A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 61
Sim | A Escolha (Bônus)


Notas iniciais do capítulo

Bem, gente, eu aqui estou mais uma vez, ao menos cumprindo uma promessa: postar todo dia 31/12! Tenho muita coisa para dizer e compartilhar ainda, meu processo de saúde mental está muito complicado, minha saúde física está muito abalada, assim como todas as áreas da minha vida. É muito ruim esse sentimento, mas todas as vezes que eu posto, me sinto feliz e tranquila por alguns momentos.
Muita gente abandonou a fic, o site, e eu entendo. Mas eu prometo que não vou.
Espero muito que vocês gostem, passei muito tempo escrevendo, mesmo que tivesse tudo em mente, mas é do fundo do meu coração.
OBS>>>> irei colocar as imagens e os links incríveis no dia 01!!! (Não coloquei agora porque estou postando pelo celular!!! Desculpa!!)



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Aqui está meu corpo, que estou dando para nós

Aqui estão meus braços, que irão nos erguer

Aqui está minha vida, dedicada ao amor

Tentarei te dar tudo o que você merece

E eu não posso prometer que vai ficar tudo bem

Mas aqui estou, se você estiver pronto para tentar

Aqui estão minhas lágrimas quando você diz aquelas palavras

Aqui está minha vida, para o melhor ou para o pior

Para o melhor ou

Sim, sim

 

Me ame (me ame)

Me mereça (me mereça)

Seja verdadeiro, eu nunca te machucarei

Te amo (te amo)

Te mereço (te mereço)

Serei verdadeira, eu farei o que precisar

Sim, sim

 

— Yes, Demi Lovato

Sempre imaginei o dia do meu casamento como algo agitado, pessoas indo e vindo o tempo inteiro. Eu sempre imaginei certo. Junto com Prim, que pedi para que se arrumasse junto comigo, contamos exatamente 27 pessoas entrando e saindo do meu quarto em um espaço-tempo de apenas 40 minutos. Isso apenas para eu ter meu penteado feito. Mas é claro que tiramos a melhor parte de ter pessoas dispostas para trabalhar para a gente: pedimos todas as comidas deliciosas possíveis, enquanto escutávamos nossas músicas favoritas o tempo todo. O alívio dos criados ao enfim terminarem a linda coroa de flores feita com o próprio cabelo dela, somado à flores que Peeta colheu ontem com ela e meu pai, foi enorme.

— Qual dos colares você vai querer? — pergunto, fazendo carinho nas costas da minha irmã. Ela parece muito maior, e de fato está. Sei que está sentindo e sofrendo demais com a morte da nossa mãe, e eu me sinto culpada por ter tirado isso dela. Porém sei que foi algo que eu não poderia escolher. Então, vou além do que eu posso para fazê-la sentir confortável.

— O que você acha dessa, Katmiss? — sorrio, concordando com sua escolha. — Ela usou no casamento com o papai. Sei que você não vai se incomodar se eu usar.

Sorrio, beijando sua testa. A única parte realmente que me incomoda é que estamos sendo fotografadas o tempo todo, mas por mim tudo bem também se ela está feliz.

Realmente vai ficar lindo. Ela gostaria que Prim fizesse tal escolha.

— Tenho um par de brincos que vai ficar mais perfeito ainda, espere — abri a gaveta da minha penteadeira nova, e logo achei a caixinha. — Era para seu aniversário, mas como é daqui poucos dias, posso adiantar.

Seus lindos e claros olhos azuis se iluminaram como uma noite de natal. Rio, muito feliz por sua reação ao deslumbrar o par de pérolas. Coloquei em suas orelhas cuidadosamente.

— Mas o que você vai usar de acessório?! — Se preocupa, olhando para as várias opções.

— Isso eu já escolhi — A voz de papai nos surpreende, mas sorrio ao vê-lo entrar no quarto cheio de pessoas. Ainda não está totalmente pronto, mas homens sempre ficam com a parte mais fácil em um casamento. Ele só vai vestir uma farda bonita e sua coroa imponente.

— Não me diga que é um daqueles pesados e enormes, papa — resmungo, em uma falsa ironia. Ele já me presenteou com um colar de 3 quilos, eu fiquei com a marca no pescoço, apenas para algumas fotos em uma cerimônia.

— Pode ficar tranquila, eu cuidei de tudo direitinho, e sua avó me ajudou — se aproxima com uma caixa levemente grande mas fina. Minha avó aparece, arrumada, com uma coroa já em sua cabeça.

— Acho que eu deveria me preocupar ainda mais — eles riem, inclusive Prim, uma vez que nossa matriarca é famosa pelos exageros. Confesso estar muito surpresa com ela vestindo um vestido laranja pastel, e a mais simples de suas condecorações.

— Você ainda não está vestida, mas suas amigas nos deram um acesso exclusivo para o modelo final, e eu não poderia estar mais calma em relação à escolha feita — vó Rose diz, sorrindo. A melhor parte sobre ela é sempre saber ser uma boa companhia, sendo sempre discreta com sua postura - mas suas roupas sempre a entregam.

Meu pai pede alguns momentos apenas conosco, por mais que as fotógrafas fiquem um pouco encabuladas, querendo tirar mais fotos antes de que estar com meu vestido.

— Filha, sei o quanto você é linda, o quanto o amor que você e Peeta sentem e cuidam um no outro, se protegendo, se cuidando de todas as formas possíveis… — começa. Talvez fossem esperar que ele falasse essas coisas somente comigo, mas eu realmente não me incomodo em absolutamente nada com a presença de Prim e minha avó que me quer tão bem. — O que você acha disso?

Abri cuidadosamente a caixa. Um único presente, com um diamante que lembra uma flor, bem discreto porém impossível de não ser notado. Uma bela pulseira de ouro, bem fina e delicada, com o pingente de diamante.

— Você tem muitos colares, brincos, e agora uma aliança… achamos que seria oportuno ter uma pulseira que achamos que represente você — sorri, num sorriso muito sincero. Quando acordei, estava me sentindo extremamente insegura, e como se faltasse algo, mas… isso? Uma demonstração do amor e do cuidado de meu pai e de minha avó? Isso é muito mais o que eu poderia esperar.

— De certa forma, lembra o Peeta, por causa do formato da pedra de diamante, eu fiz questão de cuidar desse detalhe — acrescenta vovó, me ajudando à colocar. Prim saltita na cadeira.

— Quando eu vou poder ter uma dessa, afinal?

— Quando você casar, o que vai ser daqui pelo menos trinta anos, fazendo um favor — Papai responde minha irmã, com um sorrisinho cínico que me faz rir sinceramente. — Ok, daqui uns vinte, até porque já estou velho o suficiente e sua irmã está casando aos 18, quase 19.

— Eu ainda não tenho perspectiva de tempo, mas por mim tudo bem, desde que eu vá ter uma dessa também.

Admiro em meu pulso, iluminado pela luz que entra da enorme sacada de meu quarto, e também pelas lâmpadas brancas-quentes do lustre. Independentemente do que eu vista, isso aqui será um detalhe perfeito.

— Mas agora, está na hora de nos despedirmos. Seu pai precisa se arrumar, e você também, morena — vovó diz, beijando o alto de minha cabeça. — Você está deslumbrante, e nós muito orgulhosos de você.

*

— Seu vestido é tão lindo que estou sem palavras — Johanna diz, amamentando sua filha sentada de frente para mim. — Madge, você fez um trabalho lindo demais.

Minha outra amiga sorri, ajeitando o próprio vestido de festa para a cerimônia enquanto Annie finaliza o coque em seus cabelos loiros. Todas estão tão lindas, eu fiquei emocionada só de olhar.

— Agradeço, mas a Annes quem deu a ideia genial das rosas na segunda pele. Vão refletir de maneira mágica sob o pôr do sol na cúpula, ainda mais com esse iluminador que passamos no corpo dela, bem num tom natural, mas que fará parecer como uma fada. — Madge conta mais dos detalhes geniais de Annie. Ela não quis voltar para trabalhar como minha designer e auxiliar, mas esteve presente em cada etapa do meu vestido de noiva, chorando mais do que eu no processo, negando completamente que nós somos adultas agora e ela está realmente grávida de cinco meses de Finnick, seu marido.

— Eu amo vocês e toda sua criatividade — digo com sinceridade, sorrindo muito feliz com meu reflexo. — Prim, qual coroa devo usar? A com brilhantes dourados ou vermelhos?

