A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 48
Verdades subentendidas | A Escolha (Super Bônus)


Notas iniciais do capítulo

Oi, meus beberes lindíssimos que falam tudo! ♥ Tudo bem com vocês? Porque comigo, não poderia estar melhor, em um dia como esse, que marca o aniversário de duas leitoras lindíssimas (real) e que tem papéis muito importante na minha vida, a Ana e a Clara, que coincidentemente conversaram comigo através de mensagens privadas, a Clara há pouco mais de um ano, e a Aninha há menos de de seis meses, porém tiveram a preocupação, sem que eu precisasse falar alguma coisa, e usadas pelo Senhor, falaram diretamente ao meu coração, e eu não sabia como agradecer, então por isso escolhi o dia 31 de março para atualizar, que é o dia do aniversário delas, mas é o dia que eu agradeço ao Senhor por X anos atrás permitiu que viesse ao mundo duas pessoas maravilhosas, mas especialmente a Clara, né, rapaz, que manda mais de cem mensagens CONSECUTIVAS e é, sem dúvidas, uma grande coisa, para conversar sobre qualquer assunto em pauta.
Espero que vocês duas, em especial, tenham um dia inesquecível, tanto como vocês, e tomem este capítuo como um agradecimento (mesmo que o capítulo não trate desse tema HAHAHAHAHAHAHAHAHA) eu não tenho como agradecer vocês, ou presenteá-las com um livro, ou uma maquiagem, mas eis aqui minhas felicitações em formato de capítulo novo! Espero muito que vocês gostem, e não somente vocês, mas todos os que sempre comentam aqui, tornando meu dia tão melhor e especial. Não posso escrever o nome de todas que me alegram completamente com um comentário, amo demais cada um de vocês! E eis aqui, um super bônus, por conter o ponto de vista de duas pessoas completamente diferentes, que agora estão encaixando coisas que foram abertas lá no início da Fanfiction! ♥ E este também é o terceiro capítulo mais longo da fic!!!!! ♥ ♥ ♥
E SE PREPAREM PARA UMA PANCADA DE GIFS LINDINHOS!!!!



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Amor é um fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói, e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer.

 

É um não querer mais que bem querer;

É um andar solitário entre a gente;

É nunca contentar-se e contente;

É um cuidar que ganha em se perder;

 

É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata, lealdade.

 

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

 

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

Música para ambientar: Love Will Remember, Selena Gomez.

— Vai ficar sem falar comigo o resto do dia? — perguntei, quase chorando, depois que, duas poltronas atrás, Layla dormiu, e Peeta também.

Stefan me olhou, então, com seus olhos castanhos escuros.

— Você falaria comigo, ou pelo menos olharia na minha cara se fosse ao contrário toda essa situação, Delly? — perguntou, irritado, ainda me chamando pelo nome, e não de amor ou bebê, que é como me chama, mesmo aborrecido. Não é algo comum dele, porém é completamente normal uma reação assim.

Suspirei profundamente, diante as quatro horas de voo que teremos até pousar em Angeles, para um final agitado.

— Não, eu não falaria e nem olharia na sua cara, mas eu não sou você e você não é eu, precisa entender que eu simplesmente não poderia contar para ninguém sobre o meu relacionamento de três anos e seis meses com o futuro rei de Panem, Stefan. Eu sequer sei se Peeta contou para a Katniss isso, pois é traição. Eu não poderia contar, mesmo que confie em você.

Ele ficou impassível, desviando o olhar para as nuvens, depois para as mãos com as luvas, parecidas com as minhas, por causa do frio extremo, então mexeu em sua toca, para olhar em meus olhos novamente.

— E o que você espera que eu faça? — perguntou, então. Meus olhos ficaram cheios de lágrimas, porque eu não sei o que dizer, talvez eu esteja fadada a me dar mal em relacionamentos mesmo, e é tudo. — Delly, pelo amor de Deus, não chore.

— Eu não espero nada de você, apenas que ao menos entenda que na minha posição, não havia nada o que eu poderia fazer. É uma posição que colocou a minha vida e da Peeta em risco, mas principalmente a dele. Você viu, Stefan. Não teria como nunca, nem que meus pais cobrissem o tratamento, para cuidar dela, por causa da quantidade de remédios, internações, tudo. Se ele saísse, isso poderia ter sido ainda pior. Você viu a família dele, imagina todos eles trabalhando com qualquer coisa para comprar uma caixa de remédios. E ainda sim não seria suficiente nem pela metade.

Stefan respirou fundo, e puxou um pouco a touca, cobrindo quase todos os seus fios castanhos, e seu nariz estava vermelho, como o meu, mesmo que fosse pardo, por causa do choro que eu sei que chorou.

Me senti tão incapaz de fazer alguma coisa, que não haviam palavras para acrescentar.

— Você pode e deve ficar chateado comigo, mas por favor, só entenda que eu estava com medo, e preocupada. Não foi um término fácil, foi justamente quando ele veio pra cá, para a Seleção, justamente por esse motivo. Não existe mais nada entre a gente no sentido amoroso como é com você. Eu juro.

Pensei em tocar em seu rosto, como eu gosto de fazer sempre que estamos mais à vontade, mas vi que não era o momento mais adequado.

Seu olhar não parecia magoado, mas um pouco ressentido, como qualquer pessoa ficaria. Eu me senti infinitas vezes mais triste comigo mesma. Antes que ele fosse dizer alguma coisa, me levantei e foi para a outra ponta do aerodeslizador, onde nossos olhos não cruzariam, e chorei.

Stefan não veio atrás de mim, mas eu podia sentir, através dessa distância, que era o que ele queria fazer, era o que eu queria que ele fizesse, mas sei que não é o certo. Eu ocultei simplesmente um dos anos mais felizes da minha vida, graças a Peeta, justamente a pessoa da qual ele deve cuidar e proteger com a própria vida. Realmente, não é algo fácil de se lidar e aceitar.

Após minha conversa no parque com Peeta, eu bem que tentei, nos primeiros minutos, conversar com ele, mas Layla, que é sempre a favor do nosso relacionamento, pediu para eu ir com calma e dar um tempo para ele pensar, porque não é uma situação simples. Eu lidaria, particularmente, muito mal com a situação. Não posso esperar que ele seja melhor do que eu quanto a isso.

Os últimos dias nossos, antes da notícia do falecimento da tia Ali, foram simplesmente estranhos, mas Stefan sempre esteve no final de tudo, me esperando com seu abraço e um sorriso, mesmo que ele mesmo estivesse completamente pilhado de compromissos e problemas, por causa da questão da sua “liberdade” e de suas irmãs do palácio, mas sempre se pôs disponível para me escutar durante as madrugadas, cuidando de mim, sem esperar absolutamente nada em troca, e eu simplesmente escondi Peeta dele.

Suspirei profundamente outra vez, me apertando na larga poltrona, para ficar-se justamente bem confortável, e pressionei minha testa contra a janela gelada, vendo as nuvens densas e cinzas, afinal nessa época do ano chove muito em todo o país.

Eu amo tanto Stefan.

Quando falo amar, é amar mesmo. Nós praticamente moramos juntos, em seu quarto, que é cinco vezes maior do que o meu, e tem até uma “mini” cozinha, e como ficamos sempre fora durante o dia, precisamos apenas de uma cama de noite, que dividimos sem o menor problema, então por toda essa nossa relação, que surgiu gradativamente, sem que nenhum de nós pudéssemos de fato entender onde isso nos levaria, um amor surgiu, em pouco tempo.

Não é como fosse difícil se apaixonar por alguém como Stefan, difícil às vezes, mas que vale a pena em todo tempo, com suas piadas, seu jeito protetor de sempre me defender, mesmo que das coisas mais simples. É algo absurdamente novo estar com ele, que fala tanto quanto eu, embora pare tudo para escutar quando eu preciso falar alguma coisa, é diferente de tudo o que eu vivi com Peeta, não tem como comparar um com o outro, da mesma forma que eu imagino que ele não compara eu com a Katniss.

Pensar em tudo o que eu e Stefan vivemos nesses últimos meses começou a me deixar nervosa, ansiosa, preocupada, e muito pior do que eu já estava por causa do velório, rever Amélia, Stuart, Stacey, Ben, Amanda e o tio Sam sem a tia Ali. Meus irmãos maiores, sem que eu possa acompanhar da forma que eu gostaria o crescimento deles.

Quando eu acho que minha vida e a vida das pessoas que eu amo está dando certo, finalmente, depois de meses que não foram fáceis para ninguém, a vida faz questão de dizer em negrito de que não, você não pode ser feliz por tempo o bastante de pensar que eu não vou cobrar com juros altos essa felicidade, e sinceramente é um inferno.

É uma coisa difícil demais para se lidar.

Pus meus fones de ouvido, que Katniss docemente me presenteou no meu aniversário, e deixei que uma playlist aleatória tocasse, onde a primeira foi justamente para me fazer lembrar de Stefan, em segredo. (Nobody da Selena Gomez).

Fechei meus olhos, e acabei dormindo, exausta, mesmo que tenha dormido toda a noite por conta do cansaço que me fez ter que dormir, minha mente ainda clama por repouso de tudo o que está sendo submetida.

Não faço do tipo que se conforma com o coração, mas ele precisa mesmo de um tempo. Eu preciso de um tempo. Peeta precisa de um tempo. Stefan precisa de um tempo. Katniss. Layla. Julia. Stacey. Amélia. Stuart. Todos nós. Os últimos meses não vêm sendo fáceis, e de longe, mesmo que tantas coisas incríveis tenha acontecido neste ano, foi o pior de todas nossas vidas.

*

Peeta saiu por último do aerodeslizador, com seu capuz, e os headphones, completamente offline do mundo, mexendo tediosamente em seu Smarter. Quis ir falar com ele, e dizer mais uma vez de que eu estou aqui, para ele e por ele, afinal, independente do meu relacionamento com Stefan, eu ainda sou amiga dele, e ele meu amigo. Somos o mais próximos que temos de casa aqui, tão longe. Mas eu sei que ele vai ficar bem. É uma de suas especialidades, mas ainda sim, enquanto eu andava atrás de Stefan, ao lado de Layla, eu olhei para ele, e mesmo que estivéssemos um pouco longe, balancei minha mão, dando um sorriso de lado. Estou aqui, falei com meus olhos.

Ele retribuiu da mesma forma, em um piscar de olhos lentos, e eu pude ver o quanto ele também tinha chorado durante o voo, porque seus olhos estão incrivelmente mais claros. Foi devastador para mim. Mas eu puder ler seus lábios daqui.

