Aos olhos de alguém escrita por Loressa G M


Capítulo 24
Cobras e Serpentes




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/648146/chapter/24

Decido voltar a minha própria mente, agora alguém que não consigo ver pelos olhos de qualquer um, habita minha casa.

  Eu quero enxergar

  Fecho meus olhos e esfrego-os com as costas das mãos, abro-os lentamente, enxergando pequenos borrões de imagens, o quais vão tomando forma, linhas turvas largas de um borrão circular se movimentam, formando a janela de meu quarto, quando uma borboleta de lindas asas alaranjadas pousa na batente branca, sigo até a janela, puxando e esmagando os pelos do carpete, percebendo o quão brancos são meus pés e unhas. Abro a janela e apoio-me nela, deixando meu rosto a poucos centímetros do pequeno animal, o qual se assusta com minha presença, quase foge, mas opta por ficar, provavelmente notando que não há perigo em minha presença. Observo cada detalhe do inseto, seus minúsculos pelos arrepiados, suas cores radiantes que parecem mudar com o movimento perante a luz solar, suas finas antenas e patinhas... para mim, mais do que qualquer desejo ou pensamento que eu possa tornar realidade, esse, é o melhor de todos que já imaginei, poder ver com meus próprios olhos.

  Esqueço de todos os problemas dos reinos e famílias, inclusive da minha, enquanto vislumbro o meu arredor com o vento batendo em meus cabelos brancos, movendo-os livremente como se voassem, mas o barulho de um corpo sendo jogado contra a parede entre meu quarto e o de Sôfi, afasta-me de minha distração e tudo volta ao breu da escuridão. Não consigo mais voltar a enxergar por mim, logo entro na mente de minha irmã para saber o que aconteceu.

***

  Konor está sendo prensado contra a parede por ela, há algumas pequenas rachaduras no local onde a cabeça do amigo de Alinpç se apoia dolorida.

  – Mandou um dos empregados me chamar só para quebrar a parede? – Konor segura bruscamente Sofi pelos cabelos e, puxando-os, a afasta, se livrando da tinta verde clara que tocava sua roupa – quando ouvi que era para vir ao seu quarto, achei que fosse algo mais... digamos, interessante.

  – Sou uma kirian – diz ela, quase que com desdém, enquanto arruma seus cabelos com as pontas dos dedos, logo após ela inclina metade de seu corpo para baixo, para abrir uma de suas malas.

  – Agora sim ficou mais interessante – num salto, com a mão apoiada na borda da cama, ele se joga no meio dessa, se acomoda e com as pernas esticadas cruza os braços atrás do pescoço – Prossiga.

  – Primeiramente, não me importa quem foram seus amiguinhos, na minha cama ninguém coloca os pés!

  – Então já descobriu algumas cousas de minha mente, suponho que inclusive do meu pequeno ponto fraco, posso saber o que mais quer?

  – De qual ponto fraco se refere? – um indicio de um sorriso sarcástico revela-se no rosto de minha irmã

  – Só tenho o problema das belas damas – ele abre um sorriso forçado, uma gota de suor escapa por sua testa.

  – E sobre.. – Sôfi sobe na cama até aproximar seu rosto do dele e acaricia as maças do rosto de quinhentos anos, enquanto suas grandes unhas vermelhas deixam marcas na orelha esquerda – umas pedrinhas, brilhantes, minha preferida depois do diamante. – ela mostra a ele o que tirara da mala, um colar de pedras avermelhadas e então sussurra em seu ouvido riscado pelas unhas – Rubis.

  – O que pretende fazer com a informação? – de repente, seu semblante se torna sério e ele sai da cama rapidamente ficando de pé, ela faz o mesmo em movimentos mais lentos.

  – Konor, o terror das donzelas do século XVI, ou seria XVIII? – Konor encobre um sorriso torto, lembrando-se de algum momento — Não importa de qual dos cinco séculos falarmos, você sempre foi intitulado de “o melhor amigo de Rafagh”

  — Como entraste em minha mente? – seus olhos se arregalam levemente de espanto

  Ela abre um sorriso torto para a direita e ressoa uma risada aguda e baixa.

  – Também tenho amores, amantes, seres do sexo oposto que fariam tudo por mim. E fazem. – ela o olha de cima a baixo, como se o scaneasse – Você sabe mais do que ninguém que eu ser um kirian significa que leio mentes.

  – Exatamente – Konor morde o lábio inferior, enquanto a olha mais profundamente do que ela já a viu na vida.

  – Até que para um velhote de quinhentos anos esse corpinho eterno de vinte lhe cai muito bem – ela se aproxima mais dele, a ponto de poder sussurrar – Seu amiguinho gostava mesmo de vampiros, não é surpresa que se apaixonou por uma e que te fez com base neles – Konor a puxa pela cintura com tamanha força para quase parti-la ao meio, juntando seus corpos da coxa ao peito – força sobre-humana – ela sussurrou mais baixo, quase inaudível a um mortal – audição, olfato e visão melhores do que qualquer animal.

