Por Trás das Palavras. escrita por kkcullen


Capítulo 8
Ela


Notas iniciais do capítulo

Olááá Galera !!!!
Mais um capítulo!! E eu estou muito animada com ele, o/ porque estão chegando mais dois rostinhos novos na área! E um deles vai abalar a cabeça do nosso protagonista... bem, literalmente.
Esse capítulo eu fiz um pouquinho maior, então espero que divirtam-se !!!



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— Galera, o teste da Mercedes é amanhã nos primeiros tempos, como anda o esquema com as colas ? - quis saber Carlos girando a bola na ponta do dedo.

Decidimos que na véspera do teste não haveria treino como um incentivo para estudarmos, ou no caso dos meus amigos criarem métodos de colas. Nos dirigíamos à saída após o último tempo de aula, ainda sendo devorados pelos olhares nada disfarçados da garotas mais próximas. Essa semana foi um inferno ! No meu armário tinham papeizinhos de pedidos para ir ao baile até o teto, já retirei um saco cheio deles hoje, mas com certeza amanhã terão muito mais de onde vieram aqueles.

— Que colas ? - questionou Schneider - Tá tudo muito bem armazenado na minha cabeça.

— Você não conta, sabichão ! - revoltou-se Igor. - Os alunos normais, por favor, se manifestem, já planejaram ?

— Podemos passar mensagens pelo celular com as respostas ! - sugeriu Diego, não é nada mal, se a professora não ficar rondando a sala.

— É uma boa. - opinou Oliver com as mãos atrás da cabeça. - Ou a tradição, papeizinhos no estojo ou resposta na borracha.

— Ok pessoal, se vocês vão optar por colar dou total apoio, só que eu vou estudar, é muito duro falar isso mas, estou indo na biblioteca pegar um livro de história. - falei amargo, ler é legal, estudar é que são elas. Se fosse literatura seria moleza, agora história é muita coisa pra entender em muito pouco tempo.

— Juro que se você ficar muito indo a biblioteca desse jeito daqui a pouco vão começar a te chamar de ner... - começou Diego pra logo ser cortado.

— Cala a boca ! - brandei ríspido, essa é mais um daqueles momentos onde minha reputação dança nos abismos entre meus dedos ameaçando ruir, e isso está acontecendo com frequência demais pro meu gosto. - Antes da imagem que tenho nesse colégio, vem a minha vontade de passar de ano, e consequentemente conseguir meu carro e minha faculdade, se pra seguir meus sonhos terei de ouvir os outros me chamando de nerd, que me chamem ! Tô pouco me ferrando para o que eles pensam de mim. - mandei o recado. Me sinto no tratado de Tordesilhas, sendo o lado de Portugal "as estrelas", e o da Espanha "os cometas", e no conflito do meio estava eu.

— Tudo bem, cara, calma, não precisa jogar os cachorros em cima de mim. - ofendeu-se meu amigo.

— Nem dá ideia, ele agora tá assim se sentindo acima de tudo e de todos. - semeou a discórdia o menor.

— Oliver, seu problema comigo é em quadra. - fui ríspido, mas deixo claro que foi ele que pediu.

— Mas você adora pisar nas pessoas em qualquer lugar ! - brandou tirando as mãos de trás da cabeça e partindo pra cima de mim. Revirei os olhos rindo descrente, Oliver era uma cabeça mais baixo que eu, se brigássemos com toda a certeza ele seria o mais afetado. E definitivamente não queria brigar com ele.

— Opa, opa, opa !! - Igor se pôs entre nós dois percebendo os ânimos exaltados. - Eu sei que irmãos brigam, mas seja lá o que tiver acontecido entre vocês em quadra, deveria ter ficado em quadra.

— Fala isso pra ele. - resmunguei, virando o rosto e encontrando com o olhar reprovador de Schneider.

"Perder a amizade dele". " Preço muito alto" - as palavras ditas por ele antes dançavam diante dos seus olhos como me provocando a mudar de ideia e desfazer com o plano.

