Aos olhos de alguém escrita por Loressa G M


Capítulo 26
O inverno chegou




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  Mais próxima de meu corpo, ouço uma conversa no corredor, o frio continua a pairar sobre mim, sinto meu corpo tremer e meus dentes rangerem, conversas alheias acontecem ao meu redor.

  – Preciso da sua ajuda – diz uma voz feminina no corredor dos quartos, é de minha irmã

  – Depende, envolve cama ou... – Konor é quem fala com ela

  – Não, não vai aconteceu novamente, presta atenção idiota! Amanhã, convocarei uma daquelas reuniões gerais que tem por aqui. – Sofi parece falar como quem tenta respirar de nariz entupido, sem perder a elegância dela, pelo visto o frio chegou em Vicely

  – Para que? – Konor diz normalmente, nem frio ele sente

  – Então... meio que os vampiros, donos dessa mansão, estão pensando em me expulsar. – ela parecia insegura, quase não me lembrava da última vez que a vi assim

  – O que você fez gata?

  – Digamos que tinham seis empregados nessa casa, agora não tem mais

  Uma breve pausa ocorre na conversa, minha brecha para investigar na mente de minha irmã o que aconteceu.

***

  Sofi estava na mesa de jantar, sentada com sua postura inerente, havia sobre a madeira escura e envernizada papéis espalhados em uma bagunça organizada a ela, neles, fotos de fragmentos de Yasmim, o cabelo negro, uma parte do rosto dela com um de seus olhos azuis vibrantes e outra com eles castanhos, na maioria das fotos Yasmim estava em esconderijos já descobertos pelas investigações. Sôfi ligava, empilhava e anotava nos papéis de fotos com os que tinham escritos, pesquisas e anotações próprias. Em um deles ela planejava uma reunião com todos os estados, porém seu objetivo principal com ela não era entregar Yasmim, era seduzir um dos reis.

  – Deseja algo senhorita? – Uma das empregadas, ruiva, alta e de olhos castanhos, estava parada ao lado de minha irmã, com os braços para trás.

Sofi virou-se devagar para a garota e se levantou em frente dela

  – Sabe o que eu desejo? – disse Sofi, sua voz alterada – desejo não ter voizinhas falando na minha cabeça quando alguém me interrompe

  – Desculpe-me... – a garota já se virava para sair

  – Espere! – falou Sôfi sutilmente

  A ruiva se virou, confusa por minha irmã ter mudado tão rapidamente.

  – Eu estou meio exaltada por uns acontecimentos, acabei me alterando um pouco – minha irmã se aproximou da garota e pôs suas mãos sobre os ombros dela – mas não quer saber sobre o que as vozes falam? – Ela fixou seus olhos nos da ruiva, como se pudesse atravessa-los – é só ficar quieta querida.

  Sôfi se afastou da garota, pegou os papéis nas mãos e começou a guarda-los.

  – Eu sinceramente não gosto de matar, acho algo fútil para alguém que pode ter tudo o que quer só imaginando, principalmente quando não é necessário, ou pior, algo que possa me prejudicar... porém – suas unhas cumpridas e avermelhadas riscavam o queixo da empregada – sou uma kirian. Ir contra meus instintos não é impossível, mas preciso de total foco para fazer o que é necessário – ela olhou para a própria barriga magra e acariciou-a – sabe, já está na hora de certas coisas. Sem distrações.

  Sofi colocou suas mãos nas maças do rosto da ruiva, cravou suas unhas na pele próxima aos olhos e esmagou o crânio dela. O sangue da jovem ruiva escorria pelas mãos, Sofi não sorriu, nem demonstrou nenhum tipo de reação, apenas olhou para a janela, fora da casa havia um louro, assustado.

  “Muito bem” — disse ela mentalmente, ele entendeu

  Minha irmã se ajoelhou ao lado do corpo desfigurado da garota e começou a mexer nos cabelos cor de fogo. Um outro empregado levava uma bandeja com café para a sala, ao ver a cena, ele derrubou tudo que segurava, manchando o carpete com o liquido escuro, que escorreu até se misturar com o vermelho que escorria pelos cabelos da ruiva. Sofi apenas se levantou, olhou novamente para o homem da janela e ao voltar seu olhar para o empregado, esse estava caído no chão, como um vampiro desnutrido, seus olhos eram apenas buracos em que moscas saiam e entravam, como se estivessem festejando.

