Infelizmente a vida nos prega peças que, na maioria das vezes, não são boas. Você é obrigado a aprender a lidar com as circunstâncias mesmo que não queira, simplesmente porque o destino quis assim.

Muitos vivem a suas vidas sem saber por que estão aqui, sem saber o seu propósito. Alguns acreditam que as pessoas são enviadas para a terra com uma missão, outros acreditam que tudo na vida é mera coincidência, enfim, não estou querendo questionar crenças, mas nada acontece sem um motivo, então, se estamos aqui é porque alguma função nós temos.

Estávamos na metade das nossas férias de julho, aquelas tinham sido as melhores duas semanas da minha vida. Foram férias diferentes das que eu estava acostumado até então; pela primeira vez não amanheci na farra, não cheguei em casa bêbado e vomitando, tampouco briguei com a minha mãe. Todavia, foram dias memoráveis, visto que os passei ao lado de Sakura, curtindo aquela fase maravilhosa que é o primeiro amor.

Aquele dia ficou marcado na minha mente como um dos mais tristes da minha vida, mas foi naquele dia que descobri o quanto era verdadeiramente apaixonado pela Sakura.

Passamos a tarde juntos, passeando no bosque da cidade, pois Sakura sempre amou a natureza e o ar livre. Entretanto, notei que ela não esboçava seu sorriso contagiante, nem prestava atenção em todas as borboletas que voavam ao nosso redor, assim como não elogiava todas as belas flores que tinham ali. Alguma coisa a perturbava e eu fiquei preocupado.

- Algum problema ? - Minha preocupação era quase palpável, Sakura me encarou e forçou um sorriso, mas seu olhar transmitia apenas tristeza.

- Me leva pra casa - Ela pediu com a voz triste, o que fez meu coração doer.

Assenti e fomos juntos para o carro. Não questionei o porquê daquele comportamento, pensei que ela pudesse estar com dor de cabeça, ou que simplesmente estivesse naqueles dias em que as mulheres ficam mais sensíveis.

Já devia ser por volta de 18:30 quando parei em frente à casa dela, mas Sakura não desceu do carro e nem se despediu de mim. Ficou parada, com a cabeça baixa e sem dizer uma única palavra.

- Tá tudo bem ? - Perguntei, foi quando percebi que ela chorava. Entrei em desespero na hora, imaginando até que eu pudesse tê-la magoado sem perceber - Sakura, o que aconteceu ?

- Sasuke, eu te amo tanto - Ela me olhou com os olhos encharcados - Te amo tanto... Não consigo mais enganar você desse jeito.

- Como assim ? - Fiquei completamente confuso e senti meu coração bater mais forte.

- Eu tenho câncer - Sakura jogou a bomba na minha cabeça e eu não soube o que pensar. Arregalei os olhos, minha respiração falhou, senti um nó na garganta e minhas mãos suaram frio.

- Isso é brincadeira, não é ? - Sorri forçado, rezando para que ela estivesse apenas curtindo com a minha cara.

- Não - Ela negou com a cabeça e meu sorriso se perdeu. Imaginei que ela pudesse ter descoberto o câncer há alguns dias e tentei ficar tranquilo, pois tem tratamento e muitas pessoas sobrevivem. Sakura era jovem e saudável, teria muitas chances de sobreviver.

- Mas, você vai fazer quimioterapia, não é ? - Indaguei esperançoso - Você vai sair dessa.

- Você não entende ! - Bradou em prantos - Descobri há algum tempo que tenho leucemia e não reajo mais aos tratamentos... Não tem mais jeito, Sasuke... Não tem jeito.

Ela chorava e soluçava como uma criança pequena. Meu coração ficou apertado, eu não sabia o que dizer, mas, mesmo se soubesse, era como se as palavras não saíssem da minha boca.

- Isso não pode ser verdade... - Sussurrei incrédulo, sentindo as lágrimas que queriam sair.

- Sinto muito, Sasuke... Eu não queria te envolver nisso, pois sei que tenho pouco tempo... Eu não queria que você sofresse... Por favor, me desculpa.

Eu estava sem reação, meus pensamentos estavam embaralhados e eu tentava digerir aquilo tudo. Não consegui olhar para Sakura, fitei o volante do carro e fiquei daquele jeito por uns minutos enquanto o silêncio reinava no carro, apenas os soluços e suspiros da rosada podiam ser ouvidos.

