Liars and Killers escrita por A Lovely Lonely Girl


Capítulo 23
Capítulo 20 - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal. Desculpem pela demora do capítulo, aconteceram muitas coisas, tive que me concentrar na faculdade, agora estou trabalhando e desencalhei, finalmente. Depois de 18 anos, tive meu primeiro namorado (EU OUVI UM AMÉM?!); mas ele terminou comigo depois de 1 mês de namoro. Pois é. Que merda.
Enfim, espero que gostem do capítulo, finalmente temos a narração do meu bebezinho Henry .  Peço perdão pela demora, de verdade! Muito obrigada por não desistirem da história.



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《Henry Richard Wright》

— UM, DOIS, TRÊS, QUATRO! - O grito de Victor acompanhado da batida de uma baqueta na outra precedia a melodia das músicas do repertório. Logo os instrumentos começaram a fazer devidamente o seu papel, já que havíamos passado algum tempo ajustando a afinação. Tudo tinha que estar magnífico. Josh assumiu o microfone principal com maestria.

Do you have the time to listen to me whine
About nothing and everything all at once
I am one of those
Melodramatic fools
Neurotic to the bone
No doubt about it

Sometimes I give myself the creeps
Sometimes my mind plays tricks on me
It all keeps adding up
I think I'm cracking up
Am I just paranoid?
Or am I just stoned

I went to a shrink
To analyze my dreams
She says it's lack of sex that's bringing me down
I went to a whore
He said my life's a bore
So quit my whining cause it's bringing her down

Sometimes I give myself the creeps
Sometimes my mind plays tricks on me
It all keeps adding up
I think I'm cracking up
Am I just paranoid?
A ya-ya-ya

Grasping to control
So I better hold on

Sometimes I give myself the creeps
Sometimes my mind plays tricks on me
It all keeps adding up
I think I'm cracking up
Am I just paranoid?
Or am I just stoned?

A melodia mal chegou ao fim e Scarlett foi a primeira a se pronunciar:

— Não adianta, sem o Kyle nosso som não é o mesmo.

— Sabemos disso, Scar, mas precisamos desse show. - Victor disse, com seu tom calmo usual.

— É só por uma noite; depois veremos o que podemos fazer nos próximos shows. - Afirmei, tentando passar alguma tranquilidade aos outros membros da banda.

— Falou com a Katherine? Ela virá substituir o Kyle? - Fred questionou. Peguei o maço de cigarros no bolso da calça, tirei um e o acendi sem pressa. Traguei de olhos fechados, sentindo o efeito calmante da nicotina apoderando-se de mim, em seguida abri os olhos e soprei a fumaça.

— Não, ela estará de tiete hoje. O substituto que ela indicou chegará em breve para o ensaio final. - Respondi sem me abalar pelas caras de assombro e espanto que todos eles me dirigiram.

— Estamos fodidos. - Josh balançou a cabeça e soltou uma risada nervosa. - Estamos totalmente fodidos.

— A Katherine era a nossa reserva, lembra? Ela se comprometeu com a gente. - Scar lembrou com um tom acusatório raivoso.

— Sim, eu sei. - Afirmei, em seguida traguei novamente, o que a deixou ainda mais irritada. Scarlett tinha o gênio forte e tão selvagem quanto seu cabelo curto cacheado. Scar tinha cara de quem ia causar problemas e, bem, apesar de seu jeito, ela era a mais responsável de todos nós.

— Ela devia estar aqui, ensaiando conosco. Se preparando para entrar no palco e substituir o Kyle. - Seu tom era alto e cada vez mais agressivo.

— Scar... A Kate conhece a responsabilidade dela. Sabe onde deveria estar. Se não soubesse, acha mesmo que ela indicaria outra pessoa, alguém confiável? — Consegui fazer com que ela começasse a ver as coisas por trás da raiva de sua impotência e de sua preocupação com Kyle. - Ela já nos ajudou com os instrumentos, lembra-se? Isso foi porque ela sabe de sua responsabilidade.

— Por que sempre a defende tanto? - Queixou-se a morena. Joguei o cigarro no chão e pisei nele, depois abri um pequeno sorriso, sentindo um certo orgulho apoderar-se de mim ao dizer:

— Porque ela é minha amiga. E tem minha confiança.

