The Next Queen - Interativa escrita por Lu au Andromedus


Capítulo 5
Capítulo 4 - Apresentação das Selecionadas - Parte Um


Notas iniciais do capítulo

Olá leitoras!! Sim, eu sei que tem um tempão que eu não posto um novo capítulo, mas em minha defesa esse final de ano é cheio de provas na escola, o que resulta em menos tempo para escrever. Mas compensando a minha demora eu fiz um capítulo bem grandinho para vocês. Nele são apresentadas as três primeiras selecionadas, e eu queria agradecer a Ravena, a Meire e a MeelCustódio pelas garotas.



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Capítulo 4

Apresentação das Selecionadas - Parte Um

 

Lunara Louise Ziegler, casta 4, província Denbeigh

O sol brilhava em Denbeigh, banhando as árvores, as flores e o lago do parque central da província com uma luz alaranjada. Mas mesmo com o céu com quase nenhuma nuvem, a temperatura estava amena. Isso era uma das coisas que Lunara mais gostava sobre sua província. Quando nevava então, a bela paisagem de Denbeigh ficava ainda mais bela. Era nessas horas que ela mais adorava desenhar, enquanto observava a neve cair segurando um grande caneco de chocolate quente preparado por sua mãe. Mas como era verão, não podia se dar a esse luxo. Invés disso, desenhava a paisagem do parque sentada em um banco. Seu lápis passava habilmente pela folha, fazendo as folhas delicadas, a textura das árvores e as crianças brincando surgirem como mágica. Quando ficou satisfeita com o resultado, guardou o caderno de volta na bolsa que levava pendurada no ombro e seguiu seu caminho.

Caminhava em direção ao restaurante de comida alemã dos pais. Eles eram praticamente os únicos que estavam trabalhando àquela hora já que a maioria das pessoas já tinha sido dispensada e corria para casa para não perder nem um segundo do sorteio das selecionadas do príncipe Nicholas. Lunara achava aquilo totalmente desnecessário. Via as garotas cochichando sobre como tinham esperança de serem sorteadas, de como seria incrível ir para o palácio, e só pensava que elas iriam competir por alguém que nem conheciam. Por isso e muito mais que Lunara nem tinha se inscrito. Sua vida girava em torno do trabalho e da família, não precisava da tensão de talvez ser selecionada e viver em meio a 24 garotas competindo pela mão do príncipe.

Quando chegou ao restaurante, abriu a porta e logo os cheiros invadiram seu nariz. Eintopf sendo mexido na grande panela de pedra, Apfelstrudel saindo do forno e mais uma variedade de aromas saindo da cozinha. Lunara cumprimentou Ângela, a mulher que cuidava da caixa registradora, e seguiu atrás dos pais. Encontrou o pai na cozinha em frente a uma bancada, cortando o Apfelstrudel em vários pedaços. Ele sorriu ao ver a filha, fazendo com que várias rugas aparecessem em volta de seus olhos azuis.

— Hallo papa – cumprimentou Lunara em alemão, dando um beijo na face do pai.

— Olá querida! – respondeu Tobias – O que fez hoje?

— Desenhei papa. Nada muito novo – Lunara disse enquanto se ocupava de ajudar o pai a cortar o Apfelstrudel.

— Pois deixe me ver o que você desenhou. Aposto que fez um trabalho fantástico, como sempre.

Lunara deu um sorrisinho e abriu o caderno na página em que tinha desenhado, a estendendo em direção ao pai. Ele admirou o desenho por uns segundos para depois abrir um grande sorriso.

— Ficou maravilhoso filha! As linhas delicadas, os contornos certinhos... Sem dúvida um de seus melhores trabalhos Luna.

A expressão da garota permaneceu impassível mas por dentro ela estava pulando de alegria. Lunara simplesmente adorava receber elogios. E quando eram relacionados a algo que fez bem, ela se sentia ainda mais feliz.

