A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 33
Um novo dia | A Elite


Notas iniciais do capítulo

Fala aí, pessoal! Cheguei bem mais cedo dessa vez, o que acham? Só peço desculpas por não ter vindo anteriormente... realmente passei por umas situações horríveis, e que comprometeram consideravelmente o meu psicológico, e é também uma das razões de eu estar aqui escrevendo, quando deveria estar dormindo!
Mas bem, é isso! Quero agradecer imensamente pelos comentários, que me motivam a continuar escrevendo, pois eu realmente estou muito desanimada para escrever histórias, mesmo que eu ame tanto essa, e seja tão importante para mim.
Espero que gostem deste capítulo, com todo o coração! Que isso os divirta, os deixem com um sorriso, e os animem, por alguma razão! Vejo vocês nas notas finais!



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É um novo dia!
Você não percebe?
Estou mudando meu jeito de ser
Completamente
Dessa vez eu vou cantar
E você vai ouvir
Dessa vez vou mostrar-lhe que eu tenho o espírito
É um novo dia
E eu me sinto bem
E eu me sinto bem
— Brand New Me, Demi Lovato

Terminei a sessão de exercícios físicos, e sem cerimônia, simplesmente sai assim que Haymitch terminou dizendo que estava bom o bastante por hoje.

Subi correndo, quase, para o meu quarto, onde os trigêmeos estavam arrumando tudo, pois outros membros da família real estavam chegando, mas não falei com eles também, e caminhei até o closet, onde fechei a porta, para demonstrar o quanto eu definitivamente não queria conversar, e nem dizer o que se passa.

Peguei a carta de Stu no meu caderno, que chegou hoje pela manhã, e suspirei, feliz por ele poder comprar coisas que o ajudem a montar e desmontar tudo o que quer, mas isso sempre me faz recordar de que a mamãe tentou se matar tomando metade dos calmantes de uma só vez.

Suspirei profundamente, segurando as lágrimas, e me deitei, sobre o tapete, de barriga para cima, continuando a ler sua letra um pouco esquisita, mas suficientemente legível, e me permiti esboçar um sorriso cheio de saudade e intensidade com a foto dele e Ben sujos com graxa, mas pude ver Amanda boquiaberta no fundo, suja também, enquanto eles estavam todo sorridentes.

Daí, a imagem de uma Katniss frágil, porém revolta, invadiu minha mente mais uma vez, intensamente. Falei tanta porcaria para ela, que eu sinto vontade de vomitar.
Passei meu domingo de cama, com febre, alegando a tia Effie que só era por causa da saudade. Ela me deu um abraço apertado e trouxe chocolate branco - já que o meu problema é com cacau -, o que me deixou melhor, mas só um pouco. Comida só resolve metade das coisas.

— Peeta, desculpe te interromper — Stefan disse, abrindo a porta e entrando. — O rei pediu para distribuir isto para os Selecionados. Já está com os contatos da sua família.
Colocou ao meu lado uma sacola de pano bonita, e dentro tinha uma caixa branca. Como eu estava só deitado, mexendo em qualquer coisa pelo meu relógio digital, projetando no teto, precisei desligá-lo e sentar para poder ver o que é.

— Boas práticas da majestade? — ironizei. Ele abriu um sorriso.
— Não sei bem, mas se posso te dar um conselho, tome cuidado com o que pesquisa... — ficou um pouco sério, olhando para os lados. — Pode ter algum envolvimento da rainha nisso.

Suspirei, assentindo. Abri a caixa, que revelou um aparelho diferente que eu nem sonhava em ter um dia, só assistia pela televisão nos filmes e novelas da alta produção do Distrito Dois, especialmente da área de San Francisco. Cato usava um no dia da colheita, mas um pouco menor e mais grosso.

— Qual é o nome disto? — perguntei, muito confuso, girando o aparelho transparente na minha mão, que mais parecia um retângulo de uns dez centímetros de vidro, nada mais.

— É um smarter — Stefan disse, rindo. Agora recordo que ele tem um parecido, mas com alguns detalhes pretos nas laterais. — Faz ligações, vídeo chamadas, você faz vídeos, escreve textos, manda mensagens, produz qualquer coisa, e também você pode usar para acessar suas redes sociais. Que aliás, estão sendo bem procuradas, só perde para o Cato, que usa há muito mais tempo, e para o Gale, que é o carisma em pessoa, sabe como é.

Ri, mesmo que com o coração triste.

Pedi ajuda para saber como ligar essa porcaria, e ele me instruiu, com facilidade, mas em 9 de 10 coisas, pedi para ele recapitular. É muita informação, e eu não sou muito assim, "dado". Nunca fui muito de conversar, nem aqui no Palácio. Mais da metade dos dias aqui no meu quarto são em puro silêncio, um silêncio maneiro, com uma música tocando no fundo, pois eu não ouvia muitas em meu Distrito, somente em festas de quem era de um Distrito maior que o meu, como os Seis ou Cinco, já que minha mãe e pai sempre foram muito bons com todos, era comum nos chamarmos, e somente nessas ocasiões eu ouvia algo, ou com Delly, que tinha esse aparelho esquisito que você pode usar como holograma.

Depois das instruções básicas e puras gargalhadas de Stefan pela minha cara de extrema confusão, comecei a mexer, depois que fiquei sozinho de novo.

— Queria falar com a Amélia — murmurei, por nada, só pensando alto.

— Ligando para Amélia — o aparelho falou, e eu levei um susto tão grande que o joguei do outro lado do cômodo, puxando ar com força, um tanto desesperado.

— Jesus, Maria e José! Mas o que foi isso?! — exclamei, com uma mão na boca, olhando para o aparelho que estava na outra ponta do closet.

Hein?! Peeta? É você, criatura? — Ouvi a voz da Amélia, o que me fez continuar assustado, mas menos, dessa vez.

— Mels? Mels? — chamei, procurando o aparelho, engatinhando por debaixo das calças sociais. — Porcaria... já perdi esse lixo de Smarter. Droga, mas que inferno — murmurei, irritado.