Wow, eu queria ter um amigo que me defendesse assim. - Uma voz feminina proveniente da porta disse. Os integrantes da banda olharam ao mesmo tempo em sua direção. Era uma garota dona de uma beleza comum, de olhos cor de chocolate e cabelo comprido escuro. Nada de extraordinário, aparentemente. Desci do palco sem dificuldade e me aproximei dela.

— A sessão de autógrafos é só às quatro e meia. - Avisei. Ela riu de leve.

— Não vim aqui pra isso.

— Oh, certo. Só consigo dar uma atenção especial às fãs depois do show, então vai ter que esperar até a noite. - Dirigi-lhe o meu sorriso sedutor e deixei minha voz um pouco mais baixa e rouca, sabia que elas iam à loucura quando eu fazia isso. - Garanto que valerá a pena esperar. — A garota franziu as sobrancelhas e cruzou os braços, me enfrentando:

— E eu lá tenho cara de tiete vagaba, por acaso? - Conseguia ouvir a explosão de gargalhadas de Victor e Josh atrás de mim. Franzi o cenho a encarando. Se ela não queria nem autógrafos, nem a mim, o que mais poderia querer? Sempre que garotas apareciam nos ensaios eram em busca de minha atenção especial. Se ela não queria aquilo, o que fazia ali? A estranha entrou no salão, sem pedir permissão para isso. Passou por mim como se eu fosse um mero poste, um objeto com o qual não desperdiçaria seu tempo.

— Você deve ser o Henry. Kate me avisou do seu jeito galinha. - Deixou suas coisas no balcão do bar perto do palco, prendeu o cabelo com um elástico e dirigiu-se à banda enquanto caminhava até ficar de frente para o palco onde estavam todos, exceto eu. - Meu nome é Dylan R. Peterson. Katherine me mandou aqui para substituir o... Baixista, certo? - A garota fitou o palco de maneira analítica, diferente da reação de outras garotas que já haviam nos visto em um palco. Até mesmo Katherine sentia alguma coisa, uma energia vibrante ou algo assim, uma emoção incapaz de ser nomeada. Dylan parecia não sentir nada, e aquele fato me deixava inquieto. Como era possível alguém ser tão insensível daquele jeito?

— É. - Confirmou Scarlett. - Kyle sofreu um acidente de carro, graças a Deus ele sobreviveu. Alguns instrumentos são novos, então ainda estamos ajustando a afinação. Está pronta para assumir o lugar dele nesse show?

— Conheço o repertório todo; cortesia da Kate. Acredito que sim, estou pronta para substituir o baixista por hoje. - Seu tom era gélido, inexpressivo. Dylan era sempre assim, sempre tão crítica e fria?

— Katherine fica divulgando nosso repertório sem a nossa permissão? - Observou Fred, com certa indignação. - O que ela está pensando?

— Está pensando que é melhor eu conhecer o repertório para que consiga entrar em seu lugar quando ela não puder comparecer para substituir algum de vocês em um show. - Peterson rebateu, o que fez com que todos a encarassem. Era como se ela fosse uma pessoa calculista, com uma fúria interna que ocasionalmente se mostrava em meio à toda aquela impassividade. Como ver um vulcão prestes a entrar em erupção, mas não conseguir saber quando.

— Vamos ensaiar, pessoal. - Eu disse em tom alto. O grupo parou de ficar encarando a substituta, e cada um passou a se preocupar com seu instrumento e sua posição no palco. Aproximei-me de Dylan. - O baixo está ali no canto, não tive tempo de afiná-lo e...

— Tudo bem, pode deixar que eu afino. - Cortou, em seguida seguiu até o baixo e começou a afiná-lo. Franzi os lábios. Claro que sabia que a garota estava ali apenas como uma cortesia, mas mesmo assim, custava ela ser mais sociável? Voltei ao palco, ajustando a posição do microfone - nem tão no centro do palco, nem tão perto da frente, caso contrário, alguém poderia acabar me agarrando e arruinando a minha performance. Estava concentrado ajustando o tripé quando ouvi uma risadinha atrás de mim. - Algum problema, Victor? - Não me dei ao trabalho de olhar para trás, meu tom de voz deixava claro que eu não estava no clima para brincadeiras.

