Your Hunger Games III - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 4
Vinho


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Vinho

“Homens fracos acreditam na sorte. Homens fortes acreditam na causa e efeito” – Ralph Waldo Emerson

Scalene – Danse Macabre

Abriu um sorriso largo, astuto e gozador. Os punhos estavam erguidos em frente ao rosto. As pessoas ao redor gritavam, riam e incentivavam-nos a prosseguir. Deu um salto para frente, fazendo o rapaz recuar, pálido. Não batia em gente covarde, estava esperando o momento certo. O álcool fazia seu hálito derreter todas as fibras de força que o outro menino conseguia reunir. Os olhos carregados e os movimentos deliberadamente largos anunciavam seu deplorável estado. Deplorável e irresistível.

– Acabe com essa galinha! – uma das prostitutas pediu. Beth apertou os seios com os braços, fazendo um beicinho encantador. Ele abriu um sorriso malicioso. Tinha de terminar logo aquilo ali, coisas mais interessantes o aguardavam no andar de cima do prostíbulo da Família Jones.

O menino a sua frente encheu-se de sua única golfada de adrenalina e avançou com as mãos abertas, agarrando seus pulsos. Ele tentou fazê-lo abaixar os braços. Patético. Empurrou-o com brutal gargalhada, enquanto agarrada o pescoço do menino e o colocava debaixo de seu braço. Ele esperneou com as pernas, saltitando, porém não pôde sair por pelo menos três minutos, até que se cansasse de gritar e enfim começasse a soluçar. As pessoas no bar riram.

– Crianças não deveriam estar aqui embaixo. Pense um pouco antes de mexer com a mulher de alguém. – e então soltou-o. O garoto moreno cambaleou até a porta e ergueu o rosto uma última vez, lágrimas escorriam pelas bochechas. Ele mordeu os lábios e cuspiu no chão, abandonando o bar em seguida. Alexander recebeu vivas e ganhou uma rodada de cerveja de cada um de seus companheiros de bebedeira. Os fiéis bêbados do bar de sua família. Aliás, o prostíbulo também lhe pertence. E Beth. Falando nisso...

– Meu herói... – a ruiva jogou os braços ao redor de seu peito, esfregando-se em Alex. Ela tinha seios enormes, e o vestido era fino, possibilitando fantasias enlouquecedoras. Alexander tocou seu rosto com naturalidade, beijando-a com suavidade nos lábios, e em seguida no pescoço, e nos ombros. Alcançou as alças de sua roupa. – Não no bar – ela deu um leve tapinha em sua mão, porém estava arfando e ruborizada.

Raros homens podem fazer uma prostituta corar. E Alexander era um deles.

Levou-a até o andar de cima, onde os quartos eram separados por placas anunciando se estavam ocupados ou não. Em cada um deles, havia uma cama grande, o banheiro e um cesto para jogar as roupas. Com a mesma facilidade de uma criança ao saltar uma poça de água, Alexander retirou a camisa e a gravata, abandonando a pose de garçom para a de um cliente ávido. Beth soltou uma risadinha.

º º º

A sala de despedidas era grande demais para ele. As janelas deixavam muita luz entrar, porém estavam fechadas e o ar não circulava direito, abafando-o. As cortinas eram brancas e finas, e mesmo quando tentou fechá-las, a luz ainda era forte o suficiente para irritá-lo. A porta por onde entrara era de madeira grossa e escura, e havia um Pacificador do lado de dentro e do lado de fora dela, para caso tentasse fugir. Alexander participara de inúmeras brigas de bar para saber que os mais encrenqueiros tinham trágicos fins de noite nas mãos daqueles homens vestidos de branco que trabalhavam para a Capital. Alexander ouvira que, assim que ele fosse sorteado e levado, começariam as torturas. Iriam arrancar sua pele para colocar uma pele artificial sem manchas, cicatrizes ou oleosidade, tirariam toda a cor de seus cabelos de tanto esfregá-los e as pessoas começariam a querer agarrá-lo para levar pedaços para casa.

Ele gostaria de ter toda essa atenção, mas estava naquela sala há quase meia hora sem fazer absolutamente nada, enquanto ouvia passos pelo corredor, vozes baixas e o som das roupas pesadas dos Pacificadores. De repente um novo ruído entrou no meio da sinfonia, era o som dos sapatos de uma mulher, caminhando decididamente e próxima. A porta se abriu e a acompanhante do Distrito Nove lhe sorriu com entusiasmo, entrando.

– Alexander Jones, posso chamá-lo apenas de Alex?

