Gillian acorda com o despertador á tocar. Dormiu por duas horas. Era muito pouco, mas é sábado e sua cliente das oito, provavelmente, já está a sua espera em seu consultório.

Fernando, deitado ao lado de Gillian, espreguiça-se lentamente. Sem evitar um sorriso por tal cena, Gillian acaricia a barriga peluda e macia do gato manhoso. O gato fora um presente desta mesma cliente que a espera agora. Um presente bem inesperado, mas realmente adorável.

Levanta da cama e vai ao banheiro, vestindo apenas roupas intimas. Um roxo avermelhado em seu pescoço a faz corar, pois não lembra o que acontecera após voltar para o bar. Não vou beber nunca mais. Nem encontrar Lily. Entra debaixo do chuveiro, nua, e toma um banho rápido.

Sai do banheiro, envolta em uma toalha preta. Os cabelos ainda molhados descem por seus ombros. Sem tempo para perder veste-se rapidamente, seca os cabelos, arruma-os em um pequeno coque, e maquia-se levemente. Está com fome, mas não há mais tempo. Fecha o apartamento e vai para seu consultório, ao lado.

Abre a porta e Sarah, sua secretária, está ao telefone com uma cliente.

–Bom dia, Sarah. –cumprimenta-a Gillian. Sarah apenas assente para a loira.

Em passos lentos Gillian caminha até a sala de consulta. Laís já está a sua espera. Sempre está.

–Bom dia. –Laís sorri ao ver Gillian entrar.

–Bom dia. –ela fecha a porta

Com as pernas cruzadas e o celular na mão Laís sorri para Gillian, que sentia que sua cabeça estava prestes a explodir. Não vou beber nunca mais.

–Como vai? –pergunta Gillian forçando um sorriso. Nem encontrar Lily.

–Maravilhosamente bem, na verdade. –Laís sorri.

–Mesmo? –pergunta Gillian.

–Sim. Digo, não acredito que haja motivo para não estar.

–Tudo bem. –Gillian leva a mão à cabeça ao sentir uma forte dor.

–Está tudo bem? –pergunta Laís.

–Sim. –responde.

–Ontem encontrei uma antiga amiga. Já falei dela para a Doutora. –diz Laís após um tempo.

–Qual delas? –pergunta Gillian.

–Anne. Aquela magrinha, alta, com cabelo vermelho. –responde.

–Claro. Como foi? –pergunta Gillian descrente que aquilo fora verdade, talvez Anne nem existisse.

–Ela está saindo com um detetive. Acho que o nome dele é Nick. Não tenho certeza. Ele estava noivo de outra, mas, de algum modo, ela, a noiva, descobriu e rompeu o noivado. –Laís permanece séria, com os olhos em Gillian.

–Isso...

–É errado. Eu sei. –Laís abre um largo sorriso e revira os olhos.

Gillian, agora, tinha duvidas sobre a mentira.

***

A unidade está vazia. Olivia foi uma das primeiras a chegar. Sem cumprimentar ninguém se dirige-se até sua sala.

Ao virar-se para fechar a porta vê Amanda chegando, mas não se importou com a presença da loira. Ao sentar em sua mesa avistou uma folha desconhecida sobre ela e pegou-a curiosa. Filho da...Nick pedira transferência para a Unidade de Los Angeles. Aquilo pega Olivia de surpresa e ela não sabe como reagir. Seria mais fácil não vê-lo. Mas ela sentiria saudade dele.

–Entre. –diz Olivia ao ouvir baterem na porta.

–Sargento...

–Amanda... –Olivia desvia o olhar para Amanda, está tonta, sente o mundo a sua volta girar e antes que as palavras saíssem de sua boca suas vistas escurecem e ela não vê ou ouve mais nada.

–Sargento? –Amanda aproxima-se rapidamente para acudir a chefe.

Dentro do carro de Fin, Olivia volta a si e deixa os colegas aliviados.

–Aonde vamos? –pergunta sem compreender a cena.

–Você está bem? –pergunta Amanda preocupada com a morena.

–Claro. Por que não estaria? –Olivia ri.

–Porque você desmaiou. –diz Fin sem tirar os olhos da estrada.

–Está tudo bem. Aonde vamos? –pergunta novamente.

–Ao hospital. –diz Amanda.

–Não. Tenho trabalho na Unidade. Vamos voltar.

–Não. Você vai ver um médico. –Fin diz sério.

Em alguns minutos estavam no hospital. Um novo caso apareceu, Fin e Amanda tiveram que voltar para a unidade, deixando Olivia sozinha. Sem relutar ela fez alguns exames e trinta minutos depois já estava liberada. Teria que pegar os resultados no dia seguinte.

Sentia-se bem. O desmaio não fazia sentido algum para ela. Talvez esteja estressada demais.

Sem seu carro ou carona para voltar a Unidade decide ir caminhando. Ao sair do hospital depara-se com a loira da cafeteria. Outra vez? Ela não está elegante.Mas gostei do casaco. Olivia ri por ter reparado nisso. A loira veste um casaco preto cobrindo a blusa branca, transparente, uma calça jeans azul, um sapato alto preto, e o cabelo está preso em um coque. Os olhos azuis estão escondidos pelos óculos que usa.

Passa pela loira, que parece ver um fantasma ao olhar para Olivia. Não entende o porquê da reação, e não evita a expressão de surpresa. Incrédula segue seu caminho.

O pensamento de Olivia voa longe quando ouve uma voz chamar por seu nome. Sente um leve toque em seu ombro e vira-se. A loira.

–Olivia Benson? –pergunta a loira, que estava ofegante. Ela correu até aqui? Ela me seguiu?

–Sim. –responde.

–Sou a Doutora Gillian Lecter. –a loira oferece a mão para Olivia. Suas unhas, não muito compridas, estão pintadas de preto, assim como as de Olivia.

–Muito prazer. –Olivia aperta a mão da loira. –Como posso ajudar?

–Poderíamos marcar uma hora para encontrarmos? –pergunta sorridente.

–Tudo bem. –Olivia pega um cartão em seu bolso e oferece para Gillian que o pega imediatamente.

–Ok. Ligo para marcar. –responde a loira com os olhos brilhando.

–Ok. –Olivia sorri.

–Até logo. –a loira se afasta.

–Até. –Olivia segue seu caminho.

Gillian Lecter. Doutora?

Ao chegar à unidade todos já sabiam de seu desmaio, inclusive Nick.

–Olivia. –Nick a olha com pesar.

–Estou bem. –diz caminhando para sua sala.

–Podemos conversar? –pergunta Nick seguindo-a.

–Sobre sua transferência? –pergunta Olivia erguendo a voz para que todos ouvissem.

Dá certo. Nick sente o olhar de todos sobre ele. Olivia sorri vitoriosa, adentra sua sala e fecha a porta.

Com trabalho para fazer ela esquecera os problemas pessoais. Ali ela tinha um pouco de sossego, ou, pelo menos, algo realmente importante para se preocupar.