Sinto muito por Stefan — ele disse, me fazendo balançar a cabeça, dando levemente de ombros, para que soubesse que não têm culpa de nada disso.

Eu e Peeta suspiramos ao mesmo tempo, de uma forma profunda, então eu voltei a olhar para frente. Me pergunto se  um dia nós vamos parar de ter essa coisa de olhares, e de sentir mesmo que de leve o que o outro sente apenas no olhar.

Nós dois compartilhamos muitas coisas juntos, desde beijos aos maiores segredos e pecados. Compartilhamos sonhos de uma vida por anos, e sem aviso prévio tudo mudou, e nós apenas seguimos.Eu me reprimi muito por isso, e senti até um pouco de raiva por ele ter ido, mesmo que sem querer, com certeza, em frente, mas vi que a vida faz isso, ela nos obriga a mudar, e escolher caminhos diferentes. Eu tomei todas essas mudanças como uma coisa horrível, sinceramente, mas agora, agradeço elas por terem me dado a oportunidade de descobrir coisas novas, crescer como pessoa, ver Peeta, acima de tudo, conseguir a vida que sempre mereceu, e eu poder conhecer pessoas das quais eu nunca poderia ter a oportunidade de conhecer.

— Dê, acho que depois de tudo, aproveitando que não temos nenhum trabalho, é a hora de vocês tentarem conversar, de novo.

Concordei com a Layla. Stefan simplesmente sumiu, de tão rápido que andou, enquanto Peeta foi direto para o quarto, por causa da hora, ainda é cedo.

Fomos juntas para a área dos nossos quartos, ela para o dela, que fica próximo aos de seus irmãos, no andar de cima, enquanto eu fui diretamente para o meu.

“Acabei de chegar, precisa de mim, docinho de côco?”, mandei para Katniss, que imediatamente me respondeu.

“Nem que eu precisasse chamaria você! Duas jovens que minha tia escolheu chegaram antes, e estão dando conta, descanse e espero que fique bem depois de tudo…”

Eu dei um sorriso para a tela do meu aparelho, torto, sincero. Não acho que Peeta percebe, ou mesmo ela, que são tão parecidos até nessas coisas simples.

“Obrigada, Sorriso. E me deseje sorte”

Katniss está digitando.

“Problemas com Stefan?”

“sérios problemas :.( “

“Ah, Delly… nossa… eu nem sei o que dizer, já que tecnicamente eu tenho cinco >.<”

“HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA”

Mandei, e ri de verdade. Céus, apenas ela para me fazer rir em tal circunstância.

Desliguei meu aparelho, porém com meu relógio em modo silencioso, para ir tomar banho, um banho bem quente, na banheira, esfregando meu corpo delicadamente com a esponja, e depois, fiquei, parada, abraçada ao meu próprio corpo, sem ter o que falar, apenas cheia de vários pensamentos. Olhei para o anel lindo que Stefan me deu de presente, desde que passei a dormir em seu quarto.

Nunca ultrapassamos qualquer limite, ou similar, apenas dormimos, abraçados, mas ele disse que uma pessoa como eu não pode ficar por aí sem um anel de união estável. Sim, ele é um amor, e incrivelmente não me sufoca com isso.

Tirei-a e fiquei segurando cuidadosamente com a ponta dos meus dedos, e pensei no quanto parece que nosso namoro dura anos, e não três meses. É como se nos conhecêssemos há muito tempo.

Não tive lágrimas para chorar mais, porém não poupava meu coração, que espera o pior.

Recoloquei o anel, saindo do banho.

Vesti uma calça de moletom, um casaco de moletom dele, arrumando meu cabelo em uma curta trança caindo em meu ombro direito, então saí para ir ao quarto dele.

Cumprimentei rostos conhecidos, e cada passo que eu dava era como se alguém fosse acrescentando cubos de gelo em meu estômago.

Dei dois toques.

Quem é? — escutei sua linda voz. Meu coração veio na mão.

— Eu, Stefan — respondi, me aproximando da porta.

Logo escutei a porta ser destrancada, e ele me dar passagem. Entrei, sem jeito, mas feliz por não ter fechado na minha cara.

— Eu já estava indo lá, só estava terminando de me vestir — começou, rindo. Por um segundo perdi a noção por ele estar sem camisa, deixando seu abdômen definido à mostra, eu nunca liguei para isso, mas nele é simplesmente a coisa mais maravilhosa para se admirar.

— Você está rindo? — ele me encarou como se não estivesse me entendendo enquanto vestia outro moletom, pois está bem frio.

— Sim, porque logo depois que chegamos, Peeta apareceu aqui, e mesmo eu já acreditando em você, sinceramente não acho que deixaria isso claro até à noite. Sabe como é, relacionamentos… a gente precisa dar um tempo de vez em quando. Mas eu não acho que iria conseguir ficar sem falar com você por doze horas.

Fiquei boquiaberta.

— É — Stefan falou por mim, com um sorriso, mas então ficou sério, e indicou a parte da frente da sua cama de casal para eu me deitar.

Stefan… murmurei, já sentindo as minhas lágrimas, quando pegou em minha mão, fazendo carinho.

— Delly, minha raiva não era por você e meu amigo terem namorado um dia, porque eu posso ver integralmente que ele e a princesa se amam de verdade, e não tem mais o que resolva isso. O problema é que você não me contou nada além de que teve um final de relacionamento complicado. E aí eu descobri tudo da maneira mais estranha possível, através de uma discussão sua com ele, no pior momento da vida dele. Não foi fácil para ninguém.

Assenti, sentindo seu abraço.

— Me desculpa — pedi, outra vez. — Me desculpa, Stefan.

Falei olhando bem em seus olhos. Estou verdadeiramente arrependida por tudo o que aconteceu,  me sentindo muito culpada. Ele merecia saber desde o princípio.

— Eu sei — fez carinho em minha bochecha. — Apenas me promete ser totalmente sincera comigo — pediu, segurando carinhosamente minha mão e meu rosto.

Me inclinei, fechando meus olhos, e encostando nossos lábios. É sempre como o primeiro beijo. Sempre.

— Prometo — sussurrei. Então ele quem me puxou para um outro beijo, mais apaixonante, fazendo com que eu sorrisse, apaixonada por ele e esse sentimento. — Você me faz sentir tão segura — sussurrei.

— É bom, porque é como você me faz sentir.

Veio um outro beijo, e eu quase chorei, ficando verdadeiramente emocionada.

Eu amo você — sussurrei, com minhas mãos em sua nuca, olhando em seus olhos.

Ele ficou parado, sem saber o que dizer, eu ri.

— Calma, amor, foi apenas uma verdade e não — falei rindo, ele balançou a cabeça.

— Você estragou tudo, cara! Era para eu ter falado primeiro, mas eu não falei, com medo que esse não fosse o momento certo, porque eu nunca disse algo assim para alguém na vida! Não estava esperando que você nesse instante fosse dizer isso!

Ele ficou nervoso, no sentido de sem saber o que fazer, irritado consigo mesmo, me fazendo gargalhar.

— Pelo amor de Deus, Stefan! — exclamei, me divertindo de seu nervosismo. Ele realmente ficou sem saber onde colocar a cara, se levantando, e indo para a “mesa” da “cozinha” que é para apenas duas pessoas. Fui até onde ele estava, e segurei seu rosto em minhas mãos, fazendo carinho em seu rosto com meus polegares. — Vamos fingir que eu não disse primeiro, então você diz, bebê. Eu não disse nada.

Dessa vez, ele achou graça junto comigo, rindo também, me trazendo para mais perto.

— Mas agora? Depois que você já disse? Eu preciso pelo menos comprar um buquê de gérberas para você, amor — sorri, de seu jeito espontâneo de levar as coisas. Eu pensava que não tinha um filtro, até conhecer ele. — Eu amo você, bebê.

Disse, então, e mesmo esperando que ele fosse falar, foi simplesmente como se eu estivesse escutando pela primeira vez. Mas foi. A primeira vez com ele. E para mim foi o suficiente, não tinha como comparar. Agora, ele é o meu momento, é o meu coração, e de forma estranha, porém também gostosa, eu sinto que não vou escutar dadas circunstâncias de uma outra pessoa.

— Eu amo você, Delly — repetiu, olhando bem nos meus olhos, e eu senti que meu estômago estava gelado, mas dei um sorriso, que veio de tão do meu coração, que eu senti duas covinhas se formarem nas minhas bochechas, e ele viu um passe livre para me puxar para um outro beijo, como se fosse o primeiro, de todos os que já trocamos.

— Viu? O importante não é a ordem, mas se é recíproco, Lovely — murmurei, em seu pescoço, em um abraço. Lovely é como eu o chamo. É fácil entender o motivo de chamá-lo dessa maneira. — Eu amo você. Amo você, bebê.

— Eu quero passar o resto da minha vida ao seu lado — comentou em um sussurro, fazendo carinho nas minhas costas, depois que nos separamos, enquanto a comida aquecia no microondas e eu jogava caça-palavras em seu Smarter, sentada em seu colo em uma das cadeiras, de uma forma casta.

— Bem, já estamos, então veja isso como uma coisa positiva — respondi, sorrindo e piscando, olhando-o rapidamente para a tela do aparelho. — Sério, bem, pelas nossas contas, não vai demorar mais que dois anos para podermos ir morar em Nova York.

Assentiu, com um sorriso torto, pondo sua cabeça em meu ombro, olhando o que eu estava fazendo. Nossas noites são basicamente assim. Nenhum de nós age como se tivesse pressa para alguma coisa. E não temos. Não faz sentido termos pressa.

— Delly? — chamou, enquanto eu digitava uma palavra difícil. Saí de seu colo, me sentando na mesa, enquanto no espaço vago ele colocou uma lasanha para nós almoçarmos. — Amor!

Exclamou, rindo, e eu sorri, desligando o aparelho, sabendo que passei de fase.

— Me desculpa, eu estava apenas muito concentrada. Estou na fase final agora, Lovely.

— Sue chamou a gente para experimentar umas comidas para depois de amanhã, vamos? Lá na cozinha.

Assenti, ficando empolgada.

— Opa, aí sim, mas antes, eu quero comer isso, sinceramente, não estou mais aguentando de fome — respondi, e permaneci sentada na mesa porque esse é o lado que nós não colocamos comida, por ser a parte que passamos roupa, ou deixamos as coisas que deveriam ser guardadas mas nenhum de nós está suficientemente disposto a fazer isso.

— Então tudo bem, a gente pode almoçar ir lá — assenti, beijando-o mais uma vez, e nisso que eu fiz que ele se aproximasse, quase que eu caí da mesa, fazendo nós dois rimos. É tão fácil me imaginar dividindo uma vida com ele. Mesmo que estejamos juntos por pouco tempo. É como se nós já nos conhecêssemos antes de tudo.

