The Next Queen - Interativa escrita por Lu au Andromedus


Capítulo 6
Capítulo 5 - Apresentação das Selecionadas - Parte Dois


Notas iniciais do capítulo

Olá leitoras!! Voltei com mais três selecionadas. Obrigada a Fawkes, Blue Dream e a Cielo blu volpe pelas garotas. E muito, muito obrigada a MeelCustódio pela recomendação. Eu fiquei sorrindo por umas duas horas seguidas depois de lê-la. Você, sua fofa, tornou essa história ainda mais especial para mim. Obrigada do fundo do meu coração S2 S2 S2 S2



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Capítulo 5

Apresentação das Selecionadas - Parte Dois

 

Piper McLean, casta 2, província Ottaro

Observando as ondas, Piper nem se dava conta do avançar do tempo. Podiam ter se passado só alguns minutos ou longas horas, ela simplesmente não sabia. E nem se importava na verdade. Afinal, o que mais poderia fazer além de se sentar na areia e admirar o mar? Toda a frente de sua casa estava lotada de paparazzis e se saísse para a cidade seria pior ainda. Não que fosse novidade para Piper ter fotógrafos por perto, mas antigamente ela podia facilmente passar despercebida em meio a eles já que em quem eles estavam realmente interessados era em seu pai, o bonito e mundialmente famoso Tristan McLean. Mas agora aquele bando de pararazzis estavam ali por ela, todos querendo tirar fotos de uma das 25 selecionadas do príncipe Nicholas.

Umas das 25 selecionadas.... Por mais que Piper tentasse, não conseguia se acostumar com essa ideia. Sair de sua província, ir para um palácio, e passar vários meses eu meio a família real era uma coisa completamente surreal. Depois que seu nome foi anunciado na noite anterior, o telefone não parou de tocar. A primeira ligação logo era seguida pela segunda, terceira, quarta, e conforme esse número crescia, uma coisa começou a martelar incessantemente na cabeça de Piper. Ela nunca fora alguém muito popular, sendo que haviam apenas seis pessoas que ela podia considerar serem realmente suas amigas. Então como podia estar recebendo tantas ligações e de tanta gente diferente? A resposta para essa pergunta veio para Piper algumas horas depois, quando ela estava deitada em sua cama. Era tão óbvia que ela até estranhou não ter chegado a ela antes. Como seu nome foi anunciado em rede nacional, de uma hora para a outra, seu rosto era conhecido por praticamente toda a população de sua província. E todos queriam dizer que já tinham conversado com uma das selecionadas do príncipe, e quem sabe sua futura rainha.

Mas ele não tinha ligado... Jason não tinha ligado...

“Pare Piper! Pare de pensar nele! “, disse a garota para si mesma. “Ele terminou com você, lembra? E depois simplesmente a abandonou quando decidiu se tornar um guarda no palácio real”. Mas era impossível deixar de pensar nele. Ela tentava mas seu rosto sempre acabava por voltar a seus pensamentos. Revê-lo era uma ínfima possibilidade antes da seleção, mas agora que ela era uma selecionada, era quase certo que isso aconteceria. Pensava no que iria fazer quando o visse. O que iria dizer.

Perdida em pensamentos, ela nem notou quando alguém sentou na areia ao seu lado. E o susto que levou quando a pessoa começou a falar a fez dar um pulo.

— Piper – disse Tristan McLean. E quando viu a expressão de susto no rosto da filha, se apressou em emendar – Desculpe. Eu não queria assusta-la.

— Tudo bem pai. É que eu estava distraída. Você sabe como eu me distraio fácil. – Respondeu Piper, abrindo um sorriso de constrangimento.

— Sim, eu sei. Até um grão de poeira é capaz de te distrair. – Ele sorriu, mas era um sorriso cansado. Na verdade, todo ele expressava cansaço, observou Piper. Seu terno sempre impecável, agora estava amarrotado, e seus cabelos castanhos no mesmo tom do dela estavam desarrumados. Mas o que mais incomodava a garota era sua postura curvada, como se ele estivesse carregando uma tonelada de pedras sobre as costas.