Não vou fazer isso ! - transpareci em resposta e Schneider negou com a cabeça dando sua opinião quanto a minha persistência.

— Tô indo agora, galera. Carlos, foi mal aí ter falado desse jeito contigo.

— De boa. - respondeu ao batermos as mãos.

Despedi-me de todos, e quando ergui a mão para cumprimentar Oliver, ele simplesmente repôs as mãos atrás do cabelo loiro e passou por mim indo rumo ao portão principal sem esperar por ninguém, me deixando ali com a mão estendida, estupefato pela cara de pau de ter me deixado no vácuo.

— Que que aconteceu entre vocês, mal se falaram no jogo ? - quis saber Diego, olhando as costas de Oliver se distanciando.

— Longa história, cara. - esquivei, não estava com menor clima para remoer aquele assunto novamente. - Depois falo.

— Acho bom falar mesmo ! Porque desse jeito não dá pra ficar, nunca vi vocês dois um querendo matar o outro. - disse sério o Igor, uma daquelas raras vezes em que isso acontece. - E pega a revistinha do surfista prateado pra mim. - acrescentou.

— Tá. - respondi. - Schneider, cuida dele pra mim? - pedi deixando transparecer minha inquietude por tratar meu irmão postiço desse jeito. Alguma coisa fez seu espírito de desaprovação dissolver, por enquanto, e acatou meu pedido, mesmo contrariado.

Me dirigi ao terceiro andar, encontrando poucos alunos no caminho. Por conter somente a biblioteca e a sala de música, os corredores que levam a este patamar são quase sempre desertos, sorte a minha, desse jeito não tenho que ficar dando explicações a ninguém do que estou fazendo naquela parte do colégio destinado aos "perdedores" como os "estrelas" os chamam.

Alguns passos antes de passar no saguão de entrada, o cheiro de livro já era perceptível no ar, assim como o som de algum instrumento de sopro na porta contrária, dando-me a sensação de conforto e tranquilidade tão familiares, retirando, mesmo que temporariamente, toda a tensão da conversa anterior.

Adentro no recinto olhando em volta, como sempre é impossível refrear a sensação de excitação que toma conta de mim quando entro em um local abarrotado de livros, é como sentir ansiedade por explorar cada mundo diferente que cada livro tem a oferecer. Inspecionei o local em busca de algum "estrela" que possa me dar problemas, mas até onde meus olhos captaram não há nada a me preocupar. As estantes de mogno permaneciam gigantes e intactas guardando em sua escuridão segredos de casais que não iam ali somente procurar livros. A área dos computadores também não apresentava perigo, assim como as mesas redondas mais à oeste que estavam quase lotadas.

— Bom tarde, Laurence. - saudei a bibliotecária, sorrindo singelamente, que conferia uma pilha de livros devolvidos. Ao ver que era eu o sorriso iluminou seu rosto.

— Bom tarde, Pierre. Tenho uma boa notícia para você, - ela quase quicava na cadeira, era como se não conseguisse mais se segurar com essa "boa notícia". - Suas sessões preferidas de clássicos, romances e ação estão com exemplares novos.

Maravilha!! - pensei mentalmente, deixando transparecer minha alegria em forma de sorriso, fiquei semanas esperando essa nova remessa.

— Que ótimo ! - deixei escapar um pouco alto demais, recebendo os costumeiros "Xiii" pedindo silêncio, pra logo meu sorriso murchar aos poucos.

— Que foi ? - perguntou estranhando minha atitude, ajeitando o óculos rosa.

— Não vou poder ler hoje, pelo menos não literatura, tenho que focar em história. Teste. Amanhã. Valendo metade da nota. - expliquei separando as palavras com cara de tédio.

— Hum, isso explica muita coisa. - falou erguendo as sobrancelhas.

— Muita coisa o que ?

— Teve uma galerinha em peso hoje requisitando livros de história. Uns sete ou oito, tudo do mesmo exemplar "Guerra de Canudo" basicamente.