— Olha a boca suja! Pede para o aparelho mostrar onde está, seu idiota — ela disse, estressada.

— E acha que é fácil assim?! Esse troço é horrível, logo foi te ligando, e fala sozinho!

Ela riu, e eu abri um sorriso, mesmo que ainda continuasse buscando essa porcaria de aparelho, e disse o que ela sugeriu, e em menos de cinco segundos eu achei a porcaria que começou a piscar.

Pus no ouvido, e então pude falar tranquilamente e melhor com a minha irmã. Contei sobre a discussão, no sentido de que eu agi muito ridiculamente, e só faltou ela atravessar a tela com seus gritos e palavras horríveis direcionadas a mim.

— Como ousa falar assim com a Katniss?! Ela é tão gente boa, e agora também é a minha amiga! Seu idiota! Ridículo! Já pediu desculpas para ela, Peeta?

— Ainda não, porque aí é que está! — Contei também que fiquei muito magoado com o que havia escutado, e tudo mais. Ela ficou mais neutra, ouvindo com atenção. Não me interrompeu enquanto eu contava as coisas.

No final, me aconselhou e disse que eu deveria logo me apressar para pedir desculpas, porque a Katniss tem muita consideração por mim, e prova isso de todas as maneiras publicamente, e Amélia também não podia deixar passar e dizer o quanto os olhares entre eu e a princesa são significativas sem que nós sequer percebêssemos, assim como trocamos sorrisos inconscientemente, k que a faz acreditar que nós somos o melhor casal.

Revirei os olhos, como uma defesa, pois estou todo corado já.

— Pode parar com isso porque eu não sei como reagir, essas coisas são demais para mim, por favor — ela riu, e sei que assentiu também.

Disse que eu não tinha muito o que fazer, além de tentar conversar com Katniss. Mas então, ela me fez uma pergunta estranha.

— Peeta, você a perdoou completamente e se perdoou para poder querer fazer algo assim? O pedido de perdão, desculpas, seja lá como queira chamar, precisa ser muito sincero.

Refleti, franzindo o cenho.

— Olha, ainda não totalmente, foram umas coisas pesadas, mas...

— "E, quando estiverem orando, se tiverem alguma coisa contra alguém, perdoem-no, para que também o Pai celestial perdoe os seus pecados. Mas, se vocês não perdoarem, também o seu Pai que está nos céus não perdoará os seus pecados". Marcos 11, Peeta. Deveria ir mais na Igreja quando eu, a mãe e o Ben íamos! — ela disse, serena. — Você precisa perdoá-la totalmente antes de pedir perdão.

— E como é que eu vou fazer isso? — perguntei, mexendo no travesseiro, já que aqui é o meu segundo lugar para dormir.

— Ué, e eu sei lá, né! Fui eu quem estava lá?! Peeta, precisa olhar para dentro de você, e depois para dentro dela, os pensamentos, as situações... acha justo? — suspirei. — Pois é. Então, Stacy está chegando com a mamãe agora, preciso terminar a janta, fica na Paz aí, garoto, e se cuida!

— De boas, pode deixar, amo você — falei, sorrindo torto. Sei que ela abriu o mesmo sorriso, afinal, nós somos almas gêmeas.

— Também amo você, amorzinho — ela disse, carinhosa, mas com uma ponta de ironia. — Espero continuar sendo a sua melhor opção desde sempre depois da sua Escolha Real.

— Ih, ó! Pode parar com essa conversinha aí! — falei rindo. — Eu estou deixando isso nas mãos de Deus, não sei de mais absolutamente nada!
Ela gargalhou.

— Que bom, seu babaca! Agora preciso ir mesmo! Beijos! Vou mandar lembranças pro pessoal, e vê se me liga mais vezes! Bye-bye-byeeee!

Antes que eu dissesse mais alguma coisa, ela desligou o Smarter, mas logo enviou uma foto de um prato com feijão claro, salada de batata e salsichas, me deixando um pouco melancólico. É uma das minhas comidas favoritas, logo também é dela. Parece estar incrível.

"O que achou?" Apareceu em destaque, como se estivesse na minha frente, a mensagem. Apareceu a opção de um teclado. Cliquei, levando um susto, pois apareceu as letras do alfabeto por ordem, então, devagar, toquei em cada uma, e elas se juntavam, formando uma palavra, e outra, e outra.

"Queria estar aí", mandei, sincero.

"Eu não queria, juro!", e algumas carinhas que riam, se mexendo diante meus olhos. Abri um sorriso, embasbacado, sendo refletido na luz azul que essa troca de mensagens proporciona. Tem a opção de deixar só para eu ver, mas prefiro assim. As minhas mensagens para ele são em um balãozinho vermelho, e as dela, em um branco. A luz do quarto se adaptou para isso, abaixando o tom das luzes avermelhadas.

"Haha, para com isso, você queria ser eu!"

"Não, nem tanto! Eu amo a Katniss, mas não como você ama!", senti minhas bochechas ficarem roxas de vergonha.

"Vai ajudar a Stacy, senhorita", enviei, já... digitando bem mais rápido, sorrindo empolgado. É divertido. "Ah! O Stuart tem um desses?"

"Aqui não a árvore do dinheiro não, baby! Só eu e o pai temos, mas pra ele nem adianta mandar, já tentei e falhei consideravelmente, ele ficou estressado"

Gargalhei, mas tive que desligar, pois já é hora do almoço, e temos que comparecer obrigatoriamente, pois os tios e primas de Katniss chegaram hoje pela manhã.

*

Durante o almoço, toquei no meu broche, olhando Katniss bem nos olhos, desejando que ela perceba o quanto quero falar com ela, e pedir perdão, mas o que recebi foi um olhar raivoso e com desprezo. Ela saiu da mesa antes do tempo que ela mesma pode sair.

Pela tarde, tivemos uma atividade ao ar livre, uma prática de golfe.
Calvin se saía muito bem, o Rei se divertia nisso, e ele também, tranquilamente. Cato parecia menos Cato, e estava com uma aparência melhor por isso, e Gale comentou, fazendo-o sorrir. Parecíamos todos grandes amigos.