Depois desses breves cumprimentos, pai e filha mergulharam em um silêncio desconfortável por longos minutos. Piper observava o pai e parecia que ele queria lhe dizer alguma coisa mas não sabia como. Tristan abria a boca e se preparava para falar algo, quando mudava de ideia e voltava a fecha-la. Ele fez isso várias e várias vezes. Piper tentou dar-lhe o tempo que precisava, mas começou a se sentir tão incomodada que não aguentou e teve que perguntar:

— Qual é o problema pai? Só de olhar para você dá para perceber que tem algo te incomodando. Por favor, me diga o que é. Eu quero saber.

Tristan segurou fortemente a mão da filha e olhou direto em seus olhos por vários segundos, como se pretendesse gravar os mínimos detalhes de seu rosto na memória.

— É só que desde que você foi selecionada, eu tenho me sentido meio nostálgico. Várias coisas sobre as quais eu não pensava a anos estão voltando... – O tom de Tristan era carregado de tristeza - Você se parece tanto com ela Piper...

— Com quem papai?

— Sua mãe – O coração de Piper se apertou imediatamente ao ouvir isso. Ela mal se lembrava da mãe, já que ela morreu quando a garota tinha apenas 2 anos. Mas mesmo assim sentia sua falta como se tivesse convivido com ela durante toda a sua vida. Piper estranhou que Tristan tivesse tocado nesse assunto já que ele sempre o havia evitado. “Talvez essa seja a minha chance”, pensou Piper. “Quem sabe agora eu posso arrancar dele o que realmente aconteceu com minha mãe”.

— Papai, como ela morreu? Eu tenho o direito de saber disso. Ela podia ser sua esposa mas também era minha mãe.

Tristan soltou um longo suspiro.

— Por favor Piper. Não me obrigue a falar sobre isso. Eu não posso. Não estou pronto... – Sua voz começou a falhar, conforme as lágrimas enchiam seus olhos – Por favor...

Tristan sacudiu a cabeça, procurando impedir que as lágrimas caíssem, antes de se voltar de novo para a filha.

— Que tal falarmos sobre outra coisa? Como está se sentindo Piper, agora que você vai participar da seleção?

“Aí está”, disse Piper para si mesma. “A mudança de assunto”. Era assim toda vez que Piper perguntava algo sobre a mãe. Tristan sempre mudava de assunto, e acabava por não responder o que ela perguntava. Mas a garota decidiu não pressionar. Sabia que esse tema era muito delicado para ele.

— Acho que nem absorvi que sou uma selecionada ainda – Respondeu Piper, dando uma gargalhada.

— Vai ser difícil passar tanto tempo longe de você... – Piper sentia o mesmo. Ela amava tanto o pai que só de pensar em se separar dele, seu peito ardia. E seria ainda pior devido à grande proximidade dos dois atualmente.

— Vai ser difícil para mim também pai. Mas pelo menos ainda teremos essa última semana, na qual poderemos passar os dias inteiros juntos, só eu e você – Piper abriu um grande sorriso. Estava realmente animada para que isso acontecesse.

— Então Piper. Sobre isso...

Tristan começou a falar mas foi interrompido pelo estalo de saltos altos batendo nas pedras do calçadão da praia. Ele e Piper viraram as cabeças ao mesmo tempo, e deram de cara com a empresária e assessora de Tristan, Amélia. Ela usava um blazer preto combinado com uma saia lápis também preta, e mantinha os cabelos escuros e pontilhados de fios brancos presos para trás em um coque apertado. Transpirava seriedade e controle, tanto na expressão quanto na roupa. Amélia parou diante de Tristan e depois de ajeitar a roupa disse, sem nem se dignar a olhar para Piper:

— Está pronto?

