“Ele fez o quê?” Abbie gritou perplexa.

“Foi exatamente isso o que aconteceu Abbie...” Lisa continuou a explicar. “Ele ouviu toda aquela conversa de você com a aquela mulher e óbvio, entendeu de uma forma torta.”

“Só não é mais imbecil, porque é só um mesmo...” Ela bufou.

“Mas enfim, o fato é que ele só cancelou o jantar porque achou que você pensava aquelas coisas dele. Tudo bem que eu concordo com tudo o que você falou, mas sabemos que você não o vê daquela forma.”

“Tudo bem.” Abbie suspirou. “Eu não deveria ter dito aquelas coisas mesmo, então deixa isso para lá.”

“Sério?” Lisa perguntou surpresa. “Achei que ia ser mais difícil você o desculpar, mas enfim... Melhor mandar uma mensagem pra ele, sei lá.”

“Por que eu mandaria alguma mensagem pro Dom?”

“Pra vocês conversarem ué.”

“Lisa, não temos nada o que conversar. Entendo o engano que aconteceu, reconheço minha parcela de culpa nisso tudo, mas...”

“Mas o quê?” Lisa disse confusa.

“Ele sequer veio falar comigo, resolveu toda a história apenas saindo com outra mulher. Quero dizer... Não é o tipo de pessoa muito confiável.”

“É... Nisso você tem razão...”

“Se ele ao menos tivesse conversado comigo eu iria explicar tudo, mas nem tive essa chance pra me explicar, ele tirou as suas próprias conclusões e foi agir como ele sempre age.” Abbie respirou fundo e voltou sua atenção a televisão. “Se quer saber, acho que foi até bom que isso aconteceu. Agora só tenho mais certeza de que se tivesse saído pra jantar com ele, estaria cometendo o maior erro da minha vida.”

“Eu não sou a fã número um do Landon, mas eu sinceramente acho que se tem alguém que conseguiria dar um jeito nele de vez, esse alguém é você Abbie. Não deixa escapar as oportunidades por conta de orgulho besta.”

“Não é orgulho Lisa, mas você tem que concordar comigo que agir dessa maneira é da natureza do Landon. Eu exagerei a verdade com a Samantha, mas também não era totalmente mentira. Eu o conheço há anos, nunca o vi sequer tentar ter algum relacionamento com alguém, por que seria diferente comigo? E isso eu estou cogitando a ideia de que pode existir a possibilidade de que ele sinta uma mínima atração por mim sequer.”

“Eu sei, eu só...” Lisa suspirou. “Quero ver você feliz Abbie.”

“Eu já sou feliz.” Abbie sorriu e abraçou Lisa. “Eu tenho um emprego maravilhoso, tenho amigos que eu amo muito... Não são motivos suficientes para ser feliz?”

“São sim.” Lisa sorriu também. “Eu apenas me preocupo com você. Você vive aqui sozinha e...”

“Sozinha?” Abbie a interrompeu. “Eu nunca fico sozinha Lisa, na verdade são únicos esses momentos em que eu consigo sentar aqui em casa, em paz, apenas pra relaxar.” Ela falou com diversão. “Não precisa se preocupar, eu sou grandinha já, sei me virar, está bem?”

“Tá certo senhora grandinha!” Lisa se levantou. “Então, já que expliquei tudo o que tinha para lhe explicar, agora vou voltar para os braços do meu querido.”

“Isso tá ficando sério mesmo heim? Já pensou como vai ser quando você for embora?”

“Ah... Ele continua com a vida dele aqui e eu com a minha lá, como sempre.” Lisa deu de ombros, tentando disfarçar.

“Aham... Tá bom...” Abbie falou com sarcasmo.

“Nem comece Abigail!” Lisa a reprendeu com diversão. “E trate de resolver logo esse mal entendido com o seu amado Dom. Eu o odeio, mas verdade seja dita, ele gosta de você de verdade.”

“Eu vou conversar com ele amanhã, pode deixar.” Ela se levantou e deu um breve abraço em Lisa, se despedindo.

