Aos olhos de alguém escrita por Loressa G M


Capítulo 14
Posso ver!




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Um clarão me cega em branco, segundos depois finalmente encontro Natacha

 – Na mente de quem estamos? – pergunto curiosa

 – Na sua – Natacha responde e uma sensação de dejavu toma cada partícula de meu corpo

 – Teve algum sonho hoje minha pequena?

 Lembranças invadem minha cabeça, como se agora eu tenha permissão para resgata-las, me lembro de Rafagh e Isabel na caverna, me lembro de ter me apaixonado por ele, ao vê-lo pela primeira vez, no sonho.

 – Ele era... – tento descreve-lo em uma só palavra, a qual não me recordo

— Lindo? Olha não é por que ele é meu irmão, mas em todo esse tempo meu de existência já vi mais de 8 bilhões de pessoas, e tenho uma lista de quais são e foram as mais bonitas

 – Deixa eu adivinhar, Ernesto é o primeiro?!

Ela ri

— Não pequena kirian, eu o amava e ele era lindo, mas nem tanto, sou imparcial nisso. Meu maninho é o segundo se quer saber

 – Ele é esplendido – sussurro, espero que Natacha não tenha escutado – e quem é o...

 – E não escutei, mas continuo sendo um kirian e lendo sua mente, a propósito, seu irmão é de uma beleza que não via a séculos, está lá pelo 9 lugar. Do décimo ao vigésimo nono você nunca ouvira falar, então nem me adianta perguntar sobre eles.

 – E o primeiro...?

— EU!

— Mas... não era imparcial?

— E sou. Tanto quanto linda

 Nós rimos

 – Tenho algo sério a te falar agora – seu semblante muda – Aurora conseguiu a lista negra de Yasmim, Silon e seu companheiro são os próximos, corra Davina, ache-os antes dela

  Natacha começou a se afastar de mim, como se seu corpo voasse para longe, se apagando

 – Como? Eu não posso sair de casa e sozinha não enxergo nada

— É uma Kirian! Não existe algo no universo que não possa fazer, basta querer. Quer?

 – Eu... – ela desaparece, deixando-me sozinha e perdida em minha própria mente, esqueço de sua pergunta criando outra. Sempre saio de outros corpos a procura do meu, mas agora como posso sair de mim mesma? Como assumo o controle? Apesar de não mais vê-la, ouço a voz de Natacha ecoando por mim

 – E ache a gravida

 – Que gravida? – pergunto mais perdida que o comum

— Apenas ache-a para mim

Ouço um estralo e acordo, enrolada em meu lençol, algo me diz que não estava aqui quando apaguei, onde estava? E por que ela me acordou direto dessa vez?

  Meus questionamentos são interrompidos por Ramon, o qual entra em meu quarto.

  – Hoje é o dia – ele gentilmente segura meu queixo e o direciona para onde se encontra

  – Que dia? – entro em sua mente. Hoje é o dia da reunião entre os quatro estados, todos virão para a mansão, Ramon quer que me conheçam – Não!

  Me desespero, é diferente conhecer pessoalmente tantas pessoas que observo, a maioria delas quando descobrem que leio mentes me encaram, pensam coisas horríveis, até mesmo aquelas que nunca o fariam pensam em se livrar de mim, eu também me sentiria ameaçada se soubesse que fosse impossível guardar meus segredos de alguém.

  – Se você não quiser não precisa descer – diz ele a mim  

  – Acho que não quero

  – Tudo bem, mas se quiser descer estaremos te esperando

  Ele sai

***

  Não sei ao certo por qual motivo, quando me dei conta já estava na mente de Raiane, ela se prepara para a reunião, como herdeira Maikle precisa se impor. A garota abre o guarda-roupas escolhe entre todas as roupas sua preferida, blusa preta agarrada ao corpo, calça jeans e sua bota preta de salto quadrado e cano alto, porém as calças parecem não se fecharem como antes, ela se sente inchada e segue até o espelho olhando-se, por um instante se distrai com seus olhos, em meio ao azul claro quase translucido da íris, em seu olho esquerdo um pequeno ponto dourado se destaca. Raiane ignora saindo do closet e entrando no quarto, onde há vários papéis espalhados com tudo que ela precisa saber e decorar para a reunião, ela então começa a ensaiar suas falas.