— Pronto para quê? – Perguntou Piper olhando para o pai. A confusão era visível em sua expressão.

— Você não contou para ela ainda – Disse Amélia, abrindo um sorrisinho.

— Me contou o que? Pai, o que está acontecendo?

Tristan se virou para a filha e agarrou sua mão.

— Piper, seria muito difícil para mim suportar viver na nossa casa sem você lá andando pelos corredores. Então eu achei que seria melhor se eu tivesse algo com que me ocupar – Ele deu um suspiro antes de continuar – Eu vou começar as gravações de um novo filme Piper. Na Inglaterra. Começa a ser filmado amanhã, então eu vou pegar o avião hoje.

— Quer dizer que você não vai estar aqui para acompanhar o processo da seleção comigo? Mas e quanto aos nossos planos de passar juntos essa semana? Minha última semana?

Amélia soltou uma risada afetada.

— Não seja tão dramática garota. Preciso te lembrar que quem garante a comida que você come, a cama em que você dorme, a casa em que você mora é seu pai e seus filmes?

— Calada Amélia. Me deixe lidar com isso – Disse Tristan, lançando um olhar duro para a mulher – Eu sinto muito Piper. Queria que tivesse como eu passar essa semana aqui, mas os produtores insistiram para que as gravações começassem amanhã.

Os olhos de Piper se encheram de lágrimas. Ela não estava preparada para se despedir do pai. Não ainda. Piper passou os braços ao redor do pescoço dele e o abraçou forte. Tristan retribuiu e os dois ficaram assim por vários minutos, nenhum querendo se separar do outro. E teriam ficado por ainda mais tempo se Amélia não tivesse pigarreado e dito para Tristan que se eles não se apressassem perderiam o voo. Ele se levantou e lançou um último olhar para a filha antes de dar-lhe as costas e caminhar para longe.

Piper observou o pai se afastando até que não conseguisse mais distinguir seu contorno. Lágrimas caiam incessantemente de seus olhos, embaçando sua visão. E foi nesse momento que um bando de paparazzis começou a cerca-la, tirando fotos suas de todos os ângulos. “Ótimo”, pensou Piper. “As primeiras fotos minhas que o mundo vai ver serão chorando”. Mas nesse momento ela não estava nem aí.

 

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Skyler Angel Chase, casta 6, província Dakota

Skyler era prensada fortemente contra a parede e a incapacidade de se mexer a estava deixando desesperada. Agitava os braços e levantava as pernas, tentando atingir qualquer parte de seu agressor, mas tudo que fazia se revelava inútil. Estava em uma posição tão vulnerável que não pôde fazer nada além de assistir enquanto o rapaz arrancava os botões de sua blusa. Foi então que...

Skyler acordou sobressaltada. Seu coração batia furiosamente e todo seu corpo estava coberto por uma camada de suor.

— Relaxa Sky. Foi só um sonho. Só um sonho.... – Ela disse para cima mesma, enquanto se levantava da cama e abria as cortinas de seu quarto.

Um quarto só para si era uma coisa nova para Skyler já que ela desde pequena o dividia com o irmão gêmeo, Spencer. Foram só alguns meses atrás que ele decidiu se mudar para o quarto de Lion, o irmão mais novo dos dois. E Sky estava adorando essa privacidade recém adquirida. Enquanto tomava banho, a garota conseguia ouvir claramente os barulhos vindos do andar de baixo. Seus irmãos mais novos conversavam tão alto uns com os outros que mais pareciam estar gritando. Ao escutar esses sons tão costumeiros, Skyler não conseguiu evitar sentir uma onda de tristeza ao pensar que ficaria sem ouvi-los por várias semanas, talvez meses. Determinada a não deixar as lágrimas caírem, ela jogou um jato de água gelada no rosto e se vestiu rapidamente, optando por um vestidinho leve em um tom de azul marinho. O tecido não era de melhor qualidade, já que Skyler nunca pôde comprar roupas feitas do mais fino algodão com seu salário de casta 6. Mas se sentia confortável, e era isso que importava.