— Quase que a gente precisa ir para a cozinha do palácio almoçar — me pegou no colo, tirando-me dali, de uma forma tão natural, que eu nem parei para pensar na gravidade do acidente que poderia ter acontecido ali. — Vou pegar seu almoço.

Esperei em sua cama, sentada, enquanto conversávamos sobre algo aleatório, sobre os novos artistas.

— Sinceramente, eu acho que o Gale deveria ser músico de verdade depois da Seleção. Ter um título real é o que quase todos querem, principalmente que ele pode escolher se vai para a Austrália, além de poder ficar em Panem, mas já o viu tocar e cantar? Nossa, é como se ele tivesse nascido fazendo isso.

Assenti, enquanto comia a lasanha.

— Hm, eu ouvi isso um dia desses, ele estava tocando na sala de música, eu fiquei sem acreditar. Sorriso me disse que ele e o Finnick se conheciam antes, e que a família de Gale é, justamente, conhecida por uma longa descendência de músicos.

— Nossa, essa coisa de geração de musicista, médico, advogados, comigo isso não funcionou não — ri, pela forma da qual ele falou, meio decepcionado, mas tirando sarro de si mesmo. — Sério! Você tem pais médicos, e não é uma médica porque não quer! Eu vi o que você fez no dia da fuga, você fez praticamente todo trabalho a sangue frio! Minha família tem é um histórico de nada!

— Você tem um histórico de nada, pode aproveitar para fazer o seu, olha aí! Autenticidade é mais do que tudo hoje em dia, bebê! Aproveite! — riu, balançando a cabeça, bebericando seu refrigerante. Dei um sorriso torto, admirada por ele.

Stefan é um cara simples. E é na sua simplicidade que coisas pequenas se destacam, como o sorriso, o jeito que olha. Não sei se as outras pessoas podem perceber isso, mas eu sim, e é suficiente para mim. Não tem mais ninguém que eu queira a não ser ele. Não trocaria a imensidão castanha escura de seus olhos por nenhum par de olhos verdes.

Através de coisas simples, me faz ver o quanto sinto que é recíproco. Como estar segurado minha mão, fazendo carinho, enquanto conversávamos.

Ao terminarmos de comer, simplesmente coloquei a louça no lixo, por ser descartável, para que então pudéssemos ir para a cozinha, mas Stefan não deixou que eu saísse sem que nós estivéssemos de mãos dadas, me fazendo rir.

— Céus, Stefan, calma, nós um dia vamos nos casar, morar na mesma casa, então nós ficaremos juntos por bastante tempo — ele sorriu, mas parecendo um pouco ansioso. — O que foi?

Balançou a cabeça, beijando o alto da minha cabeça, de modo gentil, como ele é. Céus, ele faz as coisas, e nem sente.

Rue passou ao nosso lado, com uma expressão de poucos amigos para mim e Stefan. Eu e ele nos entreolhamos, para começarmos a rir.

— Lá vai ela, revoltada porque terminou o noivado — ele brincou, falando ao meu ouvido. Cobri a boca para não rir alto. Uma das primeiras coisas que eu e ele conversamos foi justamente sobre isso, sobre o seu relacionamento com Rue, que simplesmente o ignorou e tudo mais, porque estava com um guarda, chamando-o de desajeitado.

— Pelo menos eu sou um desajeitado que namora uma loira que inexplicavelmente gosta de pintar o cabelo uma vez no mês, e fica completamente top com qualquer cor — ri outra vez, jogando minha cabeça para trás, amparada por ele, que me abraçou, enquanto andávamos em direção à cozinha.

A movimentação aqui está sendo enorme, por conta da festa de natal, e é a festa mais esperada do ano por aqui, pelo o que parece, e Stefan está empolgadíssimo porque vai tocar seu saxofone na festa. Já o escutei tocar uma vez, e cheguei a chorar, de tão incrível  que foi.

— Sue, Sue, Sue, onde está a comida, meu anjo? — ele perguntou, sorrindo para a senhora, que sorriu para nós dois juntos.

— Céus, eu chamei vocês, mas não estava esperando que viessem tão rápido assim, meninos!

— Ata, Sue. Acha que comida de graça pode ser assim, simplesmente desperdiçada? Só manda pra gente — falei, deslizando no grande banco que tinha, de frente para a enorme mesa de vidro, para serem organizado as refeições. — Ah, meu Deus! Doce de abóbora?!

Logo peguei uma colher, pois tinham pequenas porções, aparentemente para nós e mais umas poucas pessoas. Layla e Julia apareceram correndo, então entendi que era para nós quatro mais Sue.

Pelo o que Stefan me contou, depois que seus pais morreram, eles ficaram sozinhos no palácio, então Sue os “adotou”, no caso ela basicamente foi uma madrinha, e os três tem muita afinidade e intimidade com ela, e se eles tem, eu me sinto em todo o direito de sentir como se ela fosse uma tia minha também!

— Doce de abóbora é o que a gente espera o ano todo para comer, porque precisa vir da América do Sul, e não é muito do paladar da rainha — Julia explicou, depois de me cumprimentar com um sorriso e um beijo na bochecha. — Estava sentindo falta de vocês por aí. Que bom que voltaram!

— É bom estar de volta! — exclamei, com minha boca cheia de doce, fazendo os quatro rirem. — Nossa, Sue, isso daqui está ótimo.

— Tem que comer com queijo — Stefan disse, colocando um pedaço no meu prato, com mais doce de abóbora. — O que achou?

Eu nem sabia o que dizer, apenas comi outro pedaço.

— Pelo amor de Deus, Greasy Sue, o que é que você usa aqui? — ela riu, e se serviu também, comendo um pouco.

Ficamos um bom tempo ali com ela, e eu não estava mais me aguentando, depois de experimentar tanta coisa.

— Acho melhor vocês subirem, por causa da hora do jantar — a senhora sugeriu, mas eu estava caída no colo de Stefan, com um mão na barriga, completamente impossibilitada de andar. Eu comi até quase chorar comida pelos meus olhos.

— Como a senhora quer que eu me locomova depois de tanto doce? — Ela gargalhou, e eu nem consegui acompanhar, porque estou cheia demais até para isso. — Stefan, me carrega, por favor, nunca te pedi nada.

— O quê?! — ele exclamou, brincando, mas de um modo bem espontâneo. — Você outro dia me fez pegar meu dia de folga só para ir com você comprar uma calça jeans! No maior frio!

— Você pediu para eu escolher, ou era a minha calça ou era maquiagem! Eu poupei você e fui com a Lalá! — sua irmã riu, assentindo. — A gente não ficou nem duas horas na loja, Lovely! Não vem que não tem, você vai me carregar!

— Ata bom, até parece! Eu mal me carrego!

— Hm, hm, então tá! Você vai deixar, Lovely, sua namorada, sua única e espetacular namorada sair por aí sozinha passando mal? Ah, mas que ultraje!

Precisei apelar, ou eu não iria para o quarto com alguém me apoiando. Tem que sempre se preocupar com o transporte.

— Meu Deus do Céu… tchau, gente, eu vou ter que levar ela ou eu não vou ter sossego — aceitando sua derrota, eu sorri, acenando para suas irmãs, que são minhas amigas, e também para Sue, e as três acenaram, rindo. — Ai, Delly, você nem tá andando direito, poxa!

Eu ri. Ele não me pegou no colo, mas está me “arrastando”, em suas costas. Eu nem estou com forças para mexer meus pés mesmo.

— Ai, bebê, é super rapidinho, logo, logo a gente está no quarto, o que é que custa me ajudar um pouquinho?

Ele balançou a cabeça em negativa, mas com um sorriso, fazendo de boa vontade. Talvez eu não tenha explicado e nem aceitado para mim mesma que nosso apelido é bebê, um para o outro, nós nos chamamos sempre de bebê, e agora, falando, aceitei que é um lindo apelido.

Quando chegamos no seu quarto, corri para sua cama, e me deitei em formato de estrela, com a barriga para cima. Ele veio para o meu lado, mas de barriga para baixo, me puxando para nos deitarmos abraçados. Mas resolvi ficar de frente para ele, com meus olhos fechados, sentindo sua mão fazer carinho nas minhas costas, e ele sorrir.

— Eu queria poder congelar esse momento, e viver ele para sempre — sussurrou. Sorri torto, com meu coração super acelerado por sua presença tão perto de mim. Eu amo quando ficamos assim, porque é como se nós ficássemos como uma só pessoa. Talvez soe estranho, mas é verdade. E aconteceu como um relâmpago.

— Você pode fazer isso — respondi, sorrindo, abrindo meus olhos. — Nós estamos fazendo isso.

— E se eu pedisse para você casar comigo? — perguntou. Eu fiquei paralisada.

— O quê? — perguntei, e dei um riso nervoso. Ele sorriu, e se sentou na cama, abrindo a gaveta de sua cômoda. — Stefan…

— Bem, isso foi você mesma quem disse que é no momento que a gente sente que é a hora — começou. — E hoje é natal. Mesmo que ontem tenha sido um dia bem difícil, especialmente para o Peeta, e tudo mais, hoje é um dia diferente. É natal. E eu tenho você, minhas irmãs, Sue, Peeta ainda é um dos meus melhores amigos, sempre. O que mais eu poderia pedir? Qual seria outro momento melhor do que esse?

As lágrimas vieram aos meus olhos, olhando as duas alianças pratas com detalhes dourados. Meu coração bateu tão freneticamente, que eu pensei que ele estava escutando.

— E eu amo você, Delly. Sei que a gente está junto por pouco tempo, mas eu não tenho dúvidas de que é com você que eu quero passar a minha única vida — ai eu já comecei a chorar, rindo, me ajeitando na cama, sem acreditar.

Como eu pude me deixar apaixonar e amar alguém da forma que eu o amo? Sem a menor sombra de dúvidas, essa Seleção foi a melhor coisa que poderia me acontecer.

—  Não estou falando que nós vamos nos casar amanhã, mesmo que eu gostaria, mas é apenas que eu simplesmente não vejo outro motivo para não ao menos pedir sua mão, porque nós praticamente moramos juntos, e trabalhamos juntos, então não somos estranhos, mesmo com três meses de namoro e tudo mais.

— Só faz a pergunta, Lovely — murmurei, como se a cama fosse uma nuvem.

Ele deu um sorriso tão bobo, tão ele, que eu fiquei um palmo de não pular em seu colo e beijá-lo.