  Aquele pontinho dourado, algo me diz que de alguma maneira já o tinha visto, me lembro da imagem dela olhando para aquilo. Se eu posso controlar minha própria mente começarei a tentar agora, penso na cena, a congelo na parte em que ela observa o ponto, amplio.

Por algum motivo saiu de minha mente e volto a realidade, não sei como, mas consigo enxergar, vejo minha cama de mogno e lençóis brancos, passo a mão por eles, é tão diferente sentir os objetos podendo ver os mesmos, piso no chão aveludado, me deito e vejo cada fio, cada partícula de poeira a luz da janela, nem percebo o tempo passar enquanto admiro as nuvens se movendo, as arvores balançando, um passarinho montando seu ninho, a textura dos galhos e da água é incrível, sempre vejo tudo isso aos olhos das outras pessoas, mas elas nunca param para reparar em cada detalhe, das pétalas, da madeira, do veludo. Pequenas lágrimas começam a deslizar por meu rosto, depois aumentam, quando percebo estou aos prantos, pela primeira vez na vida vejo o mundo como ele é por mim, o mais estranho e divertido é ver os movimentos das mãos, vejo-as se mexendo e fazendo o que meus neurônios mandam aos nervos.

Me levanto abruptamente levando minhas mãos ao rosto para enxugar as lágrimas que não param de cair, meu braço raspa na madeira da cama, como sempre sinto a dor, mas dessa vez vejo o sangue escorrendo por minha pele, encaro-o, algumas lágrimas de meu rosto nele caem, vou até o espelho da suíte de meu quarto e me vejo: uma coisa branca dos cabelos aos pés parecendo doente e com olhos de cor estranha para tal, passo as magras e pálidas mãos pela pele de meu rosto, olhando o espelho meu corpo começa a ganhar cor, meus cabelos se tornam negros e minha pele da cor da de minha irmã e meus olhos castanhos escuros, imagino que seja assim que seria se não tivesse nascido com defeito, genético. Totalmente realizada volto para minha cama, finalmente paro de chorar e percebo que a minha frente, na parede cor-de-rosa, está estampada a imagem dos olhos de Raiane.

  Grito. Um grito surdo, inaudível até mesmo aos meus pais

  – Eu fiz isso? – Falo a mim mesma incrédula

  Chego mais perto, encosto as pontas de meus dedos no ponto dourado e consigo amplia-lo, não é um ponto, é uma circunferência, a qual começa a se mexer virando em círculos devagar, como se perseguisse a si mesma infinitamente sem motivos, ou talvez por alguma razão que não saiba ainda. O brilho inebriante da cor de ouro começa a ganhar forma, algumas poucas e minúsculas escamas se formam na linha fina, alguns pequenos riscos estão no lugar das... patas de um ouroboros.

  É isso! Esse pontinho minúsculo é um ouroboros como o de Rafagh em formação. Natacha disse para encontrar a grávida, é Raiane, Isabel já foi destinada, terá sua última reencarnação como uma filha de humana com lobisomem. Mas não percebo nenhuma outra vida na Maikle e eles ainda não ficaram. Raiane não está gravida ainda, não carnalmente, o demônio escolheu Raiane para carregar a alma de Isabel, era disso que Natacha falava. Agora tenho que ir na reunião, vê-la de perto, não me importo mais que me encarem, posso ver suas expressões inconformadas e rostos assustados com meus próprios olhos, finalmente me sinto completa.

  A campainha toca, chegaram os primeiros convidados, a porta se abre, me assusto e na tentativa de sumir com a imagem de um quase dragão perseguindo o próprio rabo na parede sumo com tudo que fiz com meus poderes, minha pele, meus cabelos, meus olhos e principalmente: minha visão.

 


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