Abbie voltou a sentar e pegou o seu celular. Não tinha nenhuma ligação ou mensagem de Dom, sequer o rotineiro ‘Boa noite’ que ele sempre enviava para ela.

“Será que ele ficou com raiva de mim mesmo?” Abbie falou pensativa.

Depois de uma briga interna, ela decidiu ligar para ele, ignorando completamente o fato de que aquela hora ele já poderia estar aproveitando a noite com a tal modelo sueca. Depois de tentar quatro vezes, ela desistiu. A ligação apenas chamava e depois ia para a caixa de mensagens, mas Abbie não deixou nenhuma mensagem salva, achou que se eles tinham que conversar, isso deveria acontecer pessoalmente.

Já eram mais de 23hrs, Abbie organizou suas coisas rapidamente e foi se deitar, caindo no sono rapidamente. Ela acordou alguns momentos depois, atordoada, com o celular tocando. Ela sentou na cama e acendeu o abajur pegando o celular de cima do criado mudo ao lado da sua cama e viu que era uma ligação de Nick.

“Nick?” Ela atendeu ainda sonolenta. “O que foi? Aconteceu alguma coisa?” Abbie perguntou preocupada ao reparar que eram quase 2hrs da manhã.

“Ahhh, aconteceram muitas coisas Abigail Thomas!” Abbie reconheceu a voz, não era Nick ligando e sim, Dom. Mas notoriamente ele estava mais bêbado do que o normal.

“Dom? Onde você está? O Nick está com você?”

“O Nickzinho está aqui junto da doce e amável moça, conhecida por Lisa Sacana.” Dom falou enrolado e Abbie ouviu o seu riso.

“Me dá isso seu demente!” Lisa falou pegando o celular da mão de Dom. “Abbie?”

“Lisa, por favor, dá pra explicar o que está acontecendo?” Abbie ficou em pé andando impaciente de um lado para o outro.

“Não foi nada demais Abbie, eu juro.” Lisa falou tentando a tranquilizar. “O Don Juan aqui bebeu demais e acabou batendo o carro ao voltar para casa.”

“Ele o quê?” Abbie gritou. “Onde vocês estão? Como ele está? O que houve com ele?”

“Calma, não aconteceu nada de grave, ele só amassou um pouco o carro. O Nick já entrou em contato com a seguradora e...”

“Lisa que se foda o carro! Como o Landon está? Ele se machucou? Vocês estão indo levá-lo ao hospital?”

“Não querida, se acalme!” Lisa disse. “Como eu já falei, não aconteceu nada de grave, ele não se machucou, só foi os danos no carro mesmo, já o levamos ao hospital e está tudo perfeitamente bem. Quer dizer, exceto pelo fato de ele estar tão bêbado que mal consegue andar.”

“Pelo amor de Deus...” Abbie falou voltando a sentar na cama, se sentindo mais aliviada em saber que Dom estava bem. “Pra onde estão indo agora? Vão vir deixar ele aqui na cobertura?”

“Sim, já estamos chegando. Acho que em uns 10 minutos estamos aí.”

“Certo, eu vou esperar vocês lá!” Abbie desligou sem nem esperar uma resposta de Lisa.

Ela apenas pegou um casaco e pôs o celular no bolso da calça de moletom, pegou seus chinelos e saiu correndo do seu apartamento, atravessando a rua para o hotel onde Dom morava. Abbie aguardava com o coração apertado a tão demorada chegada de Nick, Lisa e claro, Dom.

“Até que enfim!” Ela falou quando a porta se abriu e andou rapidamente até Dom.

“Lar, doce lar!” Dom disse vagarosamente, graças ao álcool em seu organismo.

“Você tá bem? Tá doendo alguma coisa? Machucou alguma coisa?” Abbie perguntou examinando-o rapidamente.

“Eu to ótimo!” Ele começou a rir e se apoiou em Abbie para não cair.

“Alguém explica, por favor!” Abbie olhou para Nick e Lisa.