  – Me comparas a um animal? – ele afrouxa seus braços na cintura dela e usa uma de suas habilidades de vampiro para chegar rapidamente a boca de minha irmã, ele a beija como se fosse devora-la, até que ela morde os lábios dele, furando-os – por que você...

  – Só para confirmar se também se regenera – ela sorri como uma criança se divertindo e emite sua risada baixa e aguda, enquanto ele vê seus próprios dedos ensanguentados do ferimento no lábio inferior, o qual já cicatrizara – Gostei disso, tem todas as vantagens de um vampiro, sem precisar necessariamente se alimentar de sangue e a mais inteligente coisa que Rafagh já fez; Madeira é algo muito comum.

  – Já rubis são pedras preciosas, tão quanto uma mulher de trinta, magra e que sem esse salto “200” centímetros se torna um pouco mais baixa que o “bombado” aqui.

  Sôfi o encara como se fosse um desafio, desamarra os calçados e segurando-os na altura dos olhos de Konor os solta para cair ao chão.

  – Tem razão, apesar de alta, você é dois centímetros maior, Satisfeito? – Sofi o encara empinando o nariz para que, mesmo agora menor, ela possa ter seu olhar acima do dele – E esses braços? Só eles são assim?

  Konor faz o mesmo sorriso de quando se lembrara dos séculos passados, dessa vez sem disfarçá-lo. Ele retira de seu corpo a camiseta regata, revelando ainda mais o malhado corpo, enquanto joga seu rosto levemente para a direita balançando os cabelos. Sofi faz o mesmo com sua blusa de seda, mas quando Konor põe suas mãos no cinto da calça jeans, um barulho de serpente é ouvido.

  – O que é isso? – pergunta Sôfi

  – Isso é a Tommy – uma Naja Nigricollis entra por baixo da porta do quarto de Sofi, sobe pelas pernas de Konor e se envolve em torno de seu pescoço – quer pegar?

  – Sim – diz ela sem hesitação, ele estica um de seus braços, pelo qual a serpente rasteja até o pescoço de minha irmã – não é um pouco pequena para ter engolido a filha do governador?

  A Naja começa crescer em comprimento e volume, até que Sofi precisa ajoelhar para não cair com o peso e poder tira-la de seus ombros.

  – Digamos que quando a adotei, achei que fosse ele. Fui descobrir que estava enganado apenas cem anos depois, isso explicou muita coisa, inclusive o tanto de ciúmes que ela tem de mim, aparecendo sempre nas horas mais... inconvenientes – ele dá de ombros – Tommy! Saí agora, ela é amiga, não comida.

  – Você deu imortalidade e poderes a um bicho! – Sofi aponta para a serpente, já saindo do quarto, inconformada.

  – Onde mesmo nós paramos...

  Um barulho, vindo do corredor de acesso aos quartos, os incomoda, como se algo caísse, ao abrir rapidamente a porta, Konor se depara com Genevive caída ao chão, tentando se afastar desesperadamente de Tommy.

  – Ela estava nos espionando – diz Sofi caminhando em passos calmos até a garota, enquanto seus olhos estavam vidrados nos dela.

  – Mas ela não é surda?

  – Muda Konor, Muda. – ela nem ao menos olha para ele. Minha irmã faz algo que já deveria ter feito, entrar na mente de Genevive.

  Não estraga o plano, não estraga o plano, pensa em outra coisa Genevive, você consegue – pensa a garota – Ah não, não vai adiantar nada, Yasmim disse que ela é uma kirian, pode facilmente entrar em qualquer canto de meu cérebro, são demônios, aberrações como todos os outros. Ela não podia ter me encontrado... mas já que isso aconteceu, Sofi Deverron! Tenho um recado para você e todas as aberrações desse lugar, Yasmim matará todos vocês em poucos dias.

  Me responda querida, mas você não é uma “aberração” como Sânia e Tyler? Uma bruxa? – diz Sofi mentalmente para a cabeça de Genevive, porém ela não responde. Minha irmã então entra mais afundo na cabeça da garota e deparasse com uma lembrança da mãe dizendo a ela: – “Minta mal e será um mentiroso, minta e será um humano, minta bem e será um esperto, agora se conseguir mentir melhor ainda, será um mágico. No seu caso uma pequena e linda mágica” — logo em seguida na lembrança a mãe tirou uma moeda de trás da orelha dela, ela sorriu, sempre se encantava com os truques da mãe. Os bruxos entraram no pequeno inferno para “recuperar” crianças e adultos saudáveis, elas se esconderam, aquele perigo passou, mas os canibais do subterrâneo aproveitando do caos que era feito para fugir dos bruxos... a mãe salvou Genevive escondendo-a embaixo de um armário aos pedaços no quarto, mas quanto a si própria, ou a impedir que a filha visse, nada pode fazer.   

  — O que ela está pensando? – Konor se aproxima de minha irmã

  – Nada.     


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aos olhos de alguém" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.