Aos olhos de alguém escrita por Loressa G M


Capítulo 19
Como tantos apenas mais dois




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— O que aconteceu maninha? Por que chamou por mim? – Sofi não parece realmente preocupada, é mais como se estivesse cumprindo uma promessa, tentando passar-se por algo que não é.

— Eu tentei entrar na mente de um vidente, acabei machucada – pelo que entendi Jac prevê o futuro, então deve de ser um vidente

— Você é muito inexperiente para entrar na mente de alguém que possa lhe mostrar o futuro, um dia ainda te ensino, a partir de hoje temos muito tempo para isso – ela beija minha testa – vou arrumar meu quarto da mansão, se precisar de algo me chame

— Espere! – ela não tinha dado as costas para mim ainda – por que Silon saiu de sua casa?

— Ele e meu marido não se davam bem... mas, de nada mais importa não é? A caçadora matou aquele milionário imprestável mesmo.

— E agora está tentando matar nosso irmão – dito essa frase Sofi me olha espantada, ou pelo menos é o que seu rosto tenta passar, porém posso ler sua mente, ela é um dos Deverrons que não conseguem amar nada, nada mesmo.

— Como sabe disso?

— Ouve uma reunião entre os reis, descobriram a lista da assassina de aluguel, falando nisso, você também está nela Sôfi. Mas provavelmente hoje a prenderão, ou matarão, depende de quem a achar primeiro.

— Obrigada por me informar maninha – ela me abraçou e saiu para seu novo quarto

Incrível! – ironicamente – Deverrons que sofrem da metade da maldição em que não conseguem amar, não amam nem a própria vida, em nenhum momento em sua mente, Sofi, se preocupou na hipótese de ser morta pela caçadora, tampouco em nosso irmão, ou então em saber se algum outro ainda esteja vivo, ela não ama nada, a mim, a Silon, a ela própria, nada.

Tateio a casa até meu quarto, abro a porta, assim que entro nele começo a enxergar, mas não é meu quarto. É uma ilusão de Natacha, mas como se estou acordada?

Estou em um quarto de garotos, precisamente de dois primos meus. Por algum motivo sei a história deles, provavelmente está sendo ditada à minha mente por Natacha. Carl e Kieren, dois irmãos de 18 e 11 anos, ambos amaldiçoados pela herança Deverron, Carl nunca conseguiu amar, dentro de si um vazio o tomou por completo, buscou na morte o preenchimento, como um instinto de qualquer kirian, seria a morte de outros que o satisfaria temporariamente, como uma droga, como um remédio. Carl então aceitava sair com quem o queria, garotas, garotos, mulheres, não importava, em seus encontros o Deverron satisfazia seus desejos carnais humanos, depois os de um kirian, nesse ele matava. Porém nem todo o amor de outra pessoa ou a morte dessa o preenchia, algo faltava além do vazio sentido por humanos, faltava-lhe tudo por ser um kirian amaldiçoado a nunca poder amar. Finalmente, em frente ao espelho, logo após a morte sem explicações do irmãozinho Kieren, Carl se rendera a maldição, nunca poderia amar, nunca se sentiria minimamente completo, nunca seria feliz, já matara a um outro kirian, seu poder era dois, poderia tornar qualquer coisa realidade, qualquer coisa... material, nem assim estaria satisfeito, de que adiantaria ter poder, luxo e riqueza se nunca amaria nem ao menos a própria vida, sem nenhuma culpa ou lágrima, Carl desejou um revólver, uma arma de fogo, sua solução, pelo menos se morresse e fosse para o inferno ele sentiria dor, sentiria algo, estando livre do corpo amaldiçoado por Ernesto Mystic, como tantos e tantos outros kirians, Carl então sem a mínima pena de si mesmo atirou, seu sangue encharcou o espelho, lavou as paredes do banheiro, mas como todos de sua espécie, ao morrer, tudo que criara um dia com seu poder se desfez, os presentes as vítimas, o dinheiro dentro dos envelopes nos caixas eletrônicos, o revólver... só não desaparecera as consequências, as vidas tiradas, os números na conta bancaria, o sangue escorrendo por debaixo da porta até seu quarto.

