Por Trás das Palavras. escrita por kkcullen


Capítulo 7
Sacrifício / Colocando a cabeça no lugar


Notas iniciais do capítulo

Oiiie gente linda do meu coração !! ♥ Quanto tempo!!
Da-lhe mais um capítulo fresquinho ! ;)



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— Manda essa bola direito, merda ! - a fúria dançava nas minhas veias, sedenta, queimando.

— Tô tentando ! - explicou de qualquer jeito o garoto na marca do pênalti.

Já passava da metade da tarde e  grupo completo dos garotos do futebol treinavam arduamente em quadra sob os olhos atentos do treinador. E como programado, eu treinava os pênaltis com o Oliver, ou tentava pelo menos.

— Tentar não é suficiente ! - bronqueei e bati as luvas cinzas uma na outra, um ato a muito feita por goleiros na tentativa de desestabilizar o batedor do pênalti do time inimigo, no meu caso foi uma maneira que encontrei de incentivar o Oliver a chutar decentemente ou de irritá-lo com a provocação grosseira e desse modo ele chutasse menos ruim. - Acerta aqui, ó !! - esmurrei o peito com força, berrando, ainda tentando.

— Tá - proferiu ganhando distância da marca da bola, olhou em direção a trave como se concentrando, e respirou fundo, acho que dessa vez vai, e me preparo puxando um pouco o short e flexionando um pouco mais os joelhos. O espaço até a bola foi preenchido na velocidade, um, dois, três passos, no quarto e último passo Oliver olha pra frente escolhendo seu canto, mas seu corpo hesita fazendo-o perder o equilíbrio e mandar um canhão pra fora, deixando o eco do estrondo do couro da bola contra a parede reverberando no ar após terem se chocado com força, e o resto do time nos olhando. 

Fiquei olhando a bola rolando até parar próximo de nós. Bem, 50% da minha expectativa se concretizou, ao menos o chute dele foi bom, só falta o principal, acertar a rede.

O garoto levou as mãos a cabeça dando-me as costas, claro sinal de desespero, até eu ficaria se  errasse o 11º chute seguido, sem que nenhum tivesse apresentado perigo algum ao gol.

— Faz o seguinte, dá uma pausa, Oliver. - aconselhei retirando as luvas com força cortando a quadra em direção aos bancos, o nervosismo acendia dentro de mim consumindo a raiva, o jogo inicial do campeonato é daqui a 3 dias e meu melhor centroavante tá com defeito. Droga!

E eu tinha que me virar pra arrumar isso. 

Opções de solução para aquele problema borbulhavam na minha mente aleatória e automaticamente, mas nenhuma delas incluía Oliver no jogo.

Bufei.

O resto do time revezava cobrança de falta sobre o monitoramento do técnico, nosso professor de educação física, na outra metade da quadra, deixando o outro espaço livre pra eu treinar Oliver a minha maneira, como pedi.

— Não sei o que que há com esse garoto hoje. - resmunguei ao sentar-me no banco em companhia de Schneider e largar as luvas de qualquer jeito no chão. - Parece que desaprendeu a jogar minutos antes de entrar em quadra.

— Dá um desconto pra ele você tá pegando pesado. - se pronunciou meu amigo sem levantar os olhos da prancheta.

Olhei pra ele incrédulo.

— Onde que eu tô pegando pesado ? Meu responde porque eu juro que não enxerguei ainda. - ironizei, descansando a cabeça na parede e observando o treino dos outros onde Oliver havia se juntado em vez de descansar como lhe havia dito. Moleque teimoso.

— O menino só tem 16 anos, nunca jogou em time algum de lugar nenhum, apesar de ter talento, mas é só. - respondeu abaixando a prancheta e mirando o mesmo local que eu. - Ele não tem experiência de jogo. É o primeiro jogo dele decente em um campeonato colegial, já parou pra pensar o quão nervoso ele deve estar ? Não né ?! - seu olhar recaiu sobre mim, pesando nos ombros. 

Não. Não pensei. Mas nunca confessarei isso ao Schneider, não sem tortura.

Suas palavras acalmaram o mar de ideias confusas na minha mente, o pequeno não estava com defeito, só nervoso, e fez com que novas se formarem só que com outro propósito, integrar Oliver. Vejo o menor receber uma bola de escanteio, matar no peito e mandar o chute-foguete pra dentro do gol sem chances pro azarado que ficou entre as traves, sem deixar a bola cair e sem hesitar nem um só milésimo de segundo.

Vendo que eu não responderia Schneider prosseguiu:

— A vaga de centroavante é muito importante pra  qualquer time, você sabe - limitei-me a assentir - não tenho dúvidas que ele está pronto pra arcar com essa responsabilidade. Só que você o está... como é que eu digo isso... ? - pensou alto, procurando a palavra certa. Ele sempre faz isso quando acha que o que vai falar vai ferir a pessoa.