Estranhei o fato de mais alguém da minha turma frequentar a biblioteca, ou saber ler.

— É esse aí mesmo. - e uma ideia clareou minha mente - Se você tiver uma vídeo-aula pra me indicar só pra eu não ter que ler todas aquelas páginas, eu ficaria eternamente grato. - joguei charme, insinuando-me de brincadeira.

— Uma vídeo aula é ? - entrou no clima arrumando sugestivamente sua franja atrás da orelha. - Com certeza te pouparia um bom tempo de ler todas aquelas páginas chatas.

— Aham. - apoiei sedutoramente na bancada que nos separava.

— E sobraria tempo pra você ler o novo e lacrado exemplar do "Os Sete" do André Vianco. - veio em minha direção aproximando seu rosto do meu, provocando.

— Exatamente. - tracei um caminho por sua pele quente, mesmo sob o ar-condicionado, do ante-braço a sua mão direita, pegando-a e brincando com sua aliança dourada que pendia em seu dedo anelar, impedido-me de ir muito mais longe como gostaria.

Laurence tem 24 anos, mas infelizmente está noiva, de um ex-colega de classe da faculdade, como uma vez me confidenciara. Mas esse fato não impede que mais da metade da população masculina do colégio deixe sua "imaginação pervertida" fluir, imaginando-a sexy como ela está agora, só pra mim. O noivo dela é um cara muito sortudo. Põe sorte nisso ! Essa mulher contraria o esteriótipo de bibliotecária, que é aquele de uma mulher velha, e ranzinza, de óculos com penduricalho atrás, e coque no meio da cabeça. Laurence é um mulherão, com tudo e muito mais em cima ! Um corpo de parar o trânsito, e dona de uns olhos verdes que leva a loucura qualquer um. E eu não sou exceção.

— Até que não é uma ideia tão mal. - ergueu a sobrancelha sorrindo de lado, e acariciando minha mão sobre a sua. - Mas não ! - brandou surpreendendo-me, pegando minha mão de cima da sua e jogando-a na bancada.

— Não ? - questionei sem entender.

— Não, não, Pierre, nenhuma regalia a você só porque é amigo da bibliotecária.

— Isso deveria contar pra alguma coisa, não deveria? - seus olhos verdes me fuzilaram. - Brincadeira. - falei rapidamente, sarcasmo é a única figura de linguagem que não é muito bem vindo por ela.

— Também tenho outros amiguinhos aqui que por terem esse posto acham que possuem algum tipo de diferencial, ou algo do gênero. - deu de ombros.

— Mas bem que podia ter né ? Desculpa. - desviei o olhar, olhar fuzilante número dois. - Esqueço que você não gosta desse tipo de brincadeira. Foi mal.

— Sem problemas. - negou com a cabeça.- Mas é sério, Pierre, - pediu seriedade - se a professora pediu em especial um livro para ser estudado, uma vídeo aula ou até mesmo um filme poderão não conter um fragmento de informação que só o livro possui, e que poderá fazer diferença na sua nota.

As vezes acho que ela tem alma de velho igual o Schneider, com esse pensamento imensamente célebre e que exala experiência. Mas uma coisa tenho que admitir, eles sempre estão...:

— Certos. Vocês estão certos. Você está certa. Agora, onde posso encontrar um livro desses ? E um gibi do Surfista prateado.

— Sétimo corredor B, e o gibi... - e me encarou incrédula.

— É pra um amigo meu. - revirei os olhos.

— Aqui no primeiro corredor A.

—Valeu.

— Não por isso, é o meu trabalho.

— Até mais. - acenei.

Os livros são separados em duas grandes sessões de estantes, denominados galerias A e B, três corredores centrais cortam as extensas estantes de livros, um corredor a direita que dá pra parede é o corredor B, o corredor do meio e mais largo é o corredor A-B, porque é o ponto de união das duas galerias, e o corredor A que situa-se em adjacência às mesas de estudos com abajures em cima. O silêncio daquele lugar era reconfortante.

Peguei o corredor A, a oeste, e virei no primeiro corredor da galeria A.

