Aos olhos de alguém escrita por Loressa G M


Capítulo 35
Lembro-me como se fosse hoje




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*Sofi

  “O que está fazendo Sophia”, a voz daquela mulher ecoa por minha cabeça.

  – Já lhe disse Cordélia, meu nome não é Sophia – Novamente vejo àquela jovem Sofi Deverron, quase inocente, quase criança.

  – É que seu nome parece errado, como se falasse “Maícon Jassicon” ou “Leíde Gaga”

  Reviro os olhos enquanto ela se aproxima.

  – Pela milésima vez, não me julgue por meu nome. E eu não faço ideia de quem são esses seus cantores do mundo externo – “Que você conhece por meio da TV no quarto de seu cafetão”, acrescento mentalmente

  Cordélia se junta à jovem eu na sacada do quarto das dançarinas – onde morávamos. Elas observam os caminhões de lixo, passando pelas ruas sem piloto, e recolhendo o lixo residencial com auxílio da tecnologia.

  – Eu não entendo. Se não existem lixeiros, pedreiros ou quaisquer outros trabalhadores desvalorizados aqui, por que ainda existem stripers? – os olhos caramelo da jovem Kanima parecem brilhar com a esperança de, um dia, tudo o que éramos obrigadas a fazer fosse banido.

  – Porque precisavam de alguma função para os escravos além de catar o controle remoto que está a três metros do Sofá – finalmente a “Sofi little” olha para Cordélia – E... apalpar a pele de um ser real deve ser melhor do que ao plástico de um robô.

  Consigo arrancar um sorriso dela. Mas logo em seguida, assim que percebe que sorriu, o semblante da garota muda. Cordélia era de um patamar superior ao meu na boate – ela dormira algumas vezes com o dono – por esse motivo, não gostava de se misturar com as “escravinhas”. Ela conseguia ser mandona e insuportável quando queria, ou seja, noventa por cento da vida.

  – Vai logo Sophia, já amanheceu. Para de olhar para os caminhões de seus semelhantes e vá arrumar as mesas. – Saio quase que batendo os pés, só não era louca de fazê-lo na frente da lagartixa do senhor da boate.

  Sei que é um sonho, mas também sei que é uma das muitas lembranças do meu passado. Dizem que os sonhos são projeções do cérebro para enfrentar seus medos, vencê-los. Eu sempre morria no final de todos meus sonhos quando pré-adolescente, até que um dia, eu parei de temer a morte e passei a recear a vida. Hoje, amedronto-me com o passado.

  Porém, não preciso de um sonho, para me lembrar daquela cena, não quero relembrar o que nunca saiu de minha mente: A primeira vez em que tive um surto.

  Apesar de meus protestos interiores, o sonho não para. A garota desce as escadas e começa a limpar as mesas do salão principal. Estava exalta, lembro-me disso, entretanto naquele momento, todo o cansaço da noite anterior se converteu em tristeza, culpa e ira. A única amiga que tive naquela pequena amostra de inferno estava em um saco preto, mal amarrada a ele, seu braço tatuado caía para fora, à minha frente, sendo carregada como o lixo do banheiro. Ela já estava doente fazia um tempo, contraiu-a de algum dos clientes, escondemos esse segredo, se soubessem a mandariam para o mundo inferior do estado, ela teria menos tempo, mais dor.

  Acordo, antes de reviver o que fizera com os escravos que levavam Rosalyn. Pelo menos o tempo me fez aprender a desligar-me dos sonhos antes de sentir a culpa dos meus atos e voltar a ser humanizada a força.

  – Está tudo bem? – Leonardo também acorda. Levantei-me abruptamente da cama, até os cozinheiros devem ter percebido que algo acontecera – Com  o que sonhara amor?

  – Nada.

 

  Queria poder amar Leo, somente a ele, sem nenhum outro efeito colateral. Ele é diferente de todos os outros homens que já conheci ao decorrer de minha vida: Diferente de meu falecido marido, ele realmente me ama, nunca se aproveitou de mim como muitos outros, mas também não é ingênuo como Tony ou... o pai do meu filho.

  Agora que já estou grávida de um kirian, o qual nunca amei, poderia me permitir voltar a amar no momento em que disser “sim” hoje – o único problema seria explicar um possível loirinho de olhos verdes. Entretanto, ela nunca se permitiria deixar de amar antes no nascimento de seu filho, ainda mais sabendo de meus planos para Joseph. Para ele, para seu pai e Leonardo. Sinto-a gritar em meu interior “Tomara que ele nasça igual a mim, mas nunca aprenda a amar”.

