A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 47
Paz na Guerra | A Escolha


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal Tudo bem??? *acenando, com um sorrisão* Agora eu sou de maiooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooorrrrrrrrrrrrr!!!
*berrando em comemoração, muito, muito feliz*
GALERA, não consegui postar ontem, no dia vinte e oito de março, porque eu não consegui terminar a tempo, foi frenético, realmente, porque meus amigos fizeram uma festa super surpresa para mim, e teve o tema do Pequeno Príncipe KKKKKKKKKKKKKKKK E EU AMEI TANTO!!!!!!!!!!!!!
Gostaria de agradecer todos e todas que comentaram no capítulo anterior, e eu peço perdão por ter tantos comentários sem resposta, mas garanto que estou trabalhando à todo vapor em cima disso, e sem mais delongassssss, depois de três anos de pura tradição de postar no meu aniversário (mesmo que dessa vez tenha sido no dia seguinte, ainda é meu aniversário porque comi o que sobrou do bolo KKKKKKKKKKK), VAMOS AO CAPÍTULO, MEUS IRMÕES!!!!!!!!!!!! ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ (depois que eu postar, antes da meia noite, eu vou editar o capítulo acrescentando fotos, músicas e gifs!!!!!!)



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Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbem os seus corações, nem tenham medo.

 

Bíblia Sagrada, João 14:27

Música para ambientar com a introdução, When I Look at You, da Miley Cyrus.

Pai? — chamei, dando duas batidas na porta do quarto dos meus pais, depois que as coisas ficaram bem mais calmas, já que Amélia colocou um desenho, e distraiu todo mundo, depois Delly entrou com a Layla e Stefan, trazendo (de eu não sei onde, porque eu não tinha mesmo reparado) coisas que rei pediu para entregar para os meus irmãos. Isso não substitui a minha mãe, porém eu entendi, é mesmo para distrair, principalmente porque todos só falam disso na televisão, rádio, internet, e deu certo.

Ben ficou no meu colo, onde acabou dormindo, mas antes que eu o pusesse na cama, como Stuart foi fazer, depois de me dizer que queria conversar comigo, vim ver como meu pai está.

Ele estava agindo como se nada tivesse acontecido nas últimas horas, desde que saiu da igreja. Aproveitei para falar com ele antes do almoço, que Dean aparentemente está trazendo com seus pais, e a família da Delly. Onde vai caber todo mundo, e eu não sei, mas fico feliz, porque meus irmãos pareceram ficar menos pesados com toda a situação só de ver Layla e Stefan.

— Oi, Peeta — ele disse, abrindo a porta, e eu vi seus olhos em um tom de azul, que parecia violeta, por causa do choro, e eu podia ver que é o que ele estava fazendo. — Estão precisando de alguma coisa? Precisa deixar o Ben comigo?

Neguei, com meu irmão bem confortável no meu colo. Passei quase seis meses sem esse pequeno no meu pé, não seria agora que eu o deixaria sair daqui.

— Pai, eu ainda sou o seu filho. Não precisa ficar aqui sozinho — falei, arrumando seu cabelo, que caía sobre seus olhos. Eu estou tão arrasado, que não tenho nem palavras, principalmente por vê-lo assim.

Deu passagem para que eu entrasse, e assim o fiz, vendo-o encostar a porta.

Me sentei em uma cadeira que estava perto da cama, com Ben se aconchegando melhor no meu colo, passando sua bochecha no meu ombro, e eu fiz um carinho em suas costas, por debaixo do casaquinho de malha que usa.

— O que é que eu vou fazer sem a sua mãe, Peeta? — meu pai perguntou, com os olhos transbordantes de lágrimas, fazendo os meus ficarem do mesmo jeito, mas por ele eu aguentei meu próprio choro. — Você vai ir para o palácio de novo, e eu vou ficar aqui, com seus irmãos. Como eu vou conseguir fazer tudo isso sozinho? Amélia bem que poderia ir com a Stacey e o Stuart com você, porque eu não consegui lidar com ela aqui, e agora que ela não está mesmo? E sem contar que foi tudo por minha culpa.

— Pai, não foi culpa sua o que aconteceu, mesmo que eu não saiba o que aconteceu, exatamente, não foi culpa sua — falei, mesmo que não que isso vá adiantar, já que todos parecem estar com o sentimento de culpa, mesmo eu, que nem sei o que aconteceu para ter acontecido o que aconteceu. — Mas não foi culpa sua, e nem de ninguém. Pelo fato de que —

— Sua mãe morreu afogada, Peeta. Ela morreu afogada. Porque eu esqueci as malditas chaves na mesa, e não na estante da sala. Ela saiu depois que todo mundo tinha dormido, possivelmente em um ataque de pânico, e Stuart teve o desprazer de achar o corpo dela, completamente irreconhecido, já, porque a correnteza gelada do rio Chicago fez ela ficar sem ter como reconhecer, a menos pelo cabelo e da roupa, e um cordão.

Meu pai falou, engolindo em seco, mas era como se cada uma de suas palavras fosse uma faca em mim, e girassem, justamente para me matar e rasgar minh’alma, mas sei que não eram suas intenções, porém foi o que causaram em mim.

Eu agradeci mentalmente por estar sentado, e por Ben estar dormindo um pouco abraçado, ou senão ele já estaria no chão também.

Uma lágrima inevitavelmente caiu dos meus olhos, e a vontade de chorar era grande, porém eu ainda consegui engolir o bolo de nervoso que estava na minha garganta.

— A culpa ainda não foi sua — falei, baixo, porque se eu usasse meu tom normal de voz, não sairia como saiu. Minha voz ia soar falhada, e fraca, mas não que tenha surtido um efeito maior.

— É o que todo mundo que ficou sabendo me diz, por causa dos jornais. Mas eu não vou conseguir viver com isso, principalmente porque na semana que vem, depois do ano novo, eu ia colocar ela em uma clínica para que ela ficasse lá por mais tempo, fosse melhor cuidada, e para que seus irmãos pudessem ter um pouco de paz, embora eu saiba que todos amavam ela, assim como ela os ama. Não tinha mais como ela continuar aqui, ela tentou matar a Amélia, e o Stuart quase morreu por causa de uma crise, que ela o acertou em cheio. Eu sabia que não dava mais, mas como eu poderia deixar ela depois de todos esses anos? Acabou que ela quem me deixou no final.

Ficamos em silêncio, eu estava tentando absorver todas as suas palavras, que não são fáceis. Eu não me sinto o suficiente para aconselhar meu pai, que tem o dobro e um pouco mais da minha idade. Porém posso tentá-lo convencer da verdade. E a verdade é que ele realmente não teve culpa.

— Pai, todos nós podemos ter nossa parcela de culpa — falei, ainda baixo por causa do choro engasgado, pondo Ben na cama, cobrindo-o com meu casaco. Senti frio praticamente de imediato, porém ainda dava para ficar e aguentar. — Eu poderia ter dado uma forma de pedir para poder vir para casa, já que nos finais de semana eu não faço nada, praticamente, a não ser ler documentos e resolver questões que posso fazer de longe. O senhor poderia sim ter escutado Stuart, Amélia e Stacey quando eles falaram para o senhor sobre a clínica. E eles poderiam ter revisto toda essa questão de chave, já que eu bem sei que dinheiro não faltou para colocar uma porta com senha, que eu todas as vezes lembrei a Amanda de falar com o senhor e trocar. Mas agora, não adianta tomar para si a culpa, pai, e nem pensar na parcela que o senhor pode ter tido, porque isso não vai fazer a mamãe voltar, pai. Só vai fazer o senhor ficar pior, e todos nós também, porque é tudo o que temos agora.

Não pesei minhas palavras, até que chegaram aos meus ouvidos, me fazendo perceber que podem ter sido impertinentes, mas no segundo seguinte, eu vi que não. Preciso ser forte para o meu pai, para os meus irmãos, mas eu ainda sou filho, e eu preciso do meu pai, já que não tenho mais a minha mãe.

