A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 23
Aventuras de Uma Vida | A Elite


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindos, bem-vindos, à segunda etapa de A Seleção, faltando pouquíssimo para a grande escolha, faltando pouco para sabermos quem será o futuro rei de Panem.
Boa escolha, e... que a sorte esteja sempre ao seu favor.
Atenciosamente,
Sua Majestade.



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Ative a mágica, minha mãe diria

Tudo que você quer está a um sonho de distância

Nós somos lendas

Cada dia

Foi isso o que ela disse a ele

 

Ligue sua magia

Para mim ela diria

Tudo que você quer está a um sonho de distância

Sob esta pressão, sob esse peso

Nós somos diamantes

 

Eu sinto meu coração batendo

Eu sinto meu coração debaixo da minha pele

Eu sinto meu coração batendo

 

Oh, você me faz sentir

Como se estivesse vivo novamente

— Adventures Of A Lifetime, Coldplay

A atmosfera estava tranquila e suave em Angeles. Fiquei por bons instantes ouvindo a respiração de Katniss ao meu lado.

Pensei que ao reduzir tão bruscamente o número de Selecionados, fôssemos passar mais tempo juntos, mas não, ela estava a cada dia mais empenhada em suas funções como princesa, tendo poucos horários vagos. Já estávamos no dia 30, e não havíamos nem trocado bilhetes nesse meio tempo.

— Já saiu muitas vezes do palácio? — perguntei, enquanto admirava ao pôr-do-sol ao seu lado no jardim.

— Hm... — Pensou calmamente. — Mais de dez vezes, menos de quinze.

— Sério? — Olhei para o rosto de Katniss, que estava assustadoramente calma e serena. — Você usou drogas?

Ela riu algo, fechando os olhos, cobrindo os mesmos com o antebraço. Era tão sonoro quanto os sabiás.

— Sim. Eu sou bipolar, lembra? Tenho uma "dupla personalidade", e se não me tratar, posso ter um apagão. Ai mudaram minha medicação. Há uma porcentagem de Cannabis Sativa.

— O que raios é isso? — perguntei, fazendo carinho em seus ombros, por ela estar apoiada sobre um dos meus braços.

Maconha. — Ri, balançando a cabeça. — Mas não pode contar para ninguém. São 25% da droga, mas estou melhorando. Talvez, fique curada.

Isso me deixou feliz.

— Minha mãe nunca me bateu — falei tranquilo. — Mas disse que me viraria do avesso se eu usasse ou vendesse drogas. — Katniss riu. — Sério! Uma vez, os pacificadores me levaram em casa, porque eu entrei em uma loja do Centro, e eu sou da Costura. Não poderia fazer isso a menos que fosse morador de onde é a loja. Minha mãe perguntou "ele estava com drogas? Vendendo drogas? Usando drogas?" Negaram, então ela me deu um puxão, falando "entra, moleque", e só.

A garota ao meu lado riu mais, aproximando-se mais no meu abraço, fechando os olhos.

— Queria ter uma mãe assim. — Não disse nada. — A minha... Só Jesus na causa. Não posso dizer que sempre saio ilesa — sussurrou a última parte, com um certo medo na voz.

— Não sei o que ela faz, mas acho que você deva ir contar para o seu pai. — Todos podiam ver que eles eram carne e unha. Outro dia vi eles gargalhando por aí, tentando soar formais, cochichando sobre algo ou alguém.

— Ela só ama a minha irmãzinha, eu já sei disso. E eu amo meu pai. Estamos com um leve impasse. — Passou a ponta dos dedos na lateral da minha barriga, me fazendo rir, remexendo-me. Só sinto cócegas próximo a cintura.

— Eu também amo meu pai. Ele conta tudo para mim e Amélia, somos iguais para ele. — Assentiu, com um sorriso, com o rosto sobre suas mãos. — Sou bem pouco distante da minha mãe. Quase não nos víamos por causa do horário dos nossos trabalhos. Eu ia, ela dormia. Eu voltava, ela ia. Apenas nos domingos que conversávamos. Mas era bom.

— É bom — corrigiu-me, fazendo carinho no meu ombro esquerdo. — Ela está viva.

— Sim, é verdade. — Era muito melhor pensar apenas dessa forma. — Muito obrigado. — Katniss sorriu gentilmente, dando um beijo na minha bochecha, sentando-se ao meu lado, de frente para mim. Sentei-me também, olhando em seus olhos.

— Como está Prim? — perguntei. — Faz tempo que ela não aparece, apenas no almoço.

— Ela está bem, graças a Deus — garantiu, até mesmo suspirando aliviada. — Mas está muito atarefada com os estudos. E cuidando da...