– É como costumam fazer. – ele passou a mão pelo cabelo louro e macio. Alexander adorava sentir a textura das madeixas. Ele tinha um cabelo incrível. – Senhorita...?

– Melaça. Mas pode chamar-me apenas por Mel. É como todos me conhecem. Melaça é um nome muito grande na Capital. – ela piscou. – Saiu de moda há dois anos. Meus pais deveriam ter previsto isso. Mas de todo modo, eu posso mudar se quiser.

– Pode mudar seu nome? – Alexander ergueu as sobrancelhas, surpreso. A Capital permitia que os documentos fossem alterados todos para uma pessoa ter o nome “que está em moda” no momento?

– Sim, muitos fazem isso. Ou você não iria querer trocar seu nome? Imagine viver a vida inteira com um nome que você odeia e nem teve como escolher? Que horrível!

– Eu imagino. – Alexander respondeu, irônico, pensando nos Jogos, na pobreza do Distrito Nove e de todos os outros Distritos, mesmo os mais populares e grandes, como Um, Dois e Quatro. “Imagine viver a vida inteira sabendo que é muito possível que vá ser sorteado para os Jogos e ainda mais possivelmente morrerá neles antes de completas dezoito anos, e nem teve como escolher”. Mas apenas sorriu, um sorriso encantador que fez Melaça sentir-se mais à vontade.

– Ah, eu estava me esquecendo do que realmente vim fazer. Você é uma companhia muito agradável, Alex, aposto que todos na Capital irão adorá-lo. Preciso passar os horários de todos os eventos em que iremos antes dos Jogos. Você sabe, têm uma semana de preparação. Primeiro iremos de aerodeslizador até a Capital, chegaremos a menos de cinco horas e começará o processo de “Preparação Física”, onde iremos cuidar de seus corpos, embelezando-os ou melhorando uma coisinha e outra.

– Vão arrancar minha pele para colocar uma artificial? – perguntou, com o rosto de uma criança curiosa. Melaça o encarou e então soltou uma gargalhada fina.

– Você é hilário, Alex. – ela suspirou – Muito boas suas habilidades sociais. Mas não, iremos lavá-lo, esfregá-lo, massageá-lo. “Trocaremos” sua pele por uma idêntica, entretanto melhor. Pense nisso como um banho demorado e intenso. Mas, como eu dizia...

– Meus pais não vieram me ver? – perguntou, cortando-a. Alexander tinha uma expressão séria, e não falava como o rapaz galanteador e orgulhoso de antes. Melaça ficou em silêncio por alguns segundos e sorriu docemente.

– Infelizmente, este ano não será possível despedir-se de seus parentes. No Distrito Doze, um homem quase conseguiu sequestrar os tributos, dizendo ser da família, por isso iremos cuidar para que isso não ocorra também aqui. Seus pais gravarão uma mensagem para você ver quando estiver no aerodeslizador. Não se preocupe, aposto que estão muito orgulhosos de um filho tão forte e bonito.

Alexander passou a mão pelo cabelo e suspirou, virando em direção a janela.

– Falta muito?

– Para...?

– Para ir embora.

º º º

Scalene – Loucure-se

Alexander caminhou calmamente pelo corredor de Pacificadores, que formavam uma corrente humana. Atrás deles, todos do Distrito, silenciosamente, olhavam-nos, desejando que voltassem para casa com as prometidas riquezas e comida. Ao seu lado, a garota que iria aos Jogos com ele estava de cabeça baixa, com as mãos dentro dos bolsos de uma jaqueta que Alex não a vira usar durante a Colheita. Ela apertava algo contra o estômago, e ele suspeitou ouvir um chiado agressivo e fino.

A acompanhante parou de caminhar por um momento e olhou para trás, para ambos. Sorriu e chamou dois Pacificadores. Um homem e uma mulher. O homem apalpou Alexander, em todos os bolsos e locais onde poderia estar levando algo considerado irregular. A mulher fez o mesmo com Lixie, que arregalou os olhos, pálida. Assim que a Pacificadora se aproximou, a menina recuou, apertando mais ainda a jaqueta. O chiado voltou a surgir e desta vez era choroso. Lixie mordeu os lábios, enquanto as garras surgiam em seu vestido, arranhando-o. O gato escapuliu de lá, correndo para fora e saltando mais algumas vezes antes de olhar ao redor, confuso. A menina ajoelhou-se, chamando-o, trêmula.

– Não é permitido animais. – a Pacificadora falou firmemente.