— Olá meu amor – Cumprimentou sua mãe Anne, entrando na cozinha segurando um saco de batatas. Seus cabelos negros estavam presos em um coque frouxo e contrastavam fortemente com os cabelos cor de cobre da filha. Lunara puxara o tom ruivo da avó paterna então muitas vezes quando alguém olhava, não dizia que ela era realmente filha dos pais, além de que fisicamente ela também não se assemelhava muito a eles. Mas bastava passar cinco minutos no meio dos três para perceber a forte ligação entre eles que só uma família poderia ter.

— Mãe, você quer que eu ajude com as mesas? – perguntou Lunara. Mas antes que Anne pudesse responder a garota já tinha pegado o avental e o amarrava as costas.

— Não precisa Lunara. Você já trabalhou de manhã na biblioteca. Descanse.

— Estou bem mamãe. O trabalho me ajudará a passar o tempo – A verdade é que havia vários outros jeitos de Lunara passar o tempo. Ela podia simplesmente se sentar e ligar para a melhor amiga, Lisa Evans. Mas com os pais tão atarefados e o grande movimento no restaurante causada pelas várias pessoas que aproveitavam a televisão para ver o sorteio das selecionadas do príncipe, Lunara não podia ficar parada. Estava sim um pouco cansada mas poderia aguentar por mais uma ou duas horas.

A garota prendeu os cabelos ruivos com um elástico, pegou uma bandeja, e começou a passear pelas mesas, recolhendo os pratos e copos de quem já havia terminado. As pessoas mal prestavam atenção nela, não tirando os olhos nem por um minuto da televisão, todos ansiosos para saber quem seria a selecionada da província Denbeigh. O príncipe Nicholas tinha acabado de entrar em cena. Ele era bonito, sem dúvida. O cabelo escuro contrastava com a cor azul de seus olhos, dando-lhes grande destaque. Mas Lunara nunca o achara completamente irresistível como algumas garotas achavam.

Focada na sua atividade, ela, ao contrário dos outros, nem olhava para a televisão. Só levantou os olhos quando ouviu o príncipe anunciar uma selecionada que vinha da casta sete. Lunara não pode deixar de sorrir ao pensar em como a vida daquela garota mudaria a partir daquele momento. Recolhia uma mesa em que sentava um homem de terno, provavelmente da casta 2, que não deixou de lançar lhe um olhar de desprezo quando ela se aproximou, quando o príncipe se encaminhou para a caixa da província Denbeigh. No momento em que ele começou a falar, Lunara começou a prestar atenção, curiosa para saber quem seria a garota que representaria sua província. Foi então que Nicholas leu:

— Da província Denbeigh: Lunara Louise Ziegler, 19 anos, casta 4

A boca de Lunara se escancarou em uma expressão de completo choque. Normalmente ela apresentava grande controle pessoal sobre os sentimentos mas naquele momento não conseguiu disfarçar sua surpresa. Como ela poderia ter sido sorteada se nem tinha se inscrito? Mas sem dúvida a garota da foto era ela. Tinha os mesmos cabelos ruivos, os mesmos olhos azuis acinzentados, a mesma pele clara. Todos os olhos do restaurante se voltaram para ela. O homem que antes lhe lançara um olhar de desprezo agora lhe lançava um olhar de puro ódio, nada satisfeito que a representante de sua província fosse de uma casta baixa. Seus pais saíram da cozinha exibindo a mesma expressão de choque da filha.

— Lunara... Achei que não tinha se inscrito – comentou a mãe em voz baixa

— Eu não me inscrevi – Curiosa, Lunara queria saber como aquilo podia ter acontecido. Era óbvio que alguém tinha a inscrito, mas quem? Não podiam ser seus pais, que pareciam igualmente surpresos. Foi então que Lisa, sua amiga de infância, entrou a passos rápidos no restaurante, o rosto vermelho por causa do esforço. Lunara olhou para a melhor amiga que corria em sua direção e a envolvia em um abraço apertado.

— Ah Luna.... Eu estou tão feliz por você! Tinha fé que se a inscrevesse você seria sorteada!

Lunara desvencilhou-se do abraço e segurou as duas mãos de Lisa.