Buttercup no segundo seguinte pulo em meu colo, e eu ri alto, pegando-a com cuidado a cachorrinha que me olhava com um sorriso, mostrando a língua risadinha. Seu pelo estava aparado, mas era claro que seus pelos são brancos com dourado.

— Buttercup — Katniss terminou, revirando os olhos entediada com a presença do animal entre nós. — Não gosto de você! — exclamou para o cachorrinho, que latiu, ainda sorrindo para ela. — Ridícula.

— O que há, amor? — perguntei para Buttercup, sorrindo. Ela era adorável, e como se soubesse o que eu dizia, latiu de volta umas cinco vezes, animadíssima. Ri, recebendo seus "beijos" de bom grado.

— Ela não gosta de ninguém — avisou a Princesa com um sorriso impressionado. — Por que gosta de você?

Dei de ombros, soltando a bolinha de pelos, que saiu correndo e latindo animada, indo fazer xixi atrás da moita. Ela é muito discreta.

— Prim me disse que você quem a encontrou. — Neguei com um sorriso torto bem calmo.

— Buttercup quem me encontrou. Eu estava esperando sua irmã para irmos passear, quando pulou em meu colo de repente, latindo. Aí ficamos brincando.

— Fascinante... — murmurou, olhando na direção da cachorra, que saiu correndo de novo, na direção dos guardas, balançando o rabo todo bege, aos risos.

Toquei sua cintura, fazendo-a se virar para mim, olhando diretamente para a minha boca, e eu para a dela, coberta por um batom roxo escuro. Deixava seu rosto um pouco mais claro.

— Tem alguém por perto? — sussurrou, fechando os olhos. Olhei em volta. Ter, tinha, mas não nos olhavam.

— Ninguém — respondi, e ela abriu um sorriso, entreabrindo as pálpebras, fechando-as novamente.

Inclinei-me um pouco, beijando seus lábios, apenas um selar, mas demorado. Afastei-me com um sorriso, abrindo os olhos. Era como se um milhão de coisinhas estivessem dentro de mim, e eu estivesse levando um longo choque, pois meu coração batia fora de ritmo, apressadíssimo. Uma das melhores sensações da vida.

— Deve me dizer no que não é boa se não quer que eu me apaixone. — Sorriu grandemente, com as bochechas coradas. O sol cedeu seu lugar para lindas e brilhantes estrelas.

— Essa é a minha intenção — falou, piscando. — Mas saiba que quando o assunto é definição de estratégias militares, sou uma droga!

— E em mais o que a senhorita é péssima? — perguntei, colocando uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha.

— Talvez cozinhando — falou pensativa. — Acho que sou um terror.

— Já cozinhou? — perguntei rindo.

— Não! As mesmas pessoas que te servem, me servem também, e me deixam sedentária. — ri mais, assentindo.

— Nunca nem pensou em… fritar um ovo?

— Nem sei o que usam para fazer isso. — Olhei boquiaberto para ela.

— Eu sei fritar um ovo! — falei, chocado. — Só isso e miojo, mas... Aaaahhh! — Sacudi-a pelos ombros, fazendo-a rir divertida. — Você é imprestável demais! Tem noção disso, Princesa?

Ela gargalhou, jogando a cabeça para trás.

Voltei a me deitar, e ela colocou a cabeça em meu peito, então, coloquei um braço sobre seus ombros, beijando o alto de sua cabeça, e com o outro, brincávamos com nossas mãos, olhando-as entrelaçadas, outrora a ponta dos dedos juntas, sentindo um gentil choque percorrer-nos através dos capilares, indo para nosso corpo inteiro.

— E mais o quê? No que mais o que é ruim? — perguntei, olhando na direção que ela olhava, para a copa das árvores corretamente podadas.

— Descobri uma coisa recentemente...

— Conte-me.

— Descobri que... — Virou o rosto em minha direção, com a cabeça deitada sobre meu peito. — Sou um completo fracasso em ficar longe de você. Um problema muito sério.

Sorri torto, fazendo carinho em seu cabelo.

— E já tentou? — perguntei, arqueando uma sobrancelha, divertido. Ela mordeu o lábio, com um sorriso, fingindo pensar.

— Bom... Não. E não espere que eu vá começar.

Rimos baixo, abraçados. Era tão fácil, nesses momentos de sorrisos sinceros, me imaginar ao seu lado pelo resto da vida. Sua presença era mais anestesiante do que morfina, embora eu nunca tenha tomado uma. Falam que é a anestesia mais forte.