Saindo do quarto, Skyler começou a caminhar pelo corredor em direção as escadas que levavam ao primeiro andar. Se bem que de acordo com Spencer, o corredor nem podia ser chamado de corredor já que “é tão pequeno que ninguém seria capaz de atingir nem um quilometro por hora correndo por ele”. Skyler encontrou os irmãos sentados na cozinha enquanto Arielle, sua irmã mais nova, preparava bacon e ovos.

— Bom dia Anjinho – Cumprimentou Spencer, se aproximando de Skyler para lhe dar um beijinho na bochecha.

“Ele está mancando mais que o normal hoje”, pensou Skyler olhando para o joelho esquerdo do irmão gêmeo. Provavelmente isso era devido ao fato de ontem a garota tê-lo arrancado do sofá e pulado de alegria junto com ele depois que sua ficha foi sorteada pelo príncipe. “Por que você foi fazer isso Skyler? Burra, idiota”, ela se xingou mentalmente. Um sentimento avassalador de culpa a invadia. Não que ela não se sentisse culpada normalmente, já que se Spencer não tivesse intervindo quando aquele rapaz tentara estupra-la, ele não estaria mancando. E o fato de sonhar com o acontecimento noite passada também não ajudava muito Skyler a seguir em frente. Spencer percebeu que a irmã olhava fixamente para sua perna.

— Skyler – Spencer disse, finalmente fazendo a garota levantar os olhos – Esqueça isso ok? Pare de se culpar.

Skyler abriu um pequeno sorriso, que com certeza não conseguiu convencer Spencer. Em seguida ela se sentou ao lado de Lion, que lançou um sorriso provocante para a irmã.

— Bom dia Anjinho – Ele disse

— Nada de me chamar assim. É Skyler ou Sky para você.

Lion abriu uma cara de espanto, como se estivesse muito chocado diante das palavras de Skyler.

— Quer dizer que para o Spencer é Anjinho e para mim é Sky? Que ultraje! E eu que achei que nós fossemos irmãos. Que nós compartilhássemos alguma intimidade.

Skyler soltou uma gargalhada, já que sabia muito bem que Lion estava só brincando. Ele tentou manter a expressão séria, mas logo estava rindo junto com a irmã. Spencer os acompanhou, enquanto Arielle abriu um sorrisinho. Metias, que tinha acabado de chegar, ficou olhando para os irmãos sem entender nada. E Jasmine, que o acompanhava, logo estava sorrindo também, contagiada com a alegria do ambiente. Como Skyler ia sentir falta desses momentos. Seus irmãos eram mais que família para ela, eram, juntamente com Hannah, seus melhores amigos. Se separar deles seria uma das coisas mais difíceis que Skyler já teve que fazer.

Um barulho alto soou vindo de um dos quartos. De uma hora para a outra, todos na cozinha ficaram calados. Skyler e Spencer trocaram um olhar antes de saírem correndo para o andar de cima. Não foi preciso que palavras fossem trocadas entre eles, para os dois saberem exatamente para onde ir. Skyler chegou antes do irmão, devido ao fato de ele mancar atrasa-lo. Ela abriu a porta de forma hesitante e a primeira coisa que chamou sua atenção foram os cacos de vidro espalhados pelo chão, eles que provinham do copo que costumava ficar no criado. Mas logo seus olhos estavam pousados na figura sentada no meio da cama. Elizabeth estava com uma aparência horrível. A camisola que usava estava com as barras rasgadas onde suas mãos puxaram o tecido. Seu cabelo estava sujo e todo despenteado. Mas o mais assustador era seu rosto. Ele estava todo marcado por lágrimas, com os olhos inchados de tanto chorar, e transbordando de tristeza. O peito de Skyler se apertou ao ver a mãe assim, mas ela mais que ninguém sabia que devia proceder com cuidado.