— Então… Delly Cartwright, você aceita se casar comigo? — perguntou, com um sorriso torto.

— Mas por qual razão eu te diria não, Stefan? É claro que sim! — exclamei, me jogando em seus braços, beijando-o várias e várias vezes. — Sim! Sim! Sim!

Ele riu da minha empolgação, mas me segurou forte com seus braços, não me deixando cair nem por um momento, como desde sempre. Desde o primeiro momento que me conheceu, me amparou, e eu sabia que não seria diferente daqui para frente.

— Mas é para colocar em qual dedo essa aliança? Eu comprei, mas nem sei — disse rindo, e eu ri junto com ele, também sem saber em qual dedo teria que ser colocado. — Vou colocar no anelar mesmo, porque o que vale é a intenção, não é?

— Com certeza, o importante é a gente saber o que isso significa agora, não é mesmo? — ele riu, assentindo divertido. — Poderíamos marcar para Julho, o que acha?

Assentiu, com um sorriso, tirando os fios que caíam no meu rosto, com a ponta de seus dedos. Seus olhos castanhos escuros são como uma floresta, que eu simplesmente entrei sem pedir licença.

— Amor, eu só quero ter a certeza que você é a primeira e última coisa que eu veja todos os dias ao meu lado — beijou-me outra vez, mas dessa vez realmente foi diferente. Havia um outro tipo de fogo além do amor, que arde sem que possamos ver. Trouxe também o fogo do desejo, da paixão.

Queria que já fôssemos casados. Mas ele é respeitador demais para algo assim. — Eu só quero compartilhar minha vida com você.

— Eu também, amor. Eu também.

Vontades de outras coisas não faltava, mas tudo está caminhando tão bem com Stefan, que mesmo com meu corpo desejando que nós agíssemos como se fôssemos casados, realmente, eu resolvi esperar para que viesse o dia em que nós realmente ficássemos diante uma só pessoa mediante todo mundo. Eu quero que todo mundo saiba quem é o responsável pelos meus sorrisos agora. Dono dos meus sorrisos, do meu coração, e logo, da minha alma, assim como eu terei a dele, e eu senti lágrimas virem aos meus olhos por isso.

Deixei que nós dois então caíssemos outra vez na sua cama, nos beijando, mas ficando apenas nisso mesmo, com palavras doces, e usamos nossa noite de natal para assistir filmes natalinos, depois que ele fez pipoca no microondas. Céus, eu me senti arrebatada. Era como se não houvesse um mundo além de seu quarto, como se fôssemos somente nós dois, e mais ninguém.

Claro que havia, porém era como se não houvesse. Deixei que o mundo viesse me desafiar amanhã pela tarde, mas hoje éramos somente nós dois. E mais ninguém.

 

Gale, quatro dias antes da visita do Nicolau ao palácio.

 

— Oi, mãe! — exclamei, quando ela atendeu minha chamada pelo Smarter.

Meu amor! Como você demorou para ligar! — ri, de todo o drama dela. — O que esteve fazendo que não pôde ligar para sua mãe?!

— Nada, apenas está uma correria aqui, por causa do evento que vai ter com os italianos e franceses, e eu estou responsável por toda a organização, e hoje ainda teve uma entrevista que durou mais de meia hora, porque era comigo, mais todos meus amigos — senti ela sorrir.

— Mas você está bem, Pooh?

— Estou sim, mãe, pode ficar tranquila, está tudo bem, e eu tenho até composto algumas músicas. Não que eu vá mostrar para a senhora, de qualquer jeito, mas estou compondo bastante.

Por esta razão, somente, eu vou te perdoar! — exclamou, do outro lado da linha.

— Que bom, porque é a senhorita que não me atende quando eu ligo! — respondi, batendo meu indicador nas costas do meu violão, enquanto estou sentado na varanda do meu quarto, vendo o Sol das uma da tarde, aproveitando a folga que todos tivemos para compor um pouco mais. Devido meu estado de espírito, já compus duas músicas em uma semana, ambas no piano, mas com um pouco de violão, que é o que eu mais gosto de tocar, por causa da praticidade, mas graças ao teclado que eu pedi para trazerem para meu quarto, eu fico dividido entre os dois.

Ah, Pooh, é porque você sabe… o que aconteceu com Posy nos pegou desprevenidos. Graças a Deus o susto já passou, e com o dinheiro que nós não usamos, que foi um valor justo, deu para nós contornarmos a situação.

Suspirei, sentindo o peso da saudade e da inutilidade cair sobre mim. Posy teve complicações sérias nos rins por causa da água potável na Flórida ser extremamente negligenciada, já que é um estado onde a maioria é estrangeira, principalmente dos restos mortais da América Central.

— E como ela está se saindo na hemodiálise? — perguntei, verdadeiramente preocupado. — Rory está bem?

Minha mãe, então, me manteve bem informado sobre o que estava acontecendo. Agora as coisas por lá estão bem sim, com a saúde de todos, porque meu pai usou o dinheiro para comprar novos canos e tudo mais, para que a água seja melhor filtrada, e o iodo seja normalizado. Meu irmão, um ano mais velho que Posy, que tem seis anos agora, depois do susto com ela, precisou fazer transfusões de sangue, por problemas também relacionados à água.

Mamãe disse que estão todos bem agora, embora em uma rotina bem agitada de hospital, e meu pai não anda tão bem de saúde, por conta do estresse de ter os filhos caçulas doentes e o mais velho sem poder sair de um palácio com pessoas das quais ele julga não serem boas. Pessoas essas que se resumem na Rainha Clara, e minha mãe odeia ela também, dizendo que ela não os engana.

Sempre tenho que rir, mesmo que eu também detesto a mãe de Katniss, porque o jeito que ela fala é confidencial, afinal, o telefone foi oferecido justamente pela dita cuja, aí é cada codinome que só tendo misericórdia.

— Gale, desculpe, interromper, mas a sala de música está disponível — Julian avisou, um dos meus criados, e eu sorri, agradecendo pela informação. Minha mãe, tendo ouvido, pediu para que eu fosse compor mais músicas, e tratar de tomar vergonha na minha cara, para poder mostrar para ela alguma das minhas composições.

Uhum, vai sonhando, mãe. Vai sonhando. Vai — falei, revirando os olhos, mas com um sorriso. Amo muito meus pais, e foi com eles que eu aprendi grande parte do que eu sei, tanto por conta dos instrumentos, como por causa dos meus princípios com relação ao mundo, e pessoas.

Ai, ai, Pooh. Me liga mais vezes, porque eu ainda não sei mexer nisso — falou.

— Pode ter certeza, mãe. Te amo — respondi, sorrindo para o aparelho.

Eu também te amo, bebê. Se cuida — e desligou.

Dei um longo suspiro, com o Sol batendo forte no meu rosto, na mesma medida que um vento frio mexesse com meu cabelo, sendo necessário que eu usasse um casaco para não sentir tanto frio. Nesse momento, se eu estivesse em casa, no máximo estaria com uma blusa ¾, já que faz bem mais calor do que aqui.

Levantei-me, deixando o violão na minha cama, sabendo que na sala de música tem todos os instrumentos, pelo menos os que eu sei tocar, então tudo o que eu levei foi meu caderno de composições, com algumas letras que escrevo desde os quinze, e também com letras de músicas que eu gosto, principalmente de antes dos Dias Escuros.

Me sentei na frente do belíssimo piano do palácio, o piano principal, antigo, e Jesus Cristo, como eu sou doido por um troço desses, mas nem que eu vendesse minha alma poderia pagar algo assim.

Passei meus dedos pelas teclas, antes de realmente começar a tocar, para sentir o gelado de cada uma das oitenta e quatro teclas, que me relaxam de uma forma que eu não tenho como colocar em palavras.

Minha família é toda de musicistas ou artistas de modo geral, muitos dos meus primos conseguiram comprar uma carta para mudarem de Distrito, como é o caso da Laura, minha prima, que hoje é uma grande atriz, mas eu pouco me importo. De todos da família Hawthorne, a minha é a que mais passou por dificuldades financeiras (que mudou depois da Seleção) é claro, e ninguém nos ajudou, mas depois que meu nome foi divulgado, até da Austrália recebi ligação. E eis aí um fato que muita gente não conhece sobre mim, eu sou australiano, nacionalizado em Panem, e é o motivo dos meus pais terem, junto comigo, passado tantas e tantas dificuldades financeiras, eles foram deserdados por quererem ir viver o amor deles no país que governa a Austrália, e meus avós acharam isso uma aberração, por conta de tradições, obrigando-os realmente a virem para cá, onde levamos anos e anos até nos estabelecermos como músicos no Cinco, mas ainda sim, aos trancos e belos barrancos.

Comecei a dedilhar algo aleatório, mas então coloquei as partituras no lugar certo, de uma composição minha, que estava quase sendo concluída.

Hmmmm, então é você quem meu Smarter acusa de estar ocupando a sala de música — a voz de Katniss me fez perder o ar, me fazendo dar um sorriso espontâneo, com o susto, mas surpreso de modo bom por sua presença.

— Eu posso ir para o meu quarto se quiser — falei, mas ela somente se sentou ao meu lado naturalmente, fazendo um coque desarrumado com seus longos fios pintados de ruivo agora.

— Eu só vim mesmo para passar um tempo com você, não se preocupe — respondeu, me dando um beijo na bochecha, e eu podia sentir meus batimentos cardíacos acelerados. Ah, esse o poder que esses lábios e sorriso tem sobre mim. — Hmmmm! O que temos aqui, mister Gale?

Sorri, mas muito sem jeito, por nunca mostrar minhas próprias composições.

— Nada, apenas rabiscos, e — logo ela interrompeu, se inclinando para alcançar a primeira carreira de notas. — Ah.

Ela abriu um lindo sorriso, como todos, mas esse foi o sorriso que gostou do que eu tinha escrito.

— Dá para fazer um dueto legal com isso! Vamos, vamos, você começa, e aí eu te acompanho — disse, tirando da minha mão, colocando no lugar.

— Ah, mas eu tenho vergonha… é algo que eu escrevi, está incompleto, não vale à pena — falei, balançando a cabeça.

— Gale, se estivesse ruim, eu falaria, porque é você, mas sinceramente, eu gostei da primeira estrofe! Olha, there goes my heart beating, cause you are the reason, I'm losing my sleep… please come back now.

Ela cantou, naturalmente, com sua doce voz, que faz meu corpo querer ouvi-la por horas.

Senti minhas bochechas ficarem vermelhas de vergonha.

Gale… — murmurou, me dando um empurrãozinho. Assenti, suspirando, aceitando que ela que cantar uma música que eu escrevi.