Ouvimos o farfalhar das folhas, então, mesmo que não estivéssemos fazendo nada de errado, e sim estamos de maneira aceitável, me sentei, cruzando as pernas, e ela fez o mesmo. Um guarda chegou, incomodado por nos incomodar.

— Alteza — ele disse, depois de fazer uma reverência. — Não é adequado a permanência da senhorita depois das sete da noite por causa dos rebeldes. Eles podem...

— Tudo bem, muito obrigada, Legend — ela gracejou. — Já estamos entrando. Boa noite.

Ele a reverenciou, então saiu.

— Outro defeito meu: estou perdendo a droga da minha paciência com os rebeldes. Estou cansada de pensar mais do que eles. Estão corroendo minha paz interior!

Me levantei e estendi a mão para ajudá-la, e ela aceitou de bom grado. Ajudei-a a sacudir a toalha, sem deixar de notar sua expressão irritada e incomodada. Dobrou a toalha com raiva, quase rasgando-a, segurando com a mão esquerda.

— Hey — chamei sua atenção, com minhas mãos atrás das costas, um pouco corado. — Eu me diverti. Sempre é bom passar um tempo com você.

Ela apenas balançou a cabeça em concordância, com os olhos brilhantes por causa das lágrimas que brotavam em seus olhos.

— É sério — falei novamente, segurando seu antebraço. — Deveríamos fazer isso muitas outras vezes.

— Gostaria que as coisas fossem mais fáceis, mais normais.

Abri um sorriso torto, risonho.

— Desculpe-me, vossa Alteza. Odeio ter que lhe revelar isso, mas acontece que mesmo sem os guardas e palácio, a senhorita não seria normal.

Ficou mais suave em minhas mãos, mas continuava séria.

— Você me amaria, talvez, se eu fosse normal. — Suas palavras eram quase uma ofensa para mim.

— Se você fosse maluca ou normal, não muda o fato de que eu te odiava desde o princípio, mas agora eu gosto de você de verdade, e não mudaria absolutamente nada.

Olhou em meus olhos, com as bochechas rosadas.

— Sério? — Assenti.

— Você é incrível do jeito que você é — respondi, olhando dentro de seus olhos. — E está tudo bem. Por que fazer algo normal? Seja você mesma, e alguém te amará assim. Com ou sem esses vestidos pomposos, com ou sem os guardas, com ou sem os olhos cinzas. É bem difícil de acreditar, dadas nossas circunstâncias atuais, mas...

— Tempo. Eu sei. E estou disposta a dar esse tempo para você. Só quero ter a certeza de que irá querer estar ao meu lado quando esse tempo acabar.

Eu não tinha poder nem sobre minha vida. Poderia morrer a qualquer momento, mas pela confusão que se apossa de mim em todos os momentos do dia dos quais não estou preocupado em resolver alguma equação exponencial, ou desenvolvendo melhor meu espanhol, penso em como meus pais e irmãos estão, daí paro e olho para o meu coração. Delly ou Katniss? É um verdadeiro inferno que estejamos nisso, porque as duas me fazem bem. As duas querem o meu bem. As duas me entendem. As duas são pacientes. As duas quase me amam. E eu? Bom, eu poderia dar a vida por qualquer uma delas em um piscar de olhos.

E por essas razões, não sou capaz de prometer nada.

— Katniss — sussurrei, ao ver que ela havia se sentido rejeitada por eu não ter respondido. — Não posso dizer isso. Eu só quero saber se há possibilidade de...de... — gaguejei, fechando meus olhos, tentando me lembrar da palavra adequada. Nunca fora parte de minha personalidade saber usar as palavras com exatidão.

— Nós...? — Katniss sugeriu, olhando curiosa para mim, com os seus olhos grandes e redondinhos.

— Sim. — Sorri com a sua sugestão, que era o que eu queria dizer. — Só quero saber se há a possibilidade de um "nós".

Ela ajeitou o meu cabelo, tirando uma mecha da frente dos meus olhos, colocando para cima com seus dedos pequenos e um pouco gordinhos — que me deixam embasbacado, porque nunca vi dedos tão fofinhos —, sem me olhar nos olhos.

— Penso que as chances são animadoramente grandes — disse, sem rodeios. Sorri.

— Eu também penso assim — falei de forma sincera. O problema era que toda a vez que eu via Delly pensava diferente. Que droga. — Só um tempo, tudo bem?

Katniss assentiu, serenamente. Parecia mais feliz, com um sorriso no canto do rosto, e era assim que eu queria terminar a nossa noite, com esperança. Ou, talvez algo a mais. Olhei para seus lábios, e ela mordia o inferior, meio corada.

