Gillian sente que está próxima de vomitar seu coração. Ou talvez ele pare em algum momento, muito antes de Olivia entrar pela porta do bar onde ela está à espera da mesma há horas.

Se ela contasse o tempo da sua espera a partir do primeiro sonho seriam exatos 1786 dias e algumas horas. Mas se contar a partir da ligação de Gillian para encontrarem-se seria apenas alguns minutos.

Finalmente irá ter uma conversa elaborada com a morena de seus sonhos. Não apenas palavras, não apenas toques. Não será mais um de seus sonhos. É real. Gillian está acordada e espera por Olivia em um bar. Ela irá conhecer aquela mulher e não a verá apenas como um sonho ou uma ilusão, agora Gillian irá conhecer Olivia Benson, sargento da Unidade de Vítimas Especiais.

Com um copo de whisky em mãos teme não agradar a morena. Afinal sequer sabe como irá começar a conversa.

Tenta, em vão, distrair-se admirando o casal na mesa ao lado. A mulher, ruiva, possui lágrimas deslizando por seu rosto. O homem sequer olha para ela. Eles discutiram? Gillian não sabe o que se passa ali, na vida deles, sequer sabe o que se passa na dela. Gostaria de ajudar aquela mulher tão linda que chora e é ignorada pelo homem ao seu lado, mas é apenas uma desconhecida e Gillian não poderia fazer nada além de escuta-la.

Ela encara o relógio na parede do bar. Passou-se meia hora. Onde está Olivia? A morena desistira de encontrá-la? O medo de ser rejeitada era quase maior do que o de ser aceita. Gillian permanece sentada. Espera por mais uma hora, mas Olivia não aparece.

–Merda. –a loira paga as doses que tomou e se dirige para a porta de saída.

Tenta não se sentir mal, mas é impossível.

Em passos rápidos se dirige para seu carro.

–Gillian. –ela vira-se imediatamente ao ouvir aquela voz, já conhecida.

–Olivia? –ao ver a morena um sorriso abre em seus lábios.

–Me desculpe. Acabei tendo alguns imprevistos. –diz Olivia sem jeito. Havia chorado. Seus olhos ainda estavam vermelhos.

–Você está bem? –pergunta Gillian ao notar os olhos dela. Olivia estava chorando e para ela aquilo era doloroso. O que poderia ter feito aquela bela mulher chorar?

–Estou. Não se preocupe. –responde Olivia com um falso sorriso.

–Não estou convencida disto. –Gillian se aproxima de Olivia. –Que tal um vinho?

–Adoraria. –Olivia responde.

–Vamos. –a loira mostra com a mão direita o caminho até o bar, que ela acabara de sair.

As duas adentram o bar e sentam à mesa em frente à janela.

Por alguns minutos elas permaneceram caladas, até que Gillian chamou o garçom. Duas taças de vinho.

–Gostaria que fosse direta e falasse sobre o que se trata nosso encontro. –diz Olivia séria.

–Como assim? –a pergunta pegou Gillian de surpresa.

–Você foi vítima de algum tipo de abuso ou...

–Não. –Gillian sorri. –Eu apenas gostaria de conhecer-te.

–Uau. –Olivia é quem está surpresa agora, pois quase sempre é convidada para encontrar-se com alguém, mas dificilmente é algo pessoal.

–Isso soou estranho? –pergunta Gillian sorrindo. A loira fica envergonhada.

–Não. Para mim é algo novo. Sempre encontro vítimas fora da unidade, algumas se sentem mais confortáveis assim. –responde Olivia.

–É compreensível. –diz Gillian.

Ela é maravilhosa.

–Qual sua profissão? –pergunta Olivia.

–Não prendo ninguém. Mas já ajudei algumas vítimas. Sou psicoterapeuta. –responde Gillian com orgulho. Afinal sua profissão é tudo em sua vida. Seus clientes precisam dela assim como ela precisa deles.

–Jamais adivinharia. –Olivia sorri.

Por alguns segundos Gillian se perdeu naquele sorriso, mas apesar daquela manifestação de alegria os olhos da morena continuavam inchados e transmitindo infelicidade. O que aconteceu com ela?

O garçom coloca as taças sobre a mesa e as duas agradecem em um tom uníssono.

–Desculpe a intromissão, sei que sou apenas uma desconhecida para você, mas o que lhe fez chorar? –pergunta Gillian. Ela não aguenta mais aquela dúvida. E gostaria de ajudá-la.

–Não quero estragar a noite falando sobre isso. –responde Olivia após beber um gole de vinho em sua taça.

–Eu quero ajudá-la. Por favor, deixe-me fazer isso.

–Gostaria de saber mais sobre você. –diz Olivia. Ela não revelaria suas dores para aquela desconhecida, não estando sóbria.

–Sou psicoterapeuta. Solteira, apesar de dizerem que sou casada com o meu trabalho. Moro com meu gato, Fernando. Apaixonada por comida italiana e por uma mulher da qual pouco sei. –Confessou Gillian. Obviamente Olivia não suspeitava ser a tal mulher.

–Interessante. –diz Olivia após pensar por alguns segundos. O fato de a loira ser apaixonada por outra mulher não era algo estranho ou nojento para Olivia, era apenas surpreendente ela abrir-se assim para uma desconhecida.

–Mesmo? –Gillian sorri. –Agora me diga um pouco sobre você.

–Sou sargento, isso você já sabe. Solteira, apesar de ser casada com meu trabalho, isso você entende. Moro sozinha. Recentemente terminei meu noivado. –diz Olivia.

–Recentemente? –pergunta Gillian.

Olivia bebe outro gole de vinho. Poderá ela confiar nessa mulher com cabelos loiros e olhos azuis da cor do céu? Ela não sabe se pode, mas sente que há uma ligação entre ela e Gillian.

–Há dois dias. –responde Olivia.

–Muito recentemente. –Gillian diz surpresa.

Olivia apenas assente e sorri. Lembrar-se disto deixa-a triste, mesmo não querendo, mesmo o termino ter ocorrido por um desejo seu.

–Eu me lembro de você. Você estava na mesma cafeteria que eu há dois dias. Estava com uma jovem. –diz Olivia após beber mais um gole.

–Sim. Minha cliente. –Gillian sorri. Ela me notou naquela cafeteria.

–Você estava muito elegante para um café. –Olivia sorri. Agora descobrira o porquê da elegância. A loira elegante é psicoterapeuta.

–Eu não gosto de atender fora de meu consultório, mas Julia, minha cliente, realmente precisava... –Gillian para de falar ao ver Lily adentrando o bar.

Lily está, surpreendentemente, sóbria e está vestida como uma pessoa normal. Usa calças, não aquela saia minúscula de sempre, casaco, não regata, e um salto lindo, diferente das botas que a faziam parecer prostituta. Seu rosto e cabelos estão limpos. Sequer maquiagem está usando, isso realça os seus lindos olhos verdes.

–Você está bem? –pergunta Olivia sem entender a pausa de Gillian.

–Estou. –responde olhando para a morena.

Ao voltar o olhar para Lily a mesma está lhe olhando, ela sorri e caminha até a mesa delas.

–Gillian. –Lily abraça a loira.

Assim que olha para Olivia ela tem certeza de que é a morena que Gillian tanto lhe falou. De boca aberta e sem possuir reação ela encara Olivia.