 

Gale: Lá vai o meu coração batendo
Porque você é o motivo
Estou perdendo o sono
Volte agora

Cantei, bem nervoso, no caso, agitado, porque eu aceito cantar, aceito tocar, e sem a menor vergonha exceto se for uma música minha. E quando a inspiração está bem ao meu lado, tocando algo que eu escrevi. Quase passei mal.


Katniss: A minha mente está correndo
E você é o motivo
Que eu ainda estou respirando
Agora estou sem esperança

Mas, Katniss é incrível e deslumbrante demais, e nós entramos em um acordo silencioso, e éramos quatro mãos tocando o piano. Só olhava para checar as notas, trocando para olhar para seu rosto lindo, que sorria.


Gale: Eu escalaria todas as montanhas
E nadar todos os oceanos
Katniss: Apenas para estar com você
E corrija o que eu quebrei
Ambos: Oh, porque eu preciso que você veja
Que você é o motivo

Katniss: As minhas mãos tremem
E você é o motivo
Meu coração continua sangrando
eu preciso de você agora

Gale: Se eu pudesse voltar o relógio
Ambos: Certifiquei-me de que a luz derrotou o escuro
Eu passaria a cada hora, de todos os dias, oh
Mantendo você seguro oh

Eu escalaria todas as montanhas
E nadar todos os oceanos
Apenas para estar com você
E corrija o que eu quebrei
Gale: Oh, porque eu preciso que você veja
Que você é o motivo
Você é o motivo

Ambos: Eu escalaria todas as montanhas
E nadar todos os oceanos
Apenas para estar com você
E corrija o que eu quebrei
Porque eu preciso que você veja
Que você é o motivo.

 

Katniss me deu um olhar com um sorriso largo.

— E você tem vergonha de cantar e tocar o que você mesmo compõe, Gale? — perguntou, mas de uma forma retórica. — Não consigo acreditar em uma coisa dessas. É quase impossível acreditar que uma pessoa com o seu talento tenha um problema com acreditar em si mesmo.

— Sei lá, apenas não acho que seja o bastante para acreditar que seja bom como as outras músicas já prontas — balançou a cabeça, pegando na minha mão.

— Nada disso, você é incrível, e nossa, compondo mais músicas que eu vou fazer questão de ouvir.

Sorri.

— Mas só se cantar comigo — ergui minhas mãos.

Ela sorriu.

— Todas elas, prometo.

Então, olhando em seus olhos, me inclinei. Ela não recuou. Nos beijamos.

No começo, eu estava aqui por uma missão, somente, mas desde o primeiro mês, é por causa desse jeito dela que eu sou motivado a continuar aqui, afinal, embora eu ainda tenha um trabalho alternativo, Katniss agora é o motivo principal para que eu continue aqui.

— O que acha de me mostrar mais algumas das suas composições no seu quarto? — perguntou, sorrindo de um jeito com outra intenção, e eu podia ver em seus olhos. Sorri, sendo levado a dar um outro beijo nela.

— Acho que seja uma ideia excelente, vossa alteza — Saí primeiro, e estendi a minha mão que não estava segurando as coisas que eu havia trago para a sala de música.

Estávamos indo conversando, rindo, quando seu tio estava indo na direção contrária a nossa, tocando um ukulelê, acompanhado de Prim e sua filha, que cantavam juntas.

I'm boarding up the windows, locking up my heart, it's like every time the wind blows I feel it tearing us apart, every time he smiles, I let him in again, everything is fine when you're standing in the eye of the hurricane — as duas cantavam alto, e desajeitadas, enquanto ele ria, como a gente, porque elas são duas crianças, sem muito ritmo, mas pareciam em um momento feliz.

— Ah! Olha, vocês! — ele exclamou, parando de tocar, acenando, vindo até a gente com as duas, que correram para me abraçar.

— E aí, meninas! — exclamei. Katniss apenas revirou os olhos, com um sorriso.

— Não dê ibope para essas duas falsas! Falsas! Me abandonaram quando eu chamei elas para tocar comigo!

— Porque foram tocar comigo, sua cínica! Você diz que sabe as coisas, mas sabe nada! — Frank respondeu, de uma forma tão na hora, que foi tão engraçado, não pude segurar a gargalhada, ainda mais com a expressão de indignação de Katniss.

— Ah, não! É por isso que eu prefiro a tia Ana! O senhor é um falso, isso sim! Gale, ele me disse também que ia tocar piano comigo, mas mentiu, e foi ficar com essas duas aí, olha! Três mau caráter! — ela disse, como se estivesse discutindo, e pegou o ukulelê da mão dele, que ficou sem acreditar, mas é claro que tudo em tom de brincadeira.

— Pode me devolver isso aí, que fui eu quem trouxe depois que você, sua desleixada, que deixou cair e fez o bagulho estourar! Isso é meu! — eu ri mais, e Prim e a sua prima também, quando ele puxou o instrumento de volta.

— Pois então pode ficar, eu não queria mesmo! Vamos, Gale, não fique com esses falsos! — Me puxou pela mão, quase que eu caio, mas ri, somente, acenando para eles, que riram da cena, então.

— Tem um ukulelê no meu quarto, não fica assim — brinquei, beijando sua bochecha, enquanto andávamos a caminho.

Entramos, e estava vazio, já que estão adiantando as roupas para a visita da Itália, e do Dia do Perdão, as moças que se responsabilizam por mim são muito tranquilas e mal ficam aqui, geralmente arrumam o quarto quando eu não estou.

Deixei as coisas na cabeceira da minha cama, e iria pegar o instrumento, mas Katniss me fez cair sentado, quando me beijou, me pegando de surpresa, mas honestamente, uma surpresa melhor que essa, só essa.

Sorri, trazendo-a para perto, e ela veio sem o menor problema.

Acho que não vamos tocar nada agora — murmurei, com um sorriso na curva de seu pescoço.

— Bem, acho que podemos sim — respondeu, com um sorriso, e seus cabelos soltaram do coque, caindo por seus ombros e costas, como uma cortina.

Eu e Katniss, quando se trata do nosso relacionamento aqui, nós conversamos por horas, passamos tardes rindo, em algum canto do palácio, entre alguns beijos, mas nem sempre foi assim, necessariamente. As coisas se estreitaram entre nós dois depois da condenação de Finnick, eu percebi que ela estava bem triste, como se algo estivesse incomodando ela.

Nunca tinha namorado antes, mas sei que ela não iria me contar, exatamente, o que tinha acontecido, caso eu perguntasse, então mandei para ela um cartão, que é muito comum na minha província, quando as pessoas estão tristes, ou algo similar, é de costume que recebam cartões. Foi algo bobo, e que eu pensei umas quatro vezes antes de mandar, mas acabei por fazer isso, principalmente porque sei de sua doença desde o começo, ela me contou, então eu imaginei que poderia ter sido algo grave, talvez uma piora.

Até hoje eu não sei o motivo pelo qual ela estava tão diferente, mas parece que nós passamos a apreciar mais a presença um do outro. Nossa relação mudou de alguma forma, nós começamos a ter mais intimidade um com o outro, e não era anormal que no final de algum encontro, as coisas, terminassem um pouco com ar de que não deveriam ter acabado.

Em pouco tempo, suas costas estavam no colchão, e sua cabeça no meu travesseiro, com seus cabelos espalhando-se por lá, e minha blusa desaparecendo em algum lugar, depois a dela, e as coisas iam acontecendo, como se já estivessem acontecendo. Confuso, mas nem tanto.

Seus beijos, meus beijos, isso não importava mais.

Gale — sussurrou, me puxando para si outra vez. Eu me deixei ser puxado, mesmo sem fôlego, o sorriso não saia dos nossos rostos, e nem tinha como.

Meu coração bate como uma orquestra.

Suas mãos foram para o cadarço da minha calça de moletom, enquanto eu trilhava uma rota de beijos em seu ombro, fazendo a alça de seu top cair para um lado, depois a do outro.

Simplesmente estávamos indo, desimpedidos de qualquer coisa.

— Katniss...

Desabotoei sua calça, e ela parecia não se importar com isso. Simplesmente estávamos indo. E muito bem. Sua calça escorregou pelo chão.

Beijei ela novamente, querendo dizer tudo o que quero dizer, mas não disse, por medo.

Ela se encarregou de tirar o top. O pouco fôlego que me tinha, sumiu, quando vi aquela peça de roupa cair ao meu lado na cama.

— Por favor — ela murmurou, segurando minha nuca, trazendo-me sempre para perto. Poder vê-la assim, tão de perto, quase me trouxe lágrimas nos olhos. Eu sou tão apaixonado por ela.

Desejei que ela sentisse o que eu sinto por ela também. Mas nesse momento, isso não importou muito.

Puxei o edredom até um pouco acima da minha cintura, e os pés dela desciam a minha calça, enquanto eu beijava sua clavícula, com uma das minhas mãos segurando meu corpo, de não pesar sobre o dela, enquanto a outra estava em seus cabelos, mas as dela na minha nuca, permitindo que ela deixasse marcas no meu pescoço.

— Gale, eu trouxe a prévia do seu terno para a quarta-feira, para ver se você acha se essa cor está — Sofia paralizou na porta do meu quarto, uma das minhas criadas, e eu e Katniss simplesmente puxamos ar, sem saber o que fazer, bem, eu na verdade, caí ao lado dela, assustado. — Ai meu Deus! Ai. Meu. Deus! — Sofia fez uma cara de como se fosse um escândalo, e realmente é, no caso, já que como o edredom estava na minha cintura, não deu para ela ver que nós temos roupas de baixo, ainda.

Katniss cobriu os seios com o edredom, puxando-o o suficiente para cobrir, e eu me sentei ao seu lado, fazendo carinho em sua coxa, mas dessa vez sem outras intenções.

— Por favor, apenas saia devagar, e poderia não contar para ninguém sobre o que viu? — pediu, e eu fazia um gesto urgente para ela sair.

Sofia assentiu, devagar, tentando assimilar tudo, mesmo que tenha 28 anos, ela só colocou o terno na cadeira ao lado da porta.

— Eu não vi nada, eu apenas deixei o terno aqui, eu não vi nada, alteza.O quê? Eu não estou vendo nada.

— E está de folga pelo resto do dia — completei, achando justo isso.

— E estou de folga pelo resto do dia — repetiu, assentindo, fazendo um positivo com o polegar, e saiu, fechando a porta.

Suspirei profundamente, quase sentindo as lágrimas nos meus olhos.