Sem evitar, com uma das minhas mãos já em sua cintura, ela apenas se inclinou um pouco, e nos beijamos. Foi um beijo terno e calmo, mas eu queria beijá-la por horas e horas, na intenção de saber se o desejo poderia ser aplacado. Seus beijos despertavam o desejo de muitos outros. Eu me sentia inteligente, um cara bem legal, só com a calma e gentileza que ela me olha. Durante os nossos beijos, eu tentava adorá-la. Uma de minhas mãos faziam carinho em sua cintura, e outra em sua nuca, trazendo-a para mais perto.

Antes que pudéssemos dar início a outro beijo, ela se afastou com um sorriso, passando o polegar de forma adorável na minha boca.

— Te sujei com o meu batom.

— Age como se eu me importasse. — Riu, junto comigo. Deixei que deslizasse seus dedos pela minha boca, porque seu toque era bom. Não era maldoso, embora por seu olhar eu notasse algumas segundas intenções. Ela era inocente da forma mais linda do mundo.

— Temos que ir antes que os guardas e pacificadores invadam o jardim com cavalos e armas de alto porte. — Ri, assentindo, querendo prolongar esse momento que passávamos juntos, mas não podíamos. — Prometo marcarmos algo em breve. Amanhã de manhã, antes do café. O que acha?

— Olha, o lugar que vai me levar tem que ser no mínimo perfeito, porque o café é às oito da manhã, eu acordo sete e meia. Que horas vou ter que acordar? — Ela riu, escondendo o rosto na curva do meu pescoço.

— Quem disse que vamos tomar café com os outros? — perguntou maliciosamente. — Tenho um lugar muito show pra te mostrar. Gosta de chá? — Fiz uma cara de poucos amigos, e ela riu mais uma vez. Peguei a referência quando Delly a chama de Sorriso. — Ok, e de... — Fez uma expressão pensativa, enquanto caminhávamos para as portas de entrada do Jardim, entrando no palácio mais uma vez. — Chocolate quente?

— EU SOU ALÉRGICOOOOO! — Balancei-a, fazendo ela rir alto como quase sempre. — Gosto de refrigerante.

— Bate aí! — Estendeu sua mão, que bati na minha, fazendo um estalo. O tamanho de nossas mãos mediano se compararmos. Acho minhas mãos pequenas, são apenas cinco centímetros maiores que as de Katniss. É quase humilhante.

— Sua mão é tão fofinha!

— Eu sabia que você ia falar disso. — Ri dela, colocando a cabeça em seu ombro. — Pensei nisso agora. É ridículo.

— Não é porque não parece mão de mulher. Se você não cobrir com luvas e deixar as unhas crescerem. — Ri, assentindo. — Mentira. Você tem mãos bonitas. Acontece que é diferente das dos demais, com mãos grandes. Sua mão é mediana.

—...quase como de um anão — resmunguei. — Mas é melhor do que não ter um dedo. Ou menos três. Ou ter um a mais. — Ela riu, concordando.

— Espero vê-lo em breve. Esteja no terceiro andar às seis e quarenta. — Piscou para mim com um sorriso, quando paramos em frente as escadas.

— Mas no terceiro andar...

— Shhhh! — Tocou meus lábios com o indicador. — Estou te mandando fazer isso! — Sorri, então se afastou com um sorriso torto. — Até amanhã de manhã se Deus quiser.

— Até — respondi sorrindo, começando a subir as escadas enquanto ela seguiu seu caminho para a esquerda, e sozinho, subindo a escadaria, me senti cansado e sozinho, quando fiquei totalmente desperto de novo.

— Oh! — Delly disse, junto com Stefan, que estavam no sofazinho entre duas poltronas, antes de haver as quatro portas de quartos. Semicerrei os olhos, observando Stefan entrar no meu quarto depois de um sorriso com a minha ex-namorada. Acho bom que tenha sido apenas uma conversinha. — Aí está você.

Sorri, e não sei por que, mas fiquei envergonhado de falar com ela. Senti minhas bochechas pegarem fogo.

Ela então notou que eu estava lá fora. Limpou a garganta, pondo uma mecha de cabelo atrás do cabelo, tensa.

— Vocês se divertiram?

— Delly — cochichei, olhando em volta. Gale ou Cato poderiam abrir a porta a qualquer segundo, então estaríamos perdidos —, não fique brava comigo. Faço parta da Seleção e as coisas são assim.

— Não se esqueça de mim — pediu em um sussurro, segurando meu antebraço, para frisar suas palavras.

— Nunca — garanti, balançando a cabeça. A gente nunca esquece do rosto da pessoa que representou nossa última esperança. Delly sempre esteve comigo, nos meus piores e melhores momentos, quando estava doente ou saudável. Mesmo que eu venha a me esquecer do nosso amor, não me esqueceria dela e de que devo minha vida pela sua.