— Foi você que me inscreveu? Por que fez isso Lisa? – Estranhamente, um sentimento de raiva foi crescendo dentro dela – Se eu quisesse competir pela mão do príncipe eu mesma teria me inscrito.

— Não se trata apenas de competir pela mãe do príncipe. Se trata de abrir seu coração e sair um pouco da vida rotineira do trabalho. Você adora contos de fadas Luna. E essa é sua chance de vive-los.

Pensou por um segundo e concluiu que não adiantava discutir. O que estava feito, estava feito.

— De qualquer forma não tem mais volta... – Lunara olhou para os pais - O que vocês acham?

Anne, sua mãe, sorriu e respondeu:

— É uma oportunidade única querida. Aproveite. Você seria a melhor rainha que o príncipe poderia querer.

Lunara abriu um sorrisinho, agradecida. Amava os pais e a aprovação deles era muito importante para ela. Lisa a puxou, já comentando sobre como seria incrível ir para a seleção e juntas elas se dirigiram para a saída do restaurante. Porém, quando já passava pela porta, Lunara lembrou que tinha deixado seu caderno de desenhos na cozinha.

— Um minuto Lisa. Já volto – Quando se aproximava da porta da cozinha, ouviu os pais conversando em voz baixa.

— Estou com um mal pressentimento sobre a Lunara participar da seleção... – Comentou Anne, com um tom de preocupação na voz.

— Como assim querida? – Respondeu Tobias, seu pai.

— Não sei exatamente. Mas sinto como se alguma coisa estivesse errada. Como se ela estivesse indo direto para a cova dos leões.... Você acha que eu estou sendo irracional?

— Não, eu não acho. Também estou preocupado. Mas como ela mesmo disse, não tem mais volta. Só podemos esperar que você esteja errada...

O problema era que Anne raramente estava errada quando se tratava da filha, e Lunara sabia muito bem disso. Não querendo ouvir nem mais um segundo, a garota se virou e andou a passos rápidos para a saída. Precisava começar a pensar no que faria quando chegasse ao palácio. Afinal, quando a cova dos leões a espera, é melhor estar preparada.

 

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Harriet Aurora Jackson Alyn, casta 4, província Honduragua

“Não importa quantas vezes não funcione, ele continua insistindo”, pensava Harriet. A garota estava sentada na cama de seu quarto enquanto seu terapeuta figurava na sua frente. Ele lhe fazia um monte de perguntas pessoais mas as respostas de Harriet eram sempre monossilábicas, já que odiava ter que ficar falando sobre si mesma. Mas ainda sim seu pai insistia que ela continuasse fazendo terapia. Esse era o modo dele de trazer à tona a garota feliz e despreocupada com a vida que Harriet era antes da mãe morrer. Só de imaginar o corpo dela parado na sua porta da frente a garota já estremecia. Mesmo tendo acontecido já a muito tempo, aquela era uma cena que ela desconfiava que nunca iria conseguir esquecer.

Afastando essa imagem da mente, os olhos de Harriet se voltaram para seu terapeuta. Ele a observava com uma expressão de interrogação no rosto, como se tivesse feito uma pergunta e esperasse uma resposta.

— O quê? Desculpe, eu não ouvi – Disse Harriet, abrindo um sorriso de constrangimento.

— Eu perguntei se você se inscreveu para a seleção do príncipe. O sorteio das selecionadas é hoje.

— Sim. Meu avô me incentivou

— E como seu pai aceitou isso?

— Não muito bem... – respondeu Harriet, pensando no quão furioso seu pai tinha ficado – Mas agora ele já aceitou a ideia e isso ficou no passado – A garota só não sabia se dizia isso para convencer seu terapeuta ou a si mesma.

Mais meia hora se passou, até que seu terapeuta desistiu de tentar arrancar qualquer coisa da garota e declarou a sessão como encerrada. Aliviada por não ter mais que ficar falando sobre si mesma, Harriet se deixou cair em sua cama. Olhou para a grande janela de seu quarto e vislumbrou o jardim de sua casa com seus grandes carvalhos e os canteiros de rosas. Era uma vista linda mas Harriet não conseguiu evitar sentir certa tristeza. Quando fora a última vez que saiu de casa? Fazia tanto tempo que nem conseguia se lembrar, já que com o grande medo que Thomaz, seu pai, tem de que algo acontecesse com a filha, eram raras as vezes que conseguia sair de casa.