— Mãe... Qual é o problema? – Skyler perguntou delicadamente, se aproximando de Elizabeth e se sentando na beirada da cama.

A essa altura Spencer também já havia chegado ao quarto e se aproximava da mãe, tomando cuidado para não pisar nos cacos de vidro. Elizabeth virou a cabeça e encarou a filha por alguns segundos antes de dizer, com a voz carregada de pesar:

— Ele está morto Skyler. Robert está morto – Em seguida ela enterrou a cabeça nas mãos e começou a chorar compulsivamente, os soluços sacudindo seu frágil corpo.

Toda vez que Skyler via a mãe não podia deixar de se espantar com a mulher que ela era hoje em comparação com a mulher que um dia foi. A morte do marido a abalou de um modo que praticamente destruiu sua sanidade. E agora ela passava a maior parte do tempo deitada. Skyler estava a ponto de esticar a mão para segurar a de Elizabeth, quando a mulher repentinamente virou a cabeça em direção a garota. Loucura era visível em seu olhar.

— Como você pode perguntar qual é o problema? Robert morreu. Seu pai morreu. Por acaso você não considera isso um problema? – O tom de voz de Elizabeth aumentava a cada palavra, conforme sua raiva crescia – Você sempre foi uma ingrata Skyler. Vivia às custas do seu pai e nem para lhe dirigir um agradecimento. E nem a mim! Eu, que te criei durante toda a sua vida!

Skyler tentou relevar as palavras da mãe, considerando que ela obviamente não estava em seu estado normal, mas não conseguiu se controlar.

— Você me criou durante toda a minha vida?! Desde a morte do papai você nunca mais foi uma mãe para mim, ou para nenhum dos seus outros filhos! Jasmine tinha apenas dois anos. Eu fui mais mãe para ela do que você!

Depois do desabafo, Skyler ficou calada olhando para a mãe. Ela sustentou o olhar da filha por uns instantes antes de seus olhos se perderem nas manchas do teto.

— Vamos Skyler. Vamos deixa-la descansar – Chamou Spencer, esticando a mão em direção a irmã.

Skyler se levantou e já ia atravessando o quarto quando Elizabeth repentinamente pulou da cama.

— Meu Deus! Olhem a hora crianças, seu pai já deve estar chegando para a hora do almoço. Eu preciso começar a prepara-lo. Temos batatas? Acho que não. É melhor eu ir compra-las então. Robert adora batatas – E começou a se arrumar, passando um batom nos lábios e pegando a bolsa que estava jogada na poltrona do quarto.

Skyler olhou completamente espantada para Spencer. Ele devolveu o olhar e se aproximou de Elizabeth, segurando suas mãos.

— Mãe. O papai morreu. Foi durante um ataque rebelde lembra? Por favor deite-se e volte a dormir – Seu tom de voz era calmo e seus olhos estavam fixos nos de Elizabeth.

— Morreu? – Elizabeth pronunciou a palavra devagar, como se estivesse tentando tirar sentido de algo que não fazia sentido.

Demoraram vários segundos para a percepção invadir seu olhar. E quando isso aconteceu, ela novamente começou a chorar. Era uma cena tão devastadora que Skyler não conseguiu observa-la por nem mais um segundo. Saiu pela porta do quarto e só parou quando não conseguia mais ouvir o choro da mãe. Pelo visto não era de tudo que ia sentir falta quando fosse para o palácio.

 

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Marina Volpe, casta 7, província Columbia

Na floresta Marina se sentia viva. A sensação da terra sobre os pés descalços, a brisa carregando cheiro de pinho, o barulho de galhos se quebrando por causa do andar dos animais, tudo isso lhe trazia uma paz que naqueles últimos dias estava sendo muito bem-vinda. Marina passava por uma verdadeira montanha russa emocional que passou da preocupação pelo dinheiro estar em suas últimas reservas para o alívio de não ter mais que se preocupar com isso quando sua ficha foi sorteada pelo príncipe. Mesmo se ficasse só uma semana no palácio, o dinheiro que receberia manteria a família por uns dois meses. Não que ela planejasse ficar por tão pouco tempo. Afinal como poderia aproveitar todas as comodidades da vida de alguém da casta um com só uma semana?

