Polônia – 1942

Diferente do dia anterior, o tempo estava firme, ou quase firme. As nuvens no céu eram pesadas e o vento gelado batia forte, mas não chovia como ontem. Friedericht estava se preparando para mais um dia de trabalho, e estava orgulhoso. Seu Führer estava trazendo a Alemanha de volta ao topo do mundo, e ele estava ajudando a livrar o mundo dos impuros que causavam tantos problemas para a sociedade. Logo ele estaria na entrada do campo de concentração, selecionando os novos prisioneiros.

O caminhão balançava demais, e a quantidade de pessoas concentrada dentro dele era assustadoramente grande. Enquanto ele parava e os prisioneiros desembarcavam, sendo obrigados a seguir seu caminho até Friedericht, que anotava em uma prancheta algo que os prisioneiros não viam e que, para ele mesmo, não tinha muita importância. A cada risco no papel, ele apontava a caneta para uma direção: à sua frente ou às suas costas.

Aqueles que iam para as costas do jovem soldado simplesmente sumiam de vista, sendo arrastado para longe de suas famílias, enquanto os que iam para a frente ficavam enfileirados, aguardando o término da seleção.

Dentre as várias pessoas que estavam lá, muitas eram crianças, todas pareciam acompanhadas de pelo menos um dos pais, mas nem todas eram selecionadas para o mesmo lado que eles, o que fazia com que, a cada trinta segundos, mais ou menos, gritos desesperados de pessoas tentando se reunir com suas famílias fossem ouvidos. Friederitch já estava acostumado com tal barulho, e não se importava mais em ouvi-los, sabia que logo eles parariam.

Assim foi andando a fila, até um casal com uma garotinha. O soldado olhou para os três e fez duas marcações, apontando para a fila de espera que se formava à sua frente, seguidas de uma terceira marcação, apontando para trás.

Dois soldados que estavam lá para controle e proteção começaram a separar a família, mas a garotinha não queria se separar dos pais, e os pais também temiam por sua criança.

– Celina! Está tudo bem, você vai ficar bem. Vá com eles, eu e seu pai vamos encontrar você mais tarde. – Tentava acalmar a mulher, com seu polonês forte. A garota gritava pedindo pelos pais, e atropelava palavras, o que irritava Friedericht, uma vez que ele nem ao menos entendia a língua que falavam.

Frustrado com os gritos atrás de si, o homem se virou e se abaixou, olhando para a garota. Ele não conhecia praticamente nada de polonês, apenas algumas poucas palavras, mas com sorte, a garota entenderia inglês.

– Garotinha, seu nome é Celina, não é? Pare de chorar, está tudo bem. Você merece uma chance. Vai ficar tudo bem com você.

Vendo que a garota lentamente estava parando de chorar, ele presumiu que ela entendera o que ele falava, e Friedericht agradecia a Deus por isso. Voltando-se para os pais da garota, que estavam tentando ser fortes, por saberem o que iria acontecer, ele não teve outro pensamento. Girou a arma na mão e atirou nos dois, mandando um dos soldados levar a garotinha de lá.