não conseguia mais enxergar claramente as coisas. Todas elas pareciam fora de lugar ali. Então, fiz a única coisa que me apetecia naquele momento. Eu fugi.

***

  Aria POV

Eu sempre achei que depois de tantos anos de existência, eu nunca mais me surpreenderia com nada. Mas ver Jacob Black transformar-se em lobo na minha frente e tentar atacar todos os meus amigos... Aquilo era demais. Ele estava descontrolado e eu me sentia tonta. Jasper tentava me tranquilizar, mas não teve muito sucesso. Eu não parecia mais estar ali. Era como ver uma cena sendo narrada à distância.

Quando Jacob correu para nos atacar e eu o atirei para longe, eu não consegui pensar em mais nada. Mas aquele olhar, o olhar que recebi naquele momento, fazia meu coração dar um nó dentro de mim. Eu precisava ir atrás dele. Jacob não me faria mal.

— Aria! – chamou Edward. – Você está bem?

— Preciso encontrá-lo, Ed! – Infelizmente, suas fortes mãos impediram-me.

— Seus poderes estão descontrolados e Jacob está transtornado. Os dois podem se machucar – falou rígido.

— Não importa! Conheço Jacob e ele não iria agir assim por nada.

— Deixe-a ir, Edward – intrometeu-se Bella. – Se ela é mesmo o imprinting dele, eles precisam resolver as coisas.

Eu não entendi muito bem o que aquilo significava, mas olhei-a agradecida. E quando me preparei para correr, mais uma vez Edward me impediu.

— Me solta! – gritei zangada.

— Não vai conseguir alcançá-lo assim – disse, antes de abaixar-se em minha frente. – Suba.

Acatei a ordem e pendurei-me nas costas de Edward, recebendo um olhar tristonho de Bella. Ele sussurrou um “volto logo” e então disparou floresta adentro. A velocidade com que ele corria, fazia-me encolher em suas costas. A sensação era parecida com a de pular de paraquedas. Rajadas fortes de vento machucavam o meu rosto, e agora, eu entendia como as outras pessoas se sentiam quando eram atacadas por mim.

Avistei Jacob logo à frente, mas antes que o alcançássemos, três lobos gigantes bloquearam o nosso caminho, fazendo com que Edward parasse em um solavanco.

— Precisamos passar, Sam – falou Edward. Acho que ele estava se comunicando mentalmente, porque logo depois continuou:

— Jacob tem que esclarecer as coisas com ela! – O lobo rosnou e se aproximou dele em posição de ataque. – Ela não é uma vampira! – exclamou nervoso. Porém, a nervosa dali era na verdade eu. Já estava cansada daquele monólogo. Desci das costas de Edward impaciente e falei:

— Precisam me deixar falar com ele! Explicar as coisas...

— Seth tem razão, Sam – interrompeu-me Edward. Seth? Ele era um lobo também?

— Já chega! Seja lá o que estejam pensando, está errado! E eu também prefiro acreditar que Black não é a criatura violenta que vi há minutos atrás. Se não me deixarem passar agora, eu irei machucá-los! – Eu estava cansada daquilo tudo. Quem eles pensavam que eram para se intrometerem assim? Mas antes que eu fizesse qualquer coisa, um lobo com pelos cor de chocolate se postou entre mim e o grande lobo negro. – Black!

 Jacob sentou-se em minha frente impaciente, esperava que eu dissesse algo.

— Er... Tem como se desfazer disso? Quero falar com o Black humano.

Ouvi grunhidos atrás de mim. Edward tentava segurar a risada.

— O que foi? – perguntei. Aquilo não momento para rir.

— Ele está com vergonha de transformar-se e ficar pelado na sua frente – explicou. Jacob caminhou para a mata, sendo seguido por outro lobo.

— Espera! – gritei.

— Ele vai usar as roupas de Seth. Não se preocupe, ele não vai fugir de novo.

Minutos depois, Jacob apareceu em sua forma humana, vestido com roupas que estavam um pouco curtas para ele. Encarou-me zangado.

— Vai me explicar o que está acontecendo ou não?

— Podemos conversar a sós? – perguntei. Edward assentiu e voltou para casa. Os outros lobos olharam-no receosos, mas também partiram.

— Eu não sei exatamente o que quer conversar. Você é uma sanguessuga! – falou, fazendo uma cara de nojo ao pronunciar o nome.

— O termo politicamente correto é vampiro. E eu não sou um – falei revirando os olhos. Ele parecia confuso.