"HQ's" dizia a plaquinha embaixo de outra que indicava "A1" em uma fonte rebuscada.

Varri as prateleiras com os olhos atentos a procura da letra S, encontrando o gibi na última prateleira. Sem delongas peguei o corredor A-B rumo ao sétimo corredor da galeria B, o corredor B7.

Para minha sorte consegui pegar o último exemplar do livro de história deslocado no vão da estante que agora encontra-se vazia. Meu primeiro pensamento era pegar o livro, sentar na mesa de estudos e me tornar um fazendeiro de Canudos na guerra. Mas ao cruzar com o corredor "A3" foi praticamente impossível resistir ao cheiro de livro novo que perfumava aquela área, e que me chamava. Eu tinha que entrar.

Alheio a qualquer movimento em volta, tive minha total atenção voltada para as letras vermelhas que saltavam do livro preto, pouco importando-me que o indivíduo que estava pendurado na escada da estante oposta, procurando algum livro, pudesse presenciar minha pequena crise de euforia.

Adicionei " Os Sete " na minha pequena pilha de livros dando meia volta rumo a saída, quando levei uma pancada forte na cabeça, e cai no chão desnorteado, tonto e vendo estrelas, pra logo depois ouvir um estrondo de algo se chocando contra o chão.

— Ai meu Deus do céu ! Ai meu Deus do céu ! - ouvi uma voz muito longe. Levei a mão ao local atingido, mais como um reflexo, pelo menos não sangrava, parecia que eu levara o sino da igreja na cabeça. - Você tá bem ? Mil desculpas !! Eu tentei segurar, mas você passou embaixo bem na hora !! Desculpa mesmo ! - se atropelou com as palavras a garota na minha frente, em pânico. - Deixa eu te levar na enfermaria. - pediu preocupada, agachando-se ao meu lado.

Não conseguia assimilar nenhuma palavra que ela dizia, minha cabeça rodava e a confusão atrapalhava meu raciocínio. Queria que calasse a boca pra ver se o zumbido nos meus ouvidos diminuíam. Espera, ela tá me pedindo desculpas, por que ela tá me pedindo desculpas ?

— Que que aconteceu ? - perguntei meio grogue. A biblioteca ainda girava lentamente, porém o rosto da garota já se focava ao poucos.

— Um livro caiu na sua cabeça. Culpa minha, desculpa. Não vi que você estava do lado da escada, acabei me desequilibrando lá em cima e não consegui segurar o livro antes que te acertasse.- me metralhou com as palavras outra vez.

— Sem problemas. - falei sem pensar tentando pôr estabilidade nas pernas pra levantar.

Ao meu lado no chão, um livro grosso com uma capa de couro preta um pouco desgastado pelo tempo, se encontrava, devia ser o autor do meu quase traumatismo craniano.

— Tem certeza que tá bem, vamos à enfermaria. - insistiu.

— Não precisa.- falei piscando forte até as coisas pararem de girar. Procurei pela minha quase assassina que juntava meus livros do chão.

— Aqui. - falou me devolvendo, e estaquei.

Era " ela ".

Meu coração começou a bater como uma bateria de uma escola de samba na evolução. Seu rosto sempre risonho estava retorcido em uma máscara de preocupação, mas mesmo assim era impossível não sentir aquele monte de coisas estranhas outra vez. Como se respirava mesmo ?

— Cecília, que gritaria foi essa ? - ouvi uma voz atrás de mim, que puxou a atenção da menina para si. Eram meia dúzia de pessoas.

— Tyler, ai graças a Deus, me ajuda a convencer ele de ir na enfermaria, acho que ele não está bem. - falou muito preocupada.

— Pierre ? - ele estranhou o fato de eu estar ali. Droga. Acho que o reconheço da galera do jornal ou seria do grêmio ? - Que que aconteceu ?

— Um livro caiu na cabeça dele.

— Não precisa eu tô bem. - tentei convence-lo, mas fui ignorado.