Comecei a chorar, mas segurando os soluços o máximo que eu conseguia,  ao vê-lo chorar mais. Me senti ainda mais culpado, porque talvez se eu alegasse outra vez que minha mãe não estava bem, talvez eu pudesse ter visto a questão da maçaneta, talvez eu pudesse ter ligado mais. Eu devia ter feito isso. Mas não fiz. E agora, não posso fazer mais nada.

— Pai, a gente ainda está com você — eu falei, tentando me segurar para não chorar mais, fui para seu lado, aos pés pequenos de Ben. — Desculpe.

E o abracei, pela primeira vez, sem o abraço coletivo que foi quando eu entrei. O abracei mesmo, como se eu tivesse a idade de Ben, e me escondi no seu ombro, fechando com força os meus olhos, para não molhar sua camisa, e ele correspondeu, porém não tão firme como normalmente.

Só que para mim foi mais do que o suficiente, e para ele também, que desabou em meus ombros, não permitindo que eu conseguisse conter as minhas próprias lágrimas, porque é o meu pai, eu perdi uma mãe, e ele uma companheira de toda a vida, da qual ele jurou amá-la e cuidá-la até a morte. E assim ele fez. Como posso deixar que ele carregue culpa de alguma coisa?

Repeti diversas vezes que não foi culpa dele, e o quanto eu o amo, assim como todos os meus irmãos.

Depois de um tempo, eu vi ainda mais claramente o quão cansado ele estava, mesmo que tenha sido Amélia quem cuidou com o Dean das coisas do sepultamento, imagino que ele deva ter ficado com todos até o último conseguir cair no sono.

Tomei Ben nos meus braços outra vez, e fiz com que meu pai se deitasse, e descansasse, eu guardaria sua comida. Me senti ainda pior, por não ter sido mais presente.

Saí, fechando a porta, e Ben se remexeu no meu colo, espirrando, porém não acordando.

Abri a porta do nosso quarto, e tomei um verdadeiro susto, porque está completamente diferente de quando eu saí daqui. Antes, as paredes eram apenas de um material barato, com tijolos de qualquer forma, uma verdadeira caixa, onde no verão parecia uma panela de água fervente e no inverno um iglu, mas sem a parte de que protege do frio, mas nos congelava vivos.

No canto, tinha somente um colchão grande, e pelo chão, vários cobertores, substituindo colchões, e todos remendados, já que não tínhamos condições para nada, principalmente depois do acidente que aconteceu com os medicamentos da minha mãe, que eram dados pelo governo, e ela ficou grávida do Ben.

E tinha também um guarda-roupa no canto, aos pedaços, já sem as portas. Agora, tudo está bem diferente.

— Isso daqui está maior ou é impressão minha? — perguntei, confuso, se eu estava mesmo no lugar certo, inacreditável. Agora, as paredes são paredes, com pisos, uma pintada, com fotos, e agora tínhamos seis camas, uma parecia um sofá, mas vi que embaixo tinha para puxar, e uma era de casal, que logo imaginei ser para eu e Amélia, e se não era, bem, eis que agora eu digo que é para eu e Ben.

— Aumentaram, temos até um banheiro agora — Stacey disse, dando um riso, abraçada a Amélia, e as duas liam a Bíblia, tranquilamente. — Abre só a última porta do guarda roupa.

Assim eu fiz, no móvel que é enorme, cobre toda uma parede, contra a parede que tem a janela de sempre, porém com uma vidraça digna de um quarto, em cores pastéis, entre o mostarda e o azul claro.

— Ah, meu Deus! — exclamei, sem acreditar na pia e no sanitário. — Mas como?! Não parece de fora!

— Sabe o terreno que o papai sempre aparou para ninguém ficar doente? — Amélia perguntou, e eu assenti. — Então, arquietos e engenheiros que a Katniss mandou vieram, e disseram que podíamos aproveitar, então fizeram uma obra, não durou nem três semanas, foi tudo muito rápido. Escolhemos aumentar apenas o quarto por todo os fundos, para ficarmos mais à vontade.

Assenti, ainda muito anestesiado. Jesus.

Balancei minha cabeça, e fui para a cama do canto, entre as duas paredes, e deitei Ben, cobrindo-o bem com um grosso edredom, pegando meu casaco de volta, e vesti, já que ele estaria mais aquecido do que eu, e fui ver o que minhas irmãs estavam lendo, na cama de casal.

— Céus, Peeta, sai daqui, a gente estava na mesma posição, aquecidas uma na outra! — Stacey reclamou, dando um sorriso, que eu devolvi, ,e sentindo aliviado por ela não estar como estava horas atrás.

— Agora que eu estou aqui vocês vão ter que me aguentar, até porque amanhã mesmo eu vou ir embora, é melhor aproveitarem minha ilustre e única presença.

As duas riram, então, me deixando fazer parte do momento. Fiquei em uma ponta, Stay na outra, Amélia no meio.

— Estão lendo o quê? Desculpe, mas eu não estou enxergando mais as coisas — falei, de verdade. Tia Effie tinha dito algo como miopia, mas eu nem dei muita bola, apenas sei que eu vou ter que usar óculos.

— Estamos lendo João 14 — Amélia respondeu, com um sorriso torto, olhando para mim. — A gente estava se sentindo angustiada demais com o que aconteceu, então viemos para cá.

— Sabia que Deus deixou um consolador para nós? Ainda ficamos arrasadas, a mamãe já fazia muita falta. Mas eu estava me deixando me afundar totalmente —

Stacey disse, se acomodando melhor na cama. — Ela está melhor agora. Só precisava me lembrar disso para não entrar em depressão.

Seu tom era normal. Pude ver a sensibilidade em seus olhos, a fragilidade na forma da qual abraçava Ames, mas senti que ela ficaria bem. Resolvi não tocar no assunto de sua internação, apenas segurei sua mão, por cima de Amélia, e sorri para ela.

Deixei Ames se ajeitar no meu ombro, e eu minha cabeça sobre a dela, para então ela continuar lendo, e explicando o que entendia, como o fato de que independentemente do que tenha acontecido com a mamãe, nós não estamos sozinhos.

— Vocês leram isso para o Ben, Stuart e Amanda? — perguntei, enquanto Stay colocava um casaco mais grosso, porque fazia ainda mais frio que minutos atrás, e agora temos que almoçar.

— Não, a gente achou agora — Ames respondeu, rindo, e eu também. — Pesquisei no Smarter. Vou falar para eles e o papai, mas mais tarde.

Assenti, concordando, então fomos nós três para a cozinha, deixando uma luz acesa perto da cama do Ben, tal como a porta.

Layla estava dormindo no sofá, apoiada em Amanda, que dormia com ela, como se já fossem melhores amigas, o que é engraçado, porque elas se lembram em aparência, por causa da cor da pele.

O estranho foi Delly e Stefan estarem conversando baixo, enquanto arrumavam as coisas, mas em um tom cúmplice, como de namorados. Dean trouxe o almoço, e está na cozinha também, e ao ver a gente, sorriu.

— Acha que devemos chamar o papai? — Stacey perguntou, dando um abraço apertado em Delly, que retribuiu imediatamente. — Se ele estiver dormindo, deixem ele à vontade.

Assenti, saindo, ver como ele está agora, e fui surpreendido por ele realmente estar dormindo, e Stuart ao seu lado, mas acordado, olhando para o teto.

— Hey, vem almoçar — sussurrei, tocando seu pé. Ele assentiu, levantando-se em um suspiro, e saiu junto comigo, fechando a porta. — Quer falar alguma coisa? — perguntei, mas usando um tom normal.

Balançou a cabeça em negativa, olhando para o relógio. Indicou que depois falaria comigo.

Somente assenti, em concordância.

— Depois do almoço? — assentiu.

— Onde estão a tia Deise e a tia Linda? — Mandy perguntou, esfregando os olhos.

— Elas vão vim mais tarde — Dean explicou, com um sorriso torto para minha irmã. — E minha mãe disse que vai trazer aquela torta de limão que você gostou.

Ela sorriu, meio sem jeito, se jogando nos meus braços, fazendo nós dois rirmos de sua infantilidade.

— P, você precisa comer a torta da tia Deise — Mandy disse, com um sorriso enorme, enquanto Amélia colocava um prato já com o almoço na frente dela. Antes que eu fosse ajudar minha irmã, Delly já o fazia com Stefan também, já que, bem, minha família é grande.