Ela não teve coragem de dizer, mas moveu os lábios em um "eu te amo", fazendo com que eu disfarçadamente perdesse o ar. Que sacanagem ela e Katniss faziam comigo.

— Até o final de dezembro — garanti, olhando em seus olhos que só encontro nela. — Não vai demorar.

— Eu posso te dar tempo. Só... tente achar tempo para mim também. — Assenti. Ela estava certa. Não pedia um romance. Pedia nossos momentos de cumplicidade e amizade de volta estabilizados com nossos 18 anos de idade. Katniss e eu entendíamos toques, olhares, bilhetes — embora eu ficasse confuso ainda —, mas há uma coisa além entre eu e Delly, claro.

— Preciso ir. — Beijei sua bochecha, pois todos sabiam que já nos conhecemos desde casa porque a princesa disse isso para suas maquiadoras e cabeleireiras, porque são amigas.

— Ok. Boa noite. — Sorri, desejando-a o mesmo, e entrei em meu quarto, onde os três irmãos estavam em um canto conversando serenamente enquanto faziam ajustes nas minhas roupas futuras.

— Gente — chamei-os e na mesma hora me olharam. — Olha, a princesa me chamou ora sair às seis e meia da manhã, para encontrá-la no terceiro andar. Disse que vamos em um lugar diferente. Fazem alguma ideia de onde seja isso?

Eles trocaram olhares que somente eles entendiam.

— Ok. Nós vamos te acordar. Tem batom roxo na sua bochecha. — Stefan disse rindo, como as meninas, e eu fiquei ainda mais vermelho, enquanto eles riam ainda mais.

Passei desesperadamente as mãos pelas minhas bochechas, e eles riram ainda mais.

— Você é branco pro amarelado, ai fazendo isso, fica parecendo branco pro avermelhado. — Júlia disse rindo, jogando a cabeça pra trás.

— Aaaah! — bufei, tirando o sapato, indo para a varanda, me sentando no cantinho, longe da porta, podendo espiar o jardim daqui.

— Desculpa! — Layla disse, aparecendo. — Mas é que é engraçado. Você se envergonha muito facilmente.

— Só vocês pra me fazerem rir da minha desgraça. — Ri, balançando a cabeça em negativa. Ela sorriu.

— Seu jantar está sobre a cama. Estaremos aí às seis, ok? — deu um beijo no alto da minha cabeça, então se afastou aos pulinhos. Era como uma irmã, definitivamente.

...

Na manhã seguinte, eu estava com muito, muito, muito sono, porque eu dormi cedo, ou seja, dormi muito, e por essa razão quero voltar a dormir de novo.

Apenas Júlia e Layla apareceram de manhã, comentando sobre Stefan estar de cama.

— O que ele tem? — perguntei enquanto ajeitava a manga da camisa.

— Gripe — Layla respondeu, balançando a cabeça em negativa. — Mas não pode ficar muito tempo em casa, ou vão colocar isso na conta com preços abusivos.

Franzi o cenho, sério.

— Por quê?

— Porque somos escravos do Governo — Júlia disse, enquanto Layla estava segurando as lágrimas. — Temos uma dívida com o país por causa de nossos pais, como Stefan te contou. — Assenti, querendo que fosse apenas uma mentira, pois era inacreditável. — E todas às vezes que ficamos doentes, ou cansados demais para exercermos o nosso trabalho, cuidam de tudo, mas em compensação, cada remédio, cada hora dormida, cada coisa que gastarmos, pagamos em dobro.

— E se... morrerem? — A palavra morte nunca foi muito forte para mim, e sim um alívio, mas dadas circunstâncias, era algo assombroso.

— Não podemos nos dar esse luxo. Queimaram os corpos de nossos pais e jogaram no colo de Stefan em uma bolsa plástica fechada. — Prendi o ar. — Conosco, talvez joguem no lixo.

— Já que não temos ninguém — Layla começou, segurando as lágrimas. — Nem sabemos o que podem fazer. Temos que trabalhar para pagar a dívida, então termos a tão querida carta de "alforria". Ele virá à tarde, ok?

Balancei imediatamente a cabeça em negativa, indo até a porta.

— Quanto falta para quitarem a dívida? — perguntei, tentando disfarçar minha indignação e revolta.

— Sete anos de trabalho — Júlia respondeu, um pouco sem graça. Eles estariam livres aos 25 anos. Perderam a infância e adolescência, não podem perder o início da juventude.