– Ele é apenas meu...

Com a cabeça da arma, a mulher bateu no felino, que caiu com o crânio rachado em dois. Sangue escapou de sua boca e ele gemeu, gritando em agonia. Lixie exclamou, cobrindo a boca com as mãos e escondendo o rosto contra o próprio peito.

– Era mesmo necessário? – a acompanhante perguntou, irritada, abaixando-se ao lado de Lixie e levantando-a, caminharam juntas até o aerodeslizador. Alexander não conseguia parar de olhar a bola de pelos contorcendo-se, patas e pelo para todos os lados, até que a mulher desse o tiro de misericórdia. O gato não soltou mais um ruído.

– Você, vá andando – Alexander foi empurrado e se colocou a caminhar.

Alexander olhou uma última vez para a multidão de rostos desconhecidos. Não encontrou qualquer familiar, por isso entrou no aerodeslizador e despediu-se de seu lar. Não voltaria a vê-lo caso não vencesse os Jogos, o que não era muito simples. O automóvel era grande, espaçoso e cheio de andares. A parte superior tinha a sala onde se dirigia o aerodeslizador, na inferior os quartos e salas de estar estavam. Apenas ele, Lixie e Melaça estariam lá para conversar pelas próximas horas. Os Pacificadores estavam imóveis em cada uma das portas do local.

A sala de estar tinha três sofás grandes e espaçosos, inutilmente colocados em um círculo, como se ele e as outras duas fossem utilizar todos de uma só vez. A mesa de centro tinha revistas da Capital falando sobre a nova moda e as tendências da próxima estação. Melaça sentou-se em um dos lugares vagos e abriu a primeira revista, sorrindo sempre que surgia uma foto que lhe agradasse. Ela tocava os cabelos às vezes, idealizando como ficariam os processos químicos. Haviam preços estranhos para Alexander, cheio de zeros, inimagináveis para qualquer um de seu Distrito. Lixie estava distante. Ela se destacava como uma pintura, imóvel perto das janelas pequenas e arredondadas. Ela estava sentada em uma poltrona macia e grande, diante da mesa onde se servia a comida. Devorada biscoitos sempre que uma criada muda surgia para colocar outro prato a sua frente. E ele estava observando. Até que se cansou disto.

– Certo, quais serão os próximos eventos após a Preparação?

– Teremos o Desfile, onde os Patrocinadores poderão conhecê-los melhor, e vocês vão vestir roupas típicas de seu Distrito, aposto que amarão o que os estilistas fazem. São todos muito talentosos. – Melaça sorriu, fechando a revista rapidamente. – Depois iremos para um Hotel onde ficarão hospedados até os Jogos, lá poderão desfrutar de todos os atendimentos exclusivos, como massagem, piscina, todo tipo de comida e... Ah, o Treinamento, também.

– Treinamento?

– Foi uma escolha recente, nossos Idealizadores decidiram que três dias de treino para os tributos poderia render em Jogos mais longos e interessantes. Vocês aprenderão o básico do combate e sobrevivência. Não é interessante?

– Sim... – concordou com um meneio, enquanto desviava os olhos para Linx. Ela estava olhando para eles, e quando seus olhos se encontraram, ela se desviou, encolhendo-se e recolocando mais biscoitos dentro da boca. – Você acha que temos alguma chance, Mel?

A mulher piscou, atônita.

– Ora, mas é claro. São fortes e bonitos, parecem saudáveis. Os Patrocinadores gostam de tributos como vocês, que podem nos surpreender. Eu particularmente votaria em vocês, é claro, afinal os demais tributos são magrinhos e cheios de ossos, eles parecem tão fracos... É uma pena, seria muito melhor se fossem todos fortes e habilidoso. – Melaça suspirou, reabrindo a revista – E você se sente confiante, Alex?

– Sim. Já enfrentei muitas brigas em minha carreira - E então abriu um sorriso caloroso que a fez rir também. Melaça era uma pessoa fácil, manipulável, de opiniões controladas pela massa. Ela se contentava em ser mediana, medíocre. Sabia seguir as regras e pensar como todos pensavam. Ela era entediante. – E você, Linx, sabe de alguma coisa que poderá fazê-la me vencer?

– Sei que é orgulhoso demais para aceitar derrotas e que é arrogante demais para notar os próprios erros. – ela respondeu, simplória, a voz monótona e os olhos frios. Parecia irritantemente confortável e desinteressada. – Também sei que posso confiar nos meus instintos, que dizem para não confiar em você.