— Eu simplesmente não acredito que uma coisa dessas aconteceu, me desculpe — falei, para Katniss. Para ela com certeza a situação é pior, pelo fato de como estava, mas ela apenas balançou a cabeça. — Me desculpe, sério.

Porém, ela começou a rir, deixando até mesmo o edredom cair em sua cintura, e se jogou na cama.

— Gale, está tudo bem — fez um carinho na minha mão. — Mas será que ela vai manter segredo? Céus, ela deve estar achando a gente meio maluco.

— Olha, por ela ter ficado apenas da porta, e pelo o que ela viu, deve pensar que a gente já estava lá, mas acho que ela não vai contar para ninguém — falei, ficando mais aliviado, fazendo carinho na cabeça de Katniss, me deitando ao seu lado. — Você é muito linda.

Falei, sem medo. Infelizmente, eu sinto que quanto a sentimentos, ela não é igual a mim  para comigo, mas isso não me faz gostar menos dela. Não tenho vergonha na cara e nem no coração. Sou descarado, ao menos, para mim mesmo por saber que eu sou um amante de seus olhos cinzas, que se refletem nos meus quando estamos perto.

Principalmente assim, na cama.

— Caso ela espalhe, a fofoca poderia ser verdade, não acha? — perguntou, em um tom brincalhão, mas ao mesmo tempo desafiador. O que ela quer de mim, eu nunca sei, mas eu me deixo. Me deixo porque mesmo sabendo que ela não sente o mesmo que eu sinto, ao menos confia em mim, e isso me deixa acreditar no fato de que está tudo bem.

Já me vejo com meu coração partido em mil pedaços, mas se eu ao menos tenho a chance de escolher quem vai acabar comigo, que seja Katniss.

— Seria ótimo — respondi, rindo, com uma mão na base de suas costas, fazendo um gesto para relaxar ela. Mas meus dedos dedilham suas costas como um violão, fazendo com que se virasse para mim, e eu só senti seus lábios sobre os meus, de uma forma completamente como se nada mais existisse a não ser eu, ela e a cama do meu quarto. — Não acho que isso seja certo…

Eu podia ver onde essas nossas provocações poderiam dar, e mesmo desejando, não acho que seja algo que devemos fazer agora. Onde estou com a cabeça, não vai ser eu que ela vai escolher, ao menos se deixe levar e ame ela com todas suas forças, Gale, demonstre o quanto ela te faz bem.

— Não quer continuar com isso? — ela perguntou, brincando de arranhar minhas costas. Senti meu corpo estremecer quando subiu um pouco mais, na minha nuca, onde é meu ponto fraco. Minha calça já jaz no chão, e a sua teve o mesmo destino. Não falta nada, praticamente, a não ser um beijo a mais.

— Querer eu quero, mas Katniss, sei lá, não acha que a gente esteja fazendo uma loucura? — perguntei, me sentando, puxando um travesseiro, absurdamente constrangido com nossas posições e circunstâncias. Gale, cala a boca e terminem logo com isso, os dois querem que isso aconteça, uma voz insistiu, mas eu não podia dar ouvidos. Senti uma dor de cabeça enorme, junto com uma dor de estômago, sendo condenado por ter deixado as coisas chegarem ao ponto que chegaram.

Ela não vai me escolher. Eu sinto que não vai, embora uma parte de mim diga que possa ser que ela mude de ideia. É uma sacanagem minha ter me deixado vir tão longe. Quis desistir pouco depois de ver que eu já estava apaixonado por esse seu sorriso, porém eu tenho uma missão, que é mantê-la sã e salva, não me entregar para ela assim.

Parecendo ponderar nas minhas palavras, ela também se sentou na cama, cobrindo seus seios (incríveis, devo ressaltar) com um braço. Seus cabelos bem bagunçados não tiravam dela o ar de que qualquer coisa nela é lindo e especial. Ela é toda uma orquestra, não apenas um instrumento. Adoraria eu ser o maestro. O que eu não daria para organizar toda suas sinfonias? O que eu não daria para não ser o compositor da música que ela é?

Eu me daria à morte se fosse assim necessário.

— Não sei — respondeu, por fim. Parecia em um conflito interno agora, como eu estou. Me aproximei novamente, mas dessa vez de uma forma casta dedilhando meus dedos em seu rosto, de uma forma bem gentil.

— Não precisamos agir como se tivéssemos pressa. Está tudo bem — falei, beijando sua bochecha. Ela fechou os olhos, colocando uma mecha atrás da orelha, com um sorriso torto. Ah, seus sorrisos. Se pudesse ouvir como meu coração fica, talvez não tivesse mais Seleção, se dependesse apenas do que eu sinto. Eu a escolheria de longe, em um milhão de quilômetros. Não haveria nada mais além de nós dois, se tudo dependesse de mim, apenas.

— Posso então te pedir uma coisa? — assenti, trazendo-a para perto, e ela repousou sua cabeça em meu ombro, conosco ainda na cama, e ela sem seu top. — Depois disso tudo o que aconteceu, sinto que é pertinente que você toque algo no seu ukulele. Sabe, para eu não precisar sair daqui agora, nesse estado, correndo o risco de me esbarrar com alguém por aí…

Ri, concordando, saindo da cama, apenas de cueca mesmo, sentindo seu olhar, e não pude deixar de brincar com isso, vendo suas bochechas ficarem rosadas, enquanto eu vestia minha calça e com preguiça, ela só colocou a minha blusa mesmo, de uma forma completamente espontânea, ficando de bruços na minha cama, com um sorriso, esperando que eu toque alguma coisa.

— O que a senhorita gostaria de escutar? — perguntei, tirando alguns fios castanhos meus que insistem em cair sobre os meus olhos.

— Qualquer música, você quem é o musicista aqui, e não eu! — ergueu as mãos, divertidas, me fazendo rir.

Meio perdido, por causa da quantidade de letras na minha mente, comecei sem saber exatamente o que iria tocar, até que já estava tocando.

Ela não é adorável?

Ela não é maravilhosa?

Ela não é preciosa?

Menos de um minuto de idade

Nunca imaginei que através do amor estaríamos

Fazendo alguém tão adorável quanto ela

Mas ela não é adoravelmente feita de amor

 

Toquei, em uma batida fácil, fazendo ela se divertir, mas ficar com as maçãs do rosto bem vermelhas, e nunca minha blusa ficaria tão bem em mim quanto nela nesse momento, completamente livre de títulos reais, apenas Katniss Everdeen, uma garota de dezoito, quase dezenove anos de idade.

 

Ela não é bonita?

Verdadeiramente a melhor dos anjos

Cara, estou tão feliz

Estamos sendo celestialmente abençoados

Eu não acredito no que Deus fez

Através de nós ele deu a vida a alguém

Mas ela não é adoravelmente feita de amor

 

E toquei até o final, terminando com um dedilhado, e ela deu sorriso, que apagou tudo o que tinha de ruim no meu dia. Ela é tão bonita.

— Gale, eu devo dizer que você tem uma das vozes mais lindas que eu já escutei em toda a minha vida — falou, sentando-se na cama. Dessa vez foi minha vez de ficar vermelho. É muito difícil escutar elogios, eu tenho uma certa aversão a isto, já que sempre trabalhei muito para aprender música. Foram muitos anos de dedicação, mas meu pai sempre diz que não é o suficiente, se eu quero algo no meio. Sei o quanto ele me ama, e que quer o meu melhor, mas eu nunca acho que sou bom o bastante.

Comecei a tocar em festas, e reuniões, porque as coisas estavam bem apertadas na minha casa, porque meu pai, que é pianista, quebrou os dedos em um acidente em um dos lugares que trabalhava, fazendo bico, já que mesmo que o Cinco seja conhecido como o Distrito da música, na Flórida não é um lugar fácil para viver dessa forma, então ele também trabalhava como um Sete, auxiliando em obras, e em um erro quebrou três dedos, logo, sem poder trabalhar, eu com treze anos já tinha aprendido o suficiente para poder evitar que o tratamento que ele precisava fosse interrompido.

A melhor parte, além de que ele ficou bem, embora não toque mais tanto quanto antes, é que eu conheci Finnick, um dos meus melhores amigos. Mas aí também houve o acidente com Finn,  e eu sabia de tudo, claro, ele me contou logo quando teve seu primeiro encontro.

Sem Finnick e minha mãe por perto, é ainda mais difícil acreditar em mim mesmo.

Opa, planeta terra chamando Gale — Katniss estalou os dedos na frente do meu rosto, com um sorriso, e eu me despertei, saindo dos meus devaneios. — Tudo bem?

Assenti, imediatamente, dando um sorriso.

— Sim, está sim — respondi, tranquilamente.

— Então, toca mais alguma! — pediu, colocando seu top, depois que tirou minha blusa, me dando a visão de seu corpo outra vez, e eu perdi o compasso. Ah, céus, que corpo. Que corpo, nossa. E o jeito como ela age naturalmente na minha presença, me faz querer ir tomar um banho, e chorar.

Balancei minha cabeça, suspirando, aceitando que fui eu quem tive que parar, porque mesmo sem ter religião, sei bem que é proibido tal relação assim dadas nossas circunstâncias, principalmente por eu nem saber como vai ser o dia de amanhã.

 

Você é linda demais para ser verdade

Não consigo tirar meus olhos de você

Você seria como o céu para tocar

Eu quero tanto te abraçar

Finalmente o amor chegou

E agradeço a Deus que estou vivo

Você é linda demais para ser verdade

Não consigo tirar meus olhos de você

 

Comecei a cantar Can’t Take My Eyes Off You, que é uma das minhas canções favoritas de antes dos Dias Escuros, e ela fixou seus olhos cinzas azulados, na mesma tonalidade que os meus, em mim, me deixando completamente descompassado, mas continuei. You're just too good to be true, can't take my eyes off you, repeti sonoramente em minha mente, olhando para ela, mantendo nossos olhares um no outro. Segui os acordes no ukulele, que é como tocar no piano, para mim, não tenho a menor dificuldade.

 

Perdoe o jeito como eu te olho

Não existe nada mais para se comparar

A sua visão me deixa fraco

Não sobram palavras para falar

Mas se você sente-se como eu me sinto

Por favor, deixe-me saber que é real

Você é linda demais para ser verdade

Não consigo tirar meus olhos de você

 

As letras saiam, mesmo que com meu sotaque um pouco australiano, por causa dos meus pais, que nasceram lá, naturalmente, devagar, sem pressa em nenhuma palavra. E seus olhos estavam bem nos meus. Pude enxergar um pouco além deles, mas não o bastante, porém continuei, e com um ar mais leve, fazendo-a dar um sorriso descontraído que me fez afundar mais ainda em mim mesmo em um oceano de amores.