84 meses equivale aos sete anos de trabalho, com 1.800 dólares por mês, multiplicado por três, 5.400 dólares era o valor que pagavam, tendo apenas 200 para gastarem com bens próprios. Pela habitação e alimentação, arredonda-se, o que significa que eles devem ao governo aproximadamente 500.000 dólares.

Uau, pensei comigo, como eu consegui fazer todos esses cálculos em tão pouco tempo? As aulas de Resolução de Problemas Matemáticos estão sendo realmente úteis!

— Se o Stefan aparecer aqui mais tarde, eu vou ficar muito aborrecido — falei bem sério. — Quero que vocês descansem, e não se preocupem com isso. Hoje mesmo eu recebo o meu dinheiro da Seleção, e pagarei o mês de vocês três.

— Não preci... — Layla começou, a um passo de chorar.

— Vocês não podem continuar vivendo dessa forma. Nunca me deixaram na mão, muito pelo contrário. Deixem que ele descanse, e com o dinheiro que vou receber, vou comprar o que precisarem também.

— Sua família precisa bem mais que nós — Júlia disse.

— Não precisa não. Meu pai já comprou os remédios para a minha mãe, financiou tratamentos. Metade do que ganho ir pra casa esse mês não faz diferença alguma. Eles querem que eu gaste com algo para mim, então estou fazendo isso por vocês. Tentarei resolver isso ainda hoje. — olhei nos olhos delas, que estavam emocionadas. — Prometo que vou fazer vocês serem livres o quanto antes.

Saí do quarto, fechando a porta um pouco enraivecido, vendo os criados de Gale e Cato virem, desejando-me bom dia, assim como eu.

Subi as escadas rumo o terceiro andar, e estava apreensivo, embora um pouco — muito — relaxado com a situação dos meus amigos agora, que poderiam dormir em paz esta noite, mas eu tinha medo do retumbar do meu coração inquieto para ver Katniss logo pela manhã, coisa que não aconteceu quando fomos na cachoeira.

— Oi. — então ouvi sua voz, e me virei com um sorriso. — E aí? Como vai? — perguntou, entrelaçando seu braço ao meu, nos encaminhando para o norte do andar, toda polida, com guardas nos acompanhando.

— Eu vou muitíssimo bem, tirando o fato de algo que aconteceu com os meus amigos daqui. — se eu tinha a chance, era minha obrigação falar. — E isso me deixa descontente.

— O que houve? — perguntou franzindo o cenho, olhando para a frente. Tinha vezes que eu não a reconhecia quando usava a pose de rainha, como agora.

— Stefan ficou doente, está de cama, mas não pode descansar porque tem uma dívida para pagar com o país.

— Irmão daquela baixinha de cabelo cacheado? A La...

— Layla — concordei, com um simples aceno.

— Essa vai ser a primeira coisa que mudarei quando assumir o trono, você verá! — disse ficando vermelha de raiva. — Não aceito escravidão em pleno século 22! — Senti seu braço tenso e as expressões de seu rosto severas.

— Calma... — pedi, com a mão esquerda, já que a direita estava na altura do meu peito porque nossos braços estavam entrelaçados, e fiz carinho nas suas mãos. — Pode se revoltar, mas não precisa tanto. Cuide da sua saúde. — lembrei–a, preocupado, sentindo que sua temperatura corporal já havia aumentado gradativamente.

— Ok... — Parou de caminhar, e eu também, observando-a fechar os olhos, puxando um pouco ar pelo nariz, soltando pela boca, duas vezes seguidas. — Pronto. Voltei. Eu pagarei a dívida que eles têm no mês que vem, mas não os conte. Sei a razão de estarem aqui, e não é nada justo que continuem dessa forma. Pagarei cada centavo.

— Não seria mais fácil ausentá-los do pagamento? — perguntei, voltando a caminhar.

— Não posso fazer muito, pelo incrível que pareça. Não posso fazer isso sem a permissão da minha mãe, que não vai deixar, até porque não vou perguntar nada. Recuso-me a falar com ela. — Era um assunto complicado, falar sobre sua família. Não contei o que sua mãe me disse, pois percebo que ambas possuem problemas muito sérios entre si mesmas.

— Mesmo que não resolva isso, eu só queria pedir para ajudar a quem não está aqui por livre e espontânea vontade, entende? As coisas aqui funcionariam melhor se eles aceitassem que o fato de ficarem doentes de vez em quando é normal, e não precisam ficar desesperados com isso.

— Você está certo. Muito obrigada, amigo — disse, virando-se para mim, olhando dentro dos meus olhos. — Eu sabia que haviam pessoas que não estavam aqui por querer, mas também não sabia que era dessa forma.

— Não há de quê — falei. — Só quero ajudar.