— Se você deixar um pouco para mim — brinquei, mexendo em seus cabelos ondulados, fazendo-a rir.

— Mas é claro que eu deixo! Mas o maior pedaço é para mim e o Stu, claro — sorri, assentindo.

Quando só escutamos um grito de criancinha, com um choro. Benjamin.

Amélia logo se apressou para limpar as mãos, mas eu fui mais rápido, pedindo para que ninguém se preocupe.

— Oi, meu irmão, o que aconteceu? — perguntei, com carinho, para Ben, puxando-o para meu colo rapidamente, aninhando-o, mesmo que tenha crescido um pouco desde a última vez que eu tenha estado em casa, não perdi o jeito.

— Eu quero a mamãe, Peeta — pediu, chorando, e eu engoli em seco, tendo que prender a respiração por dois segundos, para então começar a andar com ele lentamente pelo quarto, afagando seus cabelos. — Ela não vai mais voltar, não é?

Suspirei. Ben tem apenas recém completos cinco aninhos. Mas não posso esconder dele a verdade.

— Sim, Ben, ela não vai mais voltar — respondi, e ele chorou alto, mas bem alto, e quando meu pai apareceu de sobressalto na porta, eu apenas fiz um positivo com o polegar, indicando que ele poderia ir almoçar, e assim o fez, pela minha expressão de raiva quando vi que ele queria porque queria pegar Ben.

— Eu como só se você cantar alguma coisa para mim — meu irmão caçula disse, com a cabeça em meu peito, e as pernas na minha cintura, enquanto uma mão o sustentava pelas coxas, a outra estava dentro de seu casaco bem grosso, massageando suas costas. Uns dez minutos foram necessários, até ele se acalmar, então sugeri o almoço, porque não tem a menor condição que ele fique sem se alimentar. Não existe jamais essa possibilidade.

— Mas Ben, está muito frio, bebê, minha voz está péssima — tentei contornar seu pedido, que não é muita coisa, mas realmente, eu não sei se conseguiria cantar.

Aí ele fechou o rosto bonito, como quem iria chorar de novo, e imediamente seus olhos se cobriram de lágrimas, me fazendo entrar em completo desespero de vê-lo chorar novamente, sem que eu, no fundo, possa fazer alguma coisa.

— Ok, ok! Você venceu! Eu canto! Mas antes, vamos até a cozinha para eu te dar almoço, está bem? — Mesmo sem sorrir, ele assentiu, voltando a esconder seu rosto no meu peito.

— A comida de vocês está no microondas — Stacey avisou, enquanto terminava de almoçar, na mesa da cozinha. Seu olhar era melhor do que antes, mas triste. Eu suspirei, pegando meu prato com o do Ben, mas antes de voltar para o quarto, depositei um beijo sobre seus cabelos, em um abraço de lado, sussurrando que eu a amo. Foi o bastante para ela dar um meio sorriso.

Sentei Ben na cama onde ele já estava, e entre nós dois pratos, onde no seu tinha mais legumes do que no meu. Não sendo bobo, logo percebeu.

— Eu não vou comer tudo isso de batatas e cenourinhas, Peeta! Pode tirar! Pode tirar! — ele ainda erra algumas letras, e deixou a cena ainda mais engraçada, de suas mãos pequenininhas tirando as cenouras e batatas, colocando no meu.

— Mas nada disso! Minha apresentação de canto vai vir acompanhada de dança! Como assim o senhoriznho não vai comer tudo? Pois que vai, e até não faltar nada!

Respondi, colocando de volta no seu prato, um pouco parecido com um pote, na cor azul, e na borda vinha seu nome, Benjamin.

— Você vai dançar? — perguntou, desconfiado, semicerrando os olhos. — Vai dançar mesmo?

Eu nem estou querendo cantar, mas como é para um dos meus irmãos, ainda dei um sorriso, mexendo em seus cabelos idênticos aos do papai e da Amanda, castanhos escuros e lisos, com alguns enrolados nas pontas.

— Então, você tem que me provar! Canta um trecho de A Whole New World!

Comecei a rir de sua audácia, mas enchi um garfo, fazendo com que ele começasse logo um pedaço de batata com salsicha, embora a comida seja macarronada.

I can show you the world shining, shimmering, splendid, tell me, prince, now when did you last let your heart decide? — brinquei, rindo, e ele riu também, cantando junto, com sua voz de bebê, mas eu estava só fazendo ele comer, enquanto eu fingia comer minha comida.

— Vocês por algum acaso acham que estão na Broadway com toda essa cantoria? — Amélia perguntou, entrando com Dean, rindo atrás dela, enquanto eu e Ben estávamos no refrão, já terminando a macarronada com batatas e cenouras, que está ótima, aliás.

— Pepê disse que cantaria se eu comesse tudo, maninha — Ben explicou, enquanto Dean se sentava em uma das camas, tranquilamente, pondo os pés na mesma, e Ames ao seu lado, compartilhando um fone de ouvido. Preciso anotar mentalmente para sacanear ela depois, mesmo sabendo que iriam apenas ouvir música.

— Ai ele comeu tudo — completei, sorrindo, depois que Ben comeu a última garfada com macarronada, enquanto meu prato está praticamente intocado.

— E você nada! — Amélia exclamou, então, reparando no meu prato.

— Eu vou comer! — Menti. Não estou com fome alguma, isso é algo em mim. Diferentemente da maioria das pessoas, eu não sinto fome mediante situações assim.

— Não, você vai comer agora! — ela exclamou, me jogando um travesseiro, fazendo Dean rir. Antes que ela arremessasse eu já estava pronto para segurar. Dei um sorriso. — Peeta! Você não vai ficar sem comer, vai almoçar agora!

— É! — Ben se meteu, depois de arrumar seu suéter. — Vai comer agora! Eu comi tudinho, maninho, agora é você quem tem que comer tudo!

Suspirei, revirando os olhos. Dean gargalhou.

— Olha aqui, você nem vai tentar me defender? Eu não sou seu cunhado? Você deveria ter ao menos essa decência.

— Ah, sinto muito, mas se eu pensasse em te apoiar, Mel iria me bater — Amélia não deteu um sorriso, deixando escorregar por seus lábios. — Viu?

Dessa vez, eu ri. Balancei a cabeça em concordância, então comecei a comer, mesmo que devagar, começando a montar lego com meu irmão.

Por volta das duas da tarde, Amanda veio para o quarto dormir com Stacey, e Stuart veio também, mas me chamando, sem dizer nada ainda.

— Ben, o que você acha de ficar com a Ames e o Dean?

Mas a expressão de sono do meu irmão foi tão clara, que nem repeti, apenas o peguei no colo, e deixei com Dean, que estava assistindo algum filme com Amélia no colo.

— Desculpe, apenas para eu sair com Stuart — expliquei para os dois.

— Tudo bem, vai lá — Dean disse, calmamente, envolvendo meu irmão com carinho em seu colo, cobrindo-o com uma manta que estava dobrada no colo de Ames, que deu um sorriso um pouco triste.

Sei que nossa conversa fica para mais tarde.

Pus minha touca vermelha de volta, avisando para Stefan, Layla e Delly que estaria no quintal com Stu, que já estava me esperando lá.  

Os três estavam na sala, no sofá, conversando tranquilamente, mas percebi os três tão cansados quanto eu e meus irmãos.

— Gente, vão para o nosso quarto — pedi. — Delly, você é de casa, sabe que pode entrar e sair, e vocês dois também, principalmente porque Ames está na cama de solteiro com o Dean e Ben, tem cama sobrando. Dá para cada um ficar em uma.

— Peeta, não precisa, está tudo bem — Layla disse.

— Ah, cara, você estava dormindo no sofá, é claro que está cansada, e Stefan nem se fala. E Delly, eu cresci com você, fala sério, anda, me acompanhem — mesmo reclamando de que o que eu estava fazendo era desnecessário, eles três me acompanharam, e eu avisei aos meus irmãos que eles três ficariam aqui.

— Eu e Ames vamos dormir no quarto do papai — completei. — Essa noite eles vão dormir aqui.