— Se não é uma vampira, então o que é?

— Sou uma elementar, Black – suspirei cansada. Sentia minha cabeça latejar. – Mais especificamente, uma silfíde.

— Uma o quê?

— Os humanos podem chamar por vários nomes: fadas, anjos, dominadores do ar, espíritos da floresta. Basicamente significam a mesma coisa.

— Por favor, Aria! Essa é sua melhor desculpa? Fadas? Fadas não existem!

— Você é um humano que se transforma em lobo gigante! Por que fadas não existiriam? Além do mais, tecnicamente, não sou classificada como uma fada – falei incerta.

— Isto está confuso demais para mim – desistiu, sentando-se na grama. Repeti sua ação e tentei explicar-lhe mais uma vez.

— Black, o mundo é regido por quatro elementos fundamentais: água, fogo, terra e ar. E a natureza precisava de algo que mantivesse tudo isso sobre equilíbrio. Assim, os elementais foram criados – expliquei. – Mais precisamente, sou uma do ar.

— Então você controla todo o ar? – perguntou surpreso. – O planeta é muito grande! Como pode fazer isso sozinha?

— Devo admitir que um elementar de origem direta é raro, mas eu não sou a única de minha espécie. – Ri de seu comentário. - Vivemos sob uma hierarquia. No topo da cadeia, estão os reis. Um para cada elemento. Logo abaixo, estão os elementais, como eu, que tem a função de guardar ou selar espíritos malignos. E depois disso, vêm os seres mais populares entre os humanos: fadas, sereias, gnomos, duendes. Eles são os reais responsáveis pela manutenção da natureza, como a chuva, o nascimento de uma flor, ou até a erupção de um vulcão.

— Quando você diz “selar espíritos malignos”, o que quer dizer exatamente?

— Seres como vampiros, feiticeiros e lobisomens, alteram o fluxo natural das coisas. Os elementais do ar, ou silfos, são os únicos proibidos de matá-los, por isso mantemos seus espíritos selados no alto da maior montanha do planeta.

— Então por que não me selou ou selou os Cullen? – perguntou curioso. – Aliás, de onde os conhece? Por que eles estavam te atacando?

— Muitas perguntas! – Ri novamente. Jacob parecia ansioso para entender tudo de uma vez. – Os Cullen nunca fizeram mal a ninguém. Não podemos interferir até que fique comprovado que eles são uma ameaça. E quanto a você, não sabia que era na verdade um humano.

— Nos transformamos para proteger a reserva de vampiros – explicou rapidamente.

Então algo me surgiu. Jacob podia se transformar em lobo, mas não em um lobo qualquer, mas no Sr. Lobo!

— Espera! Você é o Sr. Lobo! – falei assustada.

— Pensei que soubesse disso quando me viu.

— Então tudo que eu contei para o Sr.Lobo, eu estava, na verdade, contando para você? – Corei. Eu tinha falado mal de Jacob e de todos os amigos dele. Por isso ele havia ficado irritado naquele dia!

— Isso aí! – Gargalhou. – Foi estranho saber os pensamentos eróticos de seu amigo. – Fez uma careta. Vince era o menor dos problemas no momento. Eu os tinha chamado de gostosos!

— Quem foi o lobo com que falei hoje? – perguntei.

— Conversou com outro lobo? – Ele parecia tão surpreso quanto eu.

— Esquece! Melhor nem saber – falei por fim. Ele deu de ombros e ficou em silêncio por alguns minutos. Parecia estar digerindo tudo aquilo que eu havia contado.

— Então você não é mesmo uma humana, huh? – concluiu. – Mas não entendo como você respira ou como seu coração bate...

— Não sou humana, mas também não sou imortal. Meu coração vai parar de bater um dia, como o de todo mundo. Só acontece de minha expectativa de vida ser um pouco maior.

— Quantos anos você têm? – perguntou desconfiado.

— Digamos que eu parei de contar quando fiz cinquenta. – Jacob arregalou os olhos.

— Não acredito que estou dando em cima de uma idosa!

— Poupe-me, Black. – Revirei os olhos sorrindo.

Muita coisa tinha acontecido e muitas perguntas ainda não haviam sido respondidas. Mas no fim, eu estava feliz. Feliz e assustada. Jacob tinha descoberto minha verdadeira identidade e eu tinha conhecido a dele. Estávamos cada vez mais próximos, porém, eu não queria sequer imaginar aonde tanta intimidade poderia nos levar.