— Vermelhos, porque eu vou usar um vestido bege com dourado e prata, Katmiss — diz a caçula, me ajudando com os discretos e únicos brincos de pérolas. — Deveria ser um crime ser tão bonita assim. É seu casamento, mas você literalmente está impossibilitando todas nós de parecermos arrumas contigo desse jeito.

— Se fosse crime ser bonita, você já estaria presa antes de mim, Primprilimpimpim — sorri, contente.

— Majestade, a vossa alteza Clove gostaria de entrar — bati palmas, deixando meu guarda permitir a entrada da minha amiga francesa e de seu filho.

— Eu achei que você não viria, garota! — exclamei, quase emocionada por sua presença. Clove sorri, jogando os longos fios pretos e lisos para trás dos ombros. Nós somos amigas de infância por causa de toda a diplomacia, porém a vida nos trouxe muitos desencontros. Principalmente depois que ela sofreu um golpe, e acabou grávida, criando o filho sozinha, depois de ter s intimidade violada para todo o mundo.

Quando ela começou a sair com o duque da Itália, aos 16 anos, ou seja, 2 anos atrás, eu, Nicolau, sua irmã Glimmer e todo mundo lhe avisou que não iria dar certo porque ele já não tinha boa fama na corte. Todavia, nada relacionado à relacionamentos passados. Passado 4 meses de um namoro bem fervoroso, fotos íntimas dela estavam por toda a internet, capas de jornais e revistas, assim como um vídeo onde perdia sua virgindade de maneira muito complicada e preocupante. Minha mãe que era muito ruim comigo na época até me permitiu viajar para passar umas semanas com ela. Não demorou muito para descobrir a gravidez e tudo ficar ainda pior.

É uma longa história, de muitas reviravoltas. Certamente a mais confortável é saber que o maldito está preso, enquanto ela abraçou a maternidade com todas as forças, e seu filho é uma criança adorável ainda que extremamente mimado por Glimmer e todos nós.

— Charlie não estava se sentindo bem depois da viagem que fiz para a África do Sul, mas graças a Deus tudo deu certo. Eu jamais perderia essa oportunidade, Katniss — diz, deixando o carrinho com seu filho adormecido ao lado de minha cama para poder me abraçar bem apertado. Fecho os olhos, retribuindo gesto de carinho com todas as forças.

— Como você tem passado? — sussurro. A gente não conversou muito nesses últimos meses, com o final da Seleção, meu noivado com Peeta, os conflitos em Panem. Sei que as coisas não tem estado muito boas nessa fase que o filho tem crescido tanto e conhecendo o mundo.

— Em terapia, amiga... obrigada por se preocupar. Deixemos nossas dores por hoje, ok? Você é uma rainha linda, está esplêndida hoje, e merece toda a felicidade que puder viver — responde, beijando minha bochecha. Não me preocupo porque está sem batom. Diz que depois que se tornou mãe, ainda não encontrou um batom à altura para preparar qualquer comida que seu filho oferecer do nada ou para quando ele faz carinho em seu rosto quando está mamando ou com sono.

— Gente, cadê as flores que Peeta disse que traria? — pergunto, começando a suar as mãos, ansiosa. Isso é ruim para a minha maquiagem, embora eu possa suar e chorar que não vá borrar, o suor me deixa colando, como qualquer pessoa normal, e eu não gosto muito dessa sensação. — Ele disse que traria para mim. No caso, mandaria alguém entregar.

— Amélia disse que ele está chorando — Prim avisa, parecendo preocupada, e então no instante seguinte Amanda entra em meu quarto com Stacey, depois de serem anunciadas e eu nem perceber. — O que aconteceu? Ele já deveria ter as flores.

— Peeta não tinha ouvido o áudio que nossa mãe deixou para ele, tinha se esquecido, e a gente nem sabia que ele não tinha ouvido, então entrou em uma crise existencial muito grande, Layla, Stefan e a Delly estão sem ter o que fazer, Amélia e meu pai estão sem rumo.

— O quê? Delly está aqui?! — Mil coisas se passam pela minha cabeça, e sinto minhas pernas pinicarem, sendo necessário tirar meus saltos, calçando as sapatilhas que usei durante todo o dia que estive me arrumando. — Como ele está? Será que se eu for lá vou conseguir resolver isso?

Amanda e Stacey dão um suspiro, se entreolhando.

— Acho que só você pode salvar a situação.

— Mas você já está toda vestida de noiva, papai está te esperando na capela, e faltam uma hora para o horário perfeito que vocês dois se organizaram tanto para casar! — Prim diz, ansiosa, começando a andar rápido de um lado para o outro no meu quarto enorme. Johanna, Madge e Annie parecem sem ter o que dizer, mas sei que vão me apoiar seja qual for minha decisão, que sem querer acaba ficando para Clove, que revira os olhos.

— Não vai adiantar nada a hora perfeita se o seu homem não estiver te esperando no altar, Kamikaze! Está esperando o quê?! Vai lá!

E não preciso pensar duas vezes, saindo seguida pelas irmãs de Peeta em passos apressados, dando a sorte grande da cerimônia ser bem pequena e não termos ninguém além das pessoas da mais alta confiança. Os guardas abrem as portas do quarto, e não vejo Peeta.

— Na varanda com Amélia e Delly — Stuart diz, com um sorriso torto triste, tocando em meu ombro. A situação poderia ser um pouco menos caótica, mas infelizmente as coisas não são tão simples assim.

Peeta, nós já te dissemos que vai ficar tudo bem. A tia Alicia estaria muito feliz com a sua decisão, você é extremamente capaz de fazer isso, Katniss é a mulher da sua vida — escuto Delly, me aproximando de onde estão. Felizmente meu vestido é simples e não é pesado para me mexer, embora tenha manga até meus pulsos. Meu cabelo está em ordem através de um coque bem elaborado, com duas mechas bem delineadas por babyliss, e eu realmente estou me sentindo linda, faltando apenas a coroa. — Você tem o direito de ficar triste. Mas por favor… você não pode desistir agora. Todo mundo já se arrumou.

Entro no local, onde não me percebem no primeiro instante, e a cena seria engraçada se não fosse em uma circunstância tão triste e complicada. Peeta está todo vestido como eu, com um buquê perfeito de flores do campo, lindas margaridas e girassóis em suas mãos, enroladas em um papel marrom, amarrado com alecrim. Amélia está sentada no chão sobre uma almofada, toda pronta, fazendo carinho no braço do irmão, enquanto Delly está com uma roupa simples, com a cabeça de Peeta em seu colo no sofá que está disposto aqui.

Suspiro, depois de limpar a garganta, sentindo meu estômago ficar gelado com a presença de Delly. Sei que ela e Peeta se acertaram, mas nós duas ainda não conversamos sobre o que aconteceu. Isso me deixa tão desconfortável que sinto vontade de chorar sinceramente. Mas consigo manter minha postura o mais discreta possível no meio da impossibilidade disso com minha roupa e pelo fato de ser o meu casamento.

Parada, com um tão pouco espaço do meu noivo, percebo que eu não planejei em absolutamente nada o que eu diria para ele estando aqui. Minha mãe morreu por minha causa, mas eu tento não tratar isso como se fosse algo tão cruel como realmente é. Passamos toda a madrugada de hoje juntos, conversando e planejando nossos próximos dias, que não foi, de fato, falado a forma da qual ele entraria na cerimônia, e isso é importante pra cacete. Começo a me culpar, e sentir que deveria adiar o casamento mais uma vez pela minha irresponsabilidade.

Acho que meu medo de falhar antes de nos casarmos fica claro, pois troco olhares com Delly por um instante como se perguntasse o que eu tenho que fazer. Ela se levanta em silêncio, fazendo um gesto de leve para Amélia, me deixando à sós com Peeta. Sento na almofada que sua irmã se sentava, enquanto ele funga, parecendo sem graça com minha presença. Lágrimas seguem escorrendo por seus olhos sem parar, e logo os meus estão marejados.

Você quer que eu te diga alguma coisa? — pergunto, baixo, me encostando no sofá, fazendo carinho em seu ombro com a ponta dos meus dedos, por debaixo de sua blusa que está com três botões desabotoados.

Negou, fungando outra vez. Dou um sorriso torto sincero, por estar fugindo de trocar olhares comigo.