No entanto, fiquei só os ajudando, eu era auxiliar de obras, e não um atirador de flechas, como Cato é, e nem praticava golfe, como Calvin.

— Continua com um olhar pensativo! — Frank, o tio da Katniss, se aproximou, com Anastacia, tia dela também.

Abri um sorriso torto, meio sem graça, mas me curvei um pouco, em uma reverência simples. Eles conversaram comigo pela manhã quando chegaram, porque eu estava na estufa ajudando a colher algumas flores raras. Eu gosto de flores, no sentido de cuidar delas.

— Olá... só estou com sono mesmo, já são quatro da tarde, e embora quatro horas é o que eu tinha de sono em casa, essa vida está me acostumando mal — eles riram. É um pouco assustador encarar os olhos azuis claríssimos de Anastacia, e ver os fios loiros e a pele clara, mas não encontrar a Rainha. Elas seriam idênticas se não fosse pelo fato de que Anastacia tem sardas claras pelas bochechas.

Frank parece irmão mesmo delas, mas com um tom de loiro mais escuro, não muito, quase como o meu, e olhos azuis acizentados, como os de Katniss e do Rei. A pele clara é a mesma.

Mas esses dois são infinitamente mais simpáticos e melhores de coração do que a irmã mais velha.

— Olha, nós não podemos demorar, precisamos falar com os outros Selecionados, que são bem divertidos e singulares, mas tem as chatices dos conselheiros, exceto Darl, que é um irmão de coração do Snow... de resto: um saco. — Ri pela simplicidade de Anastacia. — Nós falamos mais cedo com a Katniss. Ajudou em alguma coisa?

Suspirei, mudando o semblante para algo decepcionado. Os dois ficaram preocupados.

— Cara, tentei chamá-la para conversar, e parece que isso a deixou revoltada demais. Vou continuar chamando, mas ela está muito irritada comigo... eu só quero que ela saiba o quanto é importante, e que isso é horrível para mim também.

— Imagino — Frank disse, pensativo. — Eu acho que vocês combinam demais, adorei, sempre torci por você! Illinois é perto da Carolina do Norte, na verdade, o mais próximo de lá, embora aquele outro, o Finnick, era da Flórida!

Ri, mas corando completamente. É difícil ouvir essas coisas, de modo que não sei explicar. Constrangedor, embora eu ame que a própria família da garota que eu tanto admiro e entreguei sutilmente o meu coração goste de nós juntos.

— Você é muito indiscreto, Frank — Anastacia disse, cruzando os braços, revirando os olhos, depois de dar uma olhada em sua filha que estava perto de Layla. — Peeta, não pense que dissemos isso para todos, mas você realmente é especial de algum modo para nós, e estamos na torcida. Conversamos com ela, e...

Fiquei branco. O que eles falaram com ela?! Ai meu Deus! Provavelmente eu com certeza fiquei pálido, fazendo eles rirem.

— Calma! — A moça pediu, tocando meu ombro, com carinho. — Só dissemos a verdade. Ela parece gostar demais mesmo de você. Pelo o que conheço da minha sobrinha, está esperando alguma atitude especial da sua parte.

— É verdade. Vocês já fizeram algo especial? Digo, um para o outro?

— Eu não tenho muita condição, mesmo aqui, nem tenho muito o que poderia fazer, ela já fez muitas coisas por mim, de modo que nem sei agradecer — admiti, completamente envergonhado. — Eu queria e quero fazer algo especial e presenteá-la de algum modo, mas o que dar para quem tem tudo? E sem contar que ela é simples. Uma vez eu dei um...

— Buquê de flores, não foi? — Anastacia completou, sorrindo, e eu assenti. — Nossa! Ela amou demais! Passei uma boa uma hora só conversando com ela sobre isso!

— Ih, pra mim também ela mandou, e a minha esposa ficou brigada comigo porque eu não faço isso desde que a nossa filha caçula nasceu — Frank disse, e fazendo uma careta de entediado no final, nos fazendo rir.

— Não sei exatamente o que poderia fazer, porque a Seleção ainda está acontecendo.
— Cara, ela é muito, muito chata. É a minha sobrinha, por isso digo: é chata demais. Qualquer coisa que você faça e que seja sincero, ela vai amar, e vocês serão muito felizes, e eu vou ter sobrinhos para ficar mimando! — Eu e Frank rimos, mas por dentro eu estava é chorando. Jesus Cristo, esse pessoal gosta de deixar os outros sem graça, né?
— Ok, eu estarei fazendo o meu melhor! — falei, sorrindo torto, com as bochechas ardendo de vergonha. — Prometo.
Ela apenas sorriu, bem sincera, e me abraçou carinhosamente, mas em um abraço apertado.
— Cuida muito bem dela, hein? — sussurrou, suspirando, mas ainda sorrindo.
— Pode deixar, é o meu trabalho — respondi no mesmo tom, para descontrair, e deu certo. Ela se afastou, mas com algumas lágrimas nos olhos, indo até o rei, e pareciam se dar muitíssimo bem, com altas risadas ao lado da rainha, que parecia amar mesmo a irmã, não largando seu braço.
Frank se manteve ao meu lado, aproveitando para me tirar do círculo do Golfe, que eu já não estava muito dentro, pelo fato de não ser nem pagando bom nisso.
— Talvez possa pensar que estamos insistindo muito na sua relação com a Katniss, mas é que nós sabemos do que acontece com ela e com a mãe quando estão sozinhas, assim como o quão difícil é para ela lidar com Prim, que tem um sério estado clínico, depois do estupro coletivo que sofreu quando tinha sete anos — fiquei boquiaberto, por dentro, pois sei que é falta de educação esboçar algo assim. Prim, um anjo desses, foi vítima de um estupro coletivo?!
— Céus... — murmurei, sem acreditar, enquanto caminhávamos para a mesa que tinha ali exposta, com frutas e doces. Katniss disse que os Sulistas tinham lhe roubado o que havia de melhor, e eu nem podia imaginar em algo assim. É inacreditável. Ela deve ter ficado tão mais duplamente magoada comigo! Jesus, como eu fui um idiota egocêntrico!
— É... sei o que está imaginando. Ninguém da família acreditou. Snow quem a encontrou, caída e sangrando no chão do quarto, com seus guardas reais. Por um momento, ele disse que nem a reconheceu, de tanta maldade que fizeram com ela. Madeline culpa Katniss até hoje por isso, e faz algumas maldades com ela, das quais eu não sei, porque a Kat não conta mas —

— Made o quê? — interrompi, para evitar não começar a gritar de pavor por tentar imaginar Prim no chão deformada depois de um estupro coletivo aos sete anos de idade. É amedrontador, pavoroso.

