Além do Caos escrita por Um Alguém
A primeira coisa que me chamou atenção foi a cicatriz no rosto do Zeke. Um corte avermelhado que ia do alto da testa até quase o maxilar, passando por sobre o olho esquerdo.
– Impressionada, amor? - questionou Zeke com um sorrisinho zombeteiro me observando para à porta.
O bar estava sujo, mas aparentemente inteiro. Apesar de ter algumas mesas e cadeiras quebradas e garrafas espalhadas pelo chão, o lugar não estava tão ruim quanto o esperado. Zeke estava sentado relaxadamente em uma cadeira de frente para a porta. Atrás do balcão, apontando uma metralhadora para mim, estava um homem alto, robusto e forte, com uma expressão carrancuda. De pé, ao lado do Zeke, havia um garoto muito magro apontando-me um rifle se precisão.
– Oh, aonde está minha educação? Estes são Brad, o destruidor. - disse Zeke apontando para o homem no balcão. - E Ryan. - o garoto ao seu lado. - Entre, querida.
Obediente, entrei e fechei a porta atrás de mim. Imediatamente uma mulher apareceu a minha frente levantando meus braços para me revistar. Seu cabelo loiro era curto e desgrenhado e ela ostentava uma expressão dura. Ela pegou minha arma e o rádio comunicador e colocou sobre o balcão, depois puxou minhas mãos para trás, amarrando-as as minhas costas.
– Rachel, essa é a Amber, minha namorada. - apresentou Zeke com um sorriso maroto.
– Tomara que ela tenha mais sorte que a última, não é?
– Ela não é como a Rebeka.
– Não, ela não é. - disse amargamente. - E nunca será.
Zeke abriu um sorriso cínico. Era estranho ouvi-lo falar da minha irmã depois de tudo que acontecera. Amber me puxou até um canto, colocando-me sentada em uma cadeira. Ryan e Brad abaixaram suas armas.
– Ryan vai cuidar de você enquanto eu resolvo alguns assuntos. - disse Zeke se pondo de pé. - Comporte-se, criança.
Zeke seguiu para os fundos do bar, deixando-me sozinha com Ryan, Brad e Amber. Ryan sentou em uma mesa perto de mim e Amber em um banco junto ao balcão, onde Brad remexia nas garrafas de conhaque e whisky nas prateleiras. O único dom vinha das garrafas sendo colocadas no balcão e dos cacos de vidro esmagados sob os passos de Brad.
– Como vocês se conheceram, você e o Zeke? - perguntou Ryan de repente.
– Ele namorava a minha irmã. - respondi-lhe um pouco surpresa.
– E o que aconteceu? Por que vocês brigaram? - questionou ele com seus olhos cor de chocolate derretido me observando com curiosidade.
– Muita coisa aconteceu. Zeke não contou?
– Contou, mas eu queria ouvir a sua versão.
– Cala a boca, Ryan. - ordenou Amber impaciente. - Ela não é nossa amiga, é uma prisioneira. Só isso.
– Hm. - Ryan encarou Amber por alguns segundos, depois virou-se tranquilamente pra mim. - Então, depois que você e Zeke brigaram você encontrou esse grupo do Dexter? - perguntou ele como se Amber não tivesse dito nada.
– Não. Eu fiquei um bom tempo sozinha. Faz poucos dias que conheci esse grupo. Mas para falar a verdade parece que eu fiquei com eles durante meses.
– Por isso veio trocar de lugar com a Kristin?
– Acho que eu simplesmente cansei de fugir. - dei de ombros pensativa.
– Sabe o que vai acontecer, não é? - perguntou Ryan. - Sabe que o Zeke vai te matar, não sabe?
– É, eu sei sim. Mas de todas as coisas que o Zeke já me fez, me matar é a melhor.
– Eu sou contra isso. - ele sussurrou se inclinando na minha direção para que ninguém ouvisse. Amber nos observava atentamente. - Disse ao Zeke que não faria diferença matá-la, que o que foi feito já foi feito, mas ele não me escutou.
– Tudo bem, não tem importância. - dei um pequeno sorriso. - Você parece um garoto legal, é uma pena que faça parte disso. Se um dia conseguir fugir do Zeke, procure o Dexter. Aposto que ele gostaria de você.
– Ei, chega desse bate papo. - ordenou Amber vindo até nós.
Eu quase ri. Aquilo era algum tipo de círculo vicioso, uma pegadinha do destino ou o quê? Olhando para aquelas três pessoas ali um conseguia ver meus amigos. Ryan me fazia lembrar do Luke. Simpático, com uma aura leve. Amber era como a Kristin, nervosa, fechada, difícil de lidar. E Brad me lembrava um pouco o Brandon. Distante, carrancudo e parecendo sempre pronto para qualquer coisa.
Ryan parecia incomodado e eu não sabia dizer se era por causa do que eu havia lhe dito ou se era porque a Amber havia atrapalhado nossa conversa. Amber puxou uma cadeira e sentou ao lado da mesa aonde Ryan estava. Brad por fim pareceu achar o que queria, uma garrafa de tequila. Ele pegou um copo pequeno e se serviu da bebida.