— Eu? Não, de modo algum. Mas acho que você tem um problema. - O fitei por cima do ombro, e o mesmo indicou com uma baqueta o lado esquerdo do palco. Segui a direção com o olhar e encontrei a substituta sorrindo para Josh, que aparentemente estava tendo uma conversa agradável com ela. A observei por um instante, percebendo que suas covinhas eram reveladas quando ela sorria. Fiquei confuso. Como alguém tão adorável poderia ser tão hostil? Foi quando me dei conta de que sua hostilidade era dirigida especificamente a mim. Com o restante, Dylan era apenas profissional ou cordial.

— Não sei do que está falando. - Respondi. Ele abriu um sorriso pequeno.

— Ah, certo. Então você espera que eu acredite que o garanhão rockeiro não se interessou pela nossa baixista de um show só? - Ele ergueu uma sobrancelha.

— Deixa ele em paz, Victor. - Ordenou Scarlett. - Todo mundo comete erros, principalmente em relação a pessoas.

— Além do mais, tá na cara que ela não tá de brincadeira. - Observou Fred. - Ela nos suporta por educação. Duvido que gostaria de ficar com a gente.

— Vamos ensaiar! - Disse Josh, um pouco mais alto para que o ouvíssemos da distância que se encontrava. A morena foi a primeira a se manifestar, posicionando-se à minha esquerda e checando mais uma vez o baixo. Todos tomaram seus lugares, preocupados com os próprios instrumentos e com a afinação perfeita. Era a maneira que encontraram para não surtar sobre Kyle. Sabia que a culpa sobre o acidente era minha, mas ainda assim, o show teria que acontecer.

— Hey, guria. - Scar chamou e Dylan virou-se para ela quase que instantaneamente. - Sabe fazer segunda voz? - A substituta deu de ombros.

— Se eu souber as deixas certas... - A co-fundadora da TWH sorriu.

— Legal. - Franzi o cenho. Por que todos eles pareciam estar tão interessados nas habilidades da garota? Ela só iria segurar a nossa barra por pouco tempo, não se tornaria um membro oficial. Aproximei o microfone dos meus lábios.

You don't belong here
And you know it's true, baby
Please just stop trying to fit in

You're not special
Neither V.I.P.
So why would you try to come in?

Dylan olhou para mim, parecendo estar perdida enquanto os membros oficiais acompanhavam a melodia. Reprimi um sorriso vingativo de satisfação. "You are (not) welcome to the party" era uma das últimas composições de Kyle, original da banda. Nem mesmo nosso fandom a conhecia, seria apresentada só no nosso próximo álbum. Scar ergueu os braços e todos pararam de tocar logo em seguida.

— Hoje são só covers, Henry. Você sabe muito bem disso. - Todos começaram a reclamar para mim, falando muito alto, quando ouvimos o som do baixo. Todos calaram a boca enquanto tentavam adivinhar a música, Josh foi o primeiro a tomar seu lugar ao outro microfone e começou a cantar, acompanhando o baixo de Dylan.

I'm gonna fight 'em all
A seven nation army couldn't hold me back
They're gonna rip it off
Taking their time right behind my back

A banda acompanhou com maestria a música, afinal, "Seven Nation Army" também estava no repertório. Eu estava desconcentrado demais e preocupado demais para prestar atenção no quão boa tinha sido a performance. Desci do palco, segui até a minha mochila, peguei uma garrafa de água e bebi. Não conseguia me concentrar naquele ensaio, não quando era para ter sido eu no acidente. Era uma armadilha para mim, e, por um golpe de sorte, acabaram pegando o cara errado. Eu teria que ser mais cauteloso do que nunca.

Joguei um pouco de água no rosto para focar no que precisava de minha atenção naquele momento. Não podia estragar a performance, nem deixar que minha vida privada interferisse. Eu teria muito o que pensar depois.

 

{...}


《Dylan R. Peterson》

A casa estava cheia. Conseguíamos ouvir os gritos e exclamações do público nitidamente dos bastidores. Victor estava batucando na mesa com as baquetas, ajudava-o a se concentrar. Scarlett estava mandando mensagens enquanto Fred dormia no sofá, Henry ajeitava sua já perfeita aparência em frente a um espelho, Josh me olhava com persistência e eu, sentada em uma poltrona de costas para todos eles, fingia que não percebia o olhar.

Eu era uma estranha ali, isso era óbvio. Eles já haviam passado por aquilo várias vezes, enquanto que eu nunca me expusera daquela maneira. Não era um show de talentos de uma escolinha, eles eram pagos para arrasar, tinham álbuns autorais de sucesso, lotavam casas de show e eram um fenômeno em ascensão.