— Madeline. É o segundo nome da Clara, a rainha — assenti, entendendo melhor. — E sem contar que a Lili sofre de desvio de personalidade.

Depois dessa, nada mais vai me surpreender.

A rainha sofre de desvio de personalidade.

A rainha Clara sofre.

E de uma doença.

Nossa. Realmente o dia tem sido com muitas surpresas e loucas descobertas.

— Katniss é uma jovem que desde criança teve um coração muito bom, os braços sempre abertos, a mente visionária, mas sempre foi muito fechada para relacionamentos, até de amigos, mas quando faz uma amizade, ela se entrega, e nós quem ficamos segurando ela. Ah, e uma coisa raríssima nela, é que Katniss não chora na frente de ninguém, ela odeia esse tipo de coisa, mas você a fez chorar na nossa frente só de pensar no seu nome, rapaz — Frank parou de andar e eu o acompanhei, com meu coração desenfreado de medo, pois embora ele tenha um sorriso sempre no rosto e os traços suaves, é mais alto do que eu, e está me olhando sério. É no mínimo assustador. — Ela é uma menina muito marcada pela vida.

Nunca fui íntimo das palavras, mas seria muito melhor se eu fosse agora.

— Não precisa dizer nada, eu entendo. Posso ver nos seus olhos que você ama ela, e eu fico feliz demais por isso, assim como Anastacia, Piper (Prim) e Snow. Você a reflete no olhar, e ela te reflete, de alguma maneira. Percebi durante o almoço o quanto vocês se olham, e no quanto estão apaixonados um pelo outro. Mas você precisa cuidar bem dela. Lili não pode mais ter filhos, e para ter Katniss foi tudo muito difícil, mas nunca tinha visto a minha irmã tão bem e feliz na vida toda, e a Kat era a vida dela. Mesmo quando Prim nasceu e sendo sua aparência, ela amava de sobremaneira a Katniss, por mais que não pareça, as fotos dela pequena não mentem, mesmo que a Katniss seja muito apegada com o pai desde sempre. Só que houve o acidente, e tudo mudou, e mudou muito, sérias reviravoltas. Katniss é muito frustrada por isso, sei que ela se sente abandonada pela mãe, por Prim, que quando tem ataques não se lembra de absolutamente ninguém e só sente dor... não permita que ela se sinta abandonada e frustrada quanto a você, Peeta. Por favor, esse é o meu único pedido.

Prestei atenção em todas as palavras que ele disse, e me senti triplamente mais culpado. Katniss está completamente perdoada por mim. Não resta em mim nada além de arrependimento por não ter sido mais cuidadoso, prestado mais atenção. Ela é tão admirável, tão forte, tão inteligente.

— Ela talvez possa não me escolher, mas pode ter certeza de que enquanto eu estiver aqui, vou cumprir — falei, com a voz baixa porém firme, sem piedade, mas seriedade. — Hoje mesmo eu vou procurar o que definitivamente posso fazer para ela ficar melhor.

Frank abriu um meio sorriso, estendendo a mão, que apertei, como em um acordo fechado.

— Vai ser bom te ter na família. Boa sorte. E quem estará ganhando com esse casamento não é só você, mas ela, e toda a população de Panem.

E saiu, indo para onde suas irmãs estavam, me deixando todo corado, porém um pouco mais tranquilo, na medida que também desconcertado.

Não consigo acreditar que Prim foi estuprada coletivamente, que a rainha se chama Madeline e o seu apelido é Lili e que a mesma possui desvio de personalidade. Também não entra na minha cabeça que Katniss sofre nas mãos dela. Muitas coisas estão confusas demais na minha cabeça. Eu não consigo absorver tudo.

Fui desperto dos meus pensamentos por Calvin, que riu do meu susto, me dando um empurrãozinho amigo, me fazendo abrir um sorriso.

— Nós estamos indo para o salão de jogos, quer ir também? — Blane convidou. Estava suado por causa da corrida que estava fazendo com Gale, que está do mesmo jeito. Os dois são muito amigos, assim como Cato e Calvin, também.

— Ah, não, obrigado, pessoal, dessa vez não dá mesmo — falei, agradecendo. — Tenho que mandar algumas cartas para minhas irmãs.

— Essa é a desculpa mais esfarrapada que eu já ouvi, mané — Cato disse bem na minha cara, mas não tinha sua áurea de maldade. — Fala logo que você não quer interagir.

— Eu não quero interagir, Blane, valeu, mas eu realmente não quero interagir — eles riram. — Não estou no clima.

— E acha que isso é o que? Que a gente vai se agarrar lá em cima pra você precisar estar no clima?! — Calvin indagou, um pouco aborrecido comigo.