— Peeta, se você me deixar aqui em silêncio enquanto eu me desdobro para adivinhar o que é que eu tenho que falar em um momento como esse, serei obrigada a bater em você com meu coração partido.

— Acho que ninguém ensina a gente a realmente como ser boas pessoas e bons parceiros — diz, ainda sem me olhar. — Katniss, eu acho que não sou bom para você. E eu estou chorando assim no dia do nosso casamento, parece que eu estou morrendo.

— Por que você está chorando? — pergunto, num suspiro muito paciente. Sempre tenho todo o tempo do mundo para escutar o que tem a dizer, e ele tem todo o tempo do mundo para me escutar. Semana passada, ele quem me amparou em uma crise de pânico quando pensei na morte da minha mãe.

— Porque… porque… — funga, cobrindo o rosto com o buquê e eu acabo achando a cena engraçada. — Por que você está rindo?

— Você está com vergonha de mim, Peeta! Não consigo acreditar nisso! — tiro o buquê de suas mãos, repousando em meu colo. Sento ao seu lado, de forma que fico de frente para ele. — O que foi que aconteceu? Me disseram que você escutou uma mensagem que sua mãe deixou para você, não foi?

Assente, devagar, ainda chorando muito, em silêncio, encarando o telhado de vidro, onde muitas plantas estão penduradas.

— Eu não sabia que ela tinha te deixado uma mensagem — digo, baixo, fazendo carinho em sua bochecha. — Quer compartilhar comigo?

Suspira, fechando seus olhos azuis avermelhados por causa do choro. Ainda consegue manter uma imagem angelical.

— No áudio, ela disse que desconfiava que eu fosse apaixonado por você quando veio ao palácio para a festa de Halloween. Que nós dois passávamos a impressão que apenas não estávamos juntos pelos protocolos. Disse que está muito orgulhosa de mim, e que acredita que sou capaz de auxiliar nas funções reais, porque quem cuida dos irmãos e dos pais é alguém capaz de assumir toda e qualquer responsabilidade.

Assinto, devagar, fazendo carinho em seu rosto. O relógio pendurado marcam quase a hora que eu deveria já estar descendo para o jardim, onde ocorrerá a cerimônia. Mas eu realmente só consigo pensar em como hoje está sendo difícil para ele não ter a mãe presente como sempre comentou que ela fosse estar.

— E o que tem de errado, querido?

Pergunto realmente sincera, e preocupada. Sei que tem ido à um terapeuta uma vez na semana. A perda de sua mãe afetou drasticamente toda sua família, mas ele se culpa mais do que todos por não ter estado presente. Isso não é algo que a gente fale pessoalmente e direto, mas sei que é exatamente o que acontece em sua cabeça, posso ver às vezes em seus olhos brilhantes a preocupação. Quando nota o quadro que foi tirado no palácio no Halloween, que está exposto na sala da casa de seu pai. Lidar com o luto é complexo, e varia muito de pessoa para pessoa, mas é algo quase como uma doença crônica, você não pode evitar não sentir. A dor ela chega sem bater na porta… e não tem muito o que fazer sobre isso. Somente sentir e deixar as memórias te inundarem como um maremoto.

— Não sei! — responde, se sentando, num suspiro falhado por causa do choro. — Parece que finalmente eu senti todas as responsabilidades que eu vou assumir, com você, com todo o país! É sufocante pensar que eu falhei com a minha tarefa de cuidar de minha mãe, falhei, e ainda sim estou aqui, no dia do nosso casamento, no dia da minha coroação. Katniss, eu não vou conseguir dar conta. Eu jamais conseguiria lidar com tudo isso. Um ano atrás eu era quase um analfabeto, desnutrido, que caiu aqui de paraquedas sem nenhuma perspectiva que não fosse comer e garantir comida na mesa da minha família. Como posso ser bom o bastante para o reino? Como posso ser bom o bastante para você?! 

Seu tom é um pouco falhado, por causa do choro forte, e diz as coisas com uma certeza incerta que faz meu coração acelerar, e eu sentir minha visão embaçar um pouco por realmente não saber o que dizer, por mais que conheçamos muito um do outro, no nosso dia a dia, durante as inúmeras experiências na Seleção. Mas quando o assunto não é política, não conversamos sobre o que vai ser nosso casamento. Como vai ser lidarmos um com o outro, mediante crises como essas. O que eu posso dizer? Peeta tem momentos de tristeza, enquanto eu literalmente luto contra mim mesma em minha cabeça diariamente, com vários comprimidos para tomar e me ajudar a conciliar uma coisa com a outra. Sinto meu coração pesar, tomada por uma raiva de não ter um manual de como realmente fazer as coisas quando se diz respeito ao próximo.

Constato, aqui, atrasados para o nosso próprio casamento, que não tem o que dizer. Nunca teremos. Apenas a maneira de demonstrar.

Beijo castamente sua bochecha, já que estamos na mesma altura um do outro, e então descanso a cabeça sobre seu ombro, entrelaçando nossos dedos. 

— Peeta, nós dois somos imperfeitos. Nós dois temos problemas… muitos problemas. Mas nenhum de nós será capaz de ser realmente bom o bastante segundo nossas cabeças e metas por mais que a gente se esforce. Mas o que resta fazer é estarmos sempre um para o outro. Anteontem você não passou a madrugada toda comigo enquanto eu chorava por causa da minha mãe? É o que eu estou fazendo por você, sem esperar nada em troca, apenas que você fique bem… é sobre isso o que o amor é — tiro a cabeça para olhar em seus olhos, sentindo borboletas em meu estômago. Estou irrevogavelmente apaixonada por ele. — Saber que não somos perfeitos, mas dar o nosso máximo para sermos o melhor que podemos para quem a gente ama. Você fez o seu melhor por sua mãe. Você faz o que é melhor para mim, e para seus irmãos, seu pai. Isso te dá uma qualidade maior do que muitos líderes, sabia disso?

Parou de chorar. Assente, devagar. Está com o rosto todo corado por causa do rio de lágrimas, quase literalmente se afogando.

— São momentos como esses que eu penso que não mereço você — confessa, desviando nossos olhares outra vez. — Só sendo eu para quebrar tradições tão antigas e fazer com que você venha me socorrer quando está toda arrumada para o nosso casamento, este o qual estamos absurdamente atrasados por causa do meu chororô.

— Peeta, você já me viu em uma crise suicida. E me viu seminua. Machucada. Sangrando. Chorando. Insegura. Acha mesmo que você não é digno do meu tempo e paciência? Na verdade, você está me irritando. O quanto eu terei que dizer e demonstrar para você que eu amo você, que é minha escolha?

Fica pensativo, olhando na direção do sol, com os olhos inchados por causa do choro, o nariz vermelho. Eu queria poder tirar uma foto só para mostrar o quão bonito ele fica chorando. Seus olhos estão em um tom de azul oceano invejável por qualquer pessoa, mesmo as que possuem os olhos claros, como eu. Suspira, fungando de novo, dando de ombros, como se avaliasse o nível das suas ações.

— Obrigado por entender — diz, baixo, finalmente olhando em meus olhos. — Surtei.

— Eu sei que você surtou — respondo rindo, beijando sua boca em um selinho. — Eu sei. Mas está tudo bem. Ainda lidero o ranking.

Dá um meio sorriso, me abraçando, e eu me permito ser envolvida em seus braços fortes, sentindo o cheiro de seu perfume. Fecho bem meus olhos, num suspiro aliviada por ele estar melhor.

Sempre vou estar aqui por você, independentemente de qual seja seu surto, meu bem — sussurro, um instante antes de desfazermos nosso abraço.

— Nós realmente temos que descer para a cerimônia? — pergunta, ainda baixo. Coloca para trás da minha orelha minha mecha de cabelo, fazendo um carinho em minha bochecha. Mas isso realmente me irrita de uma forma agradável, me fazendo dar um tapa em sua mão, caindo na risada.

— Claro que sim, Peeta, eu não me arrumei toda assim para você. Foi para eu ter fotos novas com esse meu penteado e maquiagem, todo mundo tem que ver! Você não faz ideia do que foi minha manhã e tarde me arrumando, então, vamos, vamos, vamos, levanta logo. Eu mesma irei me responsabilizar por cuidar de você para ver se a gente consegue se casar a tempo!

Me levanto, carregando comigo o buquê perfeito que separou para mim, o arrastando pela mão.