— Tudo bem — Mandy disse, com um meio sorriso, acenando animada para Layla. — Stefan, você está igual eu quando fica sem jeito, então, pode ficar na cama do canto!

A cama onde eu e Ben estávamos realmente soou como a melhor opção para meu amigo, que muito sem jeito foi, corado, mas foi porque eu, Amélia, Stacey e Mandy gritamos juntos mandando ele ir deitar, e que não tem mais nada para resolver.

— Eu vou estar aqui fora, qualquer coisa me chamem — avisei, depois que Layla deitou na cama ao lado da de casal, onde duas irmãs minhas estavam. Delly se jogou na cama perto de Amélia e Dean, parecendo bem amiga do garoto, que logo riu, assim como Ames. Nem parece que estávamos em um velório mais cedo. Não veio culpa com esse pensamento, não depois de ver meus irmãos sofrendo tanto, e ainda para sentir mais, depois de um tempo. Ainda é surreal.

Saí, e logo vi os fios castanhos claros, não mais tão loiros, de Stuart, debaixo de uma boina que eu vi mais cedo nas mãos do Dean, mas não vi problemas.

— Então, bebê, sobre o que quer conversar? — perguntei, me sentando no banquinho que sempre existiu, debaixo das telhas. A neve não alcança. — Stuart, você sabe que você é tão importante para mim e para todos como qualquer um dos nossos irmãos, não sabe?

Assentiu, em um manear de cabeça.

— Eu sei — disse, mas baixo, com uma voz em um tom magoado. — Vi o corpo dela boiando na beira do rio. Azul. Quase na cor do céu, inchada. Mal dava para reconhecer. Só consegui tremer. Viram o que estava acontecendo, então chamaram o papai e a Mels. Eu não estava conseguindo falar. Só estou falando agora. Não é mágoa, ou ciúme, embora eu sempre tenha me sentido excluído, pelo fato de termos o Ben, e você é meu melhor amigo, sempre trabalhou muito. Muito o bastante para que eu não tivesse tempo para conversar sobre alguma coisa, embora nunca conversássemos sobre você, e sobre como você estava. É apenas que foi a coisa mais horrível que você possa imaginar. Os olhos da mamãe estavam pretos, e você sabe, eles são quase verdes.

Algumas lágrimas escorregaram bem pesadas de seus olhos, e eu mordi a língua, depois pressionei com forças contra o céu da boca, para não chorar. Peeta, aguenta seu choro, por Stuart.

Logo me recompus, puxando-o para um abraço, fechando meus olhos, depois de deitar minha cabeça sobre a sua. Fechei meus olhos com força, muita força, mas não o bastante para impedir as lágrimas mais teimosas e pesadas de caírem. Não pense na mamãe, não pense na mamãe, gritei para mim mesmo.

— Peeta, eu-eu desejei que ela morresse — Stuart balbuciou, em soluços. — Ela já nem se lembrava de mim mais. Ela achava que era você, toda hora. Queria que ela tivesse paz, e que nos desse também, entende?

Mesmo longe, assenti, em concordância, deixando ele se afagar em mim, enquanto chora.

— Sim, entendo sim — murmurei. — Stuart…. não se culpa por isso. Ela precisava descansar, e vocês também, pensa nisso. Mamãe precisava descansar.

Não é fácil ter que dizer isso, até porque eu estou tentando aceitar isso. Mas tudo bem. — Vai ficar tudo bem.

— Eu queria poder voltar no tempo e ter sentido menos raiva dela — balbuciou. — Amo muito a mamãe. Eu só sinto muita saudade dela, como já sentia antes.

A voz de Stuart mostra o quanto ele está crescendo, mas ainda é uma criança, o mais novo de todos nós, excluindo Ben. Stu tem 14 anos, mas já conhece muitas responsabilidades, deveres, obrigações, principalmente porque encontrou… o corpo da mamãe.

Eu nem sei o que dizer. Eu nem sei o que fazer. Meus irmãos ainda são meus irmãos, mas da mesma forma que fisicamente sejam quase os mesmos, por conta das idades, eu quem não sou mais tão o irmão deles. Tanto tempo longe de casa, me fez esquecer que eu tenho pessoas em casa.

Se eu tivesse me esforçado para estar mais presente… mesmo que por telefone…

— Me desculpe por não ter sido mais presente, Stuart — falei. — Ela sabia o quanto você a amava, e você sabe que ela te amava muito. Ama. Ela ama você, e não te acusa. Está tudo bem. Vai ficar tudo bem.

Não consegui muito mais que sussurros, mas ele escutou. Não estou chorando, mas sei que se me esforçar um pouco mais, eu vou desandar em lágrimas por completo, e é a última coisa que quero para hoje.

— Você promete? Mas como ela sabia?

— Amor é uma coisa que não se fala, mas sente, e ela sabia disso, ela era nossa mãe, e mães sabem essas coisas, Stuart — falei para ele, algo que eu tento me lembrar a cada instante quando vem a culpa de que eu não estava aqui para ela.

Ele se acalmou, aos poucos.

— Eu li na revista que boatos dizem que você quem vai ser escolhido, isso é verdade? Peeta, eu não quero morar aqui mais não. Posso ficar com você? Eu não vou atrapalhar, prometo.

Aí, eu realmente me senti desnorteado.

— Stu, Katniss me disse que sim, mas eu ainda estou lá. Não sei como as coisas acontecem depois.

— Só promete que um dia você vai me levar para morar com você? — perguntou, me olhando. Seus olhos castanhos claros se tornam verdes todas as vezes que está submetido à situação como essa.

— Claro que sim, Stuart. Não acredito que pensou que eu não fosse levá-los para onde eu esteja, futuramente — de algum modo, me afetou. Eu realmente me afastei dos meus irmãos, de uma forma que eu mesmo nem senti. Mas não deixei me abater totalmente por isso, na verdade, o abracei novamente.

Não sei quanto tempo se passou, mas não acho que foi tanto assim, porém o suficiente. Eu estava precisando, de algum modo, de uma conversa assim, tal como ele.

— Você almoçou? — perguntei, depois de um tempo, mesmo que nosso silêncio, observando juntos, um ao lado do outro, a neve escorregar lentamente, como lágrimas pesadas do céu, e encher nosso jardim, cobrindo o canteiro que papai fez comigo antes que eu fosse para a Seleção.

Negou.

— Eu não estava conseguindo. Será que ainda tem alguma coisa?

Me levantei, o puxando pelo braço, para irmos para a cozinha urgentemente resolver esse grande problema.

— Pai, mas já acordou? — perguntei, surpreso, quando Stu se sentou em uma das cadeiras que tinha na mesa para seis pessoas na nossa cozinha. É tudo apertado, mas cabe, de alguma forma bem esquisita.

— É, eu não consigo dormir muito desde que tudo começou a acontecer.

Sem querer, olhei para meu irmão mais novo, que assentiu, em um suspiro triste.

— Ah… mas bem, vamos aproveitar para nós três comemos alguma coisa — falei, depois de deixar a touca no sofá novo. — Nossa, que geladeira cheia.

Eu murmurei, realmente surpreso ao ver a dispensa e o refrigerador tão cheio de coisas, mas eles ouviram, e riram.

— Nem nós nos acostumamos. Sua namorada a cada quinze dias manda um carro cheio de coisas para a gente — Stuart disse, enquanto meu pai se sentava ao seu lado, esfregando os olhos impressionantemente azuis. — Nem sentimos quando parou de vir do palácio.

Papai assentiu, com o cotovelo na mesa, e o rosto apoiado na mão.

— Li hoje de manhã, antes de irmos para a igreja — papai começou, enquanto eu colocava o queijo no prato sobre a mesa. — Peeta, não acho que queira conversar sobre isso, mas só estamos nós três aqui, e assim, nossa, Katniss realmente é uma pessoa incrível.

Não consegui evitar um sorriso, que deslizou por mim, sentindo meu coração até mesmo acelerar.

— É, ela é sim — respondi, de costas para eles, mexendo em um pote, com maionese, ketchup e mostarda, para passar no pão. É uma das nossas comidas favoritas.