Olhei para as minhas mãos - estavam tremendo. Engoli em seco. Como poderia tocar com as mãos trêmulas daquela maneira? Fechei os olhos e comecei a respirar fundo algumas vezes. Quanto mais pensava que era para ficar calma e relaxar, mais ficava ansiosa pelo show que se aproximava. Peguei o celular e mandei algumas mensagens para a Kate. O que ela fazia em situações como essa?

Katherine logo me respondeu, falando sobre como o nervosismo pré-palco era normal, assim como a ansiedade e o medo também. Afirmou que valeria a pena passar por tudo isso, porque a energia e a emoção de estar em um palco eram indescritíveis; a experiência era inesquecível. Depois disso, ela se despediu dizendo que estava meio ocupada e que mal esperava por me ver tocar. Bloqueei a tela do celular e encostei preguiçosamente minha cabeça na poltrona, não me sentindo melhor. Diria até que fiquei enjoada, mas tinha plena certeza de que o enjoo era apenas uma ilusão da minha cabeça.

— Peterson. - Uma voz masculina chamou. Virei a cabeça e encontrei Henry ao lado da minha poltrona, vestido como um clichê ambulante de bad boy - Jaqueta de couro, calça jeans e cabelo liso impecável. Era impossível dizer o quanto eu odiava sua fachada de clichê. Sempre odiara as pessoas que vendiam uma imagem de si mesmas.

— O que foi, Henry? - Cruzei os braços para esconder as mãos trêmulas e o fitei com a maior cara de tédio possível. Ele me tratava como a estranha que eu me sentia ali, e isso, de certa forma, era bom. Assim eu não me acostumaria e não quereria continuar na banda. Ele respirou fundo e encostou na parede à frente da poltrona.

— Sei que está nervosa. - Ele disse, em um tom mais suave. O encarei, me segurando para não parecer surpresa demais. - É normal se sentir assim. Deve estar achando que é muito para você, ter que tocar para toda essa gente, não poder errar nem uma nota, nem tentar ousar demais porque se sente como se não pertencesse à banda... - Henry se aproximou e colocou uma mão em meu ombro, um sorriso de canto no rosto. Não era um sorriso sedutor nem nada do tipo, era um sorriso ousado e sincero. - Bem, pois adivinha só?... - O moreno cravou os olhos nos meus, cheio de determinação e entusiasmo. - Esse público não é o suficiente para você, com todo esse talento, e você sabe disso. Você pode errar, ousar o quanto quiser e fazer o que quiser naquele maldito palco, porque você é a porra de uma estrela do rock, entendeu? - Eu estava tão chocada com suas palavras que só consegui assentir levemente com a cabeça. Seu sorriso se alargou. - Hoje à noite, você é uma Wild Hunter.

Não consegui evitar de sorrir ao ouvir suas palavras. Elas eram exatamente o que eu precisava ouvir, e Henry parecia saber muito bem disso. O roadie abriu a porta e avisou que entraríamos dentro de cinco minutos. Wright estendeu a mão inconscientemente para me ajudar a levantar e eu aceitei sua ajuda. Me pus de pé, comecei a trocar meu peso de um pé para o outro tentando controlar o nervosismo e o frio na barriga quando o vocalista principal segurou os meus braços.

— Pare com isso, está me passando sua ansiedade. - Reclamou.

— Me desculpa. - Pedi, apressadamente. Ele sorriu, prendendo o riso.

— Não precisa se preocupar tanto, okay? É só uma noite. Você conhece o repertório, sabe suas deixas e seu posicionamento. Os instrumentos estão prontos e afinados. As caixas estão posicionadas corretamente. Não precisa se preocupar mais. Agora respire fundo. - Fiz o que ele pediu. Ele tirou de seu bolso um lápis de olho preto. - Vou reforçar sua maquiagem, tem que ficar um pouco mais selvagem.

— Já fez isso antes? - Questionei-o enquanto o mesmo retirava a tampa do lápis. Ele sorriu.

— Você ficaria surpresa. - Olhei para cima em seguida, pronta para que Henry me retocasse. Ele o fez com muita habilidade e maestria, como se o tivesse feito um milhão de vezes antes. Além de passar em baixo, passou em cima também. - Este lápis é relativamente novo, de uma marca irlandesa. É mais forte, não borra e dura mais tempo. Consegue até mesmo imitar o efeito de um delineador. Agora o batom. - Tirou um batom de seu bolso e passou cuidadosamente em mim. Depois, segurou o meu queixo avaliando o resultado. Me senti irrequieta perante seus olhos claros tão focados em mim. Sorriu, satisfeito com o resultado. - Perfeito.