— Espera! Se você já me beijou vestida de noiva e vai ter que retocar o batom antes de oficialmente rolar a cerimônia, o que acha de mais um beijo?

Reviro os olhos, mas com um sorriso, aceitando rapidamente seu pedido.

— Cara, mas que isso, seu maluco. Agora a gente só tem vinte e três minutos para arrumar você! — Layla exclama, e eu rio, dando um empurrãozinho em Peeta para ele se sentar na cadeira em frente à penteadeira de seu quarto. — O que vamos fazer com seus olhos tão inchados assim?

— Ben, me empresta sua garrafinha de refrigerante? Desculpa, você pode tomar mais duas no lugar dessa — tiro das mãos do caçula dos Mellark com meu coração partido, mas ao mesmo tempo querendo solucionar o problema. — Peeta, segura em cima dos seus olhos fechados enquanto Stefan arruma seu penteado. Layla, pode ir passando o terno dele, só a gola mesmo, por favor.

Vou delegando as funções, me esquecendo do mundo ao meu redor, enquanto ajeito a sobrancelha de Peeta com um pente específico para isso, depois tiro a garrafa com gelo de seus olhos, para arrumar seu cílios e ele ri. Fecho a cara.

— Depois de chorar ainda tem a coragem de achar engraçado eu tentando te deixar apresentável? — Tento parecer realmente incomodada e com razão, mas ao olhar para ele e sentir seu carinho em minha cintura me desmancha completamente. — Você é um ridículo. Sério. A sua mulher deve dizer isso todos os dias.

Cruzo os braços, o encarando. Realmente, parece uma nova pessoa. Sorri, fazendo graça, puxando minhas mãos.

— Bem, eu ainda não sou casado, mas ela diz quase todos os dias sim — rio, revirando os olhos outra vez em menos de dez minutos. — Não esquece de retocar o batom.

Arfo, no susto, tendo me esquecido da minha própria imagem, que é, sem sombra de dúvidas, a parte mais importante de todo esse processo aqui.

— Aqui, Katniss — Delly diz, aparecendo do nada outra vez em meu campo de visão, me surpreendendo. Entrega o tom certo do batom vermelho arroxeado que uso. Percebo, então, que o quarto de Peeta está com seus irmãos de um lado para o outro, minhas amigas e criadas, e, claro, ela. Suspiro, sentindo minhas bochechas corando. — Você precisa repassar o delineador também, para não desfazer quando jogarem as flores.

Delly, essa parte era segredo — Peeta e Stefan murmuram, onde o namorado dela chega a dar um leve peteleco em seu ombro.

— Nossa, me desculpa se vocês dois ficam contando tudo para mim, essas coisas eu me esqueço que é segredo! Já falei até para o Ben — desvia seu olhar de amiga de mim para olhar para os dois.

— Katniss, só fingir surpresa quando acontecer — Amélia se intromete, totalmente pronta para a cerimônia, com um sorriso no canto do rosto. Quando entrei no quarto eu percebi que sua maquiagem estava um pouco borrada, mas a imperfeição já foi totalmente corrigida, e não dá para perceber absolutamente nada. — Peeta e meu pai passaram a semana toda escolhendo as pétalas para quando terminar a cerimônia.

— Mas que cacete desgraçado isso, hein! — Peeta briga, saindo da cadeira para que eu possa me sentar e acertar a minha produção. — Qual a parte de segredo  que vocês não entendem? Ou surpresa? São analfabetas ou o quê?!

Seu tom é realmente sério, mas é a minha vez de achar graça de seu desespero e ansiedade.

— Está tudo bem, vai ser surpresa de qualquer jeito, de qualquer forma, e isso que é o mais importante, pode ficar tranquilo — o tranquilizo, enquanto repasso o batom que nem borrou, mas quero ter a certeza de que fica perfeito. Com uma experiência de anos, retoco o delineado sem nenhuma dificuldade, e admito estar me sentindo muito bonita. Isso é um absurdo de raro.

Percebo que todo mundo está arrumado, exceto Delly. Não conversamos sobre isso porque eu não quis falar sobre, mas ela tecnicamente não foi convidada. Mas não significa que é mal-vinda.

— Vocês estão quatro minutos atrasados! — Amanda alerta, abanando o rosto levemente suado com as mãos. — Vão perder o horário perfeito se não descerem logo!

Assinto, e quando já estou quase saindo, seguida por Madge e Prim colocando o véu na parte de trás do meu vestido, paro, pedindo um minuto para Peeta.

— Vão na frente, eu tenho que me atrasar um pouco mesmo — eles assentem, seguindo, depois de um beijo na bochecha por parte de Peeta. — Confio que colocaram direito, e calcei o salto, não precisam se preocupar com nada, podem ir também.

 Tranquilizo minha amiga e minha irmã.

— Avise ao papai que me espere — digo à Prim, que assente.

— Ele te esperaria mil anos, na verdade, acho que é a única coisa que ele quer ouvir hoje, embora ame o Peeta — rio, sabendo que é verdade. — Não demore muito!

— Vou levar seu buquê e esperar também, vai que isso não me dá sorte e essa noite ainda não arrumo um namorado! — Madge exclama, segurando as flores, pegando na mão de Prim e as duas saem correndo e rindo alto, me deixando completamente mais tranquila para o que eu tenho que fazer ainda hoje. Dean tentava controlar Améçia por um surto de raiva com seu pai que fez alguma coisa errada ao ajeitar a camisa.

Respiro fundo, fechando meus olhos por alguns milésimos de tempo, para reentrar no quarto de Peeta, encontrando apenas uma única pessoa para trás. Antes que eu perca a coragem e fique pior as coisas na minha cabeça, vou logo falando.

— Se você não vestir a primeira roupa que tiver apropriada para a festa nesse guarda-roupa, eu jamais serei capaz de perdoar você e me perdoar — falo para Delly, a assustando por eu ter voltado para o quarto.

— Katniss, não acho que essa seja a melhor forma de me fazer ir ao casamento e — entro no closet, procurando apressada por alguma coisa que lhe sirva. Felizmente, não demora em nada, pois a arara com as roupas que foram dispostas para as irmãs dele escolher ainda está aqui, uma vez que o quarto será preparado para receber Stuart quando retornarmos da lua-de-mel.

— Rápido, se troque, Delly. Você sabe que a cerimônia não vai ser tão significativa para Peeta se você não estiver presente. A família dele também faz questão que você vá — digo, lhe passando um vestido vermelho longo, tomara que caia, e uma fenda bem conservadora na altura de seu joelho. É exatamente do seu tamanho.

— Katniss, não adianta eu ir ao casamento do meu melhor amigo se você não me desculpar e a gente realmente se acertar. Hoje não é o dia e esse nem é o momento para me dizer todas as coisas horríveis que fiz você pensar e fazer por minha causa — responde, segurando o vestido nas mãos. Seus olhos âmbar estão marejados, e sinto que os meus também. Meu coração dói ao pensar na fala que ela me faz, na verdade.

O que aconteceu entre nós duas foi algo muito grande, muito sério. Mas ao mesmo tempo, consigo me colocar no lugar dela, porque hoje sei o que é amar alguém. Não é fácil abrir mão, ainda que seja o certo à se fazer. Sei que temos que conversar, e que vai levar mais tempo para as coisas voltarem a ser como eram entre nós do que foi para nos tornarmos amigas à princípio. Todavia, falo com todo meu coração:

— A festa não vai ser a mesma sem você. E teremos muito tempo para conversar depois de hoje.

Parecia sem jeito, mas sorri torto, rapidamente indo se trocar. Aguardo, e no que deve ter sido a troca de roupa mais rápida do mundo, sai, com uma sapatilha preta brilhosa que combina muito com seu vestido.

— Nossa, e o que eu faço com meu cabelo? — pergunta, olhando para o relógio preocupada.

— Seu cabelo está ótimo assim, mas passa a prancha que Peeta estava usando agora pouco, assim — finalizo seu cabelo, em um modelo quase parecido com o meu, exceto que foi feito em dois minutos. Já estava usando máscara de cílios, fiz apenas um delineado e passei um gloss em sua boca, pois foi o que nós encontramos no meio da bagunça que estava a bancada. — Tome, use esses brincos também, vamos!

Riu, e eu também, trocando olhares. Saímos juntas, andando bem rápido para onde seria a cerimônia.