Caminhamos em um silêncio confortável, ouvindo a movimentação dos criados, o som dos nossos passos no piso, até que me levou para uma sala pequena, com muitos quadros deslumbrantes.

— Promete não contar para ninguém? Apenas um punhado de guardas e criados sabem a existência disso aqui.

— Prometo. — Ela sorriu, então pressionou levemente um quadro de pintura, que, assim como para ir para o esconderijo, a parede se afundou um pouco, então deslizou para a esquerda.

Ela deu uma risadinha com a minha expressão embasbacada. Sorri.

— Essas drogas de degraus... maldito seja quem os fez! — praguejou, tentando subir a escada, onde os degraus tinham mais ou menos quarenta centímetros.

— Espera, deixa eu ir na frente. — ofereci meu braço rindo, mas também encontrei dificuldades para subir. Quando pisamos no terceiro e último degrau, a parede voltou ao normal.

— Uau... — Não consegui evitar que a admiração saísse pela minha boca ao ver diversos livros devidamente organizados.

— Bem-vindo à minha biblioteca — Apresentou–me a princesa, correndo animada, dando pulinhos e voltas. Acho que 25% de maconha como uso medicinal é demais pra ela, mas era clara a sua felicidade.

— É uma linda bibli... — Esqueci-me do nome, não me era tão familiar.

— Biblioteca — repetiu com um sorriso bem gentil. — Pode me perguntar qualquer coisa, que saberei responder. Se eu não souber, sei onde encontrar.

Pense, pense! Dê algo que a faça passar mais tempo com você!

— O que é... Halloween? — perguntei, arqueando uma sobrancelha, com um ar de espertão.

— Halloween? — franziu o cenho, pensativa. — Ok, disso eu não sei, mas vem aqui. — Atraiu-me com uma mão para uma escrivaninha com uma tela menor que a de uma televisão, mas relativamente maior que a do celular, e com um teclado fino, não mais grosso que um dedo, com todo o alfabeto e os sinais ortográficos, digitou a palavra, que imediatamente apareceu na tela.

Halloween - Significado

s.m. Dia das Bruxas. Festa que ocorre oficialmente no dia 31 de outubro, presente em alguns países de cultura anglo-americana, em que crianças saem fantasiadas à noite em busca de "doces ou travessuras"; festa das bruxas.   

(Etm. do inglês: halloween)

— Hm... — Ela parou para pensar. — Gosto de fantasias!

— Eu gosto de doces. — Ela riu assentindo, e eu a acompanhei na risada. — Nunca vi alguém fantasiado. Só descobri o que era a fantasia de papai noel aos doze anos, quando Caesar apareceu fantasiado e disse que era fantasia. Sabe como ele se veste, e que o negócio é tenso.

Desta vez, ela gargalhou, batendo palmas.

— Você é ridículo. — Concordei, com um sorriso torto sincero.

— O que vai fazer com essa informação? — perguntei, olhando para as prateleiras bem preenchidas. — O que são esses livros com fitas vermelhas?

— Livros proibidos. Mas você pode pegar. — Puxei cuidadosamente um deles que Katniss havia sinalizado, e quando verificou no computador, pediu para abrir na página 45, encontrando a foto de um jovem senhor com sua esposa, com os olhos mortos, como se a sua vontade de viver tivesse acabado a muito tempo, uma menina em seus 12 anos, e um garotinho de 5 anos. As crianças riam, fantasiadas de bailarina e astronautas, respectivamente, enquanto os pais tinham um simples sorriso, parecendo forçados por permanecerem um ao lado do outro. Me lembram os pais de Delly.

"Meus filhos não sabem de muito do mundo afora, não permito que saibam, para não se escandalizarem, mas é vulgar que em plena quarta guerra mundial queiram celebrar uma festa que vai totalmente contra nossa atual situação econômica, política e social. Mas é aniversário de Anna Elisa. Escolheu vestir-se de bailarina, e Pietro, que é o único irmão dela — e amigo —, optou por vestir-se de astronauta, como se pudesse ultrapassar do Céu algum dia.

Mas o Halloween é algo agradável. Doces foram distribuídos por Los Angeles. Não queremos e nem podemos ter novas façanhas contra a Realeza. Dê muita corda ao povo, que lhes farão uma forca."

— Ai meu Deus... — murmurei, vendo a capa do livro. — É o diário do Antony Panem!

— Sim, é sim! — ela disse sorrindo. — Quer ler?

— Claro! Mas não sei se devo... — Aproximou-se de mim, segurando meus braços.