Observei meu reflexo em um espelho decorativo na parede. Sorri, realmente havia ficado mais bonita e com cara de estrela do rock do que antes.

— Obrigada, Henry. - Ele assentiu e indicou a porta.

— Vamos? Estamos todos prontos. - Respirei fundo e assenti. O moreno me puxou pela mão e fomos os primeiros a sair pela porta, seguimos até o fundo do palco e começamos a nos apropriar dos instrumentos. O barulho era intenso, tudo aquilo era insano e me sentia cada vez mais entorpecida e animada pela energia que nos cercava. Assim que arrumei o baixo e o coloquei encostado estrategicamente ao lado de uma guitarra, Henry aproximou os lábios da minha orelha para que pudesse ouví-lo. A multidão ficava cada vez mais barulhenta enquanto o dono do estabelecimento anunciava a banda. - Eu serei o último a entrar. Os membros entram separadamente, um de cada vez, e têm que interagir com a multidão, entendeu? - Os gritos estavam altos demais.

— O quê? - Henry começou a falar mais alto.

— Você entrará sozinha. Vou te avisar quando for a sua vez. Quando entrar, tem que agir como uma estrela do rock, entendeu? Tem que agitar a galera. - Assenti. Era possível ouvir as apresentações; Victor foi o primeiro a subir no palco, fez um solo de bateria sensacional. Fred foi o segundo, e conseguia sentir, pelos gritos da multidão, que ele era um dos favoritos. Eu seria a próxima. Respirei fundo. Ouvi atentamente as palavras que me apresentariam.

—... E agora, o baixista temporário desta noite, um cara incrível com um talento sensacional... - Tive vontade de rir. Obviamente o homem que apresentava os integrantes não os havia visto no mesmo dia. Ele achava que eu era um garoto, provavelmente devido ao meu nome. Não sabia o que havia acontecido naquele segundo, mas em um mínimo instante senti a raiva se apoderar de mim. Fechei minhas mãos em punhos, tão concentrada em fazer uma apresentação inesquecível que ignorei praticamente tudo à minha volta.

Segurei o cabo do instrumento e sem mais delongas subi no palco. Todo o barulho de antes diminuíra consideravelmente, todos encaravam a mim e ao restante da banda presente no palco. Inclinei-me para segurar propriamente o baixo, porém acabei arregalando os olhos em choque por um instante - em minha enfurecida distração, acabei levando ao palco a guitarra que estava ao lado do baixo.

Desviei o olhar da multidão, sentindo-me patética e ignorante. Não suportaria os olhares de mais de duzentas pessoas me julgando. Estava desnorteada, com a mente em branco e internamente aterrorizada. Olhei em volta lentamente, quando encontrei Henry ao lado do palco observando sem que as fãs pudessem vê-lo. Engoli em seco. Sua expressão não denunciava seus pensamentos, parecia me analisar. Pensei que aquele seria o meu fim, quando o moreno abriu um pequeno sorriso, ergueu o braço e reproduziu o símbolo da mão chifrada. Aquilo bastou para que eu soubesse o que fazer.

Abri um amplo sorriso, ergui os ombros, segurei a palheta com confiança e comecei a reproduzir o solo de "Highway to Hell", da ACDC. A multidão foi à loucura. Gritos, urros, assobios - tudo graças ao solo. Uma sensação totalmente nova tomou conta de mim; a agitação do público reverberava em meu interior, era como se aquele momento me preenchesse por completo.

Quando terminei, recebi gritos selvagens vindos do público, os acolhi com um sorriso de alívio e satisfação, acenei brevemente com a cabeça e me posicionei do lado direito do palco. Meu coração estava acelerado, meu estômago, congelado devido ao nervosismo e excitação. Naquele instante compreendi o motivo de Katherine falar tanto daquilo - era algo totalmente insano e inimaginável. Mas era bom.

《Katherine Adams Kohls》

Pietro e eu estávamos do lado de fora do lugar, falando com o segurança. George, o gerente, se aproximou com um amplo sorriso e foi muito cortês conosco. Era assustador o número de pessoas que olhavam para nós. Algumas nem ligavam, achavam que era só mais um garoto de cabelo platinado no meio da multidão. O problema foi quando eles notaram quem ele era.