— Para de me enrolar e fala logo.

— Ele não consegue confiar em si mesmo quando treina com você. - levantei uma sobrancelha sem entender nada. - Deixa eu explicar, você quer o melhor dele, certo? E ele quer se dá o melhor em quadra, só que ele se cobra tanto pra ser o melhor e principalmente não decepcionar você por te-lo dado essa oportunidade, que essa pressão toda acabava atingindo seu desempenho.

— Hum. - balbuciei pensando no assunto. Nunca pensei que poria medo em alguém, com exceção, é claro, dos futuros namorados da minha irmã. - E não é que faz sentido essa sua teoria?!

—Não é uma teoria, idiota. É só parar pra olhar o lixo que ele é jogando com você e comparar com o lance brilhante do escanteio que nós vimos.

— É você tem razão. - concordei. - Quantos anos você tem mesmo ?? - olhei-o sorrindo.

— Dezoito, crianção . - respondeu me jogando minhas luvas, entendendo a tiração de sarro.

— Já te falei que você tem alma de velho? Parece até minha vó falando. - zoei sorrindo indo pro lado vazio da quadra novamente com uma ideia dançando em mente. - OLIVER !! - berrei ganhando sua atenção.

— Fala. - respondeu assim que parou ao meu lado, tirando a franja loura dos olhos.

— Vou te fazer uma pergunta e quero que você me responda sinceramente. - fui direto deixando-o receoso - Você se sente preparado pra jogar a partida de abertura ? - foi um choque pra ele eu ter feito aquela pergunta.

— Tá insinuando que eu não consigo jogar? - exasperou incrédulo.

— Não estou insinuando nada. - brandei firme, trocando o peso do corpo também desconfortável com a conversa. Qualquer um que recebesse uma pergunta dessa pensaria que eu não o quereria no time, e o estaria induzindo a pedir pra não jogar, como um jogo de consciência. No caso do Oliver ele deve pensar que o fato de sermos próximos demais não me deixaria manda-lo para o banco formalmente. - Só te fiz uma pergunta. - era demais pra mim encara-lo, fingia prestar atenção no aquecimento do resto do time.

— Se você acha que não tô legal pra jogar é só chegar e falar ! Pronto ! - irritou-se - Não me vem com esse papinho aí não. Eu sei que no treino de hoje eu fui péssimo - assentiu e sua voz vacilou. - Se você achar que isso foi o suficiente pra já decidir que vou ficar no banco, então ficarei lá até melhorar.

— Foi mal, não era bem isso que eu queria dar a entender. - Ele entendeu tudo errado. -  Amanhã você vai treinar com o técnico. - pronto falei.

— Por que com o técnico ? - um ponto de interrogação gritou em seu rosto. - Sem chances, você é o goleiro e eu o centroavante, eu acho, não tem ninguém melhor aqui pra me treinar do que você.

— Não há o que discutir, amanhã seu compromisso é com ele. - finalizei com um aperto no peito. 

Eu queria treina-lo. Eu queria poder faze-lo O melhor. Mas se ele não consegue dar tudo de si quando estou por perto, a melhor maneira é ele ser treinado por outro, não vou atrasar seu crescimento só por egoísmo meu.

— Tô tão abaixo do time assim que não sou digno de ser treinado pelo capitão ?? - mesmo que pra isso abra-se mão de algumas coisas; o ácido escorria das suas palavras e me acertava, corroendo um buraco no meu peito, era perturbador seu olhar torturado encarando-me procurando por respostas por eu estar fazendo aquilo - Responde !! - vociferou com uma mistura de incredulidade e raiva.

— Não é nada disso. - tentei argumentar, na tentativa de amenizar a tensão. - É só que eu também tenho que treinar e ....

— E eu tô tomando seu tempo. Não, tudo bem, não precisa dizer mais nada, já entendi. - sacudiu a cabeça e gesticulou em negação. - Caiu a ficha.

— Não falei isso. - retorqui firme, encarando-o pela primeira vez desde o início da conversa.

— Mas foi o que deu pra entender. - cuspiu.

O apito do técnico foi ouvido dando por terminada nosso esclarecimento de dúvidas, porque conversa isso não foi.

— Vambora galera, formem dois times, agora é hora da verdade, garotos. Igor e Marcos tirem times. - a voz do técnico era estridente.

Oliver saiu me encarando ferozmente e seguiu rumo aos outros. E ouço passos às minhas costas.

— Poderia ser de outra maneira. - Schneider falou.

— Não havia outra maneira. - falei ferido . - Eu tinha que inventar alguma coisa pra ele não treinar comigo.

— Era só falar que não e explicar o motivo. - rebateu amarrando os cadarços da chuteira.