— Você não pode mostrar para ninguém, ninguém. Apenas você pode saber disso, ouviu? — Assenti, vendo que se eu perdesse aquilo, sairíamos comprometidos. Mas mais ela do que eu. — É proibido ler os com adesivo vermelho. Só temos 12 impressões deste diário por Panem inteira, que se cair em mãos erradas, o País cai junto. — O tom de sua voz diminuiu, inclusive, apenas para sinalizar o quão importante era.

— Acho melhor ficar aqui com você — falei, entregando-a o livro. — Sou perigoso quando se trata de ser discreto.

Ela sorriu.

— É verdade, mas confio a você esse livro. Uma semana é suficiente? — assenti imediatamente, com um sorriso torto.

— Obrigado! — Beijei instintivamente sua boca, então fiquei quente como fogo, envergonhado como um avestruz. — Me perdoe, foi sem que...

Ela colocou as mãos na minha nuca e me beijou intensamente, de forma que eu correspondi, é claro, de modo que deixei o livro na mesinha.

Foi um beijo tão caloroso e bom, que fiquei — literalmente — surdo por cinco segundos, com meus olhos fechados e lábios entreabertos.

— Não suma com o livro — sussurrou, e eu não ousei abrir os olhos, com uma mão em suas costas cobertas por uma camisa social feminina lilás. Não queria atrapalhar nada.

— Não vou.

Senti ela sorrir, então segurou minha mão e me levou para o sofá que tinha lá, e na outra mesinha de frente, uma bandeja com diversas comidas.

— Sem cacau. Não se preocupe. — Sorri, sentando-me ao seu lado.

Seus dedos procuraram os meus, e eu estendi, entrelaçando nossas mãos, dando um leve aperto, sinalizando que eu estava com ela, sentindo um choque percorrer todo meu corpo, como se estivéssemos presos. Olhei em seus olhos, e sabia que uma hora ou outra tudo aquilo chegaria ao fim, só não sabíamos se seria nós juntos ou separados.

A Elite havia nos aproximado de forma que nem eu esperava, e não sei se ela pensa da mesma forma. Só sei que se continuarmos conversando nessa frequência — não estou dizendo sobre a parte de relacionamento não, estou me referindo a parte geral mesmo, sobre comida, política, rebeldes —, a Seleção pode chegar ao fim, e ela com uma aliança na mão esquerda.




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Notas finais do capítulo

O que acharam do primeiro capítulo da segunda parte, pessoal? *sorriso torto* Terminei de ler A Elite - que, oh, Céus, como enrolou! - e prometo tentar ao máximo não prosseguir com isso aqui, está bem? Estou com oito capítulo em mente para essa segunda parte.
Muito obrigada a todos que comentaram no capítulo anterior, estou respondendo comentários de julho de 2015 de uma outra fic, mesclado com comentários dessa de dezembro de 2015, mas todos serão respondidos, ok? *sorriso* Eu fiquei super motivada com os comentários! E olha, os ventos estão ao favor de Peetniss!
Aos spoilers!
Poema: A amizade
é o mais belo afluente do amor,
ela ajuda a resolver,
com paciência,
as complicadas equações
da convivência humana.

A amizade
é tão forte quanto o amor,
ela o educa,
sinalizando o caminho da coerência,
apontando as veredas da justiça
controlando os excessos da paixão.

A amizade
é um forte elo que une pessoas
na corrente do querer.

Amizade
é cola divina,
cola demais,
pode doer.
A amizade
tem muito mais
juízo que o amor,
quando ele se esgota
e cisma de ir embora,
ela se propõe a ficar
vigiando
o sentimento que sobrou.
— Ivone Boechat

"— E o senhor? — Gale perguntou, com seus olhos cinzas que brilhavam em curiosidade. — Como acha que a princesa gostaria da própria festa de casamento?
Ele sorriu mais uma vez, balançando a cabeça em negativa.
— Ela nunca planejou seu casamento. Não que eu saiba. Sempre esteve preocupada demais com quem se casará e os seus sentimentos serem absolutos. Ela acha mais importante a pessoa com quem vai passar o resto da vida do que com a festa. — Levantei os olhos, que estavam em minhas mãos, pois eu não sabia em que fixar os olhos, embora as pinturas e fotografias da família real sejam realmente fascinantes."
E é issooooo! *piscada* Tentarei terminar o capítulo o mais rápido possível, que vai ser bônus, então, os spoilers acima.
Nota: Uma pessoa mencionou uma pessoa nos comentários, de quem gostaria um Pov, e pode ter certeza de que o seu pedido será atendido! ♥
Beijos! Beijos! Eu amo vocês, e sou extremamente grata por tudo o que me dizem nos comentários e por não deixarem de acompanhar a fic ♥ ♥
obs.: significado de Halloween retirado do dicionário Dicio! :)



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