— Qual livro ? - quis saber Laurence alarmada ao entrar no corredor. Ótimo, mais uma pra me ver pagando mico.

— Esse. - Cecília mostrou o livro negro que observando melhor ganhara mais folhas. Minha cabeça não tá legal.

— Caramba. - sussurrou. O local atingido incomodava mais a medida que o tempo passava, me apoiei discretamente na estante as minhas costas para o caso de tudo rodar novamente. - Pierre, você vai ter que ir à enfermaria. - ordenou a mais velha, deixando claro que era ela a responsável ali e que nem adiantava discutir.

— Não vou a droga de lugar nenhum. - virei-me bruscamente na direção deles, pra logo me arrepender, minha cabeça latejou insuportavelmente fazendo minha visão girar. - Pra que lado fica a enfermaria mesmo ? - perguntei. 

 

 

— Está tudo bem com você, Pierre. - informou a enfermeira Jéssica, após tirar a compressa de gelo da minha cabeça.

— Quer dizer então que vou sobreviver ? - perguntei.

— Vai sim. - respondeu. - Permaneça com a compressa assim que chegar em casa para desinchar, se a dor persistir pode tomar algum analgésico que preferir. E - acrescentou assim que abri a boca pra perguntar - não faça movimentos bruscos com a cabeça, evita a vertigem.

— Entendi. Já posso ir ? - perguntei, a cor branca predominante naquele cômodo começava a me irritar.

— Pode. Sua namorada está aí fora te esperando. - disse me dando as costas.

— Namorada ? - estranhei.

Sem dúvidas Silvana já soubera do acontecido e estava aguardando na sala de espera, nem acidentado essa garota me deixa em paz. Mas ao passar pelo hall da porta me surpreendi ao encontrar Cecília inquieta andando pra lá e pra cá na sala vazia. Sobressaltou-se ao me encontrar encarando-a e veio em minha direção.

" Bem que eu queria que fosse. " - suspirei.

— Como é que você está ? O que ela disse ? - perguntou batendo o pé de ansiedade.

— Vou sobreviver, mas ficarei com chapeuzinho de gelo por um tempo.

— Ela mandou procurar um médico ? - perguntou já mais tranquila. Íamos em direção ao pátio, e seu olhar oscilava dos meus olhos pra minha cabeça a procura de algum vestígio de dor que eu pudesse demonstrar, enquanto os meus iam dos seus olhos pra sua boca, imaginando como seria toca-la com a minha encaixando-se como um quebra cabeça perfeito. Esse pensamento desencadeara uma sensação prazerosa, como sempre acontecia toda vez que me permitia fantasiar com a menina a minha frente.

— Não, só aconselhou repouso. - não pude continuar com a " nossa conexão " devido meu rosto começar a ferver, me fazendo observar o pôr-do-sol pra disfarçar o vermelho que insistira em instalar-se ali.

Foi um erro pensar que conseguiria ficar longe dela. Nessa posição que nos encontrávamos, ela a dois passos de mim, era quase doloroso refrear o impulso inconsequente de puxa-la para mim, prende-la em meus braços e a beijar.

— Pode deixar que não vou te denunciar por tentativa de homicídio. - falei, uma tentativa de quebrar o clima de preocupação que emanava dela por mim, e que me fazia sentir uma donzela em perigo.

— Ah, muito obrigado pela consideração. - fingiu ofensa, sorrindo, deu certo. - Antes eu tivesse te largado lá pra morrer.

— Nossa, essa foi profunda. Por que não deixou ? Sinto cheiro de consciência pesada ? Hein ?

— Consciência pesada.... ? Claro, imagina se eu matasse o capitão e principal jogador do time de futebol, - pôs a mão no peito fazendo drama - e o time perdesse a chance de ganhar o título, a culpa seria toda minha !

— Com toda certeza, toda sua. Por isso tava tão preocupada comigo ? - falei olhando diretamente pro sol ás suas costas. Era inacreditavelmente fácil conversar com ela, me livrando da obrigação de ter uma boa abordagem.

