Aos olhos de alguém escrita por Loressa G M


Capítulo 17
Não devia ter feito isso




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— O que é isso? – cochicha Carolyne a Aurora

  Vic ouve ­

  – Isso, criatura, é minha filha, minha e de Ramon

  – Incesto – “tosse” Jacques

  – Chega! – meu pai grita – Ela se chama Davina, tem sete anos e é uma Kirian, ou seja, aquela espécie extinta por um ancestral Mystic, eles ainda existem, podem ler mentes e fazer coisas inimagináveis

  – Ata, e eu sou o coelho da páscoa – Pelos olhos de Sânia vejo Jackson olhando diretamente para mim enquanto fala – Se essa criança lê mentes, o que estou pensando?

  Foi ele quem pediu

  – Está pensando “isso deve ser algum truque dos malditos Deathless, mas pra que?” – ele tenta falar algo, então continuo – mas como “qualquer um falaria isso, não é?” Lhe darei a prova que quer, em sua mente existem muitos pensamentos que se fossem ser escritos seriam mais ou menos assim – tento falar ironicamente – Querido diário, estou pensando em como torturarei Jacques hoje, sempre achei que ele fosse um bastardo de minha mulher, estou começando a ter minhas dúvidas, porém não posso aceitar que seja verdade o que ela fala, se não terei de sofrer com a culpa de cada tapa, cada chute, cada soco que dei naquele moleque à toa

  Carolyne se impõe para defender Jack

  — Então vocês vampiros contrataram uma garotinha para espalhar ainda mais as mentiras que falam de meu marido, querem causar uma guerra por acaso?

  Ramon me olha, permitindo que continuasse, entro na mente da bruxa, vejo então lembranças surpreendentes.

  – Carolyne Mystic – degusto em minha boca o sobrenome – significa místico, oculto. Falando nisso Jack, você tem um pouco de razão, apesar de Jacques não passar nem perto de ser filho dela, e sim da tal Mariane, a sua mulher teve sim outro... ou quase

  A bruxa fica inquieta, suando frio, ela pensa em me interromper, mas percebe que só seria a confirmação de que o que falo é verdade; continuando

  – Leonardo, não adianta tentar esquecer, o caso de Lavine Wolf com Jack Mystic durou muito pouco em comparação a sua vingançinha com a Carolyne, espera... – faço cara de falso espanto – Caroly! Você não contou a seu amante que tinha engravidado, muito menos o que fez com...

  – Para! – grita a bruxa me interrompendo – essa garotinha está inventando tudo! Olha aqui, eu já quase matei uma recém-nascida só por ser filha de quem é, imagina o que eu faria com uma garotinha mentirosa

  – Nada – digo rapidamente – Nada, porque acabei de provar que realmente leio mentes, sou muito preciosa para ser morta, além do que nunca conseguiria me matar

  – Vai ver o que eu consigo mimadinha – ela tenta algo contra mim, Ramon entra na minha frente, me protegendo e Jackson segura os braços dela

  – Agora sou eu que quero que continue, por favor, garotinha

  – Está longe de ser o inocente aqui Jackson, não é por que também foi traído que todos os seus pecados são absolvidos, não é assim que funciona. Mas voltando ao assunto, Carolyne engravidou de você Leo, ela tentou disfarçar e parece que conseguiu, não passou de duas semanas e então ela lembrou da profecia. Sabendo que se tivessem um filho, por serem os herdeiros de seus reinos ambos morreriam, então ela abortou a criança. Foi a decisão mais difícil que já teve, saber que o marido teve um filho fora do casamento e ela mesmo engravidando nunca poderia se quisesse continuar viva. Ela amava a criança, mesmo que nunca pudera nascer.

  Carolyne tenta fazer com que seu marido a perdoe, mesmo tendo ouvido o que ele faz com Jac, mesmo sabendo tudo o que ele já fez.