— Meu Deus, bebê, como você consegue fazer essas coisas? Você que é linda consegue ficar extraordinária em literalmente cinco minutos! — Stefan é o primeiro a nos notar descendo as escadas depois de pegarmos o elevador, dando os últimos retoques uma na outra. — Sabia que você viria.

— Precisei ser convencida e ameaçada de ser jogada na masmorra pela rainha, então fica meio impossível não comparecer — brinca, sinalizando para mim. Sorrio, realmente sincera. O olhar que me direciona é o que eu sei que é um recomeço para nós duas. Vai ser demorado. Mas eu fico muito feliz por estarmos dando esse passo. Sei que não vou mais me preocupar se chegar na casa da família de Peeta e ter que me sentir mal e desconfortável todas as vezes que estiver lá.

— Katniss! — Peeta vem em minha direção, depois que Delly vai com Stefan para onde será a cerimônia.

— Por que ainda não entrou? Aconteceu alguma coisa? — Logo me sinto preocupada de novo, mas ele sorri, e isso põe mais uma vez panos quentes ao redor do meu coração.

— Não, fica calma! Bem, eu esqueci de dizer antes de descermos. Normalmente, eu deveria entrar com minha mãe, mas ela não está aqui… enfim, você sabe. Pensei na dama Effie, que é literalmente minha segunda mãe, ou Amélia para entrar junto comigo. Mas conversei com seu pai. Nós dois já fizemos tantas coisas que não deveríamos nem ter feito… — pega cuidadosamente em minhas mãos. Amo o carinho que as seus dedos calejados por causa dos espinhos fazem em mim. — Por que não entramos juntos?

A ideia me pega de surpresa, ao mesmo tempo que me acalma de uma forma sobrenatural. Eu tive um sonho quando era mais nova à respeito disso, enquanto meu pai alegremente me aguardava junto com Prim para dar início na cerimônia, mas nunca, jamais, poderia imaginar isso acontecendo de verdade. Dou um riso, ficando emocionada de novo, envolvendo meus braços ao redor de Peeta.

— Essa ideia é perfeita, Peeta — digo, balançando a cabeça em concordância. — Cadê seus irmãos e seu pai? Cadê Primrose?

— Todos só estão esperando por nós. Nicolau os apressou porque garante que junto com Clove descobriram fofocas boas o suficiente e querem logo compartilhar.

— Parece que você armou tudo, então?

Entrelaço meu braço no seu. Sorri, parando diante das grandes portas que dão acesso ao jardim. Madge me entrega o buquê e pisca.

— Mesmo em um surto tenho que garantir um sorriso seu. Vamos nos casar hoje porque minha prioridade é te fazer feliz sempre que eu puder, porque isso é o que me faz feliz.

— Dá para parar com essa conversinha doce e entrarmos? Você vai me fazer borrar o delineado, e eu não estou afim.

Ri, enquanto os guardas se posicionam para abrir as portas. Somos informados que está tudo certo e podemos entrar.

— Ok, parei… mas devo dizer que é impossível alguém ser mais bonita que você em um vestido de noiva. Eu sabia como ele ia ser, por isso escolhi essas cores para as flores: para realçar o seu sorriso e destacar a temática. Você está tão perfeita como as estrelas em um céu limpo. Poderia usar todo o dicionário de elogios para descrever você, e todos os adjetivos de flores que conheço, mas nem juntando tudo seria capaz de definir o quanto significa para mim, e o quão perfeita está.

Um instante antes de eu começar a chorar, as portas se abrem, e eu sorrio da maneira mais sincera e verdadeira possível, sentindo as covinhas na minha bochecha ficarem destacadas. Logo somos recebidos com o coral tocando uma música clássica, mas diferente do que normalmente escutamos em casamentos. O sol está melhor alinhado do que o que eu mesma havia planejado, refletindo em minha tiara, e tornando a atmosfera mais fresca e gostosa nesse dia que marca o meio do inverno em Panem. Caminhamos por uma linha reta, regada por pétalas de rosas brancas, e o caminho é marcado por postes com luzes brancas quentes, como um pisca-pisca. Eu poderia sonhar com isso e nunca ficaria tão bonito como realmente está nesse momento.

Tenho certeza de que as fotos ficaram tão especiais como está sendo vivenciar com meus próprios olhos. Nós dois somos todas as cores em uma, se fundindo em um arco-íris ilimitado. Essa foi a frase que marcou nosso editorial de noivado. Meu pai da maneira mais elegante possível, enxuga as lágrimas, com um sorriso emocionado, para oficialmente dar segmento ao protocolo.

Confesso que nem escutei nada além da parte em que eu tinha que repetir as coisas e Peeta também. Embora eu tenha crescido olhando nos olhos das outras pessoas por ser praticamente uma necessidade de quem faz parte da realeza, é difícil porque ficamos segurando a mão um do outro, e ele ficou tamborilando minha mão com a ponta de seus dedos, me fazendo sorrir sinceramente o tempo todo, e ele também. Só parece que tem nós dois aqui. Sinto seus olhos sobre mim todo o momento, com todo o carinho possível. De alguma forma, eu me sinto louvada por Peeta.

— Então, rainha Katniss Evangeline Snow-Everdeen, aceita Peeta Ryan Mellark como seu legítimo marido?

— Sim, eu aceito — respondo, rindo, trocando o olhar do meu pai para Peeta.

— E você, rei consorte Peeta Ryan Mellark, aceita a rainha Katniss Evangeline Snow-Everdeen como sua legítima esposa?

— Eu aceito, com certeza — pisca para mim. Sinto vontade de chorar de felicidade, mas não consigo.

— Então eu os declaro, marido e mulher — meus ouvidos foram preenchidos pelas batidas aceleradas do meu coração, quando senti os lábios de Peeta castamente de encontro ao meu, e a chuva de aplausos, juntamente com inúmeros flashes, enquanto os últimos fios de sol repousavam sobre nós.

Eu poderia facilmente desmaiar de tamanha felicidade. Por sorte, eu teria Peeta para me segurar. Mas a melhor parte sem sombra de dúvidas é saber que ele sempre vai estar aqui comigo, da forma que eu estarei para ele.

 

— Nicolau, eu sinto muito — digo, envolvendo meu amigo logo que o vejo depois das grandes festividades do meu casamento. Papai acabou de me contar que ele foi prometido em casamento para uma prima de Lara, e deverá ter uma cerimônia logo após sua coroação, em março. Até o final do ano ele precisa garantir um herdeiro ao trono também.

— Você não tem culpa, Kamikaze — responde, beijando o alto da minha cabeça. — Perdão não ter falado com você mais cedo… bebi muito ontem.

Rio, mas me senti muito triste por ele. Beijo sua bochecha, ficando com parte do seu perfume marcante em mim.

— Sabe quem falou comigo? — negou, tirando uma mecha de cabelo do meu rosto. — Clove.

Ficou boquiaberto, olhando para os lados.

— Cadê aquela ridícula?! Eu mandei mensagem anteontem e até hoje ela nem visualizou mas só fica on-line!

Rio de novo, com o coração aquecendo de novo.

— Ela está por aí com o Cal, e a Glimmer. Se eu fosse você, ia atrás dela. E se puder… põe o Cato na fita?

— O amigo do Peeta? — assenti, com um sorrisinho que ele entende. Nosso hobbie secreto é tentar encontrar um namorado direito para Clove, e claro que Glimmer também nos ajuda. Nicolau então ri alto e bem sinceramente. — Céus, mas é óbvio que eles deveriam namorar. É por isso que Glitter desde o começo da festa me mandando mensagem, mas eu ignorei por pensar que era me mandando falar com Clove.

— Bem, agradeça ao Peeta, ele quem fez a ponte — e foi falar que meu recém-marido apareceu, com Ben dormindo em seu colo. Parece cansado, mas com um sorriso enorme no rosto, me fazendo esquecer dos problemas do mundo nesse instante. — Peeta, diga ao Vilu como você viu que Cato e Clove tem potencial.

Ri, aninhando Ben com mais cuidado para não amarrotar seu terno azul.

— O Cato e a Clove tem os mesmos interesses em praticamente tudo. E eu sinto que tem que ser, sei lá, por um instante achei até que o Callum era filho dele — inconscientemente buscamos os citados, e não foi difícil encontrar Bianca, irmã mais velha de Cato, correr graciosamente segurando a mão do menino. A semelhança é enorme por causa da pele clara e os fios loiros-castanhos.