— Olha, ele está todo sem graça, uuuuuuuu — Stuart brincou, fazendo nós três rirmos alto, então me sentei, deixando o pão sobre a mesa também. Começamos a lanchar, e eu não consegui esconder minha surpresa por toda a intimidade que meus irmãos têm com Katniss. E o quanto ela têm com eles.

— Você não sabia de nada disso? — Meu pai perguntou, surpreso, franzindo o cenho. — Caramba.

Ri, da forma que meu pai foi espontâneo.

— Eu juro, nós dois também não vivemos sempre um do lado do outro, principalmente nos últimos dias, que os parentes dela chegaram de longe, e tudo mais. E também têm outros Selecionados pelo palácio. Eu estou completamente surpreso, não sabia que ela fazia tudo isso!

Corei, envergonhado. Além de ser um inútil, para ajudá-la com as questões dela de princesa e coisas do tipo, ela ainda faz coisas que eu nunca poderia um dia pagar, por ela amparar meus irmãos quando eu não posso. Stuart ainda acaba me contar que Katniss passa minutos conversando com Stacey, e que manda cartas, dizendo o que eu ando fazendo.

Como eu posso ficar sem me admirar mais essa garota? Mesmo em um dia tão horrível como esse, ela consegue me deixar deslumbrado.

— No casamento de vocês dois… — Stu começou, com a boca cheia de pão com queijo e o molho misturado. — Eu vou gritar muito.

— Só se for de boca vazia, seu sem educação — papai brigou, fingindo seriedade, enquanto também estava com comida na boca, me fazendo rir, quase engasgado com queijo.

— Eu já disse, não sei se vou, realmente, realmente, ser o escolhido. Katniss ainda é muito para uma pessoa como eu.

— Que bom que você sabe — Papai e Stuart disseram ao mesmo tempo, me deixando boquiaberto.

— Nem posso acreditar que minha família é contra mim! — dramatizei.

— Não somos contra você! — meu pai exclamou, como se fosse óbvio. — Somos realistas! Katniss é uma das pessoas mais incríveis que nós já conhecemos, e realmente, você é um nada perto dela, filho, lamento. Uma pena que ela ame logo um preguiçoso como você. Mas sorte a sua amar alguém tão amável como ela.

Gargalhei, junto com Stu, pela falta de fé até do meu próprio pai, mas sei que tudo não passa de uma brincadeira.

— Vocês dois são um casal muito bonito mesmo.

— Obrigado por dizer algo assim, ela vai amar saber, e vai exigir que façamos uma sessão nova de fotos.

— Ah, mas bem, aqui, essas fotos estão ótimas! — Stuart exclamou, puxando uma revista, me mostrando fotos.

Nosso assunto se desenrolou, assim como minha amizade com Cato e Gale, em particular, do quanto o rei é gente muito boa, e por assim se sucedeu. Nós ríamos, porque as fotos da revista eram tão espontâneas, sejam entre eu e Katniss, apenas minhas, ou com meus amigos, e muitas fotos, foi completamente divertido.

— Gente! Gente! — Delly exclamou, dentro do quarto. — O que acham de nós irmos ao parque?

— O quê? Como, se os jornalistas e — ela me interrompeu, mostrando seu chat com a Princesa.

— Ela ordenou prisão para quem molestar a gente na rua, com as câmeras, entrevistas e por aí vai. Podemos ir todos — seu jeito foi tão empolgado, mesmo com embaixo dos olhos azuis, tais como todos, e o nariz rosado pelo frio cruel, que meu pai foi o primeiro a concordar.

Logo, começamos a nos arrumar para sair, e Ben não conseguir esconder toda empolgação.

— PAPAI, PAAAAAAPAAAAI! Peeta vai comigo e a Amélia brincar na neeeeeeveeee! — cantarolou, enquanto eu amarrava um chapéu de cachorrinho, um gorro, na sua cabeça, mas prendendo ao seu queixo, para não cair.

— Mas se não se comportar feito gente de cinco anos, você vai ficar aqui sozinho! — Amélia ralhou, enquanto Dean estava lá fora com Stefan, e o carro era preparado para nós.

— Ah, mas que absurdo! — exclamou, sendo tomado por Amanda, fazendo que ele berrasse, maltratando nossos ouvidos, mas eu só tive que rir, porque eu sinto falta disso. Eles fazem muita, muita falta na minha vida. Céus, como eu os sinto falta.

Abracei Stacey, e ela me abraçou, então fomos abraçados para o carro, até que Amélia me deu um tapinha na cabeça me chamando de traidor.

— O quê?! Mas que absurdo! — respondi. — Sua ciumenta! Você já tem seu namoradinho! Eu tenho a Stay, a minha amorzinha.

Stay deu um sorriso tão doce, que eu não pude não sorrir.

Amélia, claramente enciumada, entrou no quarto sem dizer nada.

O parque estava vazio, por ser véspera de natal, mas limpo, e utilizável, mesmo com a garoa,  agentes de limpeza vieram antes de nós. Meus irmãos foram correndo, e Dean foi amparar Ben com Mels no escorregador, enquanto meu pai empurrava uma hora Stuart, outra Stacey, outra vez Amanda, e eu registrava o momento com meu Smarter.

Não sei como vai de madrugada, quando eu tiver que voltar. Não sei como vai ser para eles ficarem aqui depois que eu for.

— Cara, nós estávamos aqui há seis meses atrás. — Delly comentou, arrumando seu cachecol. Nitidamente é uma Três, mas ainda de passa tranquilamente como uma Dois. — Mas eu me sinto feliz, mesmo que… todas essas circunstâncias.

Dei um meio sorriso, desviando de seu rosto corado de frio, não da minha presença, por estarmos lado a lado e pé, escorados em uma árvore que ainda resiste com suas folhas e flores.

— Minha mãe ficaria sem acreditar que um dia soubesse que a gente namorou por três anos e meio —ela riu. — Acho que partiria na mesma hora.

— Meu Deus, Peeta — ri, afundando minhas mãos nos bolsos da calça. — Eu me sinto muito orgulhosa, por tudo o que passamos, sabe? Você sabe que vai ser escolhido. Uma parte de mim sempre vai pensar e se, assim como você, não precisa nem dizer. Mas olhe só.

Entendi o que ela queria dizer.

Observando meus irmãos, nesse lugar, que nasci, cresci e fui criado, esse lugar vai ser sempre um pedaço de mim. Mas não é mais quem sou.

— Nosso namoro faria quatro anos semana passada, eu me liguei no final do dia — comentei, e nós dois em um tom bem normal. — Parece que durou uma eternidade, uma eternidade atrás, entende? É como se fôssemos outras versões de nós, alternativas. Eu ainda não consigo acreditar em como nossas vidas mudaram tão assim.

Ela deu um de seus lindos sorrisos, como uma rosa que desabrocha em um momento oportuno.

— Eu sei como é… de todos os finais e começos, exatamente nessa ordem, fim e começo, esse é um que eu nunca imaginei. Sério. Jesus, eu estou ao lado do futuro rei de Panem!

Ri, balançando a cabeça em negativa. Hoje é o dia que eu vou bater minha cota de choro, mas não pude não rir mediante a expressão de Katniss.

— Não me arrependo de ter mandando, afinal, minha ficha, mas não teria me arrependido se eu não mandasse, entende? — assentiu, bem compreensiva, como sempre. — Eu me sinto um inútil por, mesmo com tudo, não ter conseguido salvar minha própria mãe. Eu não sei como vou conseguir lidar com isso daqui pra frente, mas… eu não sei.

— Não me arrependo das escolhas que fiz, mesmo que tenha ficado sem você… — continuou, e não parecia mal por isso. Olhei para ela, prestando atenção. — Às vezes precisamos mesmo abrir mão. Não me sinto mal. Sinto muito por tia Alicia, que é uma segunda mãe para mim, sinto muito por você, já que era sua mãe, e por sua família, mas nada, Peeta, nas nossas vidas, acontece sem um motivo. Ela cumpriu o tempo dela aqui. E vai sempre ser um pedaço que falta de você, mas está tudo bem. No final, acabaríamos por aqui. Não sei se necessariamente no Sete, mas, esse é fim de todas as coisas. Nós vamos nos ir um dia, Pepe — usou um apelido que apenas ela usa, embora Ben me chame de Pepê de vez em quando, não tem a mesma sonoridade. — Mas eu vou sempre estar aqui com você, para você, e seus irmãos, que são como meus irmãos, mesmo que os meus mesmo tenham um certo problema com o Ben ser mais novo e receber mais atenção… é sério. Não se sinta culpado, ou mal. Triste tudo bem, afinal, temos todo esse contexto, mas você ainda têm seu pai e seus irmãos para cuidar, sabe?