  – Está com fome? – Leo traz-me café da manhã, pondo-o sobre a cama.

  – Estou – Finjo um convincente sorriso, ele retribui com um verdadeiro.

  Dentro de mim, àquela Sofi me alfineta.

  “Preparada para hoje à noite”, diz Leo Wolf ao fundo de meus pensamentos.

  – Não vejo a hora amor.

  Após comer parte do que o rei Wolf me trouxera saio do quarto. Percorro o castelo, a outra dentro de meu cérebro se remói. Ela ama o dinheiro, ama o poder.

  Sinto um vazio percorrer minha espinha, nem saber que ela sofre consegue me preencher, não consigo amar atormenta-la. Mas não posso morrer agora, nem ao menos matar alguns escravos, preciso completar minha missão antes de traze-la de volta, e não levar prejuízos aos Wolfs... preciso de quem sempre me ajudou a manter-me viva. Tele transporto-me para um lugar onde já foi inventado o sinal telefônico.

  – Alô? – Silon atende o telefone – Já desistiu de seu plano?

  – Preciso de você.

  – Que foi maninha? Percebeu que seu plano é uma merda, mas cumprir metas é a única coisa que a Sofi-robótica sabe fazer? – uma voz masculina interroga Silon ao fundo da ligação.

  – Se divertindo demais na Inglaterra para impedir o suicídio de sua irmã e o homicídio de um feto? – um disparo e gritos percorrem a ligação – Ia dizer que não impedir a morte de um inocente poderia ser pecado... mas pelo visto sua ficha para o inferno já é bem maior.

  – Ele estava me irritando. E nem era tão bom de cama assim. – Silon para de falar por alguns instantes, depois continua com a voz embargada – Não acredito que traí Gabriel no país em que iriamos morar juntos.

  – Gabriel está morto.

  “Não, ele...” foram as últimas palavras de meu irmão antes de pedir minha ajuda.

  – Até meu casamento maninho.

 

  As escravas de meu noivo ajustam meu vestido. Uma outra mulher se aproxima encostando uma das mãos em minha barriga, os cabelos negros caindo sobre os braços.

  É raro te ver possuindo alguma inoscente – Penso, olhando-a.

  – Pode dizer tudo que quiser em voz alta, elas não vão entender – Os olhos azuis da escrava se parecem muito com os próprios de Natacha – Como vai o pequeno Joseph? Ainda acha que ele, com treinamento, pode derrotar meu irmão?

  – Se não acredita nos meus objetivos, por que ainda me persegue? – Ela sorri para meu ventre.

  – Tenho planos para as crianças daqui, Joseph, Davina, Benjamim, Lorenzo... – O olhar dela se perde – seu casamento já começou, não vai entrar?

  As escravas se afastam, Natacha desaparece entre elas. Sigo em direção à porta de entrada, avisto uma carruagem com quatro lobisomens, na forma humana, puxando-a por coleiras de aço. O veículo contém ouro e pedras preciosas em todos os lugares possíveis. Sinto-me confortável no veludo cor de aço do interior, combinando, assim, com as “rédeas”.  

  Espio os lobisomens, ainda dentro da carruagem, todos eles são de pele clara, olhos azuis, e cabelos das mais variadas cores, exceto o cocheiro. Reconheço o homem que comanda a carruagem, Leo mandara um de seus primos para, talvez, garantir que não o deixasse. Ele ainda não me conhece, nunca deixaria um rei esperando no altar.

  A igreja medieval, uma imensa construção com mais ouro do que jamais vira, parece lotada, na maioria de pessoas as quais nunca havia visto em minha vida. Meus descalços pés tocam o chão do ressinto – Se não fosse tradição, se não fizesse parte de meu plano me tornar rainha, nunca que deixaria meus pés a menos de quinze centímetros do chão medieval – Algumas pétalas das brancas rosas do buque se espalham a minha volta. Leonardo me espera no altar, com um sorriso fixo... entretanto, outro sorriso consegue desviar minha atenção, em meio aos estranhos, Silon acena para mim, seus olhos são quase mais desumanos do que os meus.

  “Volta logo Sôfi” – diz seus lábios.

  Sorrio de volta, e sigo em direção ao meu destino.


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Notas finais do capítulo

Gente!!!
Tenho uma amiga que também escreve Fanfic - ela escreve a bem mais tempo que eu - as histórias dela são muito boas e bem escritas.
Confiram lá: https://fanfiction.com.br/u/431653/
https://fanfiction.com.br/historia/641903/Filha_de_Apolo_-_Flames/



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