— Bem, depois que eu der um belo esporro por ela ter me ignorado e a fugido de mim, aconselharei da maneira mais descarada possível — meu amigo piscou, e logo saiu, gritando por Clove.

— Ele está meio bêbado, não está? — Peeta pergunta, e eu assinto, pondo uma mão em seu ombro, com a outra fazendo carinho no rosto adormecido de Ben. — Tomara que ele não morra de cirrose. Porque eu comecei a apreciar agora uns vinhos que o seu pai me apresentou no mês passado, e estou um palmo de beber igual o Nicolau.

— Peeta, se você e eu juntos bebermos metade do que ele está acostumado, a gente entra em coma. De verdade. Me dê o Ben, vou pedir para um guarda levá-lo até o quarto…

Ele sorriu, e eu fingi que não me afeto todas as vezes que ele olha para mim dessa maneira tão carinhosa. Não é possível perceber, mas estou ao máximo tentando remediar o fim da noite. Tanto por ser um dia perfeito, embora com vários entremeios, como por o que espera a nossa noite de núpcias.

Após me certificar que Ben foi para o quarto, e Amanda também, colada em Prim – o que me surpreendeu, já que eram de longe as pessoas mais empolgadas para o dia de hoje –, me sobrou para despedir da minha avó, mãe de meu pai, minha tia Anastacia e o tio Frank. São todos os parentes que vieram.

— Vó, pode ficar despreocupada, vou usar a sua tiara roxa quando formos para a Austrália no próximo mês — garanti, abraçando ela outra vez.

— Se puder usar na cabeça mais tarde… garanto que vai trazer sorte para você me dar logo uns bisnetos.

Corei completamente, muito agradecida por Peeta estar do outro lado da enorme porta se despedindo de outros convidados.

— Vovó, pelo amor de Deus, não fala nada disso hoje, e nem nunca mais… — ela ri, se divertindo com a minha cara. Ajeita meus brincos. — Vou ligar depois que der tudo certo.

— Eu quero detalhes. Estou velha mas não morta.

Dessa vez eu rio, a empurrando de leve, para entrar em seu avião particular.

— Vocês estavam incríveis hoje, Katniss — tio Frank diz, piscando, ao lado da tia Anastacia. Eles sabem o que aconteceu, e o que eu fiz. Precisei contar. Foi a coisa mais difícil da minha vida, e eu passei por coisas terríveis, mas um fardo foi tirado dos meus ombros. Contei e apresentei provas, ainda que não fossem necessárias, das maldades da minha mãe, e o que me levou a fazer o que fiz. Nós choramos tanto, que não havia como dizer “me perdoe”, ou “me desculpe”, porque nem são as expressões coerentes. A mãe deles não aceitou, e nem meu avô, o que me magoa, mas entendo.

— Fiquei muito feliz em ver você feliz, pequena — eu me afastei muito emocionalmente da tia Anastacia, claro, porque ela é idêntica à minha mãe, mas ter a aprovação dela é mais do que qualquer coisa que eu pudesse imaginar. — Nós te amamos muito.

— E esperamos que você nos convide para mais festas!

— Frank, pelo amor! Falamos que não era para você fazer esse tipo de comentário! — Logo o foco do meu casamento se desvia para a briga clássica entre eles dois e o claro lado adolescente do meu tio. Rio tanto que sinto as minhas bochechas ficarem suadas, e eu os beijo e os abraço pelo menos três vezes.

— Já falei que vocês precisam vir morar aqui. Sei que tem a vida de vocês, mas temos espaço de sobra, principalmente porque apenas um irmão do Peeta virá morar no palácio. Meu pai e Prim só vão me visitar uma vez no mês agora… isso sobra espaço para vocês ficarem à toa — digo, agarrada em tio Frank, olhando para a tia Anastacia, que revira os olhos, mas com um sorriso no rosto. Senti meu estômago dar uma leve surtada, por ver quase que nitidamente a minha mãe, mas a tonalidade dos olhos delas são diferentes. E tia Anastacia me olha com amor, carinho e afeto, coisas que nunca encontrei na minha genitora, o que me traz tranquilidade, embora eu esteja tratando muito cuidadosamente disso na terapia.

— Seu aniversário é daqui dois meses, até lá eu vou convencer a família, pode ficar tranquila, anjo. E você vai trocar as fraldas das suas priminhas amadas por mim.

Fiz uma careta para meu tio, que riu, tendo os dois que se despedir por conta de seus parceiros e filhos. Sobrou então Delly. O ar parece que foi tirado de mim quando a vi aparecer em meu campo de visão. Eu não a vi em nenhum momento, porque a festa estava bem cheia de guardas, amigos, parentes próximos e distantes. Sabia que ela estava presente, principalmente por conta da surpresa que Peeta me apresentou, o jardim secreto que ele passou os últimos meses planejando, mas meu subconsciente apagou isso porque eu estava totalmente envolvida nas danças, conversas, e os muitos beijos.

Velhas incertezas e dúvidas pairavam sobre mim como um corvo, mas foram descartadas quando ela sorriu para mim.

— Katniss… bem, majestade, seu casamento e a festa estavam incríveis. Obrigada por me convidar.

Mas meu coração batia forte no peito, ainda que esteja ao lado de Stefan, seu noivo, e um dos melhores amigos de Peeta.

— Não seria o mesmo sem você — com certeza, eu me culparia por toda a eternidade.

— Aproveitando a oportunidade, gostaríamos de entregar pessoalmente o convite para o nosso casamento — Stefan diz, entrelaçando seus dedos com os de Delly, em um sorriso muito doce e tranquilo. — Nada que Peeta já não saiba, é claro, mas ficaríamos muito honrados se a senhora fosse.

Senhora, é claro. Agora eu sou casada. Dou uma risada, emocionada, tanto por estar casada com o homem que amo quanto por estar sendo convidada para o casamento de Delly. Imaginei que não teria a oportunidade desse momento. Lágrimas me sobem aos olhos, um nó fica na minha garganta. Mas consigo sorrir sinceramente, um sorriso do fundo do meu coração.

— Obrigada, vai ser um prazer estar presente — digo, recebendo o convite. É lindo, e sei que com certeza eles escolheram à dedo. Uma alegria maior do que eu podia imaginar sentir me invade. Felizmente Peeta surge outra vez ao meu lado, do seu jeito incrível de sempre.

— Pepe, com você nem é necessário cerimônia. Você quem vai cuidar das flores — Delly diz, piscando, e ele pisca de volta, fazendo um toque bobo com ela, enquanto sua outra mão fazia carinho em meu ombro.

Fui tomada por uma carga de realidade: Peeta e Delly sempre vão ter parte um do outro e não há absolutamente nada que eu ou Stefan possamos fazer. Bem, na verdade há: confiar, acreditando que cada um está conosco hoje por espontânea vontade. Talvez amanhã eu vá me sentir de outra forma, mas estou tomada por tanta segurança com o calor do corpo de Peeta, e sentindo tão forte a felicidade de Delly mostrando sua aliança por já estar casada no civil, que eu não me importei com nada.

Passei uns bons minutos “off”, porque quando me dei conta, Peeta estava estalando os dedos na minha frente, rindo.

— Terra para Katniss, terra para Katniss… — reviro os olhos, dando um tapa inofensivo em seu braço. — Aconteceu alguma coisa?

A expressão de brincadeira logo muda para uma preocupada. O tranquilizo imediatamente.

— Preciso falar com Delly — respondo.

— Ela acabou de se despedir, quer que eu a acompanhe? — nego, olhando para a direção que vejo o cabelo dela voar, com o desfeito do coque.

— Delly, espera! — exclamo, agradecendo mentalmente por não estar mais com os saltos altos. Ela vira, surpresa. Eu quem fico surpresa com meu ato seguinte: a abraço apertado.

— Katniss… me desculpa — sussurra, retribuindo o abraço apertado. Começo a chorar, sem conseguir dizer nada, e ela também.

— Da próxima vez que eu mandar você ir embora, faz favor e fique até eu enxergar a verdade, tudo bem? — sinto ela assentir devagar, se apertando mais ao meu abraço.

— Eu venho antes do meu casamento para a gente conversar e esclarecer tudo de maneira verbal, com tempo, que nós temos de sobra — garante, e eu balanço a cabeça em concordância. — Se Peeta vai ser o padrinho, você merece ser a minha madrinha. Mas antes quero que a gente converse, e quero que você faça todas as perguntas que precisa me fazer.