– Linx é esperta. – Alexander sorriu, mas a menina não pareceu tocada por isso, então ele mudou de estratégia. – Também é bonita e difícil, do jeito como os homens gostam. Vai chamar muita atenção.

– Elogios e palavras doces não me compram. – ela mordiscou um biscoito e encarou a janela, o chão do lado de fora.

– Não seja tão indelicada, afinal estamos nesta juntos. Formaríamos uma ótima aliança, aposto que Melaça acha o mesmo. – e virou o rosto para a acompanhante, que assentia animadamente.

– Você é idiota ou o quê? Não existe nós, e nunca irá existir. Apenas um ganha os Jogos. Vai notar isto quando estiver morto entre milhares de cadáveres do Banho de Sangue?

Ela enfiou outro biscoito na boca e se calou, com o olhar perdido. Melaça encarava-a com certa surpresa, porém Alexander não estava surpreso. Estava apenas amedrontado. É, realmente ele não havia pensado na morte. Não em como ela poderia estar tão perto como estava. Entre vinte e quatro, apenas um ganhava, e esse um realmente poderia ser ele? Será que sua inteligência, força e sorte seriam o suficiente para vencer? Não sentia-se tão confiante disto, porém. Sorte não era algo com que contava muito. Primeiro, nasceu filho de donos de um cortiço. Depois, cresceu rodeado de vícios e drogas. Brigava, bebia e fazia coisas erradas sem medo ou arrependimento. Vivia como se fosse morrer no dia seguinte, mas nunca acreditara que realmente fosse morrer no dia seguinte. Havia sempre outro dia, outra farra.

Se morresse, então tudo estaria perdido e seria em vão? Toda a diversão não serviria de nada, afinal ele não iria sentir isso na morte. Que tipo de vida tinha vivido para poder falar sobre isso com tanta naturalidade e casualidade como Linx. Ela parecia conformada, cômoda em sua situação. Era tudo mentira. Melaça sorria e as pessoas o tratavam como alguém importante, mas fora o mesmo com todos os outros tributos do Distrito Nove que morreram antes dele, em todos os outros Jogos. Ele era mais um. Não importava, pois no ano seguinte haveria mais vinte e quatro e depois mais vinte e quatro e todos os que morressem seriam apenas perdedores, esquecidos. Era tudo um conto de fadas com um final terrivelmente cruel.

– Como eu disse, seus pais gravaram uma despedida. – Melaça interrompeu seus pensamentos, entregando-lhe uma placa metálica e leve, pequena, onde brilhava o rosto de sua mãe e pai. Ela apertou o objeto e o vídeo iniciou.

Alex, nós sentimos tanta dor em perder nosso único filho, mas não deixe esse pessimismo chegar a você. Lute com todas as suas forças e mostre que você é capaz. Se alguém lhe dizer que não é possível, desconfie imediatamente, pois esta não é uma boa pessoa. Estaremos sempre nos lembrando de você, torceremos com todas as nossas forças.

Te amamos.

Alexander devolveu a placa para Melaça que lhe sorria solidariamente, mas não estava realmente emocionado com o vídeo. Estava incomodado. “Estamos sempre nos lembrando de você”. Era como se sua mãe dissesse “Mesmo que você morra, não esqueceremos de você”. Era doentio pensar que sua mãe poderia supor que ele tinha chances de não sobreviver. Embora fosse verdade. Queria que pelo menos alguém confiasse que ele iria viver de qualquer forma. Mas não havia.

Na verdade, Alexander é fraco. É uma pessoa fraca. Uma pessoa penosamente fraca. Você teria dó se o tivesse conhecido. Ele sabia que não era suficientemente bom para aquilo e precisava de alguém para lhe dizer o contrário para que pudesse acreditar. Era fraco. Estava com medo de morrer, ele não queria. Também tinha medo de matar pessoas, e medo de se ferir gravemente sem chances de voltar atrás, como perder um olho ou uma mão. Tinha medo de diversas coisas que o deixavam cada vez mais amedrontado. Mas, é claro, não iria deixar que ninguém soubesse disso. Era algo vergonhoso pelo qual não podia passar em público, por isso deu de ombros e pediu a uma criada para que trouxesse um prato de biscoitos.


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Notas finais do capítulo

Alex pertence a Lord. (Giulia)
Espero que tenham gostado. Por favor, quando forem enviar fichas, enviem fichas realmente boas, detalhadas, que me façam querer escrever. Estou meio chateada por ter poucas fichas e não muitas interessantes... Beijos da Meell.