Autógrafos. Selfies. Perguntas. Fotos. Vídeos. Os flashes à nossa volta quase nos cegavam. Dois seguranças apareceram para afastar a multidão que se aglomerou ao redor do Vingador. Ele tentou ser atencioso com todos, mas era quase impossível. A multidão, já histérica, agora o tinha como "alvo". Os seguranças nos guiaram, com dificuldade, até um camarote que dava exatamente para a frente do palco, um andar acima. A construção lembrava os camarotes dos teatros de ópera, apesar de serem menores e de um estilo mais moderno. Havia uma pequena mesa com cadeiras em todos os camarotes.

Assim que nos sentamos, vimos a introdução de Scarlett ao palco, impecável como sempre. Ela era a última antes da entrada do Henry. O público já se preparava, segurando a respiração quando as luzes se apagaram. Imagens eram projetadas em uma enorme tela atrás do palco, algumas cenas dos videoclipes eram reproduzidas aleatoriamente. Quando a introdução da música começou e Henry entrou no palco, todos explodiram em gritos, assobios e uivos selvagens.

Henry se posicionou em frente a seu microfone, e começou a cantar, seus quadris se mexiam levemente acompanhando o ritmo da melodia. Colocou sua máscara de sedutor, umedeceu o lábio inferior com os olhos fixos nas garotas que estavam mais perto do palco - o que fez com que o público feminino gritasse ainda mais alto - e finalmente começou a cantar.

— Hey! In her heart there's a hole
There's a black mark on her soul
In her hands is my heart
And she won't let go till it's scarred
Tried to plead, but I can't
'Cause the ashes leaves me as damned
Got to touch like a thorn
'Cause in the bush she's hiding horns

She got blood cold as ice
And her heart made of stone
But she keeps me alive
She's the beast in my bones
She gets everything she wants
When she gets me alone
Like it's nothing
She got two little horns
And they get me a little bit

Sorri quando percebi que ele imitou brevemente os movimentos de mão no microfone do clipe "But it's better if you do", o que foi indicação minha. Henry era um grande artista, um poeta sensacional. Suas representações nunca deixavam a desejar. Conforme a música seguia, ele deixava cada vez mais claro o porquê da TWH ser um fenômeno. Era como se eles nos convidassem a conhecer seu próprio mundo, e nós, espectadores, aceitávamos o convite sem pensar duas vezes.

Os olhos de Henry correram pela multidão, até que percorreu os camarotes e parou em mim. Abri um amplo sorriso e acenei, orgulhosa por ver que ele estava aproveitando, apesar do que havia ocorrido com Kyle. Senti alguém tocar o meu braço e virei meu rosto, encontrando o rosto de Pietro iluminado pelas luzes coloridas do lugar.

— Você conhece todas essas músicas? - Ele perguntou gritando, já que o barulho era muito alto.

— Sim. O repertório foi ideia minha. - Respondi com um amplo sorriso.

— Ah. - Pietro franziu os lábios. - Seu gosto musical é meio... Diferente, né? - O encarei, me segurando para não soltar algo como "Se você não gosta, cale a boca e retire-se". Ao invés disso, contei até trinta mentalmente.

Se com "diferente" você quer dizer "incrível e eclético", então, sim. - Pedi ao garçom que trouxesse um refrigerante e um hambúrguer para mim e continuei assistindo ao show enquanto Pietro fazia seu pedido. Quando o garçom foi embora, o platinado começou:

— Então...

— Então...? - Não soou tão romântico quanto eu pensava que seria, porque estávamos gritando devido à música alta e o barulho da multidão enlouquecida. Tive vontade de rir ao pensar nisso. Mais uma música chegou ao fim, então tivemos uma breve pausa que não precisávamos gritar. Estavam ajustando alguns detalhes, dando um tempo para beber água.

Não demorou muito e nosso pedido chegou. Comemos em silêncio, até que ele continuou:

— Você me chamou... Estamos aqui. Sobre o que quer falar?

— Que tal sobre...