– Pronto, amores, já voltei. - anunciou Zeke retornando ao bar. Ele sentou em um banco junto ao balcão. - Sabe, essa tal Kristin é uma mulher difícil, hein?
– Aonde ela está? - questionei séria.
– Nós já a liberamos. A essa altura ela deve estar voltando para o nosso querido Dexter. - disse ele sorridente.
– Como vou saber que é verdade?
– Não vai. Terá que confiar em mim.
– Já fiz isso uma vez e me lembro bem das consequências. - disse amargamente.
–É, eu também lembro. - seu sorriso se tornou frio. - Não teve um dia sequer que eu não pensei em você. Toda vez que eu me olhava no espelho, - ele apontou para a cicatriz no seu rosto. - lembrava de você.
– Isso é ótimo. - afirmei impassível. - Eu também lembrava de você o tempo todo, arruinando a minha vida, destruindo a minha família.
– Eu acho que você deviam deixar isso para lá. - disse Ryan tentando amenizar o clima tenso. - Seja lá o que tenha acontecido, já passou. Não vai adiantar nada ficar remexendo nessa história.
–Se fosse com você, deixaria para lá? - perguntou Zeke olhando para o menino ao meu lado.
– Sim. - respondeu Ryan tranquilo.
– E você, Rachel? - Zeke me lançou um sorriso sem emoção. - Se pudesse, me mataria?
– Não antes de te fazer sofrer tanto quanto a minha família. - disse-lhe altiva.
– Está vendo, Ryan? É assim que as pessoas inteligentes pensam. Pessoas fracas pensam como você. E essas são as primeiras pessoas a morrerem.
– Mas eu ainda estou vivo. - Ryan sorriu.
– Não seja por isso. - Zeke pegou a minha pistola sobre o balcão e atirou três vezes em Ryan. Arfei de surpresa quando vi o garoto franzino e simpático cair da mesa sangrando e sem vida. Livre-se dele para mim, amor. - pediu Zeke a Amber colocando a pistola de volta no balcão.
Amber levantou-se calmamente e pegou Ryan pelos pés, arrastando-o pelo chão imundo do bar. Por onde o corpo dele passava uma trilha vermelha aparecia. Seu rosto que a poucos segundos ostentava um sorriso, agora era como uma máscara de cera.
– Sabe, é uma pena que as coisas tenham seguido por esse caminho. - comentou Zeke tranquilamente depois que Amber saiu com o corpo do Ryan. - Você é uma garota com, grande potencial. Poderia ser você ao meu lado ao invés da Amber. Mas você não quis, não é? Não conseguiu ver que eu estava fazendo o que era necessário.
– Necessário? Não era necessário você ser um monstro, Zeke. - disse-lhe furiosa.
– Os monstros estão por todos os lados, querida. Todos nós temos monstros interiores e às vezes é preciso deixá-los sair.
– Eu devia ter matado você. Quando cortei seu precioso rosto, devia ter te matado.
– É, você devia. Mas não fez. E agora é a minha vez. - ele abriu um sorriso pérfido.
Zeke decidiu que não queria me matar em um bar imundo e decadente. Resolveu então me levar para o Rage, aonde ele construíra sua cidade. Agora estávamos no carro, a caminho. Zeke dirigindo e eu e Brad no banco de trás do Jeep. Amber e mais dois homens mal encarados iam no Land Rover cinza à nossa frente.
Eu estava distraída, presa nos meus próprios pensamentos, sem prestar atenção em nada ao meu redor até ouvir a risada cruel do Brad. Zeke havia lhe dito algo com o qual ele estava se divertindo.
– E ela implorou? - questionou Brad animado.
– Não, ela aguentou firme. - disse Zeke satisfeito. - Era uma mulher durona. E bem gostosa. - risos.
– Queria ter experimentado ela também. - resmungou Brad.
– Não se preocupe, terão muitas outras para experimentarmos. - garantiu Zeke me olhando pelo retrovisor.
– Será que essa aqui é tão gostosa quanto a amiguinha? - ponderou Brad me analisando com um olhar voraz.
– Não, aquela já era velha. A Rachel é nova, deve ser melhor. Não é, querida? Aposto que a tal Kristin nem chega aos seus pés.
Kristin. Só então a ficha caiu. Era da Kristin que eles estavam falando. Eles a estupraram. Será que a mataram? Eu não conseguia mais pensar direito. As imagens do que o Zeke havia feito com a minha família, com a minha mãe, invadiram minha mente. O ódio queimava minhas veias como ferro derretido. Olhei para o lado e encontrei um sorriso nojento no rosto do Brad. Sem pensar duas vezes, me debrucei sobre o Brad, pegando a faca presa à sua cintura e enterrei-a em seu peito.
Ele soltou um urro de dor e surpresa e Zeke parou o carro rapidamente. Ele me deu um tapa no rosto, depois foi tentar acudir o Brad. Mas já era tarde. Ele havia morrido e levado com ele aquele sorriso escroto. Zeke me deu um soco e eu apaguei.
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