Concordo outra vez, dando um soluço. Jamais imaginei que pudesse chorar bem no dia do meu casamento, mas aqui estou eu. Uma tempestade de sentimentos me inundam, mas eu deixo como uma cachoeira fluir de mim.

— Fica em paz — digo, quando nos afastamos. Seguro em seu rosto, deslizando os polegares sob seus olhos, para tirar o vestígio das lágrimas. — Sério, Delly.

— Fique você também.

Pede, beijando minhas mãos. Pode parecer muito íntimo, e é, mas nós duas sabemos qual a importância desse gesto para a nossa amizade e o resto da vida que temos pela frente. Dou um sorriso, bagunçado pelo choro, ela também.

Tenho a convicção que da mesma forma que algumas pessoas nascem para serem parceiras uma da outra em nível como eu e Peeta, por exemplo, acredito que também nascemos para amizades como esta.

Não dissemos mais nada. Ela seguiu seu caminho com Stefan para um carro, e eu retornei ao Grande Salão, onde Peeta dançava com a dama Effie, que ria formosa como sempre foi e seu marido bebia em uma garrafa de uísque sem o menor zelo. Haymitch sendo Haymitch.

— Tudo pronto para vocês subirem? — Annie pergunta, me recebendo com alguns lenços para secar meu rosto.

— Já me despedi de todo mundo, até de Amélia e Dean, do senhor Mellark, meu pai… falta algo?

Pergunto, fungando, me sentindo um pouco zonza. Muitas coisas em pouco tempo.

— Você sabe como fazer? — pergunta. Franzi o cenho, por estar com minha linha de raciocínio muito limitada. — Katniss, a noite de núpcias.

Ah! — e aí um novo turbilhão de incertezas me preenche. Ninguém me disse nada. Eu nem pensei nisso, já que anteontem mesmo nós dois tomamos banho juntos. Com roupa, mas estávamos juntos, e por muito pouco ele me vê sem calcinha.

Annie fica corada e com vergonha da situação, eu também, por não saber o que eu deveria responder. Uma onda de ansiedade passa pelo meu corpo, me deixando arrepiada ao ver Peeta ir agradecendo os criados que nos serviram hoje, depois que tirou o paletó.

— Hmmm… eu achei que tinham dito alguma coisa. Já estive em seu lugar, e nada é igual, sempre depende muito, mas… Katniss, fica calma — Annie me tranquiliza, fazendo carinho em meus braços. — Peeta deve estar tão nas escuras quanto você. Então, não se preocupe com isso. Só não sinta vergonha de pedir para a situação parar, acabar, enfim… e tome isso se vocês, bem, você sabe.

Me passou um comprimido simples, e eu entendi o porquê. A saliência em sua barriga é o suficiente para explicar as coisas que ficam subentendidas.

— Obrigada, Annie. De coração.

— Você vai saber o que fazer, relaxa — beijou minha bochecha. — E se não souber, está tudo bem também. Hoje é só o começo de toda a vida de vocês.

Suspiro fundo, fechando os olhos, ficando assim por uns instantes, abrindo então com mais calma. A sensação é muito diferente de saber que oficialmente eu e Peeta vamos viver juntos. Parece que eu não tinha pensado integralmente sobre a dimensão da nossa atitude. Como se estivesse em um lugar inalcançável o tempo em que fôssemos dormir e acordar todos os dias um ao lado do outro.

O dia não poderia ter sido melhor. Pude escolher todas as músicas, ensaiamos por um tempo as danças, Peeta selecionou cada tipo de flor em cada local da cerimônia, e conseguimos conversar um pouco com todos os convidados. Após o ocorrido no noivado, é claro que a quantidade foi muito menor, e a segurança dobrada, mas tudo correu de maneira incrível. Estou cansada, mas poderia entrar em uma outra festa.

Ele, todavia, claramente ia brigar comigo. Seu cansaço é claro, sendo a primeira festa que ele organiza, e preciso me lembrar que eu nasci nesse meio, ele não. Dou um sorriso sincero, me aproximando, beijando seu rosto. Sorri também, envolvendo minha cintura com os seus braços.

— Me diz que acabou a festa e que podemos ir dormir por um fim de semana inteiro? — pede, e sinto pena, porque até sua voz está arrastada agora que estamos longe das pessoas.

— O quê? Mas tem uma afterparty dos criados agora! — arregalou os olhos azuis, boquiaberto, me fazendo rir alto. — Você é muito engraçado.

— E você é muito faladeira — brinca, beijando minha testa. — Nossa, você ainda está tão cheirosa e bem arrumada. Eu estou destruído.

— Calma, você vai se acostumar. Daqui até o casamento do Nicolau você já vai estar expert em não se desgastar em festas tão demoradas assim.

— Ok… mas podemos ir dormir agora? Estou com tanto sono que nem sei se vou ter forças para tomar banho.

— Anda, vem, eu te ajudo — beijo seus lábios, e dou um sorriso, sendo espelhada. Ele está con gosto de mousse de morango, uma das suas sobremesas favoritas.

Quando estávamos à caminho das escadas, a risada de Amélia chamou nossa atenção, e ele revirou os olhos, me fazendo rir. Dean beijava o rosto dela, sujando com chocolate.

— Para de fazer essa cara de maluco, você faz a mesma coisa quando não tem ninguém olhando, Peeta.

Rio, porque ele fez exatamente a mesma coisa ontem. Nós estávamos na varanda do seu quarto comendo doce de leite, e ele pegou a colher, sujando meu rosto, tirando com beijos, da maneira mais infantil possível, enquanto eu estava profundamente estressada porque meu rosto ficou pegajoso depois.

— Você gosta de me deixar sem jeito, né — sorrio de novo, entrelaçando nossos dedos quando entramos no elevador. — Vamos dormir a manhã toda, pode ser?

Meu coração ficou acelerado, sentindo seus braços me envolverem apertado. Minhas mãos suam, e eu sinto a ponta dos dedos dormentes. Não sei se por um pânico inconsciente ou por ansiedade. Não consigo entender a razão de me sentir assim. É só o Peeta. O Peeta de sempre.

Suspiro, fechando os olhos, abraçando ele pela cintura, bem apertado. Como se fosse sumir. Percebo que eu estou exausta.

— Você pode me carregar? — peço, quase dormindo com a cabeça em seu peito.

— Hmmm… — balbucia, cansado, e quase me arrependi. — Vem, preguiçosa.

Passa um braço debaixo dos meus joelhos, enquanto o outro sustentava minhas costas. Gritei com susto, e ele riu alto, se divertindo com a cena.

— Se não parar de gritar eu vou correr — alertou, ignorei, então senti meu cabelo se desprender em algumas partes dos grampos, um riso muito sincero me invadiu, um riso incontável nessa noite perfeita que tivemos juntos, e ele riu também. — Desce, porque é muito pesada para mim.

Acertei um tapa em seu braço, mas entendo. Acho que o vestido sozinho tem pelo menos cinco quilos. É um absurdo de pesado, e eu também ganhei peso nesse último mês.

— Vou tomar banho no meu banheiro, você fica à vontade, precisa de ajuda? — pergunta, esfregando os olhos, enquanto eu vou tirando meu sapato.

— Pode tirar meu vestido? É só abaixar o zíper. Esqueci que eu mesma liberei as meninas, já que só vamos viajar amanhã — assente, subindo na cama, para me ajudar. Minha respiração ficou mais acelerada, mas não recebi nenhum beijo, ou algum toque diferente que já trocamos algumas vezes.

— Precisa de mais alguma coisa? — pergunta, aparecendo na minha frente.

— Vá tomar seu banho, eu logo vou tomar o meu — digo, suspirando, sem conseguir ficar chateada. Ele realmente está muito cansado. Beijo castamente o canto de sua boca, afagando seu cabelo, por estar na minha altura.

Nem diz nada, apenas dá um sorriso cansado, caminhando para seu quarto. Penso se eu deveria dizer ou fazer alguma coisa. Mas não consigo pensar em nada a não ser tomar banho.

Levo pouco tempo, escovo os dentes, soltando os grampos que faltavam, e consigo me acalmar. São quase 5 da madrugada.

Me enrolo no robe, apenas com um pijama curto por causa do calor, deixando uma música tranquila (Thinkin Bout You, Frank Ocean) tocar, e caio num riso ao chegar no quarto de Peeta. Já está com os olhos fechados, uma calça de pijama e sem camisa no meio da cama, com o cabelo todo molhado.