“Nem eu sei explicar Abbie...” Nick disse. “Acordei com ele me ligando, sem dizer coisa com coisa. Depois um policial pegou o celular e conversou comigo, contando sobre a batida do carro e eu fui buscá-lo. Mas passamos no hospital, ele está bem, sem fraturas só alguns arranhões no braço mais nada demais. Ah e claro, morto de bêbado, como você já pôde reparar.”

“Eu não to bêbado!” Dom disse se fingindo de ofendido. “Quem tá bêbado aqui?” Ele olhou para Abbie. “Eu não to.”

“Imagina... Só que se acender um fósforo perto dele, isso tudo aqui explode!” Lisa bufou.

“É sério que você tá bem?” Abbie perguntou novamente para Dom.

“Abbie, eu já disse, to ótimo. Melhor impossível.” Ele cambaleou e se encostou na parede.

“Que bom!” Ela sorriu aliviada, pegou uma almofada e começou a bater em Dom.

“Ai! Tá louca?” Ele gritou.

“Você quer me matar do coração Landon? É isso? Como você ousa sair pra beber igual um cachorro e ainda vai dirigir?” Abbie bateu nele novamente.

“Eu... Eu... Não sei ué!” Dom deu ombros.

“Não sabe?!” Abbie gritou furiosa, Nick e Lisa deram um passo para trás, apenas observando toda a cena e tentando, inutilmente não rir. “Ainda bem que você não morreu nesse acidente Landon, porque eu vou te matar agora mesmo!” Ela saiu correndo atrás dele que fugiu em direção ao quarto.

“A gente devia ir separar os dois...” Nick falou pensativo.

“É...” Lisa concordou.

“Será que ainda tem aquela torta de chocolate que a gente comeu ontem?”

“Vamos descobrir?” Lisa perguntou rindo e dois foram atacar a geladeira de Dom.

Para a alegria dos dois, ainda tinha a tão querida torta de chocolate que eles procuravam e eles não pensaram duas vezes antes de acabar com ela.

“Jesus... Isso é dos deuses!” Lisa disse antes de dar a última mordida em seu pedaço.

“Me lembra de ir comprar outra mais tarde.” Nick disse lambendo o seu garfo e Lisa franziu a testa.

“Tá ouvindo isso?” Ela perguntou a Nick.

“Ouvindo o quê?” Ele disse confuso. “Não to ouvindo nada.”

“Exatamente. Abbie e Dom estão extremamente quietos.”

“Caralho... Se mataram!” Nick saiu correndo para o quarto de Dom, seguido por Lisa.

Ao entrarem eles se depararam com Dom já deitado dormindo e Abbie sentada ao seu lado, o olhando.

“Ele dormiu assim que deitou.” Abbie explicou se levantando. “Que susto que eu passei, vocês nem imaginam.”

“Eu imagino, também fiquei assustado quando me ligaram, mas ainda bem que tudo acabou bem.” Nick disse e Abbie assentiu.

“Nem me fala...” Ela respirou fundo. “Eu vou dormir no outro quarto, caso ele precise de alguma coisa. Vocês podem ir se quiser e muito obrigada por trazer ele inteiro.”

“Como se precisasse agradecer né, sua cabeçuda!” Lisa falou rindo.

“Concordo com a Lisa. Você e o Dom são minha família aqui Abbie, sem contar que se fosse ao contrario eu tenho certeza que vocês não pensariam duas vezes em ir me ajudar.” Nick disse colocando o braço ao redor do pescoço de Lisa.

“Vocês são oficialmente o meu novo casal preferido do mundo todo. Sério.” Abbie disse rindo.

Os três saíram do quarto de Dom e após conversarem por alguns momentos, Nick e Lisa foram embora e Abbie foi tentar dormir um pouco, já que tinha uma reunião cedo de manhã. Ela se dirigiu ao quarto onde sempre costumava dormir, virou de um lado para o outro, mas o sono não vinha. Abbie não conseguiu tirar do pensamento o fato de Dom ter sofrido um acidente, mesmo sabendo que ele estava bem, ela não conseguia se sentir aliviada por completo e ela sabia exatamente o motivo, só não queria ficar pensando nisso.

