Mesmos Nomes. Outras Histórias. escrita por Eduardo Marais


Capítulo 10
Informações e Surpresa




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– E qual era o poder de uma criança, para dizimar um terço das pessoas de uma aldeia?

– Minha família criou o pirata por onze anos. Mas a Rainha Regina descobriu a existência de um príncipe bastardo e ordenou a saída do guardião da Peste da Face Escarlate do fundo do mar.

– O que é isso?

– É algo horrendo que surge e provoca sangramento no rosto das pessoas e leva à morte. Meu pai organizou a fuga das famílias e criou pequenas comunidades em pontos diferentes da floresta, da praia, das colinas e das cavernas, para abrigar as famílias.

Regina olha para trás e encontra os dois mais lindos e ferozes faróis azuis direcionados para ela. As setas que o olhar do pirata lançava, podiam ser sentidas contra sua pele. Eram setas envenenadas.

– Ficamos fugindo por três anos e mesmo assim muitas pessoas morreram, devido á covardia do rei em assumir o menino. A morte atingiu meu pai e os aldeões decidiram expulsar Rumpel para a floresta.

– Mandaram uma criança com catorze anos para a floresta?

– Rumpel não era uma criança normal! Ele nunca foi e nem será normal! Nessa idade que ele conseguiu invadir o palácio e decepar a mão da Rainha. Com isso, a praga acabou.

Regina para e respira fundo. Senta-se numa pedra e observa Adam fazer o mesmo. Bebem um pouco de água e decidem descansar algum tempo. Ela se preocupa com o pirata e o procura com os olhos, ficando tranquila ao ver a figura esguia protegida naquele casaco longo de couro, parada e olhando para a copa das árvores da alameda.

– O que houve depois? – ela se volta para Adam.

– Rumpel passou a ser visto como uma criança amaldiçoada e perigosa demais para o convívio com os aldeões. Ele viveu à margem de tudo, até ser adotado por um bando de piratas fedorentos, beberrões e trapaceiros. Uniram seus talentos ao menino e saíram pelos mares fazendo saques e outras imundícies.

Olhando para o pirata ainda distante, Regina se deixa levar pela imaginação e pela aflição que começa a encher sua alma. O que aquele belo invólucro guardava?

– Seis anos depois, ele retornou como o Capitão Gancho Negro e continuou com seus crimes.

O som do farfalhar de roupas e a aproximação do pirata interrompe a conversa. Ele aponta para a copa das árvores.

– Vamos sair da trilha por algumas horas e nos embrenhar na mata. Vi duas criaturas sobrevoando em busca de informação. Mas podem haver mais.

– E como sabe disso? – Adam fica em pé e oferece a mão para Regina, que a segura e levanta-se. – O que são?

O pirata acompanha aquele movimento e não esconde o riso incomodado.

– São seus primos voadores, macacão. E se eles nos ferirem com as garras, viraremos macacos. Quer isso? Para você talvez não haja tanta diferença, somente o nascimento de asas. Mas para Regina e eu, será o caos! – ele aponta a direção a ser seguida.

Antes de conseguirem esconder-se na mata, são surpreendidos pelo som de asas grandes e muito próximas. Adam desembainha a espada, mas é violentamente empurrado para cima de Regina, caindo sobre ela.

O pirata toma a dianteira e retira do cinto sob o casaco longo, duas armas escuras e reluzentes, no formato de ganchos. Abre os braços e posiciona-se ofensivamente, revidando com golpes as investidas dos macacos voadores. Eram cinco animais ao todo.

O homem tinha uma habilidade e rapidez impressionantes. Quando girava, o casaco assemelhava-se a um par de asas de um imenso morcego. Naquele momento tenso, Regina percebe um aumento desproporcional nos olhos de Rumpel. Eram os mesmos olhos vistos nas Nereidas na primeira noite de viagem.

Os macacos são feridos pelos ganchos reluzentes e fogem guinchando, sumindo entre as copas das árvores.

Adam avança e empurra o ombro do pirata.

– Queria exibir-se? Por que me impediu de matar aquelas coisas?

– Por isso mesmo: você iria matá-las. Cometeria um “paris excidium”* e os seus primos queriam apenas nos assustar. – ele guarda os ganchos e ajeita o casaco. – Vamos retornar para a estrada e caminharmos até o cair da noite. No próximo ataque, deixo você resolver com suas setas envenenadas, macacão!

Os três retomam seu trajeto e mais uma vez o pirata segue na retaguarda. Durante mais algumas horas, eles seguem na direção da colina. Caminham atentos em todas as movimentações e ruídos ouvidos ao longo do trajeto.

Já era início da noite, quando Regina faz um truque e acende uma fogueira para que todos se aquecessem. Comem uma parte do mantimento trazido e acomodam-se para o descanso. O primeiro turno de vigilância ficaria a cargo do pirata raivoso.

– O que aconteceu com a chegada do Capitão Gancho Negro ao reino? – Regina oferece seu edredom para ser dividido com Adam.

– Ele se tornou admirado e temido. As histórias sobre ele são diversas. É um sedutor sujo!

– Por isso o odeia?

– Ele seduziu minha noiva! Usou a beleza e a sedução dos tritões, para marcar a moça. Depois, foi embora e a deixou para trás.

– Ele a violou?

– Não. Nisso, ele teve honra. Creio que Arcuri ficou desolada com a recusa dele e acabou entregando-se ao príncipe Henry.– Adam abaixa a cabeça e para de caminhar. – Henry foi desonroso e reles com Arcuri. O príncipe a levou de mim e por muitas luas a manteve como sua cortesã no palácio. Eu descobri e fui tirá-la daquele covil...na confusão, fui atingido.

– Daí veio a transformação?

– Creio que Arcuri tenha conseguido pactuar com a Rainha e fui parcialmente curado.

– Pensei que a Rainha estava sem poderes.

– Não. Mesmo sem a pata, ela conseguiu enfeitiçar-me e tornar-me o que sou. Para quebrar a maldição completa, ela quer a pata de macaco de volta, caso contrário, continuarei com esse suplício. – Adam sorri ao sentir a mão de Regina tocar seu queixo.

– Vamos descansar. Temos um longo caminho pela frente, para conseguirmos a sua cura.


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Notas finais do capítulo

*assassinato de seus pares



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