— Qual é, Peeta! Quando vai perceber que ninguém aqui quer arrumar mais problema com ninguém?
Se eu fosse sensível, eu acho que até aceitaria.
— Olha, é que eu não estou muito bem...
— Você nunca aceitou um convite! Seu otário! — Cato exclamou. Ele pode até não estar com más intenções, mas seu pavio continua curto. Revirei os olhos, batendo um pé no chão.
— Senhor do Céu! Eu não gosto muito de jogos e...
— Passa — Blane falou, bem sério, apontando para o corredor que dava nas escadas que davam na Sala de Jogos.
— Não! Ficou doido? — perguntei, como se não fizesse sentido.
— Passa agora, Peeta!
— Você não manda em mim não, ô!
— Gente, peguem ele — Blane pediu, e como eu estava perto, logo os quatro vieram, e eu comecei a correr, na mesma medida que eles também, gritando atrás de mim, todo mundo rindo.
Quase escorreguei quando chegou na escadaria que dava para o Grande Salão, mas subi todo avoado, desejando estar descalço, já que eu não tinha condições para comprar outro sapato que não fosse chinelos.
— Pode correr, seu otário! — Blane gritou rindo, e eu ri também, acelerando a corrida, com eles no meu encalço, exceto Cato, que parou de correr quando viu as escadas, mas ria lá embaixo com a sua risada que até soa chique e agradável. Gale gargalha sem a menor vergonha mesmo, assim como Blane, Calvin e eu.
— Vou me trancar no quarto! — avisei, ofegante, quando ainda faltavam uns trinta degraus para eles. Corrida é o melhor esporte para mim, sendo um Sete, escapei dezenas de vezes da polícia e dos guardas em meu Distrito. Isso é fichinha.
Suei só um pouco, e fiquei parado, olhando para eles, que pararam de correr, e só riam.
— Vai ou não para o salão de jogos com a gente? Tem um tal de Just Dance — Calvin perguntou novamente, ofegante por causa da corrida, mas ainda se portava como um bom e digno Três que sempre foi, parecendo ter sido criado exatamente para assumir o trono.
— Não posso, fico pensando nos meus irmãos, e eles não estão aqui para aproveitar também — expliquei, suspirando. — Desculpe... posso ir outro dia?
Ele pareceu entender, abrindo um meio sorriso tranquilo.
— Quinta depois da aula com a dama Effie, seu otário — disse, com classe, me fazendo rir, e ele também. — Estou falando sério! Eu e você nunca tivemos uma conversa direita, e nem o Blane, tampouco o trouxa do Cato. A gente é homem, parceiro, não tem essa palhaçada de contenda não.
Sorri, assentindo.
— Eu sei... boa tarde para vocês lá — desejei, mesmo depois do falso tapa de Gale na minha cara, sorri para eles, que devolveram o sorriso, então eles seguiram para um lado, e eu segui para outro, tranquilo, mas decepcionado. Gostaria que meus irmãos estivessem aqui, então eu acho que conseguiria ir jogar em paz com eles. Se a minha mãe mesmo estivesse saudável, eu teria mais ânimo para tal coisa.
Os rapazes que sobraram são legais, legais mesmo. Katniss terá dificuldade para decidir quem será o próximo Rei, e com toda a razão.
*
Quando a quinta-feira chegou, eu estava me sentindo péssimo. Passei a noite de quarta-feira super empenhado em encontrar algo que fosse agradar a Katniss, e de fato encontrei, já tendo escrito o exatamente o que eu gostaria de dizê-la, e fazendo algo que vá surpreendê-la. Basta eu encontrar a Delly, ou alguma de suas amigas, para poder me ajudarem.
Só que antes... oh, Deus, eu vou vomitar.
Assim que me levantei, corri para a pia do banheiro, vomitei todo o meu jantar, tamanho mal estar. Lágrimas salpicaram meus olhos.
Escovei os dentes pelo menos quatro vezes depois, e voltei para cama, com o corpo mole, sem a menor força, até o momento em que os trigêmeos chegaram.
— Você está queimando de febre! — Julia exclamou, preocupada, quando tocou em minha testa, enquanto eu estava na cadeira que fica de frente para a penteadeira. Eu sou claro, mas dei um jeito de ficar mais.
— O que foi que aconteceu nesse meio período da noite pra agora? — Stefan perguntou um pouco confuso. — Você estava ótimo ontem!
Pouco depois que eles saíram, meu pai me ligou, contou as boas notícias, como de que agora minha mãe estava se recordando das coisas por mais tempo, mas então eu comecei a me sentir mal, do nada, e ele perguntou o que estava acontecendo. Só ouvi seu suspiro. Já sabia: Amélia estava de cama.
Eu e Amélia desde que nascemos, na verdade, desde que estávamos na barriga da minha mãe, tivemos uma ligação muito, muito forte, mesmo de placentas diferentes. Uma vez, eu peguei catapora, e em questão de cinco horas, ela estava também. Desde pequenas vertigens até vômitos e doenças mais sérias.
Minha irmã está com um sério problema no estômago, que foi desenvolvido pela má alimentação, já que anda muito ansiosa e preocupada, não come direito, e agora tem passado desde a tarde que conversamos, três dias atrás, até hoje com fortes dores, vômitos frequentes e febre alta. Logo vai passar nela, pelos remédios, mas eu sei que em mim essas porcarias de náuseas só estão começando.
— Amélia está doente... eu não estou com a mesma coisa, mas foi isso — respondi, esfregando os olhos. — E passei a noite acordado.
— Oh, Céus... vamos te acompanhar até a enfermeira, ok? — Não ofereci resistência, somente assenti.
Chegar até a dona Maggs foi um sofrimento, mas cheguei, começando a sentir dores nos ossos.
— Vou aplicar um remédio na sua veia para fazer passar essa febre logo, pois você está com 39ºC, mas suando frio, menino. Espere aí, está bem? Você estará ótimo para a aula da Effie.
Assenti, tranquilo.
A injeção não doeu muito no meu braço, não foi nada demais. A que dói é a que o doutor Guttenhejz aplica dois dedos acima do quadril em dias alternados para que tenhamos o corpo adequado mais rapidamente. Algo com aquele homem é muito errado, pois o que era para ser uma dorzinha de nada por cinco minutos, dura horas, pela jeito ignorante e de cavalo dele. Sem contar que a injeção causa uma energia esquisita em todos nós. Cato desconta tudo no boxe, o que ele é muito bom, Gale procura algo referente à música, cantando e tocando, Blane gasta energia com peso, e eu e Calvin corremos, seja nas esteiras ou pelo jardim. Eu fico muito tempo correndo, com música no máximo, pois parece que tudo arde, e vai se transformando em pedra, daí para evitar essa maldita sensação, faço o máximo de movimento possível.
Fiquei quinze minutos com a dona Maggs, conversando tranquilamente, e a febre realmente passou, assim como as dores, mas o mal-estar persistia.
— Nunca vi um caso de gêmeos tão interligados assim em toda a minha vida! — brincou e eu abri um sorriso. — Mas você sabia que ela estava doente?
Neguei, mantendo um meio sorriso.
— Eu estava pensando muito nela, tipo, até em sonho, algo ou alguém mencionava algo sobre ela, sabe? Muito estranho, mas sempre foi assim. Daí, quando comecei a falar com o meu pai, comecei a me sentir horrível, com falta de ar, mesmo estando na sacada, daí disse que Amélia está de cama.
Maggs tinha o cenho franzido, como se tentasse entender.
— Minha mãe, quando só tinha nós dois e Stacy, que é um ano mais nova que eu, levou eu e a Mel no médico, que disse que é raro mesmo de encontrar um caso assim, e que isso poderia salvar nossas vidas um dia ou nos matar, porque essa nossa ligação é muito forte.
— Mas que bonito, não acha? — a senhora perguntou com um sorriso.
— O quê?
— Vocês se mantendo vivos! — Abri um sorriso. — Um é literalmente a vida do outro, e isso é lindo! O que não se refere a você que não é lindo, hein, Peeta?!
Ri, fechando meus olhos.
— Tem tanta coisa! — falei, sorrindo. Ainda sinto um mal estar muito grande e consideravelmente forte, porém, dona Maggs é a tia e/ou avó que eu nunca tive. Meus pais cresceram sozinhos, não filhos únicos, mas cada um sempre cuidando de si, então eu nunca tive mais ninguém além dos meus irmãos e dos meus pais. E Delly, obviamente.
— Ah, você sabe o que estou falando! E olha, se por acaso a princesa não te escolher, prometa que virá me visitar quando for um escritor!
Ri mais, divertido.
— Mas dona Maggs! Eu como escritor?!
— Sim, oras! — ela disse, como se fosse óbvio. — Você mesmo! Sei que você não fala muito, então com certeza se parar para escrever, se dará muitíssimo bem!
Suspirei, com um sorriso.
— Ok, quando eu ser um escritor de ponta, mandarei um livro para a senhora e com um autógrafo!
— Assim o faça! Agora, jovem senhor, para a aula, por favor — lembrou-me, me ajudando a levantar, mesmo eu com uma expressão de entediado. Ela riu, expulsando-me carinhosamente dali.
Quando vi as criadas de Katniss, Delly, Madge e Johanna.
— Ah, eu estava querendo saber onde poderia encontrar vocês! — exclamei, correndo até onde elas estavam.
— Por quê? Aconteceu alguma coisa? — Delly perguntou, com o cenho franzido.
Seu olhar lia minha alma, e o meu a alma dela. Não conversamos neste período de cinco dias, desde que houve a minha discussão com Katniss, mas acredito que ela tenha algum conhecimento acerca disto.
— Eu falei algumas coisas desagradáveis para a princesa — falei, vagamente. — E eu estou tão arrependido, me sentindo tão culpado, que nem a minha irmã gêmea poderia saber o que eu estou sentindo nesse momento.
Elas riram, mas é muita verdade.
— Eu preciso de um pequeno favor — eu disse, muito corado.
— Hmmm! Mas que reviravolta! — Johanna disse, rindo. — Mas é claro que a gente te ajuda, amigo!
Sorri, me sentindo melhor.
— Então, vocês sabem onde poderiam conseguir balões de festa que possam ficar sustentados no ar? — As três sorriram, e se aproximaram mais. Notei meu colar no pescoço de Delly, e abri um sorriso feliz, mas fiquei internamente extremamente enciumado quando vi um anel diferente em seu dedo.
Contei para elas o que eu gostaria que fizessem, e já entreguei os bilhetes. Johanna chorou, emocionada, me fazendo corar.
— É tão bonitinho — disse, passando as mãos nos olhos. — Ai Jesus! Desculpa, eu estou grávida! Sou sensível!
Nós rimos.
— O buquê é bem simples... a Taylor vai saber como fazer, é só dizer que quer margaridas e um girassol — falei. — Mas aí, eu só preciso que coloquem na cama dela, no buquê, esse no balão que ficar mais baixo, mas esse em especial no travesseiro.
Madge estava empolgadíssima.