O dia finalmente clareou, Abbie deu uma última conferida em Dom, ele ainda estava dormindo e ela resolveu que era melhor não acordá-lo, ela poderia conduzir a reunião sozinha e ele precisava dormir mais um pouco. Ela desceu e falou com um dos funcionários do hotel, pedindo que levassem um café da manhã bem reforçado para Dom e explicou que ele havia sofrido um pequeno acidente na madrugada e que precisaria de uma atenção maior.

Ao chegar em seu apartamento, Abbie tomou um banho, se trocou, optando por uma saia lápis branca e blusa preta. Ela prendeu os cabelos em um coque bagunçado e tomou um copo de suco, porque ela realmente não estava se sentindo com fome naquele momento. Depois de terminar de se arrumar rapidamente, ela pegou suas coisas e ligou para o motorista ir buscá-la.

Já eram quase 9hrs da manhã e a reunião corria normalmente, Abbie estava lidando com um potencial cliente que era um tanto quanto difícil de se tratar.

“Eu acho um absurdo o valor que estão me pedindo!”

“Sr. Macbe...” Abbie respirou fundo tentando manter a sanidade. “O valor que estão solicitando de pensão é a porcentagem rotineira.”

“Mas mesmo assim, eu acho um absurdo!” Ele respondeu indignado.

Marcos Macbe havia procurado o escritório porque estava passando por um turbulento processo de separação e o grande problema é que ele não queria pagar o valor que estava sendo requerido, mesmo ele estando dentro das leis e queria um advogado de defesa que conseguisse diminuir esse valor.

“Eu já lhe expliquei como o cálculo é realizado, com base nos seus bens e renda fixa é pré-determinado um valor. Como o senhor tem dois filhos, todos menores de idade, o valor estipulado está mais do que correto, a sua ex esposa não está pedindo mais do que lhe é de direito, pode acreditar.”

“Eu não estou pagando você para dar razão aquela cobra de minha ex, estou lhe pagando para me defender.” Marcus falou arrogantemente e Abbie até tentou se segurar, mas não foi possível dessa vez.

“Sr. Macbe, o senhor possui dois filhos, de 5 e 7 anos de idade, que são filhos legítimos, comprovado via teste de DNA. Pela lei, o senhor é obrigado a pagar um valor que seja suficiente para suprir gastos com educação, alimentação e outras despesas que sejam geradas por eles.” Ela disse séria. “Como lhe disse, o cálculo desse valor é feito a partir de bens e salário fixo e conhecendo homens tipo o senhor, como eu conheço, eu sei que com certeza não fez a declaração de todos os seus bens, logo, o valor que está sendo pedido é inferior ao que o senhor deveria pagar.” Abbie pegou os papéis do caso. “A sua ex esposa afirma que o senhor tem um comportamento violento e abusivo.” Ela o encarou. “Está ciente de que agressão nesse país ainda é crime, não está?” Ela perguntou ironicamente. “E a propósito, o senhor não está me pagando para absolutamente nada. Eu estou fazendo a gentileza de discutir o caso com o senhor para lhe dar um posicionamento se pegaríamos o caso ou não e eu posso lhe garantir que não iremos lhe defender, trabalhamos apenas com clientes honestos que realmente mereçam uma defesa digna.”

“E vocês estão escolhendo os clientes agora? É isso?” Ele perguntou com desdém.

“Não é questão de escolher clientes, mas gostamos de acreditar que somos uma empresa justa. No seu caso isso não se aplica.”

“Eu posso pagar o valor que quiserem, você não está entendendo...”

“Eu estou entendendo perfeitamente senhor. E já que possui tanto para pagar caro por uma defesa incoerente e falsa, não vai ser problema pagar uma pensão para os seus próprios filhos.” Ela sorriu com sarcasmo. “E se me permite, agradeça que eu não sou a advogada de acusação. Eu conseguiria que o senhor pagasse o triplo desse valor facilmente, então siga o meu conselho, aceite de bom grado o que estão pedindo e finja ao menos ter um pouco de dignidade, pelo menos na frente dos seus filhos.” Ela fechou a pasta com os papéis do processo e o devolveu.