— Quem mentiu pra você ? Eu não estava preocupada contigo, você me ouviu dizer que cogitei a ideia de te deixar morrer ?

— Não, não estava não. - fui sarcástico. - "Ai meu Deus do céu, ai meu Deus do céu, acho que matei ele !" - imitei-a zombando, levando a mão à boca e imitando a cara de espanto como ela fizera mais cedo.

Ela riu da minha imitação barata, o sorriso iluminou seu rosto sendo banhado pelo sol deixando-a mais linda, tive de dar um passo para trás para me refrear e tentar manter um pouco de auto-controle, porque cada vez que ela sorria eu sentia uma vontade imensa de dizer a amava, porém tinha que ouvir meu cérebro que dizia que isso seria suicídio.

— Isso não conta, besta. - me estapeou no braço brincando, ainda sorrindo.

— Ai !! - fingi uma dor na cabeça levando a mão ao galo que fora consequência da pancada.

— Ai meu Deus do céu !! - assustara-se encarando-me de olhos arregalados. - Desculpa ! Vou chamar a.... - preparou-se pra correr pra enfermaria quando comecei a gargalhar, dando a entender que fingi o mal estar.

— Viu, fiz igualzinho a você.

Seu rosto metamorfoseou do assombro para compreensão e depois pra raiva.

— Não é engraçado !! - bronqueou, morrendo o sorriso. - Fiquei preocupada, idiota.

— Opa, acabou de admitir que estava preocupada comigo. - tirei sarro, e só depois percebi que duas comparsas digo, amigas da Silvana estavam nos fuzilando no corredor oposto de onde havíamos parado.

Nada bom.

— Tudo bem, você venceu, um a zero pra você. - deu-se por vencida. - Caramba! - exclamou - Estamos conversando a maior tempão e você nem me conhece. Prazer, Cecília. - estendeu a mão pra mim, sorrindo docemente.

"Eu sei". - pensei e sorri completamente encantado, percebendo o total sentido das palavras do meu pai, não me apaixonei pelo o que ela é, e sim por quem ela é.

Apertei sua mão, sentindo todos meus sentidos alarmarem, meu coração martelava furiosamente quase não se contendo no peito. Sua mão era macia e frágil como a porcelana, me fazendo sentir receio de que pudesse quebra-la sem querer, e que apesar do sol encontrava-se gelada como a neve.

— Pierre. - respondi em resposta.

— Quem não sabe ?! - apertou minha mão, dando de ombros. - É o Capitão do time de futebol, popular, um estrela ... - tagarelou.

Permaneci encarando-a intensamente, nem importando se ela entendesse de outra forma, eu queria memorizar aquele momento. Dei um passo na direção dela sem pensar, em um daqueles momentos em que o coração toma o controle.

—PIERRE ! - o grito quebrou nosso clima. Pela ligação de nossas mãos senti o corpo da Cecília tremer, e ela encarar a responsável pela interrupção, ao constatar de quem se tratava arrancou imediatamente sua mão da minha, olhando de mim para a outra desconfortável. Não era preciso olhar para saber de quem se tratava, Silvana. Quando estávamos juntos, toda hora que me dirigia para ficar com a galera do futebol, na hora do intervalo, ela gritava exatamente desta maneira pra avisar que estava de olho em mim. Era irritante.

— Eu já vou indo. - disse Cecília, se afastando.

— Não, não é você que não é bem vinda aqui. - me aproximei falando impaciente.

— Pierrizinho, meu lindo. - saudou-me a loira vindo na minha direção. Cecília paralisara desconfortável com o apelido íntimo demais. - Fiquei sabendo que você sofreu um atentado.

— Silvana, não sei o que sua fonte fofoqueira te contou, mas eu nã... - não pude terminar, pois a garota se pendurou no meu pescoço e me roubou um beijo, me pegando de surpresa.

— Tá ficando maluca ? - brandei furioso arrancando suas garras do meu pescoço.

— Maluca ? Eu, meu amor ? Achei que gostasse de mim por isso. - fingiu inocência.