Observando o sol, Marina concluiu que deveria ser o final da tarde. Àquela hora ela já devia estar em casa, ajudando a mãe a preparar o jantar. Era impressionante como sempre perdia a hora quando estava na floresta. Havia tanta coisa para ver que o tempo parecia andar rápido demais. A passos rápidos, ela caminhou pela floresta, tomando cuidado para não tropeçar, coisa que acontecia muito devido ao jeito atrapalhado da garota, e só diminuiu a velocidade quando chegou as ruas de sua província. “É surreal como de um dia para o outro eu passei de um zé ninguém para uma das pessoas mais conhecidos de Columbia”, pensou Marina, observando o tanto de gente que virava a cabeça e apontava o dedo em direção a ela quando passava por eles. Outras garotas podiam amar toda aquela atenção, mas Marina não podia estar se sentindo mais desconfortável.

Ao passar por um café lotado de homens vestindo ternos caros e mulheres usando roupas de grife, Marina ouviu uma garota sentada em uma mesa cheia de adolescentes comentar em tom maldoso:

— Olha, se não é nossa selecionada da casta sete. Não sei vocês, mas eu vou adorar vê-la falhar.

Marina continuou caminhando, fingindo que não ouviu nada. Não que ela não tivesse ficado magoada, mas decidiu engolir, com dificuldade, seu orgulho já que provavelmente as palavras da garota eram motivadas por inveja, pois Marina tinha sido selecionada e ela não.

Ao abrir a porta de casa, o cheiro de café sendo coado imediatamente a invadiu. Como Marina adorava esse cheiro! Só de senti-lo seu humor melhorou consideravelmente e ela andou praticamente saltitando até a cozinha, onde se deparou com a mãe alternando entre terminar de preparar o café e retirar as penas de uma galinha recém morta.

— Olá mãe – Cumprimentou Marina, abraçando a mãe por trás.

— Olá querida – Respondeu Carmen, mirando a filha com aqueles olhos castanhos tão iguais aos dela.

— Papai está em casa?

— Não. Ele ainda está no trabalho. Mas daqui a pouco já deve chegar.

— Trabalho? Mas hoje é sábado e ele não precisa fazer hora extra mais agora que sou uma selecionada.

Carmen abriu um sorriso, como se achasse tola a pergunta da filha.

— Seu pai é orgulhoso Marina. Ele não quer depender só do dinheiro que provém do Estado. E você puxou isso dele.

Marina podia discutir, mas era verdade. Ela era uma garota orgulhosa. Inclusive já havia perdido vários empregos dando respostas ofensivas e chefes que a destratavam. Mas não demorou para que fosse obrigada a relevar essas coisas, pois seu pai ficava muito, muito bravo quando a garota perdia um cliente e voltava para casa trazendo nenhum dinheiro. Marina tinha inclusive várias marcas de seus ataques de fúria espalhadas pelo corpo. Isso a preocupou por um momento pois não queria aparecer diante do príncipe com hematomas estampados em seus braços e pernas. Mas vendo o quão impecável a rainha e a princesa sempre estavam, provavelmente haveria um jeito de cobri-los e assim evitar perguntas que ela com certeza ficaria sem jeito de responder.

Marina, de tão distraída com seus próprios pensamentos, nem notou o barulho da porta se abrindo ou ouviu o pai chegando a cozinha. Demoraram vários segundos para ela voltar para a realidade, e ao fazer isso, deu de cara com o pai lhe lançando um olhar inquisidor.

— O quê? - Perguntou Marina.

Ferdinando franziu a testa em sinal de irritação pela filha não estar prestando atenção no que ele dizia, enquanto Carmen simplesmente sorriu.