— Vem, vem dormir — bate ao seu lado na cama, e eu vou correndo, cobrindo suas pernas com as minhas, me aconchegando em seu peito.

Minha mente tentou me derrubar em um momento tão especial como esse, depois de um dia tão incrível e muito melhor do que eu mesma poderia imaginar. Sou muito maior e melhor do que as minhas dores de cabeça, depressão e paranóias. Os meus sentimentos por Peeta, e os sentimentos de Peeta por mim são infinitamente maiores do que isso. Eu sinto isso em meus ossos.

 

— Bom dia, querido — digo, beijando sua bochecha logo pela manhã. Já está deitado na rede da varanda do seu quarto, e nem me dá tempo de alguma coisa, logo me puxa para o seu colo. — Não vai reclamar que chamei você de querido?

Pisco, fazendo carinho em seu rosto tão bonito. Nega, sorrindo, e eu deslizo meu indicador para as covinhas discretas perto de sua boca. São detalhes lindos, como suas sardas invisíveis no dia a dia, mas muito comuns para mim, sob o sol do meio-dia.

— Desde ontem à tarde você pode me chamar do que quiser, vossa majestade — brinca. Fico feliz em saber que já descansou de ontem. — Como eu deveria te chamar agora?

— Linda majestade, poderosa rainha de Panem, porque acho que está na lei isso — ri, balançando a cabeça, se inclinando para me beijar. Suspiro, sentindo meu corpo se arrepiar pela nossa posição na rede. 

Sua mão desliza para a minha cintura, me prendendo em seu colo. Ok que já fomos mais além do que isso bem na época da seleção, mas agora tudo soa muito diferente. Soa mais maduro e sério o comprometimento um com o outro.

Eu parei de pensar, para retribuir o que estava sentindo. Aprofundo o beijo, nos encaixando melhor, sentindo sua outra mão deslizar pelas minhas coxas, cobertas por um curto short de seda que botei ontem quando chegamos da festa.

Suspiro, e ele também. Nos afastei por um instante, e ele pareceu confuso, mas logo um clarão de entendimento passou por seu rosto, quando tirei minha blusa, expondo meu sutiã fino, que não protegia nada, era mais um enfeite. Suas bochechas estão muito coradas; imagino que as minhas também. Mas não dá tempo de pensar em mais nada, porque logo está me beijando novamente, mais intensamente, mais certo do que estamos fazendo.

— Como você é linda… eu nunca vou me cansar de contemplar você, Katniss. De verdade. Você é a pessoa mais linda que eu já vi na minha vida.

Meu corpo se arrepia, sinto que o dele também, com nossos corpos se tocando mesmo com as roupas. Ele arfa, assim como eu, desfazendo o nó de sua calça. Beijo seu pescoço, sentindo suas mãos descobrindo pontos em mim.

Espera, não aqui — murmura, sorrindo, me prendendo em sua cintura, e me levando para a cama do seu quarto. Me deitou devagar, distribuindo beijos em meu pescoço, clavícula, subindo e descendo as mãos por minhas coxas. Sem dúvidas é bem diferente das outras vezes que chegamos nesse ponto. Nós dois estamos bem decididos disso.

Desço sua calça com meus pés, ele termina de tirar, enquanto eu mesma tiro meu short, jogando em qualquer canto do quarto, sem me importar com isso. Eu talvez deveria ter vergonha do meu corpo, das nossas posições, com a luz do sol entrando em nosso quarto, mas só consigo pensar em lugar posso tocar e beijar seu corpo.

Quando está perto de tirar nossas peças íntimas…

Duas batidas na porta.

— O quê? Mas quem é uma hora dessa? — pergunta, ofegante, subindo o rosto, depois de estar beijando o interior da minha coxa. Gemo em frustração por saber que vamos ter que interromper o nosso momento. — Relaxa, eu viu atender.

Agradeço com o olhar, e um sorriso triste. Cubro meu corpo, puxando o robe que deixei perdido ao lado da cama. Minhas bochechas ficam ainda mais vermelhas de vergonha, mas me dou uma folga, relaxando quando aparece com uma calça, empurrando um carrinho de comida.

— Podemos almoçar, e aí irmos para a casa da árvore, o que você acha? Pedi para que não nos interrompesse lá… acho que vai ser mais confortável para a gente conversar, o que acha?

Suspiro, um pouco frustrada por saber que vai demorar para saber como é depois que a gente fica sem roupas se beijando, mas feliz por toda a sua preocupação. Ele sabe que a gente não vai conversar.

— Bem… então é melhor que a gente almoce rápido para sairmos logo daqui, o que acha?

Sorri, me passando uma maçã, e eu dou um empurrãozinho nele com os pés. Temos toda a eternidade um ao lado do outro para fazermos qualquer coisa… e isso me traz paz. Mais ainda saber que embora eu não possa ler pensamentos, sinto que ele pensa o mesmo. Isso é suficiente.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam? Eu me senti na obrigação de contar mais o que aconteceu com a família materna da Katniss, e espero ter conseguido. Vai ser tratado melhor daqui pra frente, e vou me esforçar ao máximo para que tudo faça sentido. Obrigada por tudo, gente. Estou com meu coração partido, mas escrever essas histórias e acreditar que um dia a gente pode encontrar com alguém que nos entenda... me traz esperança e paz. Quem quiser falar comigo tbm, suuuper fiquem a vontade para me mandar mensagem pelo Nyah, ou pelo WhatsApp. Amo com toda a vida vocês e poder fazer o que eu amo assim, que é escrever e contar histórias.
Um 2021 com muita saúde e sabedoria, para a gente conseguir lidar com qualquer situação que surgir na nossa vida ♥️ Amo muito vocês, gente!

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amélia: https://i.pinimg.com/736x/13/0b/78/130b787b3a98d67ad642c1ce80dd7014.jpg
katniss sorrindo para peeta: https://i.pinimg.com/originals/33/29/d7/3329d7b37d6450f5ebcd0b6d21569d2a.gif
katniss e peeta: https://i.gifer.com/4aHx.gif
katniss e peeta manhã: https://i.pinimg.com/originals/f2/e1/43/f2e143096410cce53d009a4467ffd3e0.gif
katniss arrumando peeta: https://www.j-14.com/wp-content/uploads/2014/11/jennifer-lawrence-josh-hutcherson-cute-6.gif?resize=280%2C299
delly vestido: https://i.pinimg.com/originals/da/fc/70/dafc70026a8bb2e196008c98c82b0638.jpg
delly entregando o convite: https://i.pinimg.com/originals/9e/fb/f0/9efbf076309a21a1d815838935480d15.gif
delly olhando para katniss: https://i.gifer.com/origin/f7/f7af33ba2875a0124958836455f94de5_w200.gif
katniss olhando para delly: https://64.media.tumblr.com/95c7ffbf9634858e99e8d7722e04556c/tumblr_nqrzfwlb5n1qf2zyko1_500.gif
katniss aceitando o convite: https://64.media.tumblr.com/599063552317a39586c82dd70f4eea13/tumblr_inline_n1zt24H35p1s2djns.gif
katniss brincando com peeta: https://64.media.tumblr.com/f3fa4b740c465ac83b52c680607ac763/tumblr_owapw1XoYy1qfgef2o2_r1_250.gifv
peeta se divertindo com katniss: https://i.pinimg.com/originals/49/4f/d4/494fd4204a9f5b60569e11e3fb1b9e59.gif
peeta conversando com katniss: https://64.media.tumblr.com/1872073af3d500cade79bb1f80b8e847/tumblr_inline_mp6c0xIopB1s3nzbm.gif
prim: https://i.pinimg.com/originals/2d/65/59/2d65598216fb9174652d6f5c27a7cb24.jpg

Peeta pegando sol dia: https://assets.teenvogue.com/photos/56217e8f09f39cd25635fc27/master/w_1600%2Cc_limit/tumblr_nb5l8m2AhS1qmqinzo4_250.gif~c200.gif

Peeta olhando Katniss: https://i.gifer.com/ZL5t.gif
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Peeta e Katniss ensaio: https://data.whicdn.com/images/330317292/original.gif
peeta e katniss capa da revista de noivado: https://64.media.tumblr.com/a4deeedcb359e877a5b65afe1d4c45ca/tumblr_plyz4gPYYQ1xb955oo1_1280.jpg

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