Ele tomou bruscamente de suas mãos e saiu resmungando. Abbie revirou os olhos e quando ia volta a sentar, viu Dom entrando pela porta da sala com uma bolsa de gelo na cabeça.

“O que está fazendo aqui?” Ela perguntou surpresa.

“Vim trabalhar...” Ele se jogou em uma cadeira próximo a Abbie e fechou os olhos.

“Já posso pedir para o próximo entrar?” Kelly perguntou da porta, olhando com curiosidade para um Dom desmaiado.

“Faltam muitos?”

“Não Abbie, esse é o último.”

“Ótimo... Ér... Pode pedir para entrar, por favor.” Abbie esboçou um sorriso e Kelly assentiu saindo. “Dom, é melhor você ir para a sua sala...”

“Não, eu to bem.” Ele levantou a cabeça e sentou direito.

“Eu sei que está, mas só falta mais um cliente, eu posso lidar com isso. Vá para seu escritório, é melhor, a gente conversa lá.”

“Eu vou ficar.” Ele disse firmemente e ela apenas assentiu em silencio.

“Srta. Thomas, Sr. Hunter.” Um homem entrou na sala e disse cordialmente.

“Bom dia, Sr...?” Abbie se levantou estendendo a mão para ele.

“Jim Wheaton.” Ele respondeu e os dois apertaram as mãos, Dom repetiu o mesmo gesto, mas não ousou a se levantar.

“Wheaton?” Abbie repetiu. “Esse sobrenome não me é estranho...”

“Tivemos uma breve conversa por e-mail, mas achei melhor conversar com vocês pessoalmente.”

“Claro... Bom, em que podemos ajudar?” Abbie perguntou.

Wheaton não era nenhum possível cliente, na verdade, ele tinha ido fazer uma proposta a Dom. Comprar a sua empresa. A apresentação durou mais tempo do que era necessário, Abbie olhou discretamente e viu Dom dormindo na cadeira, ela pensou em reclamar com ele, mas até ela já estava ficando cansada de ver e ouvir toda aquela baboseira.

“Sr. Wheaton eu lembro que tratamos sobre esse assunto brevemente por e-mail.” Abbie se pôs de pé. “Mas baseado no nível de empolgação do Sr. Hunter...” Ela olhou rapidamente para Dom, que estava em um sono profundo. “Eu acredito que posso lhe afirmar que não estamos interessados no momento na sua proposta.”

“Eu entendo que tenham um pouco de receio sobre o assunto. Talvez fosse melhor marcar somente com o Sr. Hunter para tratar sobre.”

“Eu posso lhe garantir que tenho total autonomia para tomar decisões aqui dentro.” Abbie sorriu irônica. “Sr. Wheaton, essas reuniões são apenas para possíveis clientes ou clientes atuais que precisam debater sobre algum assunto conosco. A empresa é familiar e está em posse dos Hunter’s há muito tempo, eu posso lhe garantir que eles não têm o menor interesse em estar a vendendo e inclusive, achei que tinha deixado isso bastante claro na resposta via e-mail que lhe enviei.”

“E deixou, com certeza.” Ele sorriu. “Mas achei que merecia uma proposta pessoalmente, não queria pensasse que eu os estava fazendo perder tempo deliberadamente.”

“Mas nos fez perder tempo acidentalmente.”

“Bom... Em todo caso, eu me ponho a disposição para tirar qualquer dúvida sobre a proposta e para negociações.”

“E agradecemos muito o interesse, mas como já disse, não está nos planos vender essa empresa.” Abbie disse tranquilamente.

Eles dois apertaram as mãos, cordialmente e quando Wheaton se voltou para Dom, sorriu sem graça, pelo fato de ele ainda estar desmaiado.