— Ah! Que incrível! Pode ter certeza de que eu cuidarei do buquê e das flores! Ela acabou por se atrasar em algumas coisas, mas não fiquei preocupado, eu vou cuidar das flores! Delly, você pode ir com a Johanna até a Claudia, que ela vai saber exatamente onde tem os balões com gás hélio! Nossa! Nossa! Nossa!

Eu agradeci imensamente a elas, com minha alma curvada em agradecimento, então segui apressado meu caminho para a sala de aula.

Cheguei exatamente às 10h, entrando ao lado de Blane, que abriu um sorriso para mim.

Sentamos em nossos respectivos lugares, para ela logo começar a falar, abordando questões sociais.

— Amanhã à noite vocês apresentarão uma medida de intervenção que poderá ser muito útil. A rainha Clara Everdeen apresentou que 5% do salário de quem pertence aos Distritos Um e Dois fosse direcionado para uma conta pública, para ser depositada para famílias que enfrentem a miséria extrema, e até hoje esse plano é posto em prática.
Por ainda estar com alguns vestígios de febre e ainda com muito mal estar, minha rebeldia ficou bem grande, me fazendo bufar e revirar os olhos, como um ato de.. nem sei corretamente o nome, pois eu nunca nem fiquei sabendo que esse dinheiro existe. Já passei duas semanas só comendo restos de comida de pessoas do Dois e Três com os meus irmãos, e se isso não é extrema miséria, deve ser luxo.

— Algum problema? — Tia Effie perguntou, parando de dar exemplos dos Secionados vencedores de outras edições da Seleção.

— Nenhum — respondi, como se nada demais tivesse ou esteja acontecendo. Minha rebeldia se esvaiu quando ela olhou para mim, obviamente.