Sakura abriu a porta do carro e saiu correndo até sua casa, me deixando sozinho com meus pensamentos que tanto me torturavam naquele momento.

Dei partida no carro e fiquei andando sem rumo pela cidade, correndo pelas ruas como se aquilo fosse aliviar a dor de alguma forma.

Cheguei em casa tarde da noite, as luzes já estavam todas apagadas e minha mãe com certeza estava dormindo. Me sentei nas escadas, escorei a cabeça na parede e me acabei em lágrimas.

Não podia crer que aquilo estava acontecendo, queria acordar e perceber que tudo não tinha passado de um terrível pesadelo... Mas aquilo era real, Sakura estava morrendo e eu não podia fazer nada para mudar isso.

- Sasuke ? - Minha mãe acendeu a luz do corredor e eu olhei para cima, vendo minha progenitora descer as escadas preocupada e se sentar ao meu lado - Querido, o que aconteceu ? Por que está chorando desse jeito ?

- Mãe, me abraça - Pedi em prantos e abracei a minha mãe com todas as forças.

- Meu amor, o que aconteceu ? Aonde você estava até uma hora dessas ? - Ela passou a mão delicadamente pelas minhas costas e enxugou minhas lágrimas quando separamos o nosso abraço, mas eu simplesmente não conseguia mais parar de chorar.

- A Sakura tem câncer, ela vai morrer... - Eu soluçava tanto que nem sei como minha mãe compreendeu o que eu disse.

- Meu querido, se acalma, tem tratamento, ela não vai...

- Mãe - Interrompi - Ela já sabe disso há um tempo e só agora me contou - Minha mãe arregalou os olhos, também foi um choque enorme para ela - Os tratamentos não fazem mais efeito... Ela tem pouco tempo.

Minha mãe não disse nada, afinal, não havia o que ser dito, não existiam palavras capazes de amenizar tal dor. Ela apenas me abraçou por longos minutos enquanto eu apenas chorava inconformado.

Não sei por quanto tempo ficamos sentados naquela escada, mas foi bastante. Minha mãe me ajudou a levantar e me acompanhou até o meu quarto, onde eu me deitei na cama e abracei o travesseiro. Após me deixar na cama, a mulher saiu do quarto, mas voltou rapidamente com um copo de água nas mãos, me entregou o objeto e eu tomei de uma vez todo o líquido transparente e adocicado. Era água com açúcar.

- Tá mais calmo ? - Ela perguntou após eu colocar o copo vazio sobre o criado mudo.

- Não - Admiti com a voz chorosa.

- Querido, não fique assim - Ela se deitou ao meu lado e eu a abracei - Se você realmente a ama, então fique ao lado dela - Falou enquanto acariciava meus cabelos - Não abandone a Sakura nesse momento difícil.

- Jamais a abandonaria, mas, como vou olhar para ela de agora em diante ? Cada dia que eu vê-la vou ficar imaginado que é o último... Eu não quero que ela morra !

- Filho, nós nascemos, crescemos e quando chega a nossa hora nós morremos; é o ciclo natural da vida.

- Mas ela precisa morrer tão cedo ?

- Se é difícil pra você, imagina como deve estar sendo pra ela... Sasuke, fique ao lado da Sakura e mostre que você realmente a ama.

- Eu sempre vou ficar ao lado dela, sempre...

Fazia muito tempo desde a última vez em que eu havia dormido abraçado com a minha mãe. Ela ficou ali ao meu lado durante a noite toda, e eu sei que ela não saiu dali, uma vez que quase não dormi.

Chegava a ser bizarro imaginar que uma garota tão nova e tão cheia de vida estava com os dias contados. Mas eu a amava e não sairia de perto dela, ficaríamos juntos até o fim de seus dias.

...

Fui à casa dela na manhã seguinte, eu estava com olheiras enormes por não ter dormido direito e também com o rosto inchado por ter chorado tanto. Minha aparência estava realmente péssima, mas eu precisava conversar com a Sakura.

Toquei a campainha e Mebuki atendeu, pela expressão no rosto da loira, ela também tinha chorado bastante.