“Não foi sua culpa, se o faz sentir melhor.” Abbie falou um pouco constrangida. “Foi uma noite difícil.”

“Tudo bem.” Wheaton assentiu. “Eu fico no aguardo de algum retorno de vocês, gostaria que pensassem com calma no que temos para oferecer.”

“Eu vou informar ao Sr. Hunter, pode deixar.”

Abbie o acompanhou até a saída e quando voltou para sala, Dom estava acordado, com uma cara ainda não muito boa.

“Olha só quem resolveu acordar!” Ela cruzou os braços após fechar a porta.

“Anotou a placa do caminhão que me atropelou?” Dom resmungou.

“Acho que foi você quem ia atropelando alguém...” Ela sentou de frente a ele. “Você me deixou muito preocupada Landon. O que raios passou pela sua cabeça quando entrou naquele carro morto de bêbado?”

“Eu não faço ideia.” Ele se recostou na cadeira. “Sabe que não faço essas coisas.”

“Sei e como sei. Por isso você imagina o meu desespero quando eu recebi uma ligação no meio da madrugada e descubro que você bateu com o carro.”

“Abbie eu tenho plena consciência de que foi uma atitude muito estúpida, mas eu não estou mesmo com humor pra ouvir sermão hoje.”

“Sermão?” Ela falou incrédula. “Landon, que parte de ‘Minha mãe morreu num acidente de carro’ você não conseguiu entender ainda?” Ela disse sentindo uma raiva dentro de si. “Eu me preocupo e você reclama do sermão. Um ótimo amigo você é.”

Dom se sentiu um pouco culpado porque realmente a perda dos pais de Abbie mexia com ela e ele não tinha sequer pensado em como ela ficaria ao saber que ele tinha batido com o carro por pura imprudência.

“Talvez eu seria um amigo muito melhor se falasse mal de você pelas as suas costas.” Ele respondeu com ironia e Abbie suspirou derrotada.

“Dom...” Ela falou. “Eu soube o que aconteceu. Você ouviu uma conversa que não deveria ter ouvido e a entendeu de uma maneira errada.”

“Você parecia bem certa do que estava dizendo.”

“Eu só... É que...” Abbie se sentiu corar e respirou fundo. “Aquela Samantha, que trabalha aqui embaixo, está meio afim de você e ia atrás de você, eu falei aquelas coisas pra que ela desistisse disso.”

“Como é?” Dom perguntou chocado.

“Foi isso o que aconteceu. É sinceramente muito embaraçoso admitir isso, mas essa é a verdade.”

“Eu pensei que você me achava um ser desprezível.” Ele começou a rir.

“Ah nem se anime, eu o acho desprezível.” Ela ficou de pé e ele franziu a testa. “Sabe, você sequer veio falar comigo, já foi logo tomando decisões precipitadas.”

“Eu... Bom, sinto muito.”

“Tudo bem.” Ela assentiu. “Eu também peço desculpas. Não devia ter dito aquelas coisas, você é quem tem que decidir com quem saí ou não, eu não deveria me intrometer nisso. Inclusive está lá nas nossas regras.”

“Esquece isso, ela não faz meu tipo mesmo.” Dom deu ombros esboçando um sorriso.

“Então podemos voltar a ser os bons amigos de sempre? Porque sinceramente, não passamos nem um dia brigados e já estou exausta.”

“Claro Abbie, bons amigos.” Dom levantou e a abraçou, lhe dando um beijo no rosto.

“E como foi a grande noite ontem?” Abbie perguntou, torcendo que ele não contasse todos os detalhes.

“Péssima! Aquela mulher é louca, não calava a boca de jeito nenhum e eu não entendia porra nenhuma do que ela falava. Por isso acabei bebendo mais do que necessário, era isso ou eu pegava uma faca e cortava a língua dela fora.” Ele se apoiou na mesa.

“Bom, só posso dizer uma coisa: Bem feito!” Abbie disse com diversão.

“Engraçadinha...” Ele bateu em sua cabeça. “Mas foi até bom todas essas desgraças terem acontecido comigo.”