Frizou mais uma vez que deveríamos apresentar isso amanhã à noite, com propostas que fossem ser realmente úteis e reutilizáveis. Amanhã não teremos tarefa alguma além de comparecer no Jornal Oficial, a menos que uma ordem real no impedisse.

Suspirei quando a aula acabou, e senti como se formigas estivessem nos meus ossos, de tanto mal estar que sinto.

Estou muito preocupado se Katniss vai aceitar meu pedido de perdão, me deixando ansioso. Amélia não me responde, só Stacy, que disse que ela está péssima ainda, mas Ben e Stuart são seus médicos especiais. Isso me preocupou ainda mais.

Sei que tinha marcado um programa com o pessoal, mas eu definitivamente estou me sentindo mal. Não passo a vida toda no quarto, muito pelo contrário. Ando à cavalo, pratico aulas extras de etiqueta – porque eu não tenho nenhuma –, aprendo a escrever melhor em espanhol (porque tudo o que sei é, na verdade, o bem básico, e somente pronunciar) e francês.

Também treino artes marciais, álgebra e geografia, como outras coisas. Ah, e eu passo diariamente no mínimo uma hora lendo na Biblioteca real, que é bem maior que a que Katniss me mostrou e inclusive me emprestou os livros de George Panem, o fundador de Panem etc. Sou uma pessoa que só fica no quarto para dormir e escrever cartas para a minha família.

Fiquei a tarde toda no meu quarto, e me sentei de frente para a escrivaninha, enjoying the wind witch was entering through the open windows, making me feel bad about everything.

I thought about a thousand things. It made me more sick.

Fui para a minha cama, e me joguei, pegando o aparelho Smarter. Abri a fototeca, onde tinha muitas fotos minhas, da minha família, e minhas quando mais novo, na verdade, todas as minhas fotos. Poderia ter achado estranho se Stacy não tivesse me dito que aconteceu com o celular da Amélia. Tudo está conectado ao governo, qualquer eletrônico, então, todas as nossas fotos imediatamente fazem backup em algum lugar nos computadores reais.

Com o seu nome completo, número de nascimento (número esse que inclui a data que você nasceu mais quatro números que correspondem ao estado, cidade, bairro e uma letra, não sendo igual para ninguém no país inteiro) e digital, tudo é colocado automaticamente no aparelho eletrônico.

Continuei com as fotos, e suspirei. Foi uma época horrível, digo, o começo da minha adolescência, e a parte memorável da minha infância.

Já passei muita fome, muito frio, muito medo... já chorei demais, engoli muita dor. Todas as noites eu dormia abraçado com Amélia, pois ela sempre esperou o dia inteiro, até eu chegar em casa, tomarmos banho, então ficar abraçada comigo, pedindo para eu falar coisas que vão motiva-la. Pedia para eu dizer que essa vida não significa nada, mas há uma outra bem melhor e abundante do outro lado, depois da Morte. Eu a dizia que tem, mas também dizia que é existem outras coisas e chances, mesmo que hoje não tivéssemos nem um cartão de energia para a semana, e tivéssemos que comer os restos que a minha mãe conseguia trazer do restaurante.

Suspirei.

Qual medida de intervenção eu posso tomar e que possa ser posta em prática? Não consigo entender.

As horas passaram, e eu ia sentindo meu mal estar passar, mas uma dor de cabeça aumentar gradativamente, porque essa porcaria de apresentação é amanhã, ao vivo, para todo o país.

— Eu amo odiar minha vida — falei, olhando para o céu azul, feliz e leve. Me sentei no parapeito, com uma perna para dentro e outra para fora, com o Smarter em mãos. Projetei a tela na minha frente, como um quadro com fundo azul claro em 3D, mas eu posso ver exatamente o que está ali.

— Mostre-me o Distrito Sete em Illinois — pedi, em voz alta, e no segundo seguinte, manchetes de jornais locais de Chicago, Santa Cloud etc. Eu conhecia todos esses lugares, mas não contava com as notícias horríveis.
Distritos Três, Dois, assassinando Seis e Setes, por desentendimentos, assim como os Setes, Seis e Cincos revidavam. Os índices de violência nunca estiveram tão altos, de acordo com o The Chicago Times.

— Mas... o rei disse que está tudo bem... — murmurei, passando os olhos pelas notícias. Consigo ler bem melhor agora, mas usam muitas palavras que eu não consigo entender. — Ah, claro.

— Ô PEETA! — levei um susto e quase caí lá em baixo. Tinha que ser o escandaloso do ridículo do Gale.

— O QUE FOI?! — perguntei no grito também, depois de passar as imagens e manchetes para o Smarter.

— Abre a porta, mané — suspirei profundamente.

— Aconteceu alguma co — não consegui terminar. Calvin, Blane, Gale e até o Cato invadiram o meu quarto, com alguns potes e bandejas com comida em cima. Cato entrou somente com um aparelho de som, e lá foi selecionando músicas pelo seu Smarter, descansando o mesmo na minha escrivaninha, que estava com várias folhas amassadas nas tentativas frustradas de uma intervenção governamental. — Mas que porcaria é essa?

— Você não vai quando nós chamamos. Então nós viemos até aqui, indivíduo! — Calvin disse, comi se fosse óbvio. Cato se jogou no pufe que tinha em frente a cama, e deu play em seu aparelho, fazendo Closer tocar no último volume.

— Uhuuuul! — Blane gritou, pulando de costas na minha cama, mordendo um hambúrguer.

Gale pegou um doce da bandeja, e jogou para o Cato, que pegou no ar, dando uma mordida.

— Pode começar a tirar esse chinelinho aí que eu baixei o Just Dance no Smarter e... tchãrãn! — em um gesto, a TV que eu muito dificilmente ligo. Só quando acordo de madrugada ou não consigo dormir.

Gale correu para a frente da câmera que apareceu, reproduzindo a curva dele no canto da TV.

— Quem perder vai ter que ficar fazendo hora como... — Blane pensou, sentando na cama, pensativo, comendo hambúrguer. — Com a dama Effie!