— E AGORA EU GOSTARIA DE DEDICAR ESSA MÚSICA A UMA PESSOA MUITO ESPECIAL. - Henry gritou no microfone. Todas as cabeças viraram em sua direção. Voltou a falar normalmente. - Essa pessoa me inspira todos os dias, e quando estou perto dela é como se eu estivesse... Completo, sabe? E feliz. Plenamente feliz. - Gritos e assobios dos fãs. - Ela é... Incrível. Sempre me apoiou e me defendeu, além de ser uma das únicas que sempre acreditou em mim, como artista e como pessoa, desde que nos conhecemos. - Mais gritos, assobios e aplausos. Henry tinha o dom da oratória, além de ser uma pessoa inteligente e cativante. Fiquei intrigada. Ele nunca havia falado tanto sobre uma pessoa antes. Ele nem sequer havia me falado de tal pessoa antes, e eu era sua melhor amiga. Se ele não dissesse de quem se tratava, eu o confrontaria depois do show para obter respostas. - Sou muito grato por tê-la em minha vida, porque sinto que temos uma conexão que é difícil para as outras pessoas entenderem, porque sinto que somos seres extremamente semelhantes, como se viéssemos do mesmo planeta. - Ele limpou a garganta enquanto a melodia começava ao fundo, em seguida levantou a cabeça, fixou o olhar em mim e acrescentou rapidamente. - Então, Kate, essa é para você. - Arregalei os olhos quando percebi o que aquilo acarretaria. Cabeças viraram em minha direção, e tive vontade de enterrar a minha cabeça no chão o mais fundo que conseguisse.

Quando ele começou a cantar, não resisti e gritei, em seguida cantei junto até o final. Death of a bachelor era meu calcanhar de Aquiles.

 

Virei-me para Pietro, que parecia meio perdido. Foi quando a minha ficha caiu. Para quem via de fora, Henry havia feito uma declaração de amor para mim. Eu não saberia como explicar que éramos apenas amigos, muito menos a nossa conexão. Segurei a mão do Vingador e olhei em seus olhos:

 

 

— Pietro, eu...

 

 

— Na verdade, ela estaria aqui tocando com a gente, mas... - Pelo tom dele, Henry estava bebendo fazia um tempo. Aquilo me deixou irritada. Ele riu debochadamente e olhou para mim com um sorrisinho sarcástico. - Aparentemente, tinha coisas mais importantes para fazer.

 

 

O encarei com as sobrancelhas franzidas próximas uma da outra e os lábios selados com força. Ele estava fazendo de propósito para estragar os meus planos. Retornei a olhar para Pietro, aproximei-me dele e disse alto:


— Vamos embora? - O platinado me observou por um instante sem dizer nada, o que tomei por um "sim". Deixei dinheiro em cima da mesa e o puxei pela mão, tentando abrir caminho em meio à multidão - o que estava sendo em vão, já que todos queriam um pedaço do Vingador. Os seguranças apareceram e nos ajudaram a abrir caminho, depois voltamos ao carro e saímos dali, rodando por um tempo até que aquelas pessoas ficassem para trás.

— Então... - Pietro começou, apertando o volante um pouco mais forte do que o necessário. - O que foi aquilo? - Suspirei, enquanto tentava encontrar as palavras certas. Quando percebi que não haviam, tentei me justificar como pude.

 

— Quando eu conheci o Henry, ele era uma pessoa vazia, sem nenhuma perspectiva. Não acreditava nele mesmo, nem como pessoa, nem como músico, então eu sempre tentei ajudá-lo com isso. - O observei pelo canto dos olhos, Maximoff parecia calmo. - Somos amigos, e sempre apoio e ajudo meus amigos como posso. Com Henry não seria diferente. Somos apaixonados por música e temos gostos parecidos, apenas isso. Apesar do que pareceu lá dentro, não sentimos nada um pelo outro, apenas zelamos pela nossa amizade. - Ficamos em silêncio por um tempo.


— Entendi. - O platinado sorriu levemente e olhou para mim. - Aonde vamos agora? - Dei de ombros e olhei ao nosso redor, eram tantas opções...

— O que você prefere? - Questionei.

O Vingador sorriu.


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Notas finais do capítulo

Então, pessoas, o que acharam?
Só lembrando: o próximo capítulo é do Talk Show, e cada um pode mandar 5 perguntas e 1 desafio para qualquer personagem - já adicionei as perguntas do capítulo 17 (acho que foi o 17, que eu pedi para mandarem perguntas pro Talk Show). Muito obrigada por lerem Liars and Killers!! ❤