- Eu preciso falar com a Sakura - Fui direto ao ponto.

- Ela está no quarto, pode entrar - Mebuki me encarou com a mesma desconfiança de sempre, mas eu finalmente a compreendi. Ela não queria que a filha sofresse mais, temia que eu a abandonasse quando descobrisse sobre a doença.

Pensei em conversar com a minha sogra, mas decidi ir direto para o quarto da Sakura.

Dei duas batidas na porta do quarto, mas ela não respondeu. Ainda assim, abri a porta e entrei, me deparando com a rosada sentada na cama enquanto olhava para a bailarina que eu havia lhe dado. Ela estava em prantos.

Pigarreei, chamando sua atenção. A Haruno pareceu surpresa ao me ver.

- Sasuke, o que faz aqui numa hora dessas ? - Questionou após enxugar suas lágrimas.

Realmente estava bem cedo, geralmente eu nunca acordava antes das 10:00 nas férias, mas naquele dia foi diferente, pois o que eu menos fiz foi dormir.

- Quero conversar com você.

- Olha, se você não quiser nunca mais olhar na minha cara, eu entendo ! Sei que deve estar com raiva, eu não devia ter omitido as coisas, mas é que eu já estava conformada com tudo, daí você simplesmente apareceu e virou a minha vida de cabeça pra baixo...

- Sakura - Interrompi e me sentei na cama, ficando de frente para ela e tentando manter a calma - Não estou com raiva de você e também não vou me afastar.

- Mas, mas... - Sakura pareceu realmente confusa - Pela sua reação ontem, eu pensei que...

- Por favor, me escuta - Novamente a interrompi - Você jogou uma bomba dessas na minha cabeça e sequer deu tempo pra minha ficha cair ! Que tipo de reação você esperava que eu tivesse ?

- Pensei que estivesse com raiva...

Até compreendia os motivos dela, pois eu fiquei bastante tempo calado e sem reação, mas estava digerindo a informação.

- Estou triste, magoado, inconformado... Mas não estou com raiva.

- Me perdoa - Falou chorosa e derramou novas e grossas lágrimas - Por favor, me perdoa por não ter te contado antes, mas eu tinha medo de te perder.

- Não tenho o que perdoar, você não tem culpa de nada - Puxei a rosada para um abraço apertado - Eu não quero te perder, não quero... Mas se tem que acontecer, então eu vou ficar com você até lá - Separei nosso abraço, segurei em seu rosto com ambas as mãos e olhei fundo em seus olhos - Eu te amo e jamais vou te abandonar, entendeu ?

Ela sorriu alegre, de repente não parecia mais tão triste, mas eu estava destruído e minha cabeça doía por ter chorado tanto na noite anterior.

Foi quando percebemos que Mebuki estava parada na porta com lágrimas nos olhos. Ela havia escutado toda a nossa conversa.

- Você realmente gosta da minha Sakura - Minha sogra pareceu estar realmente comovida.

- Sim - Assenti - O que sinto pela Sakura é muito forte e eu não vou deixá-la - Abaixei o olhar e senti as lágrimas caírem - Mesmo sabendo que vai doer, ficarei com ela até o fim.

- Me desculpe, Sasuke - Disse a loira, eu a olhei confuso e com os olhos encharcados - Te julguei mal, você é um ótimo rapaz... É que eu pensei que você abandonaria a Sakura caso descobrisse sobre a leucemia. Ela gosta muito de você e eu queria evitar mais sofrimento.

- Não precisa se desculpar - Passei a mão pelo rosto para enxugar as lágrimas - Agora eu compreendo que não era só implicância comigo. Eu não vou abandonar a Sakura.

- Eu te amo tanto, Sasuke... - A rosada falou emocionada.

Não seria fácil, uma vez que essa maldita doença não saía da minha cabeça. Cheguei a ter pesadelos horríveis, daqueles que você acorda chorando e com a cama encharcada de suor. Foi difícil aceitar que Sakura estava doente, mas imagino que tenha sido mais difícil para ela.

Eu queria ter lembranças boas da Sakura, assim como também queria que ela levasse lembranças boas de mim para onde fosse após a morte. Prometi a mim mesmo naquele dia que viveria cada dia ao lado de Sakura como se fosse o último.