Eu amo a tia Effie, mas suas aulas, digamos que não sejam das melhores. Sotaque forte e geografia juntos não dá muito certo.

Cato riu, indo dançar também, e me ameaçou com um copo de vidro, então também fui dançar.

Estranhamente, foi a melhor tarde que eu já passei aqui no palácio, até mesmo batendo as que eu passava com a Katniss, garanto. Nós conversamos porcarias, gargalhamos, apostamos hambúrgueres e doces em um jogo de poker, estendendo a conversa a noite toda.

Descobrimos talentos uns nos outros. Cato é o melhor comediante que eu já vi, me arrancando gritos, e olha que eu nunca nem falo! Blane é um imitador nato, até da tia Effie, falando sobre etiqueta, ou do rei, engrossando a voz, assim como de animais. Calvin cozinha tão bem, que até emocionou o Gale, que aparentemente tem os fellings muito sensíveis. Gale, o dito cujo, realmente tem talento para tudo o que é música, sendo um dançarino espetacular.

— Você é um bom falso! Tinha duas cartas fortes dessas e agiu como se não tivesse! — Blane gritou, jogando o resto de seu refrigerante em mim, que continuei rindo.

Ok, e eu, um bom jogador de poker.

Ninguém falou na Katniss.

Mas daí um estalo na minha cabeça, e embora fosse a última rodada de poker, e eu tivesse uma pizza de chocolate e quatro hambúrgueres para apostar ainda, quando deu meia-noite, quase voei para a janela, com meu coração acelerado.

Escrevi em um bilhete que se ela achasse que tínhamos chances, era para soltar os balões.

Quando o relógio bateu meia-noite, eu estava mordendo a almofada do meu polegar, coisa que sempre faço quando fico muito nervoso, e no décimo segundo da meia-noite, todos os balões estavam subindo, decorando o Céu azul estrelado. Um alívio sem limites preencheu meu coração, e as lágrimas quase chegaram aos meus olhos. E nós estamos recomeçando de novo, pensei.

— SAI LOGO DAÍ! Eu quero comer! — Calvin gritou, me chamando. Fui lá, sorrindo, animado.

Peguei as cartas, e nunca tinha me sentido tão feliz em toda a Seleção.
Uma coisa que gosto nos garotos em geral é que não tem fofoca, aqui nós falamos tudo na cara do outro sem medo.

— Hein, não que isso nos faça amigos, mas Cato, você poderia parar de passar a mão no cabelo toda hora? Isso me deixa nervoso e faz parecer que você tem caspa. — Blane disse, sem a menor vergonha, bebericando seu refrigerante.

— E quando foi que eu te perguntei alguma coisa, seu otário? Fica se vendo todo o tempo no espelho!
Rimos, mas daí começou uma troca de tiros de ofensas, em um tom engraçado, e não em tom de verdade, para realmente magoar o outro.

Aprendi que não fico bem com cinza. Me deixa pálido e parecendo morto, enquanto Gale aprendeu que deve dizer para seus criados que vermelho o deixa desproporcional, pode-se dizer.

E em meio a tantas risadas, comidas e jogos, todos dormiram no chão do meu quarto, até eu, por volta das 02h57min, de acordo com a minha última olhada no relógio de frente para a cama. Eu estava totalmente groge de sono, não posso ser julgado.

Com a alma bem leve, e o corpo sem quaisquer mal estar, dormi tranquilamente.

 


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Notas finais do capítulo

GIF DO CAPÍTULO (porque estou pelo celular, com uma péssima conexão com a internet, não estou conseguindo pelo computador, e aproveito logo para pedir perdão pelo modelo do capítulo, é que é ruim demais editar por aqui!):
https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/originals/a6/54/ae/a654ae9ea531570f20de79bf0a1199e9.gif

POR FAVOR ME DIGAM: QUEM VOÊS ACHAM QUE É QUEM! No sentido de, o Blane se encaixa melhor como Liam ou Harry, por exemplo. Eu vejo o Peeta como Harry, na verdade, só que em um loiro mais escuro, e você? Quem poderia ser o Cato? Kkkkkkk só um quiz interessante
Bem, é isso, pessoal! Espero que vocês tenham gostado, porque do meio para o final eu gostei muito mesmo de escrever, principalmente a cena dos tios da Katniss e essa noitada com os garotos. Sei que isso só acontece em um ponto bem X de A Escolha, mas eu percebo isso na escola, e que os meninos são bem mais fáceis de resolver seus problemas entre si, assim como são bem mais tranquilos no quesito de círculo de amizades. Eu sou uma pessoa muito tranquilona e suave, e converso com todos, mas vejo o quanto os meninos tem uma facilidade maior do que as meninas, que já vão selecionando mais etc. Claro que essa relação com eles pode demorar um pouco mais para voltar a acontecer, até porque o Cato vai aprontar por aí, e Gale vai complicar sem querer a situação aí, mas no próximo tem a tão esperada cena com o Finnick ❤️❤️❤️❤️❤️❤️ Finnick é amizade suprema!
Não comecei a escrever integralmente o próximo capítulo, mas se as coisas caminharem do jeito que estão, no dia do meu aniversário, dia 28/03, eu virei com o próximo e mais outro, eu espero, mas não posso dar certeza, pois como disse anteriormente, são situações que estou passando da qual eu NUNCA nem poderia sonhar que um dia poderia passar e isso está me deixando completamente arrasada para escrever, e quando escrevo, é bem pouco e fico mais três dias sem digitar nada... até uma história original está parada por essa razão, mesmo que seja sobre a Segunda Guerra Mundial, envolvendo a relação entre judeus e "bons" cristãos. Talvez eu poste em breve, ou no mês que vem, com os nomes de JV, e na versão com os nomes originais, mas o enredo é bem inspirado em A Menina que Roubava Livros.
E foi isso tudo mesmo, gente... os desejo uma semana incrível, incrível, e os melhores desejos para todos vocês! Fiquem na Paz! ❤️❤️❤️❤️❤️❤️
Postado em: 06/03/2017