Julia levanta da mesa, sem dizer nada, e vai embora. Gillian ouve o sino tocar mais uma vez, mas não olha para a porta, pois sabe que foi Julia, ela permanece com o olhar sobre a mesa em que a mulher desconhecida estivera sentada.

–Mais alguma coisa? –pergunta a garçonete.

–Não... –responde voltando seu olhar para a mulher cacheada.

–Ok. –ela preenche a conta e entrega para Gillian.

–Você... Você sabe o nome da mulher que estava sentada ali? –pergunta Gillian apontando para a mesa onde Olivia estava.

–Sim. Olivia Benson. –a garçonete tira o cartão que a morena deu para ela e mostra para Gillian. –Ela é sargento da SVU.

–Olivia. –Gillian pega o cartão e o encara.

–Pode ficar. –a garçonete dá de ombros e se afasta.

Durante alguns minutos Gillian encara o cartão e lembra-se de alguns sonhos que tivera com, a até então desconhecida, Olivia Benson. Nem em mil anos Gillian desconfiaria que aquela linda mulher fora sargento.

Gillian é apaixonada pela desconhecida, Olivia Benson, durante anos. O primeiro fora o mais confuso de todos, mas com o passar dele e dos outros ela pode dominar, um pouco, seus sentimentos. Gillian tentou parar com os sonhos, chegou a ficar dias sem dormir, mas não suportara o cansaço e acabou cedendo. Deveria ter um sentido naqueles sonhos, ela pensava, e agora poderia ser o início de tudo. Poderia ser a chance com a mulher de seus sonhos, literalmente.

Após seus pensamentos darem um nó, Gillian coloca uma nota de cinquenta dólares sobre a mesa, levanta e caminha em direção a porta. O sino toca quando ela a abre e toca novamente quando a fecha.

Poderia simplesmente discar o número de Olivia e convidá-la para uma conversa, contar sobre os sonhos ela não iria, não tão cedo. Gillian caminhou pelas ruas com dúvida em sua cabeça. Por fim, pegou o celular, mas o número que discou não era o de Olivia.

–Olá, Doutora Lecter. –Lily atende.

–Não liguei como Doutora. –diz Gillian sorrindo.

–Hum, interessante. Deixe-me ver: sexta-feira, quase oito da noite, "não liguei como Doutora". Quer sair para beber?

–Está livre? –pergunta Gillian ignorando a brincadeira.

–Sim. Sempre estou. Principalmente para a mulher que deixou meu tratamento de lado para ter uma amiga para beber. –ironiza Lily.

–Não foi bem assim. Você deixou o tratamento. Não...

–Tudo bem, Gillian. Estava brincando. Me encontre no bar. –Lily desliga.

Lily é uma ex-cliente de Gillian. Tivera depressão há alguns anos. É alcoólatra e faz de tudo para se "divertir". Quase nunca aparecia nas consultas e após dois meses desistiu do tratamento. De algum modo Gillian e Lily tornaram-se amigas. Não aquele tipo de amizade em que conversam sobre a vida uma da outra e se encontram e falam sobre namorados e o futuro. Elas são o tipo de amigas que se encontram somente para beber e... Beber.

Gillian entra no seu carro e dirige até o bar de sempre. Lily está lá sentada em um dos bancos em frente ao bar segurando o décimo copo de vodca.

–Como vai? –pergunta Lily quando Gillian senta ao banco do seu lado.

–Bem. –responde. –O mesmo que ela, por favor. –diz Gillian ao barman.

–Não vai me dizer o que aconteceu? –pergunta Lily.

–Não. –responde Gillian e bebe um gole de vodca de seu copo.

–Continua sonhando com a morena pelada? –Lily ri, mas para ao perceber o olhar de fúria sobre ela.

–Eu a vi. –diz Gillian após um tempo.

–De verdade? –Lily ajeita-se no banco.

–Sim. –Gillian bebe todo o líquido em seu copo e faz sinal para o barman enche-lo novamente.

Após uma hora Gillian estava bêbada. Não como sempre ficava, pois estava, surpreendentemente, satisfeita. Ao contrário de Lily, que estava completamente alcoolizada.

–Preciso ir. –diz Gillian levantando-se.

–Não. É cedo. Vamos virar a noite, como fizemos mês passado. –diz Lily sorrindo.

–Tenho um cliente. –diz Gillian largando uma nota de cem dólares sobre o balcão.

–Não sei de quem tenho mais pena. –ela ri e acaba derrubando o copo que segurava em sua mão.

–Tenha de mim. –Gillian ri e caminha entre tropeços até a porta.

Pega um táxi e após alguns minutos está em frente ao seu prédio. Entra no elevador e aperta o botão 23.

Abre a porta de seu apartamento e corre para o banheiro. Ergue a tampa do vaso sanitário e vomita as treze doses de vodca que bebeu na última hora. Encara seu reflexo no espelho. Desapontada com a mulher que encara acaba chorando, mas logo para, lembrando-se da cliente a sua espera. Tira o batom vermelho da bolsa, e passa-o em seus lábios. Ao guardá-lo novamente seu celular vibra. A mãe de Camila, sua cliente das nove, ligara para avisar que ela sofreu um pequeno acidente doméstico e não poderia ir à consulta. Gillian diz sentir muito e que a aguarda na próxima semana.

Após desligar. Senta-se ao chão. Fernando caminha em sua direção e pula em seu colo. Ela o acaricia por alguns minutos. Levanta-se e vai para a cozinha, seguida por ele. Coloca ração no pote dele e volta ao banheiro para pegar a bolsa e o celular. Liga para Lily.

***

O apartamento vazio fez o barulho da taça caindo ao chão ecoar. Olivia finalmente desistira de beber e fora para o quarto, deixando os cacos de vidro ao chão.

Deitou-se na cama entre o breu e ouviu o silêncio. Tentou dormir, mas não conseguiu. O cheiro de Nick permanecera no travesseiro ao seu lado. Depois de não aguentar mais, levantou, pegou o travesseiro e atirou-o pela janela. Sentou-se ao chão e chorou.

Não pelo termino, era inevitável, tudo que tem um início alguma hora terá fim. O termino era algo que tinha que acontecer. Chorou sim, pelo que agora era incerto. O que iria acontecer depois de tudo. Continuaria a vida e provavelmente relacionamentos furados a esperavam. Talvez não encontrara a pessoa certa nessa vida. Talvez o destino que a espera seja solitário e triste, mas Olivia, no fundo, tem a esperança de encontrar alguém para fazê-la feliz.

O futuro sempre será incerto. Felizmente, para Olivia, o dela cruzaria com o de Gillian há qualquer momento.