Assenti.

— Já te disse hoje o quanto eu te amo? — perguntei, com um meio sorriso, e ela se espelhou, dando o mesmo sorriso.

— Hoje não, vossa majestade. E não diz há um bom tempo, aliás! — ri, balançando a cabeça em negativa, puxando-a para um abraço bem apertado, retribuído ainda mais apertado, com muito, muito carinho. Fechei meus olhos.

— Eu amo você, Dells. Obrigado por ser quem você é — falei, muito sincero. Escutei casos de casais que namoraram por muito tempo, mas depois que terminam, não se falam ou coisa do tipo. Bem, eu e Delly nunca vamos ser assim.

Katniss é a mulher da minha vida, hoje fiquei bem certo disto, porém eu tenho em meu coração uma parte que sempre foi de Delly, que é sim o meu primeiro amor, inocente e imaculado, mas que hoje não rege meu coração.

— E eu amo você, Pepe. — respondeu.

Meu coração deu uma palpitada, talvez com saudades, já que faz tanto tempo que ela não diz isso, mas não pensei em largar tudo, não.

— Delly e Peeta? — Mesmo que não fosse nada além de um abraço, entre dois melhores amigos, a voz de Stefan nos fez separar, e eu juntar o que eu desconfiava.

Meu pensamento foi censurado. Ele já estava com os olhos cheios de lágrimas. Delly ficou sem reação.

— Vocês namoraram? — perguntou, de uma forma retórica. — Vocês namoraram por quatro anos, e você nunca me disse nada?

Aí, eu fiquei sem reação.

— Stefan, deixa a gente explicar, calma — eu pedi, de qualquer forma, por ver que Delly não têm condições para isso, de tão desacreditada. — Não têm mais nada acontecendo entre nós dois, nós somos mesmo apenas amigos hoje, nada além disso.

Ele apenas olhou para ela, que assentiu imediatamente.

Assentiu, intercalando para mim, então, com as mãos nos bolsos de seu casaco, deu as costas, começando a andar pelo caminho que não tinha neve.

Delly deixo o ar sair de seus pulmões, apoiando-se em mim.

— Peeta, eu… — ela ficou meio paralisada, me deixando nervoso, sem saber o que fazer também, mas dando apoio à ela. — Devo ir atrás dele?

— Eu nem sei — respondi, fazendo carinho em suas costas, preocupado com seu estado. — Acho melhor eu ir com você.

— Acho melhor ela ir sozinha — aí a voz de Amélia me fez querer mergulhar em um monte de neve. — Até mesmo eu estou sem acreditar nisso!

Mels não parecia empolgada, muito pelo contrário.

— Mesmo sabendo dos seus sentimentos pela Princesa, e o quanto você e o Stefan estejam muito apaixonados, Delly, é uma notícia bem difícil… — Dean acrescentou, com o cenho franzido, sério, tal como minha irmã. — Não estão errados, mas não é certo com ele. Em um namoro, é necessário que haja transparência, e o relacionamento de vocês é algo que não deveria ser escondido. Imagino então, que nem a própria princesa saiba.

Meu coração gelou só de imaginar.

— Você deve ir atrás dele, mas como está sem um gorro, e tenha voltado a nevar de novo, nós já estamos voltando para casa.

Delly pegou o meu gorro, colocou e saiu correndo, como se Ames não tivesse dito coisa alguma, e eu fui atrás dela, mas minha impediu, segurando meu braço.

— Certos passos temos que dar sozinhos, irmão — Amélia disse, vindo e parando na minha frente. — Deixe ela dar os dela. E Stefan também. Isso já não é mais você e ela.

— Eu sei, mas eu deveria também ter prestado alguma atenção, sei lá, e se ela ficar mal por conta disso?! — perguntei, olhando para trás de seus ombros, vendo os fios acastanhados por tinta de Delly voarem, correndo, alcançando um Stefan magoado. — Amélia!

— Peeta! — respondeu de volta, atraindo minha atenção. — Dean já disse, o que vocês têm hoje não é um erro, está tudo bem. Mas faltou transparência. Qualquer pessoa ficaria triste. E magoada.

— E mediante isso o que aconteceu, sua namorada também não sabe disso, não é? — Dean perguntou, me fazendo sentar em um banco que cabe nós três.

— Sim, ela sabe! — os dois se entreolharam, então olharam para mim. — Parem de se olhar assim! Mas que coisa horrível! Nossa!

— Olha a cara da gente que acredita em você! Eu pensei que era sua melhor amiga! Isso você nunca me contou, embora eu sempre tenha sabido, desde o dia que você foi convocado para a Seleção — falou Amélia. — E Dean que chegou agora sabe que você está mentindo!

— Não! Eu estou falando a verdade! — exclamei, enquanto Amanda e Ben estava na gangorra, e Stuart, meu pai e Stacey estavam sentados entre poucas palavras do outro lado do parquinho. — Quer dizer… Katniss não sabe que essa minha ex—namorada é Delly.

— O quê?! Katniss sempre fala da Delly com tanto amor e carinho, elas são amigas, e você é praticamente o noivo dela e ela não sabe de nada disso?! — Amélia praticamente gritou, atraindo os olhares dos nossos outros irmãos, mas logo depois de um gesto voltaram a fazer o que faziam.

— Como é que eu vou contar para a Katniss que a melhor amiga dela é a garota que eu jurei amor por toda a vida?! — rebati, em um tom baixo. — E ela sabe que eu já namorei e que meu relacionamento era completamente sólido e promissor, eu já tinha uma vida planejada ao lado da Delly, onde incluía tudo, absolutamente tudo! Ela sabe disso, e não acha que é mais importante que um nome?

Ela dessa vez ponderou, mas seu namorado quem falou primeiro.

— Já entendi o seu posicionamento, suas circunstâncias, Peeta, e sei que o Stefan vai entender também, porque nós conversamos frequentemente, assim como Amélia conversa com a Delly, mas o que acontece é que o caso de vocês dois exige um nome. Vocês estão todos sob o mesmo teto, e ocultar verdades nunca é uma boa coisa. Hora ou outra isso vai vir à tona, e pode dar problemas.

— E um problema totalmente desnecessário, já que todos podemos ver o quanto você fica afetado quando o assunto é Katniss. — Ames completou. — Céus, eu apenas espero que você seja sincero com sua noiva, e comigo também.

Suspirei profundamente, sentindo meu coração se reprimir ao escutar a palavra noiva, mas se reprimir gostosamente, encolheu para então crescer, cheio de amor, mas logo acelerou, por imaginar Katniss descobrindo e se sentindo, talvez, traída.

— Vocês precisam esclarecer as coisas entre vocês — Dean falou, então, olhando bem nos meus olhos. — Isso para mim, se você não contar a verdade, vai dar um problema muito sério.

E minha alma sentia que Dean, por ser alguém que está muito mais apegado às coisas de Deus que eu, está completamente certo. E eu preciso despertar e aceitar isso.

Seu nome foi chamado por Ben, então ele se afastou, porém Amélia permaneceu ao meu lado, com os braços cruzados na frente do corpo, e as pernas cruzadas normalmente também. Com cara de poucos amigos.

— Você mentiu para mim completamente. Eu sempre fui tão sincera com você, Peeta, e você simplesmente esconde de mim um namoro de quatro anos com uma das minhas melhores amigas! — Começou, me fazendo ver o quão magoada ela está. — Você sempre foi a pessoa que eu sempre pude contar, independentemente da circunstância, eu nunca escondi nada de você, para que você faça uma coisa dessa comigo?!

Ela já está chorando.