“Ah é? Posso saber por quê?”

“Porque eu decidi que já está na hora de sossegar um pouco.” Dom disse sério.

“Mas como assim ‘sossegar’?”

“Você sabe... Ter um encontro decente, conhecer alguém legal, ter um relacionamento... Todas essas idiotices.”

“Olha Dom, no caso você se referir a relacionamentos como ‘idiotices’ só prova que você não está pronto para um.” Abbie riu.

“Mas eu posso aprender, quem sabe?” Ele colocou o braço ao redor do pescoço de Abbie e eles foram andando para fora da sala. “Inclusive, acabei de ter uma ideia brilhante.”

“Mais uma? Você está cheio de boas ideias hoje.” Abbie debochou.

“Você vai me ensinar tudo o que eu preciso saber sobre relacionamentos.” Ele disse e Abbie andou ficando de frente a ele.

“Como é que é?”

“Exatamente. Você já namorou muito, tem experiência na área.”

“Tá me chamando de fácil Landon?”

“Muito pelo contrário. Você sofre de uma terrível doença chamada: monogamia. Pode me ajudar a lidar com essas coisas, sabe que não sou bom em falar, ser delicado ou carinhoso.”

“Resumindo, você não é um ser digno de ser namorado de alguém.”

“No momento pode ser que não, mas eu realmente estou cansado dessas cabeças de vento que eu saio. É sério.”

“Digamos que eu aceite...” Abbie cerrou os olhos. “E não estou dizendo que vou. Mas o que ganho com isso?”

“Ganha a honra de ter a minha amizade para o resto da vida.”

“Eu já tenho isso, retardado.” Ela bateu em seu ombro e ele gemeu de dor por causa do acidente. “Ai, desculpa.”

“Eu mereci essa.” Ele falou alongando o ombro. “Nunca mais vou beber...”

“Não prometa o que não pode cumprir Landon Hunter.”

“Verdade, a quem eu estou tentando enganar? É óbvio que ainda vou beber.” Ele riu e os dois continuaram a fazer o seu caminho em direção aos escritórios. “Mas eu falei sério Abbie, eu quero ser um cara melhor, fazer as coisas certo. Custa você me ajudar?”

“Custa muito, porque é você Dom.” Ela parou de frente a sua sala. “Mas como eu sou maravilhosa, eu vou te ajudar. O que quer exatamente que eu faça?”

“Eu não sei... Quando se inicia um relacionamento qual o primeiro passo?”

“Antes de qualquer coisa, o primeiro passo é o primeiro encontro.” Ela deu de ombros. “E que pode ser o último se você não fizer as coisas direito, o que é bem capaz de acontecer com você.”

“Tá, então a gente vai sair em um encontro.”

“O quê?” Ela gritou assustando alguns funcionários que passavam por perto e sorriu sem graça para eles.

“Não vai ser um encontro, encontro... Vai ser um encontro.”

“Eu não estou entendendo nada Dom.”

“Vai ser tipo um workshop, você vai me ensinar como eu devo agir, o que falar, o que não falar... Apenas isso.”

“Quer mesmo levar isso adiante?” Ela perguntou com uma sobrancelha levantada. Ele pensou por alguns momentos e ele sabia do que tinha de abrir mão. As bebedeiras, as mulheres, as farras...

“Eu posso ao menos tentar, não é?”

“É... Ninguém vai dizer que você não tentou.”

“Beleza, então eu te busco umas 20hrs.”

“Não mesmo.” Abbie falou com desdém.

“Achei que ia me ajudar.” Ele franziu a testa.

“É a sua primeira lição. Aprenda a chamar uma mulher para sair decentemente. ‘Eu te busco ás 20hrs’. Tá falando sério?” Ela disse e Dom revirou os olhos. “Vou entrar em meu escritório e você entra depois me convidando educadamente para um jantar agradável com você.” Abbie deu um breve tapinha no rosto de Dom e entrou em sua sala.

“Sinto que vou me arrepender disso...” Ele falou rindo.