  – Pronto criaturas, agora que minha filha provou o que é, podemos ir ao que interessa, onde está a caçadora

  – Eu sei – digo, durante os últimos dias vim tentando encontra-la, tenho quase certeza que consegui – depois de fugir de seu esconderijo subterrâneo, ela se refugiou no descarte humano no estado Maya

  – O que é isso? – a inocência na voz de Leticia demonstra que ela não sabe mesmo o que acontece nos reinos

  – É... – Carolyne tenta uma desculpa

  – É onde os Mystic descartam todos os seus escravos doentes ou velhos, – interrompo-a – um lugar inexistente, em meio a terra abaixo da cidade, eles criaram com magia um local enorme, quente e sufocado, onde os “descartáveis” são jogados a própria sorte. Os próprios habitantes de lá separaram o local em dois, em um lado ficam os enfermos e no outro os aposentados saudáveis e os que se curaram, por ser um local sem muita infraestrutura nem regras, nascem muitas crianças, as quais a maioria acaba por morrer de doenças ou fome, as que sobrevivem, ou crescem lá ou tem a “sorte” de serem pegas pelos Haiks, bruxos do estado Maya que entram nesse local, o qual chamam de “pequeno inferno”, correndo riscos de pegar doenças e até mesmo morrer, só para capturar as crianças e saudáveis e vendê-los como novos escravos. A caçadora conseguiu de um bruxo passe livre, ela pode entrar e sair quando quiser, em troca só teve de matar um dos maiores nomes daquela cidade – que por coincidência era o marido de minha irmã – Agora provei definitivamente que leio mentes?

   A maioria dos presentes balançam a cabeça como sim ou sussurram essa palavra, alguns espantados.  

  – Nesse caso, o que estamos esperando? Entre lá Carolyne e pegue-a – diz Aurora

  – Eu não vou...

  – Eu vou – Tyler se voluntaria

  – Nunca! – Jackson enraivece-se – nenhum príncipe nunca entrou naquele lugar imundo

  – Então serei o primeiro

  – Eu também vou – diz Ramon – Não adoeço e poderei protege-lo

  – Se meu irmão vai, preciso de ir com ele – Sânia olha para Victory, que revira os olhos

  – Ok criaturas se é para a felicidade geral da nação diga ao povo que vou.

  – Eu – Leandro diz baixo, seu pai o encara e ele desiste de continuar a frase

  – Alguma subjeção? – todos, mesmo que contrariados, acabam por concordar com a ida dos quatro para capturarem a caçadora e Ramon encerra com essa frase a reunião.

***

    A maioria dos convidados fora embora, começo a subir as escadas, meu coração disparado, como se estivesse prestes a escapar pela garganta, nunca havia de falar para tanta gente. Quase no último degrau, minhas perninhas cansadas, quando alguém toca em meu ombro, ninguém por perto para vê-lo, então tento sentir – uma alma clara, irradiante, mas com algo sobre ela, uma maldição de bruxo, Leticia.

  – Davina – ela me diz timidamente – posso te pedir uma coisa?

  Balanço a cabeça como que sim

  – Sabe o Jacques, ele.. ultimamente está diferente, pode ler a mente dele e sei lá, tentar concerta-la?

  Nunca tinha tentado concertar a mente de alguém antes e Jac era, digamos bem complicado, mesmo assim segui-a descendo as escadas. Ao voltar no salão, pelos olhos dela o encaro, tento entrar em sua mente.

  Já estive lá antes, mas Natacha que me colocara, não sei por qual motivo, a mente de Jacques parecia impenetrável, como se tivesse um cadeado trancando-a. Tento novamente, algumas imagens turvas passam diante de meus olhos quando ele cumprimenta Leandro;

   Dois bebes, gêmeas idênticas, no colo de Leo

  – Anna e Isabel – diz um borrão loiro, Raiane

  – Nomes lindos – ele responde

    Eles começam a se declarar um ao outro fazendo juras de amor. A cena se desfaz, ele sai. Sangue é derramado, sangue deles, sangue...

  Sinto-me novamente, acho que tem várias pessoas ao meu redor. Estão falando, algumas delas dizem “ela está bem?” “O Nariz e boca estão escorrendo sangue” – “Desculpa”, sussurra uma voz feminina – Estão falando de mim?

  Completamente zonza, sinto como se caísse eternamente, em círculos, como se fosse um furacão lento e que me desse dor de cabeça. E então cometo o que pode ser o maior erro de minha vida, chamo por socorro, em uma só palavra em minha mente.

  Sofi.


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