  “Precisava mesmo disso?” – perguntou a mente do homem louro

  “Prefiro chá”     

***

   – Senti mesmo a falta daquela ruivinha de olhos marrons – Konor sorri com malicia, lembrando-se da garota – melhor recepção que já tive nesse século, você não tem ideia do que ela fazia – Sôfi o encara com desdém.

  – Continuando, tenho alguns ataques de ira as vezes, possivelmente um efeito colateral por ser uma kirian que consegue controlar quando quer ou não poder amar e etc... ninguém é perfeito – Konor olhava-a balançando uma das mãos, indicando que prosseguisse – Preciso que você distraia durante um tempo os representantes dos quatro estados na reunião.

  – Então, você quer que eu enrole toda aquela gente. A troco de que?

  – Pense bem, você conta lá umas historinhas de você com “O Grande Alinpç”, eu seduzo um dos reis para me estabilizar nesse lugar, trago a Yasmim em uma coleira dessas daqui e depois apago tudo que você falou das mentes deles. Acharão que perderam todo esse tempo discutindo sobre Yasmim – ela se aproximou dele, deslizando as unhas ainda com vestígios de sangue, pela pele da nuca às vértebras cervicais de Konor – posso fazer algumas coisas com ti – ele aperta os punhos de Sofi, puxando-a para junto dele e a beija, enquanto desliza suas mãos pelo vestido verde decotado nas costas dela, ela retribui, depois se afasta bruscamente – como enfiar um rubi no seu coração.

  – Qual rei? – pergunta ele, meio desnorteado    

  – O sem esposa, nunca que perderia meu precioso tempo infinito brigando por homem.

   Ela se vira e começa a andar na direção contrária, sorrindo.

  “Você vai me deixar louco” – Konor segue-a – “rebolando assim então, aceito, faço o que você quiser”

 

  O frio de inverno volta a perturbar-me

***

  – Da-Davina? – uma voz de anjo chama minha atenção

  Possuo meu corpo, antes mesmo de abrir os olhos, penas quentes e macias aquecem-me, ainda sinto o frio vindo de onde se localiza a janela, porém sinto algo a mais, alguém, há alguém de voz familiar em meu quarto, uma voz tanto que... infantil.

  É Benjamim.

  Abro os olhos, mas de que adianta? Tateio minha cama até a janela perto da cabeceira, fecho-a. Faz um bom tempo que não sinto o pequeno anjo, com suas asinhas, sua presença, sua energia vibrante, feliz. Porém não é o que sinto nesse momento, benjamim parece chorar baixinho, como uma criança que perde algo, mas o que Benjamim perdeu?

  Em sua mente há imagens distorcidas, confusas e embaralhadas como teias de aranhas, todas elas são de Max, o irmão esquizofrênico, o qual Sofi deu uma das flores florescentes. Ele teve um colapso, começou a se debater até que... simplesmente parou.

  Não consigo enxergar onde Ben está, nem ver pelos olhos dele. Então ele faz o que eu queria, me abraça. Aperto forte suas costas abaixo das asas, ele chora em meu ombro, ouvi-lo chorar é como se uma lâmina afiada de titânio atravessasse meu coração, Benjamim não merecia isso, Max não merecia. Minha irmã não devia ter dado aquela planta a um doente, agora o irmão de Benjamim está morto, ou algo pior.

  Não sei ao certo o que aquelas plantas fazem, nem Sofi, enquanto abraço o pequeno anjo, tento procurar pela mente de Max, mas não consigo, para ser sincera, nada consigo. É como se algo bloqueasse a minha magia kirian, abro os olhos, consigo ver, mas é diferente, não vejo meu quarto e Benjamim fisicamente, vejo apenas uma energia saindo de mim e sendo sugada para Ben... é ele quem me bloqueia.


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