 

Eu te amo, baby

E se está tudo bem

Eu preciso de você, baby

Para aquecer as noites solitárias

Eu te amo, baby

Acredite em mim quando eu digo

 

Oh, coisinha linda

Não me deixe deprimido, eu imploro

Oh, coisinha linda

Agora que eu te encontrei, fique

E deixe-me te amar, baby

Deixe-me te amar

 

Ela riu do meu tom bem mais leve, e não tão intenso como nas primeiras estrofes, porém essa música retrata exatamente o que eu sinto por ela.

Quando terminei, ela veio me beijar mais uma vez, ficando em meu colo, mas de uma forma casta, com as pernas para um lado, apenas, um braço sobre meus ombros, e traçando, com a ponta dos seus dedos, linhas irregulares no meu rosto, com o dela próximo ao meu, me dando o privilégio de vê-la ainda melhor.

Sua pele é parda como a minha, um meio termo, e nossos cabelos são na mesma tonalidade, ou pelo menos eram, até ela tingir com ruivo, mas ficou ótimo nela. Desejei que pudéssemos ficar assim. Queria eu que ela sentisse o que eu sinto. Apenas uma metade. Quero. Mas não se pode ter tudo o que a gente quer, e as pessoas são a principal prova.

Entrelacei seus dedos aos meus, deitando minha cabeça em seu peito, fechando meus olhos. Bem que viria a calhar termos um paparazzi aqui dentro bem escondido para tirar uma foto desse momento. Ah, eu queria ser eterno ao lado dela.

— O que você cantou é verdade? — perguntou, em um sussurro, afagando meus cabelos.

— Sim. — respondi, somente. You'd be like heaven to touch, I wanna hold you so much, veio outra vez um trecho sonoro em minha mente. Ela é como tocar o paraíso. E nem sente.

— Eu quero poder te responder — sussurrou, parecendo que ia chorar.

Não precisa, não preciso de nada além de que apenas tenta — sussurrei de volta, mesmo que estivéssemos sozinhos, nessa tarde fria em Angeles. É como se ninguém pudesse ouvir nossa conversa. Talvez alguém pudesse ouvir. E eu não queria que esse momento fosse descoberto por mais alguém. É algo que quero deixar no meu coração.

— Eu tento — respondeu, juntando sua testa na minha. Fechei meus olhos outra vez, sabendo que ela fez o mesmo. Meu coração parecia que ia saltar para fora, e ela iria escutar. — Confio em você. Foi por isso que eu não me importei com hoje.

Assenti, quase sentindo nossos lábios se tocarem outra vez.

— Katniss, está tudo bem. Não muda o que eu sinto — falei, fazendo carinho na base de suas costas, abraçando-a. Terminei com nossa distância com um selar casto de lábios.

Ela deitou-se no meu colo, mesmo na cadeira, depois que eu deixei o ukulele no chão, mas não ficamos desconfortáveis. Foi um silêncio doce. Até que seu relógio apitou, por causa de uma reunião urgente, e ela precisou ir, mas antes, eu a puxei para um beijo que eu tentei deixar claro através desse gesto do quão ela é importante para mim. Céus, ela é como tocar o paraíso. Na terra, ela é o próprio paraíso. Um vislumbre de algo que nunca vai ser meu.

— Vou tentar marcar para a gente se ver antes, tudo bem? — perguntou, na porta, já, depois de colocar suas roupas, e ajeitar seu cabelo. Eu permaneci com a calça, somente.

— Eu sempre vou estar disponível — ela deu um sorriso torto, então, outra vez colocando uma mecha atrás da orelha, saiu, mas dando várias olhadas para trás, onde eu estava, até não poder mais ver ela.

Entrei, enfim, e peguei o aparelho que recebi de Max e Lucia antes de vir para cá.

G.H: A Tordo está bem, mas as reuniões urgentes por causa da situação dos Sulistas, que também estão na Inglaterra continuam”

Enviei, digitando com códigos, com muito cuidado.

Desconhecido: ‘Ótimo, Aussie. Continue seus olhos atentos nela e no Tordo 2, que está ferido, como te informamos. Mantenha-se vigilante, a rainha descobriu três no conselho real, e ela está caçando tudo.”

Senti um arrepio na espinha, dando uma olhada pelo quarto, mesmo sabendo que estou sozinho. Mas a condenação do crime de espionagem não caía sobre mim, já que eu preciso monitorar a Katniss, e seu bem-estar, e agora o do Peeta, claro.

G.H: “Positivo, Comandante. Ninguém desconfia de nada.”

Outra vez escondi o aparelho, em um fundo falso na minha pasta de couro que guardo minhas partituras, e sei que ninguém mexe aqui.

Eu fui o único dos Selecionados que a Guarda do Norte conseguiu infiltrar através da Seleção, para proteger a princesa, e também para dar informações, das quais somente alguém como eu conseguiria. Quem poderia suspeitar de um Selecionado da Flórida? Não faz sentido.

Sentei de frente para o teclado, olhando para a cama bagunçada, e o perfume dela ainda no quarto, e na minha pele. Suspirei, sentindo lágrimas nos meus olhos.

Meu pai é o responsável pela Guarda Escarlate em Miami, e eu nem sabia disso, até fazer dezessete anos, antes da Seleção, uns meses antes do anúncio oficial. Nem minha mãe sabe disso.

Papai me contou tudo, sem poupar detalhes, das coisas que já sabia que estavam acontecendo, porém não do jeito que ele me contou e mostrou.

Gale, eles vão fazer com que você entre lá —  meu pai contou. — Não sei como, mas você vai entrar na Seleção. E precisa ajudar essa causa.

E eu aceitei. Não tinha como não aceitar, mesmo que tenha sido um pedido do meu pai, eu mesmo sem ter tanta intimidade com ele, principalmente depois que Posy e Rory nasceram.

Porém eu queria fazer parte de alguma coisa, eu queria ajudar. Logo depois Max e Lucia vieram, quando saiu o resultado, e eu não podia me conter de felicidade, porém estava com medo. Os dois viajaram daqui de Santa Bárbara até minha casa apenas para darem um dossiê do que eu encontraria, desde os soldados e conselheiros que estavam ao nosso lado, até a Johanna, criada e amiga de Katniss, a herdeira do trono.

Vim fixo no objetivo de ajudar a manter a Katniss sã e salva, pois também recebi um dossiê ainda mais explicado dos perigos pelo palácio, onde incluem sua avó materna e a mãe, a rainha.

Eu não estava tendo nenhum problema, mesmo com todo esse fardo, porque logo conheci Peeta, Finnick, que é meu melhor amigo (o que realmente foi uma surpresa que tenhamos vindo juntos para cá, realmente foi uma surpresa). Estava tudo indo bem, principalmente porque eu nunca tive problema com a comunicação, sempre fui assim, sempre, e graças a Deus por isso, eu gosto muito de como eu sou.

Porém quanto mais pediram para eu me aproximar de Katniss, e tentar saber melhor quais suas intenções quando fosse rainha, para ver quando o campo estava bom para que Lucia e Max viessem para conversar com ela, eu fui me levando, me apaixonando, e me apaixonando, mas eu pensava que se controlava essas coisas, já que eu nunca sequer tinha beijado, embora tivesse tido inúmeras propostas em casa.

Não se dá para controlar o que vem do nosso coração.

O plano nunca foi que eu necessariamente me tornasse rei, me casando com ela. Meu objetivo aqui é ajudar a incliná-la para alguém que eu visse que apoiaria a Guarda Escarlate. Não precisou de muito tempo assim, logo Peeta se colocou no lugar de Finnick, e sem mesmo saber, ele colocou em si uma coroa cravejada de ouro e diamantes.

Suspiro.

Toquei algumas teclas, preguiçosamente.

Me sinto entre a cruz e a espada, tendo em consideração de que eu também protejo o Peeta, que é o “Tordo 2”, e fiquei sabendo antes que fugissem do palácio para a sede em Santa Bárbara, o que já me deixou acabado, ontem, mas eu não pude deixar de recusar o carinho de Katniss. Eu acho que a amo. Se for paixão, é daquelas bem fortes, que me queimam feito um fogo que não posso ver, e que me faz cativo, mesmo que eu esteja livre.

Senti as lágrimas virem aos meus olhos, funguei, balançando a cabeça. Preciso manter meu objetivo. Mantê-los salvo. Mas de quê? Sulistas.

Max me disse que estão organizando um grande ataque ao palácio nos próximos dias, e eu simplesmente não posso perder Katniss e Peeta de vista.

Da mesma forma que os Nortistas viram que ela vai mudar o país, os sulistas também, e estão buscando forças e recursos para que isso aconteça, e então possam vir ao poder.

Considero demais o Peeta, o amo como amigo, e isso torna as coisas três vezes piores, porque se tudo acabar como parece que vai, ele é quem será o escolhido pela garota da qual eu estou perdidamente apaixonado, e isso é certo.

Inevitavelmente algumas lágrimas minhas caíram nas teclas, e eu deixei. Parece muito fácil para mim estar sempre rindo, feliz, mas grande parte de divertir as pessoas é para tornar minha vida menos pesada.

Lucia sabe do que eu sinto, porque não conseguir esconder a minha expressão de devastado quando, antes da Katniss ser chamada, anteontem, quando me avisou que faria Johanna incentivar Peeta a acompanhá-la na conversa.

Sinto muito pelas coisas estarem fora do seu controle, mas sabe que é para uma causa maior, não sabe? — Nós nos demos bem como se fôssemos irmãos, ou primos. Afagou carinhosamente meu cabelo, e deu um beijo na minha bochecha. — Esse amor vai voltar para você, Gale. Você tem apenas dezoito anos e uns quatro meses. A vida vai fazer voltar para você.

Mas eu não queria de outra pessoa, eu queria o de Katniss. Porém eu sei o meu lugar, e não é agora que eu vou baixar guarda. Não é agora que eu vou largar tudo. Não posso largar tudo. Até porque eu já sei que não vou sair vencedor, não contra o amor. Eu sei que ela ama o Peeta, e que é recíproco. Não precisamos ir muito longe para notar isso.

Incrivelmente, isso é o que me deixa me sentindo menos mal, saber que eles se correspondem, e meu trabalho vai ter valido à pena.

Eu me sinto cansado. Triste. Completamente doente, mas não fisicamente. Emocionalmente. Psicologicamente. Sou cobrado 24 horas por dia, para não levantar quaisquer suspeitas, ser ponte entre a corte e a Guarda Escarlate, um verdadeiro espião.

É mais divertido nos filmes. Eu só quero que isso acabe, mas da melhor maneira possível, mesmo que eu acabe aos mil pedaços.

