Gillian a encara por segundos, pensando nas palavras para responder aquela pergunta, tenta aliviar a tensão no ar, mas acaba sendo direta.

—Sim, -ela suspira- é ela.

Leanne levanta do sofá, caminha até o outro lado da sala e volta.

—Claro. –ela dá um riso nervoso. –Entre bilhões de pessoas, em todos os países e cidades do planeta, você a encontraria, aqui, em NY. Quanta ironia, não acha?

A loira balança a cabeça positivamente.

—Eu vim para cá por você, sabe disso. E...

—Sei. –ela murmura.

—Vim para cá com você. –Gillian recomeça com mais afinco na voz. –E dois meses depois você me abandonou. Em uma cidade desconhecida. Eu não conhecia ninguém, não tinha nenhum dinheiro, nenhuma casa para morar. Fui obrigada a pedir ajuda para Charles, me submeter a ouvir suas palavras de desprezo, por ter fugido, por ter escolhido você, por... Amar você. –ela encara Leanne com um sorriso.

—Não finja que não gostou. –Leanne ergue as mãos. –Olhe esse apartamento. Você tem um escritório. E de qualquer modo você iria correndo para as asas do papai.

—Eu consegui o que tenho pelo meu trabalho. –diz Gillian exaspera.

—É claro... –diz Leanne andando em direção à Gillian.

As duas permanecem em silêncio.

Gillian sente seu coração acelerar, está angustiada, é doloroso rever Leanne depois de tudo o que viveram. Porque se Gillian fechar os olhos e se concentrar um pouco ainda consegue lembrar-se da primeira vez que viu Leanne, lembrar-se do primeiro beijo, a primeira vez que amou e esse amor fora recíproco; por mais que tente, não há como as memórias boas estragarem as más, pois aquele amor foi deveras real, assim como impulsivo, e partiu seu coração com uma intensidade maior do que se pode descrever.

—Diga alguma coisa, Anne. –diz Gillian quebrando o silêncio.

—O que você quer que eu diga, Gillian? –pergunta a mulher sem olhar para a loira.

—O que faz aqui realmente? –Gillian gesticula com as mãos. –Poderia ter enviado pelo correio.

Leanne reluta em olhar para Gillian. Os olhos azuis da mulher, foi o que chamou atenção dela, desde o princípio Leanne idealizou aquele azul como o oceano que a esperava após pular do abismo, mas ela não teve o resultado que queria, assim que pulou foi levada pelas ondas e acabou se afogando. Apesar de ser mais experiente que Gillian ela não teve a maturidade que se esperava dela. Foi tão impulsiva quanto a loira, tão apaixonada quanto e ainda mais intensa. Essa foi a razão do termino? Com toda certeza. É o que ela acha.

—Vocês já transaram? –Leanne levanta o olhar para ver a reação de Gillian.

—Leanne... –Gillian se surpreende.

—Isso é um “sim”. –ela balança a cabeça. –Eu devo dizer o que acho a respeito disto agora?

—Como assim? –pergunta a loira.

—Gillian, acorde, por favor. Você é psiquiatra, você deveria entender mais que todo mundo... Essa obsessão não é... Gillian, isso já está em um estado doentio. Não lembra o que Grace disse?

—Sim, mas... –Gillian a interrompe, desvia o olhar.

—Ah, claro, você é a última romântica. –Leanne ri.

—Eu sei sobre tudo o que vai dizer. Sei que talvez seja verdade, e eu entendo. Mas eu também acredito que deve haver um motivo. Algo que...

—Amor. –Leanne desliza a mão pelo cabelo.

—Isso. –a loira sorri.

—Você ama a ela mais que a mim? –pergunta Leanne com um semblante sério.

—Por favor... Você sempre leva para o seu lado. –Gillian diz exasperada.

—Não! Eu só... Eu te amei mais que a mim. –ela sorri ainda séria.

Gillian abraça Leanne, pois as palavras lhe fogem da mente. A mulher mais velha retribui o abraço, aperta a loira com força, há muito tempo elas não se tocavam. E por alguns segundos aquele abraço foi, para as duas, um lembrete do que sentiam há anos atrás.

—Eu te amo mais. –Gillian sussurra e se afasta de Leanne.

As duas, durante o namoro, foram colocadas em pedestais lado à lado, se idolatraram e se endeusaram, buscando por um amor perfeito, buscando por algo verdadeiro, e conseguiram. Sim, pois até um amor verdadeiro pode acabar, pode ser encerrado. Todo relacionamento chega ao fim fadado. O delas foi conturbado, e causado por outra mulher, a mesma que agora está fodendo com Gillian.

—Parece que estamos onde queríamos estar. –diz Leanne após refletir.

A campainha toca.

—Um segundo. –Gillian sorri e caminha até a porta.

A figura de Olivia é revelada quando a loira abre a porta.

—Bom dia. –Olivia adentra o apartamento. –Mais uma vez, você não atendeu minha ligação.

Gillian fecha a porta e caminha atrás da morena.

—Olá. –diz Leanne assim que Olivia adentra a sala.

Ver a morena dos sonhos de Gillian em sua frente é estranho, mas ela tenta não demonstrar isso.

—Olá. –Olivia oferece a mão para Leanne. –Olivia Benson.

—Linda Sincler. –cumprimenta-a.

—Essa é... Uma antiga amiga minha. –diz Gillian com cuidado.

—Por favor, Gillian, vamos ser honestas. Sou a ex-noiva dela. –Leanne abre um largo sorriso.

—Oh. –Olivia olha para Gillian.

—Só eu estou desconfortável aqui? –pergunta a loira.

—Ora, ora, ora. Já viu os desenhos de Gillian? –pergunta Leanne pegando o caderno de desenho sobre a mesa.

—Vi. Alguns. No quarto. –responde Olivia sorrindo.

—Vim aqui apenas para entregar o antigo caderno de Gillian, de quatro anos atrás, o encontrei em uma caixa velha. –ela sorri. –Aqui está. –ela o entrega. –Preciso ir. Foi um prazer, Olivia.

Leanne assente para Gillian e vai embora.

—Eu não sabia que você foi noiva... –Olivia diz enquanto abre o caderno. –Essa sou eu? Como... Quando você fez esses desenhos?

Gillian reflete sobre o que fazer. Deve contar a verdade, não é cedo demais para isso?

—Foi há quatro anos. –Gillian responde por fim.