— No mundo da lua de novo, querida?

Marina deu uma gargalhada e comentou, com um grande sorriso no rosto:

— Para variar – Ela mais que ninguém reconhecia o quanto era avoada.

— Estou feliz que ache isso engraçado – Disse Ferdinando, em um tom que mostrava claramente que ele não estava feliz – Eu havia perguntado se você foi trabalhar hoje.

— Não. O dinheiro não é mais tão urgente para nós agora que sou uma selecionada papai.

— Sim, mas e quando você for eliminada e a monarquia deixar de nos fornecer os cheques?

— Eu posso não ser eliminada. Quem sabe seja eu a garota que o príncipe irá escolher como sua esposa – Marina respondeu abrindo um sorriso esperançoso. “Não seria incrível se isso acontecesse? ”, pensou. “Não ter mais que me preocupar com dinheiro. Não ter mais que suportar os olhares de desprezo que pessoas de castas altas me lançam. Não ter mais que comer as sobras que os mercados não conseguem vender”.

Ferdinando olhou para a filha como se ela tivesse dito a coisa mais idiota do mundo.

— Você não vai ser a escolhida.

Essas simples seis palavras foram como um meteoro, destruindo o mundo de fantasia que Marina construía na sua cabeça.

— Você acha mesmo que em meio a um bando de garotas de castas altas e com famílias influentes o príncipe vai escolher justamente você? Aquela que vem da casta mais baixa? Sejamos realistas Marina. Você não vai durar nem duas semanas.

Lágrimas se acumulavam nos cantos dos olhos de Marina. Ela nunca havia conservado muita esperança de chegar a vencer, mas em meio as milhares de fichas da província Columbia, a dela foi a sorteada. E agora era uma entre as vinte e cinco garotas que poderiam ser as escolhidas para se casar com o príncipe. E por um momento, um pequeno momento, chegou a pensar “por que não eu? ”. O mínimo que seu pai poderia ter feito era a encorajado. Dito que se fosse ela mesma, o Nicholas se encantaria com sua personalidade. Era o que um pai normal teria feito. Mas é claro, seu pai não era um pai normal.

“Ele não vai me ver chorar”, disse Marina para si mesma. Determinada a impedir que isso acontecesse, ela virou-lhe as costas e correu para a porta da frente, se embaralhando com as chaves de casa antes de conseguir finalmente abrir a porta. Correu pelas ruas mal olhando para onde ia, tentando, com muito esforço, segurar o choro até estar longe da vista do pai. Mas esse foi o seu limite, e logo seu rosto estava todo vermelho e marcado com o curso das lágrimas. Não querendo chamar atenção chorando no meio da rua, se dirigiu para o único lugar que se sentia realmente em paz, a floresta. Só parou quando estava embaixo de uma grande magnólia toda cheia de pequenas flores rosas. Ver uma coisa tão bonita assim no estado em que estava só lhe deu vontade de chorar ainda mais. Sentou-se ao pé da árvore e deixou que soluços sacudissem seu corpo conforme liberava toda a frustração, tensão e preocupação que encheram seu coração nesses últimos dias.

Não saberia dizer por quanto tempo ficou chorando. Mas quando finalmente terminou se sentiu mais limpa. Mais leve. E foi ali, debaixo daquela magnólia, que Marina decidiu que provaria ao pai que ele estava errado. Podia não chegar a vencer, mas ficaria mais de duas semanas. E ao se lembrar daquela garota que a xingou mais cedo, decidiu que provaria a ela que também estava errada. Marina mostraria a todos que duvidaram dela que garotas de castas baixas também dão ótimas princesas.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam?
E por favor, me respondam uma perguntinha. Sua selecionada é virgem? Por que em uma das visitas dos funcionários que coordenam a seleção, elas são questionadas sobre sua virgindade. As regras sobre isso na minha história não são tão rígidas quanto no livros de A Seleção, mas é claro que elas ainda podem simplesmente mentir.



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