— Tenho mesmo que ir, Pierre, - Cecília forçou um sorriso que saiu amarelo, então desistiu - até mais.

E só então Silvana percebera Cecília ao meu lado.

— Desculpa, flor, não tinha te visto. - sorriu cinicamente. A morena virou-se para loira somente por educação. - Vocês são amigos ? - fingiu simpatia inspecionando a garota da cabeça aos pés e depois virou pra mim, enrolando o cabelo em cachos.

— Creio que sim.- respondeu a morena insegura e visivelmente incomodada.

— Sim, somos amigos. - brandei sério. Vendo o olhar da Cecília iluminar-se e o rosto da Silvana se tornar uma carranca.

— Mas você faz parte dos estrelas ? - Não ! Apesar da má índole, nunca achei que essa cobra pudesse usar isso como artifício próprio.

— Não interessa ! - brandei indo em defesa da menor.

— Deixa eu ver, rosto sem maquiagem, cabelos naturais e estilo despojado. - avaliou girando em torno da Cecília, que permanecia indiferente.

— Cala a boca, Silvana. - mandei.

— Corpo com muitas curvas, e cheiro de livros velho. - continuou. Cecília ficara pálida, preocupando-me. Silvana havia passado de todos os limites !

— Você faz parte do grupo da leitura, fofa !!

— Mandei calar a boca !! - Ela não ia brincar comigo de novo, muito menos decidir com quem posso ou não me familiarizar. Minha cabeça voltara a doer, mas nem essa dor suplantava a fúria que me cegava a visão.

— Eu tenho qu... - mas Cecília saiu correndo antes de terminar.

— Não, espera ! - pedi na esperança de que ela escutasse minhas desculpas pelo comportamento inadmissível da Silvana.

— A mosca morta já foi, meu amor. - sorriu.

— Você não se enxerga, garota ?

— Você sabe qual é a primeira regra do...

— Que se exploda a primeira regra !! Não vai ser isso que vai decidir com quem posso conversar ou não.

— Se você for ficar amiguinho desse povo, você vai ter que sair da liderança do time de futebol, você sabe. - ela me ameaçou ?

— Quem vai me tirar ? Você ? - minha raiva era sensitiva, e minha voz não passava de um sibilo ameaçador, ela percebera que eu já não era o mesmo Pierre que ela namorava e manipulava como a um boneco de cordas, chegou a hora de colocar pra fora tudo que está engasgado na garganta sobre essa droga de divisão. - Nessa escola, só quem pode me tirar a braçadeira de capitão sou eu e o diretor. Então no dia que você for maior que o diretor aqui dentro, você vem falar comigo, garota idiota. E tem mais uma coisa - sinalizei com o indicador - se eu quiser ser amigo da tia que fica na cozinha ou limpando o chão, eu vou ser amigo, e não vai ser umas regras idiotas feito por ignorantes, como você, que vai me impedir disso.

— Não pode ficar com ela. - Enfim caiu a máscara e o sorriso falso se foi, eu entendi perfeitamente o que ela quis dizer por "ficar". - Não vou deixar, nosso namoro não acabou. - falou séria.

— Não sou um mas aquele fantoche que você manipulava. E não quero "ficar" com ela, acho que você deveria saber. - acrescentei, ela não precisa ficar sabendo das minha reais intenções. - Mas se eu quiser ficar com alguém, acredite, não vai ser ninguém dessa escola.- dei as costas e fui em direção a saída.

 


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Notas finais do capítulo

Isso é tudo pessoal !!
E aí o que acharam da Cecília ?? Demorou um pouquinho, mas finalmente ela chegou !!
Nessa capítulo descobrimos um pouquinho da verdadeira face da Silvana, que não é tão boazinha assim como imaginávamos. E que pelo visto ela vai aprontar pra cima do Pierre.
O que vocês acharam ?? Comentem !! Preciso saber se estão gostando. ;)
Kisses Kisses, e Até a Próxima !!!
*__*



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