Não é sobre mim.

Pesquisar Peeta e Katniss — falei para meu Smarter, projetando a tela do tamanho de um caderno, na minha frente. Suspirei, ao ver todas as fotos deles  juntos, principalmente as da revista, onde temos que fazer um Photoshoot todos os meses, com os que sobrou de nós.

Desci a página, e mais fotos e gifs apareceram, e tive que respirar devagar para entender de que eu realmente, infelizmente, não vou ser o cara que vai ter o prazer de acordar e dar de frente com esse sorriso lindo que ela tem. Desliguei meu aparelho, e fechei meus olhos por um instante.

Seria um egoísmo da minha parte, porém, se eu não permitisse que eles dois ficassem juntos. É claro que eu sei que posso inventar alguma coisa e fazer com que tirem Peeta, mas eu sou amigo dele, acima de todas as coisas, e sei perfeitamente de que Katniss vai estar com alguém que a mereça,  da cabeça aos pés.

E eu não sou nem metade do que ele é. Francamente, Peeta nasceu para herdar esse trono, e o coração da Katniss. Merece mais do que eu, inclusive. O que eu, afinal, teria a oferecer para ela? Nada o que ele não possa oferecer sem querer duas vezes mais.

Algo estranho, que eu acho em mim mesmo, é que nunca sequer pensei em avacalhar meu amigo, mesmo sabendo de quem ela acabaria escolhendo, mesmo antes que sequer soubesse. Eu realmente observei eles dois, e não tem nada além de que são os dois que se merecem.

G.H: “Oi, pai, como o senhor está?’

Mandei para meu pai, então. Nós não conversamos muito, na verdade, a primeira vez que conversamos foi quando ele veio para o palácio no dia da festa. E também foi a única, desde que a Seleção começou. Quis conversar com alguém, porém não tenho ninguém para desabafar o que está se passando na minha cabeça, e no quão mal eu estou, longe de risos, mas afogado em lágrimas. Apaguei a mensagem, antes que ele lesse.

Fui me arrastando para a cama imensa, que pareceu tão pequena com Katniss aqui. Agora, parece um rio de areia movediça.

Puxei minha guitarra, e comecei a compor, então, aleatoriamente.

Contando dias, contando dias

Desde que meu amor se perdeu em mim

E cada fôlego que eu respirei

Desde que você se foi, parece um desperdício em mim

 

As notas simplesmente vinham, para me consolar. E eu dava ouvido a elas, para que me ouvissem.

Me disseram, me disseram

Para te tirar da minha cabeça

Mas eu espero que eu nunca perca as feridas que você deixou

Oh meu Senhor, oh meu Senhor

Eu preciso de você ao meu lado

Cantei, como se a cada acorde, eu pudesse fazer a dor que mora no meu coração, mas não adiantou, na verdade, me fez compor toda a letra, e eu comecei outra música, e outra, para terminar com dor nas costas, sentado irregularmente na poltrona que tem no quarto, com a cabeça para baixo, e o ukulele entre meus dedos, dedilhando qualquer coisa.

Do que eu estou tentando me esconder? Eu não estou feliz. Era, até constar que meu corpo está sangrando por feridas invisíveis que o amor fez em mim. Ou melhor, que meus próprios sonhos e expectativas fizeram em mim.

— Fazendo alguma coisa interessante, mané? — Cato me deu um susto fenomenal, invadindo meu quarto, comendo batatas fritas, fechando a porta com o pé, se jogou da minha cama, pegando meu controle remoto, ligando minha televisão. — Otário, você ficou mudo?

— Tá fazendo o que aqui?! — perguntei, dando uma cambalhota, para então ficar de pé e ir buscar uma blusa passada no guarda-roupa.

— Peeta está passando mal, coitado, e eu já fiz o que tinha que fazer para quarta-feira, agora estou sem nada para fazer, vim te atormentar, já que o Calvin está dormindo e o Blane jogando online com aquele troço de realidade virtual e nem me viu entrar no quarto dele. Por sorte, peguei as batatas fritas, quer?

Obviamente, aceitei, porque são batatas fritas.

— O que é que a gente vai fazer depois da Seleção? Eu também estou sem nada para fazer, recentemente — Nada além de sofrer e aprender italiano, por causa da visita que teremos.

— Ah, sei lá, provavelmente eu vou fazer uma faculdade, e sair dessa coisa de mídia social, depois de tanto estresse por causa de jornalistas — respondeu, dando de ombros. Deitei de barriga pra cima, perto do pé da cama. — Já assistiu Jurassic Park?

Neguei.

— Nem eu, então vai esse mesmo — daí, eu ri sinceramente, e ele também. Só falta o Peeta agora.

E o resto da tarde foi um filme horrível sobre dinossauros, e cinco fases seguidas de um jogo para duas pessoas, que tem missões para cumprir em uma cidade, e precisamos estar em equipe. Cato foi para o quarto dele só depois das oito, quando nosso jantar foi permitido no quarto (o que foi um enorme alívio), mas fiquei deprimido depois que ele foi, já que ficamos conversando sobre coisas que passam bem longe de relacionamentos, coroas, Panem.

Mal mexi no bife à parmegiana, sem vontade de comer, desanimado outra vez.

Suspirei, e vi que eu preciso começar a voltar a ter controle sobre a minha própria vida, mas fui para a cama, e dormi. É como se eu estivesse prestes a quebrar, e eu seria o responsável se eu mesmo me partir em um milhão de pedaços.

Porém, não vou ser irreversivelmente estraçalhado porque vou ter minha mãe, meus irmãos, Cato e Peeta, também, para me ajudarem de alguma forma a sair desse poço que eu vim me enfiar.


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Notas finais do capítulo

PESSOAL, é este o capítulo, espero muito mesmo que vocês tenham gostado, deu muito trabalho colocar todos esses gifs kkkkkkkkkkkkkk mas vale muito a pena! Espero que as aniversariantes, mais uma vez, tenham um dia maravilhoso, como vocês são, e bem, eu também gostaria de dar um salve, salve especial para a querida Sil, que me indicou a música Bruises, do Lewis!!! ♥ ♥
Muito obrigada, de verdade, por tudo, galera, esses últimos doze meses não vem sendo nada fáceis, porém eu tenho fé de que as coisas vão melhorar, ão somente para mim, mas para todas nós, rapazeada!!!! Obrigada por estarem comigo em todas as fases da minha vida... não fazem noção do sorrisaço que eu dou quando vejo que tem um comentário novo, ou uma recomendação... é sempre maravilhosamente especial, e eu só tenho a agradecer ao Senhor por colocar cada um de vocês na minha vida. Muito obrigada mais uma vez, e eu vou vir o mais rápido possível, com mais peças unidas dessa fic, que ainda tem muito o que polemizar e acelerar nossos corações! Gale ser o principal infriltrado com a JOhanna é apenas a pontinha kkkkkkkkkkkkkkk um milhão de beijos, e me deem ideias para vingar todos os que sofrem nas mãos da rainha e do governo!!!!!!
LINK DE TUDO O QUE FOI COLOCADO AQUI, mas infelizmente sem estar na ordem :

https://78.media.tumblr.com/473a0c96fa31937ffa741d658e271428/tumblr_milbh7jRTo1rqalcdo1_500.gif (delly é a miley)

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http://cdn1.clevver.com/wp-content/uploads/2016/03/allegiant-four-tris-wall-kiss-close.gif (Gale e Katniss no quarto)

http://cdn.smosh.com/sites/default/files/2015/11/disgusting-kiss-taylor-lautner.gif (Delly e Stefan)

https://www.goodworklabs.com/wp-content/uploads/2017/03/tenor.gif (katniss)

https://media.giphy.com/media/eghVbise95LDG/giphy.gif (Gale e Katniss)

http://cdn1.clevver.com/wp-content/uploads/2015/07/hunger-games-mockingjay-gale-katniss-kiss.gif

http://dammit.com.br/wp-content/uploads/2015/12/Hunger-Games-Handprint-Ceremony-LA-Pictures.png

http://arcdn02.mundotkm.com/2014/11/LI5.jpg


https://78.media.tumblr.com/839783b0be673b39288fda516965eccd/tumblr_mjo8stH5kQ1qjukxdo1_400.gif (gale e kat)

https://media.giphy.com/media/4ZeHRtYkNIk48/giphy.gif (gale e kat despedida)

https://michellealam.files.wordpress.com/2013/01/3.jpg (peeta e kat)

https://78.media.tumblr.com/033f0b34464ced2e09720cd4ea977556/tumblr_n48z0pjSSd1rtkmz3o3_500.gif

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https://media.giphy.com/media/k7TDTytV8bf68/giphy.gif (stefan)

https://media.giphy.com/media/EH8mGAkzFb8gE/giphy.gif (gale e kat beijo)https://78.media.tumblr.com/f142c0af38d20ad1cea30374a42551d1/tumblr_nefrllt3811ryj5t4o5_r1_250.gif (stefan)

http://a.pix.ge:81/n/akkdg.gif (stef e delly na cozinha conversando)

https://media.giphy.com/media/nYPeEZPbJM2fC/giphy.gif (stef)

https://78.media.tumblr.com/03e1df6e05a6c62c1bd2eba317e58545/tumblr_p0gsyqdeKX1w5ermqo7_400.gif (del e stef)

https://media.giphy.com/media/gcpmdGpbNIucg/giphy.gif (delly e stefan beijo lindinho)

https://vignette.wikia.nocookie.net/harrypotterfanon/images/1/1f/Gregg_Sulkin_6_%28HPR1%29.gif/revision/latest?cb=20161216033517 (stefan abrindo a porta)

https://78.media.tumblr.com/7f535de0dbfe78c38041d1ebc97ebe83/tumblr_o6ztixNLZv1vow7n6o1_500.gif (stefan carregando Delly)

https://78.media.tumblr.com/00b96ee2328b018df677853b4fe71a27/tumblr_nbopkmyIAI1qf5kyro3_250.gif (stefan de novo porque sim)

https://78.media.tumblr.com/tumblr_mdwr1hnMfI1relz1uo2_500.gif (stefan sorrindo)

https://vignette.wikia.nocookie.net/wikichannel/images/3/32/Skylar_Crying.gif/revision/latest?cb=20150202173041 (stefan chorando)

https://giphy.com/gifs/miley-cyrus-gifs-kbrXHDEJVRrwc (delly chorando)

E ISSO E TUDO PESSOAL, GRATIDAO E TUDO O QUE EU POSSO SENTIR NESTE MOMENTO!!!!! BEIJOOOOOOSSSS