— Pra esse cabeça dura ? Não iria adiantar, ele faria alguma coisa e eu acabaria deixando ele continuar a treinar comigo. E isso seria ruim pra mim e pra ele, e pro time, e com certeza perderíamos o jogo.

— Mas desse jeito vai perder a amizade do garoto.

Fiquei a observar Oliver ser escolhido pelo time do Igor, colocar o colete com força desnecessária e se posicionar no meio-campo, ainda digerindo nosso acerto de contas.

— É um preço que terei que pagar. - conclui com um bolo na boca do estômago.

— Schneider ! - escolheu Igor.

— Preço alto demais.- sussurrou antes de seguir e também pegar um colete.

O jogo foi conturbado, Oliver estava furioso comigo e mandava bomba atrás de bomba na minha direção, por um momento cheguei a pensar que ele estivesse mais focado em me dar boladas para descarregar sua raiva do que fazer gols.

Obtive êxito no meu plano, ele está jogando maravilhosamente bem, meu método do incentivo não deu certo, mas o método contrário deu. Tive de chama-lo de ruim pra que ele me mostrasse o contrário, e está se saindo otimamente bem, e sem nervoso.

O jogo-treino terminou 3 x 1 para o time do Miguel, meu time, no último lance deixei uma bola do Oliver entrar, como um prêmio de consolação pelo seu esforço do menino, nem me mexi pra tentar agarrar.

Após tomar banho, me despedi de todos e saí, não sem antes avisar ao técnico que a função de treinar com Oliver agora era dele.

Schneider ainda me ofereceu carona até em casa, mas eu precisava pensar no que fiz, a ida pra casa de ônibus me proporcionaria isso.

~~''~~

Ao descer do ônibus, as estrela já começavam a cobrir o céu, a praça na esquina do condomínio povoava-se aos poucos pelos adolescentes e crianças; bons tempos aqueles que eu ficava vagabundando também no meu tempo livre. Abri o portão e o carro do Martin já estava estacionado em seu habitual lugar. Ele chegara cedo. Torci a boca.

Dei meia volta fechei o portão devagar pra ninguém perceber que cheguei, e fui rumo a praça na esperança de que a carrocinha do cachorro-quente já estivesse ali. Minha cabeça fervilhava dos acontecimentos do dia, principalmente o treino, e uma discussão com o Martin agora só serviria pra terminar de me irritar, e magoar minha mãe, então subirei reto pro quarto e farei do cachorro-quente meu jantar.

Assim o fiz.

Me tranquei no meu quarto, nem ligando para os protesto da minha mãe dizendo que deveria jantar, que cachorro-quente não é comida, que saco vazio não parava em pé e blá blá blá.

No recluso do meu refúgio é mais fácil pensar, em tudo, destrinchar os problemas, levantar possíveis soluções, e imaginar o que ela estaria fazendo agora. Lendo ? Telefonando para as amigas? Shopping ?

Depois de tomar banho, apaguei a luz, me larguei de costas na cama e acendi só um abajur, o suficiente pra conseguir ler.

Igor confirmou que o que ela carregava eram livros.

Igor.

Seria normal sentir uma vontade assassina de quebrar a cara de um dos seus melhores amigos ? Ainda mais por causa daquele elogio idiota ?

"Claro que não." - respondeu a parte sensata da minha mente.

Então por que... ?

Suspirei levando as mãos ao rosto.

" Porque foi para ela. Porque ele elogiou aquela que você não pode nem mencionar o nome em público." - a reposta surgiu em mente machucando-me, abrindo um buraco no meu peito que eu nunca havia sentido antes. - " Porque você a ama e não pode te-la, não sem abrir mão daquilo que conquistou".

Meu futebol e meu status.

Malditas regras.

Maldito coração que de tantas garotas pra se amarrar foi logo olhar pra errada !

Será como fazer o imã não atrair o ferro, tentar me manter impassível a essa confusão de sentimentos que me aflora a pele, principalmente tendo de vê-la todos os dias.

Espero que essa coisa de paixão passe logo, não deve ser saudável pensar em uma mesma pessoa 24h por dia, enquanto isso, preciso somente não fazer nenhuma besteira, do tipo tocar no nome dela sem ninguém ter falado, ter ataque de fúria toda vez que alguém chega perto dela, parar de ficar olhando pra ela e prestar atenção nas aulas, e ficar sem respirar. Simples.


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Notas finais do capítulo

Isso é tudo pessoal!! ... Por enquanto... ^^

E parece que as coisas estão indo de mal a pior pro Pierre. Primeiro o clima entre os pais, e agora mais esse problema com o Oliver. Que será que vai vir depois??

Será que ele fez certo em arriscar sua amizade de anos por causa do campeonato? Diz aí, que você acha?

Atééé a próxima, mores!

Kisses Kisses *-*



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