Diferentemente dele, quando vivo, Kieren podia amar, amava a vida, amava os pais, amava a família e amigos, amava ainda, de maneira diferente, uma garota, sua vida era feliz, tentava alegrar o irmão, que fingia felicidade perto dele, o garotinho era completo e saltitante, como toda criança deveria ser, mas como todo garotinho, Kieren tinha medo do escuro, o que não seria grande problema para um mortal, ou qualquer outro ser, porém ao nascer Kieren teve como vítima o tio, o qual também era um kirian, o Deverron se tornara poder dois com poucas horas de vida, poderia ter tudo no que pensava, brinquedos, vídeo games, skates, mas Kieren como qualquer um não pensava apenas em coisas boas, toda noite ao olhar para a escuridão do corredor imaginava que monstros estivessem ali, preparados para ataca-lo e acabar com sua feliz vida, toda noite ele evitava pensar demais e adormecia, até que um dia foi obrigado a dormir mais cedo, sem sono deu lugar aos pensamentos, Kieren olhou uma última vez para a escuridão e viu dela sair um enorme monstro, magro como se barras finas fossem sua coluna em diagonal, seus braços e suas penas, os quais terminavam em enormes garras, seu rosto era o crânio de um bode, com chifres ao lado e olhos como dois furos brilhando vermelhos mortos no crânio de osso, o menino desejou uma espada de diamante para que pudesse lutar e vencer o monstro, mas o medo de perder a vida o venceu, amando-a não queria perde-la e esse medo o tomou, o paralisou, o monstro que ele próprio criara rasgou sua pele com as garras, até chegar ao coração, o qual devorou. Assim, morto, todas as ilusões do pequeno Kieren se desfizeram, deixando o quarto mais vazio, o corredor sem monstros e seu coração a cair no chão, espirrando mais sangue, deixando gotas espalharem-se pelo rosto do irmão, o qual acordou e correu para o banheiro, foi o estopim, o que faltava para explodir a bomba dos pensamentos de Carl e os miolos fora desses.

A polícia do estado Maikle chegou à conclusão de que um psicopata entrara no quarto dos garotos, atirara em Carl enquanto tentava fugir e matara cruelmente Kieren. Um psicopata o qual nunca encontraram.

***

Tudo se apaga em uma completa escuridão, como quando não estou vendo por outra pessoa, ouço uma voz, ainda sem ver nada.

— Por causa do pacto você está livre disso Davina – reconheço, Natacha – quase não pode sentir medo. Use isso Joaninha, você é bondosa, nada teme e até que encontre Alnpç não pode morrer, ajude os que conhece dessa ilha, Jac, Silon, Sânia... com seu poder pequena, diferentemente de mim, pode ajudar a quem ama, ajudar até mesmo sua espécie. Davina, todos dessa ilha precisão de você, não de Rafagh, nem Ernesto, muito menos de mim, precisam que você enxergue.

— Por que está me dizendo isso? Por que tenho de enxergar e proteger a todos até de você mesmo Natacha? Como? Por quê?

— Um dia entenderá pequena, por enquanto saiba apenas que sou completamente louca, quando puder saberá o que me deixou assim, você é diferente, assim que acabar tudo que precisa vendo através dos olhos de outras pessoas e das coisas, conseguirá enxergar pelos próprios, agora vá, volte a realidade e veja sua família caçar Yasmim.

***

Obedeço-a, o lugar para onde foram é muito longe, criado pela magia, cercado de magia de bruxo, é difícil chegar até lá mentalmente, impossível, se minha conexão com Ramon não fosse tão forte, vejo pelos olhos dele, meus pais entram por trás do Castelo Mystic, junto a uma remessa de escravos velhos atravessam um portal magico e entram no inferno Maya.

Mais pessoas, além dos ex escravos, entram com eles.


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