— E ainda estou passando por toda essa situação do inferno na minha vida, para saber que você escondeu algo tão sério e importante de mim!

— Ames, eu não podia contar! Não podia! — falei, suspirando profundamente.

— Não me chama assim! Eu me sinto ofendida! Para quem você acha que eu, Peeta, eu, contaria?! — Suas lágrimas começaram a fazer com que se formassem outras nos meus olhos. — Mas que saco! Não é sobre você ter namorado, isso nunca fez você ser menos você, ou menos responsável, mas caramba, Peeta, honestamente! Como você pôde esconder isto de mim?! Eu nem quero ouvir você falar agora, já basta tudo o que eu estou tendo que passar, e sem você, não vai ser por algo do tipo que eu vou me sentir pior.

Ela se levantou, nitidamente magoada, mas muito magoada, eu pude sentir seu coração descompassado como o meu, já que nós nunca discutimos, nunca é algo realmente sério.

Continue chorando, por Delly e seu relacionamento com Stefan, que pode ser prejudicado, por minha briga com Amélia, e por tudo. Ao menos Katniss não está mal comigo, mas eu sinto que se eu realmente não contar, problemas bem graves podem acontecer.

Mal reparei quando voltamos para casa, de carro. Todo mundo percebeu o clima entre eu e Amélia, então o trajeto foi todo em silêncio, até mesmo por parte de Ben, onde eu fiquei de um lado, e minha irmã gêmea no outro extremo, virada para a janela.

Em casa, as coisas aliviaram, pois já estava de noite, todo mundo com frio, mas a mãe de Delly está aqui agora, junto com a mãe de Dean, e elas trouxeram várias coisas novas. Porém o que mais chamou atenção foi uma árvore de natal grande no canto da sala e algo como vinte caixas de presentes, com nomes de todo mundo, inclusive Dean.

— Mas o que é isso?! — perguntei, sem entender, para Layla, que ria, ajudando Amanda (essas parecem ser melhores amigas). — Presentes? Pai, o senhor comprou tudo isso como que ninguém viu? — perguntei outra vez, mas agora direcionando a pergunta, sem acreditar. Stacey tirou toda feliz uma coleção de livros de uma caixa pequena, e olha que há uns doze livros. Pequena, porque tem uma tão grande que parece uma bicicleta. Uma não, mas cinco.

— Hm, não fui eu! — ele respondeu, sentando-se no sofá, pegando na mão de Ben, que estava gritando e chorando para poder abrir tudo. — O que eu comprei, ia dar amanhã de manhã. Comprei faz umas duas semanas. E Ben, menos! Não pode chorar para ter tudo o que você quer!

— Foi a Princesa Katniss e Prim — Stefan me respondeu, sem graça, com um meio sorriso, entregando seu choro pelo nariz avermelhado. — Eu voltei mais cedo para receber os pacificadores que montaram isto.

Explicou, baixo, mas alto o suficiente para que Stuart me lançasse um olhar malicioso.

— Acho que alguém por aqui vai mesmo casar — Amanda brincou, com a boca cheia de chocolates com a bandeira da Alemanha.

Eles começaram a abrir os presentes, e meu pai permitiu que Ben abrisse apenas um por causa da pirraça. Não abri os meus, mas deixei para Stuart abrir. Amélia apenas olhou de longe, então, entrou no quarto, onde provavelmente Delly está, já que não a vi desde que Stefan veio.

Fui convocado para ajudar na cozinha, já que eu estou longe de casa há muito tempo, e fiquei responsável por descascar batatas e cenouras para uma salada cozida, depois tive que preparar suco para todos, e quando achei que ia morrer por causa de toda a dor nas costas,  de tanto ficar em pé descascando um quilo de cada legume, precisei picar salsichas e linguiças, muitas delas, enquanto as duas mães estavam pela cozinha finalizando umas duas tortas e fazendo macarrão.

Mas eu não tive nenhuma dificuldade, mas alheio às conversas, prestando atenção apenas nas batidas desenfreadas do meu coração, enquanto disfarçava as lágrimas sorrateiras no canto dos meus olhos, por estar brigado e ter magoado Amélia. Eu odeio fazer mal às pessoas, principalmente aquelas que amo, e ainda mais quando essa pessoa é Amélia, tendo conhecimento de todos seus esforços, toda sua dedicação, todo seu amor e carinho para comigo e todos os nossos irmãos.

— Peeta, pode colocar isso lá na sala, por favor? — Tia Linda perguntou, e eu forcei um sorriso, assentindo, pegando a generosa travessa de vidro com macarrão com salsicha, linguiça, batatas e cenouras, que é a comida favorita de todos nós, em comum.

Na sala agora tem uma mesa de centro, que cabe suficientemente tudo o que elas cozinharam caiba, mas comer, apenas se estivermos no sofá ou pelo tapete.

Coloquei, ajudando elas com tudo o que eu podia, mas meu pensamento bem, bem longe de tudo.

— Pai, eu estou sem fome, vou ir pro quarto, mas mais tarde eu venho falar com o senhor — beijei o alto de sua cabeça, e ele assentiu, dizendo que está tudo bem.

Não, não está, hoje fomos ao velório da mamãe, mas ele precisa dizer que está tudo bem. Um dia vai ficar. Mas sabe-se lá quando é que isso vai acontecer, francamente. Melhor aceitar as coisas do jeito que estão, acreditando que vão melhorar.

Fui para o quarto, encontrando Delly encolhida na cama do canto, no colo de Amélia, dormindo serenamente, mas o rosto da minha amiga estava levemente inchado e corado.

— Ela me explicou tudo — sussurrou minha gêmea, enquanto eu lentamente me sentava na ponta da cama, aos pés de Dels. — Não apaga sua culpa, mas eu não posso fechar a cara para você, tampouco para Delly. Apenas não quero conversar, ok?

Apenas assenti, devagar, com minhas mãos erguidas em rendição.

Ficamos em completo silêncio até Dean aparecer para dar um beijo de boa noite na minha irmã, avisando que agora infelizmente se veriam no ano novo, na igreja, depois só no palácio.

— Mas já vai? — ela perguntou, sem acreditar. Pareceu horrivelmente devastada por saber que ele estava indo embora, e eu podia ver nos olhos dele de que é recíproco, mas o amor entre eles está em construção, porém a base já é bem feita em maturidade. Sequer ficam em público, mas estão sempre perto um do outro, conversando, e eu admiro muito os dois.

Queria ter podido rever Dean em uma outra ocasião.

— Mas logo passa, eu vou vir buscar vocês no carro da minha irmã, e vocês vão ceiar com o pessoal da igreja, e logo mais vai ter  a festa de casamento do Peeta — ele brincou, olhando para mim, fazendo ela olhar para mim também. — Você pode ir para Chicago, mas por causa de tudo isso, está tudo bem, eu entendo completamente, e nem estou insistindo, embora fosse ser muito legal você lá para conversar com a Victoria, mas está tudo bem.

Amélia apenas assentiu, desviando o olhar (para não chorar, vi claramente seus olhos seio de lágrimas. — Boa viagem para casa.

E depois de um abraço nela, ele me cumprimentou como um amigo, e então saiu, depois de parar na porta, e acenar uma ultima vez.

— Ames, vai lá se despedir dele de novo — aconselhei, baixo, por causa de Delly.

Negou, balaçando a cabeça, de uma forma tão frágil que eu quase chorei, vendo ela tirar as lágrimas do canto dos olhos.

— Ele é a única pessoa que eu não preciso me preocupar — respondeu, um pouco embargada pelas lágrimas. — Está tudo bem. Eu vou ficar bem.

— Ames… — murmurei. Me levantei, e a puxei pela mão para o outro lado do quarto, fazendo ela se deitar, e eu ao lado dela, um de frente para o outro, como fazíamos antes que eu fosse tomado para ir para o palácio.

Fiz carinho em sua bochecha, enquanto as lágrimas silenciosamente escorriam por seus olhos.

— Nem estou chorando por causa da ida da mãe — ela começou, com a voz bem embargada, fazendo um nó se formar no meio da minha garganta. — É porque eu agora vou ter que me tornar uma segunda mãe para todo eles, P, como é que eu vou fazer isso?! Eu não sei nem tomar conta de mim, e Ben vive me chamando de mãe de vez em quando. Eu não quero falar sobre isso, eu não quero falar sobre nada. Apenas que é uma baita sacanagem que te deixem ficar por aqui apenas hoje.

Disse tão rapidamente, que eu não fosse seu gêmeo, com certeza eu não conseguiria entender o que raios ela disse.

Suspirei, segurando minhas próprias lágrimas, e apenas fechei meus olhos, trazendo-a para mais perto de mim, como uma boneca, e foi como se, por um milésimo de segundo, voltássemos seis meses no tempo, para a noite anterior à Colheita. Ela soluçou, escondendo o rosto em meu pescoço, passando uma perna sobre minha cintura, abraçando-me bem apertado.

— Eu te amo — falei, completamente sincero. — Isso tudo vai acabar antes que você espera. Vai ficar tudo bem, eu prometo, Ames.

Não falei da boca para fora. Eu vou fazer tudo, definitivamente, para poder ajudar minha família.

— Vai ficar tudo bem no final… se ainda não ficou é porque ainda não é o fim, lembra? Você sempre me disse isso — completei, em um sussurro.

— Uhum — respondeu, fungando, bem apertada a mim, e eu a ela, debaixo do cobertor. Se não nascêssemos gêmeos, acho que de qualquer forma nós seríamos assim. Não sei explicar toda a conexão que sinto com Amélia, é como se nossas almas de irmãos não fossem duas, mas uma única.

— E eu nunca mais vou esconder alguma coisa de você, eu prometo — ainda completei.

Ela apenas permaneceu junto comigo, aceitando meu carinho em seus cabelos, com meus olhos fechados, pude sentir na carne o tamanho da falta que eu sinto deles. São tudo o que eu tenho.

Caso tudo na minha vida dê errado, eu ainda tenho minha família, e sempre vou ter.

Acabou que por fim, eu e ela dormimos juntos na cama de casal, enquanto Ben e Amanda dormiram com o papai no quarto deles, para que Stefan e Layla dormissem na cama.

Só meu pai e Amélia acordaram quando, às quatro e cinquenta da manhã já tinha um carro nos esperando na porta de casa, para pegarmos o avião, e eu voltar para o palácio.

— Esqueci de deixar isso com você — papai disse, antes de me abraçar, me entregou um aparelho pequeno, que dá apenas para adiantar, voltar ou dar play. — Sua mãe gravou pouco depois do diagnóstico. Esqueci de entregar isto ontem, mas hoje estou te dando. Apenas escute quando você se sentir pronto.

Assenti, trêmulo, valorizando aquilo. Amélia me deu um outro abraço, chorando no meu ombro, mas dessa vez como uma despedida.

— Espero que você também leia a carta que eu coloquei na sua mochila — sussurrou. — Amo você.

Beijou minha bochecha, então meu pai me abraçou, bem apertado, sem dizer uma palavra. Eu sei tudo o que esse silêncio carrega, coisas que palavras não são o suficiente para explicar e descrever.

Delly estava me esperando na porta do carro, com um sorriso meio triste, que eu devolvi, entendendo seu olhar de que na primeira oportunidade vamos conversar. Layla me abraçou dentro do carro.

Stefan deu um olhar de amigo, e eu sabia que não estava com raiva de mim, mas eu preciso também resolver tudo.

Abri a janela, e mesmo estando tudo muito escuro, apenas uma lâmpada na varanda da nossa casa estava acesa, para não acordar meus irmãos, papai e Amélia ficaram abraçados de lado, acenando, e eu para eles, até dobrarmos na esquina, e eu não poder vê-los novamente.

Mas o que me confortou, sobre minha mãe, sobre como minha família está e vai ficar, é que no final, as coisas vão fazer sentido, e ficarem bem. O que resta a mim fazer é nunca mais ousar me ausentar por tanto tempo. Somos uma família. Mamãe falta, mas ainda somos uma família. E isso é mais do que suficiente para que eu não desista de lutar por eles, mesmo tão longe.

Ao entrar no avião, fui para a última poltrona, com o gravador entre meus dedos, porém não o escutei. Não sinto ainda ser a hora. Mas para hoje, eu tenho sim algo em mente: esclarecer tudo o que está pendente.

(Peeta e Amélia)


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Notas finais do capítulo

HMMMMM, PESSOAL EU TO DIGITANDO MAIS RÁPIDO DO QUE EU UM DIA PODERIA IMAGINAR DIGITAR, TUDO PARA POSTAR ANTES DA MEIA NOITE, PORQUE EU ACABO DE ESCREVER MAIS DE MIL PALAVRAS EM MENOS DE DUAS HORAS, SEM NENHUMA BRINCADEIRA KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

Gente, espero muito que vocês tenham gostado, e o capítulo é um pouco "confuso" sim, mas foi mais ou menos como eu passei pelo dia que enterramos meu pai... é completamente horrível, mas as pessoas são muito receptivas e tudo mais... me desculpem, qualquer coisa, mas eu me disponibilizo totalmente para quem estiver afim de conversar comigo, sério, eu me esforço muito mesmo para ajudar vocês, e espero que isso tenha feito o dia de vocês melhor, de algum modo! Vamos aos spoilers para o cap do dia 31/03?????? SSSSSIMMMMM!!!


"— Eu posso ir para o meu quarto se quiser — falei, mas ela somente se sentou ao meu lado naturalmente, fazendo um coque desarrumado com seus longos fios pintados de ruivo agora.
— Eu só vim mesmo para passar um tempo com você, não se preocupe — respondeu, me dando um beijo na bochecha, e eu podia sentir meus batimentos cardíacos acelerados. Ah, esse o poder que esses lábios e sorriso tem sobre mim. — Hmmmm! O que temos aqui, mister Gale?
Sorri, mas muito sem jeito, por nunca mostrar minhas próprias composições.
— Nada, apenas rabiscos, e — logo ela interrompeu, se inclinando para alcançar a primeira carreira de notas. — Ah.
Ela abriu um lindo sorriso, como todos, mas esse foi o sorriso que gostou do que eu tinha escrito.
— Dá para fazer um dueto legal com isso! Vamos, vamos, você começa, e aí eu te acompanho — disse, tirando da minha mão, colocando no lugar.
— Ah, mas eu tenho vergonha… é algo que eu escrevi, está incompleto, não vale à pena — falei, balançando a cabeça.
— Gale, se estivesse ruim, eu falaria, porque é você, mas sinceramente, eu gostei da primeira estrofe! Olha, there goes my heart beating, cause you are the reason, I'm losing my sleep… please come back now.
Ela cantou, naturalmente, com sua doce voz, que faz meu corpo querer ouvi-la por horas.
Senti minhas bochechas ficarem vermelhas de vergonha.
— Gale… — murmurou, me dando um empurrãozinho. Assenti, suspirando, aceitando que ela que cantar uma música que eu escrevi."

e ai, palpites?????? quero ideias, IDEIAS, PESSOAL, ME MANDEM MÚSICAS, GIFS, POEMAS, ME MANDEM TUDO, POR FAVOR AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA QUERO INTERAGIR, AMO MUITO VOCÊS! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!

Vejo vocês nos comentários, caso queira comentar (vai me deixar ainda mais feliz!!) BEIJOOOOOOSSSS E EU TO MUITO ANSIOSA PARA OS PRÓXIMO CAPÍTULOS E DESENROLAR ALGUMAS COISAS QUE ESTÃO NO AR, VOCÊS NÃO VÃO ACREDITAR AAAAAAAAAAAAAAAAAAA AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA BEIJOOOOOOOSSSSS ESPERO MUITO QUE TENHAM GOSTADO, E MUITO MUITO MUITO MUITO OBRIGADA PELOS COMENTÁRIOS, PELAS MENSAGENS, O AMOR E CARINHO DE VOCÊS CHEGOU ATÉ UM BAIRRO PERTO DO CENTRO DE NOVA IGUAÇÚ, NO RIO DE JANEIRO, OBRIGADA POR TODO O SUPORTE, AGRADEÇO A DEUS IMENSAMENTE POR TUDO ISSO!