Entediada de ficar só no quarto, Harriet começou a caminhar pelos corredores. Morava em uma casa bonita, com dois andares ricamente decorados, mas que possuía tantas medidas de segurança que era como se abrigasse o próprio rei. Mesmo sendo da casta 4, ela e a família nunca passaram por dificuldades financeiras. Isso se deve ao fato de seu avô, pai de sua mãe, ser dono de uma rede de hotéis muito famosos e frequentados. Harriet passava os olhos pelas janelas que permeavam todo o lado direito do corredor quando algo lhe chamou a atenção. Thomaz, seu pai, conversava com um homem enquanto um grande sorriso se espalhava pelo seu rosto. Aquilo realmente alegrou a garota já que ele nunca tinha ficado com ninguém desde a sua mãe. E ela nem tinha certeza se a mãe contava já que Thomaz era gay e eles só se casaram para manter as aparências. Harriet sabia disso desde os doze anos, quando seu pai revelou qual era sua verdadeira sexualidade.

Quando ouviu o barulho da porta abrindo, Harriet desviou os olhos da janela e passou correndo pelos corredores igual a uma bala, quase escorregando na escada. Ao chegar ao primeiro andar vislumbrou o avô chegando e abriu um enorme sorriso.

— Vovô! – Gritou Harriet, se apressando para lhe dar um abraço.

— Shhh... – Respondeu Afonso, colocando um dedo sobre os lábios – Ninguém pode saber que eu estou aqui

— Ora, por que não? – A confusão estava visível na expressão da garota

— Porque senão eles vão estranhar minha ausência, já que eu só vim aqui para te buscar.

O rosto de Harriet se iluminou instantaneamente.

— Você vai me levar para o hotel?

— Vou. Já tem mais de um mês que você não sai de casa Harriet. Além de que seu pai está muito ocupado com o novo amigo para notar sua ausência – Comentou Afonso, indicando com a cabeça o homem com que Harriet vira Tomaz conversar pela janela.

Ele não precisou dizer mais nada e a garota já estava saindo pela porta. Ela e o avô pegaram um taxi e rapidamente se dirigiam para o hotel. Harriet adorava essas escapadas que Afonso a proporcionava. Mas é claro que seu pai não poderia saber disso já que para ele todas as saídas de casa eram um perigo para seu bem mais precioso, a filha.

O hotel do avô ficava num bairro nobre de Honduragua e possuía mais de vinte andares. Porém Harriet quase nunca ficava nos andares superiores e sim no lobby, onde ela repousava em frente ao avô. Ele por sua vez sentava no piano e dedilhava os dedos pelas teclas enquanto conversava com a neta. E dessa vez não foi diferente. Assim que eles colocaram os pés no local, cada um se dirigiu para seu lugar de costume. Harriet se sentou em uma poltrona em frente ao piano e assim que o avô começou a tocar, ela se permitiu relaxar totalmente. Adorava ouvir o som desse instrumento e sentia que quando estava com Afonso podia fugir um pouco do perfeccionismo constante que o pai a impunha e que ela mesma se impunha.

As horas foram se passando mas em meio as conversas com o avô, Harriet nem percebia a passagem do tempo.

— Harriet. Eu tenho uma coisa para você – Disse Afonso, abrindo um sorriso enigmático

— O que é?

Ele andou até a recepção se abaixou e pegou uma pequena caixa que repousava perto dos pés da recepcionista. Em seguida, aproximou–se de novo da neta e estendeu-lhe a embalagem. Harriet esticou o braço e a pegou, curiosa. Quando abriu a tampa se deparou com uma pequena tortinha de amora. Um sorriso enorme se estendeu por todo o rosto da garota. Harriet não podia comer doces já que o que seu pai queria era que ela se casasse com um homem rico que lhe proporcionasse toda a segurança que ele achava que a filha precisasse. E quem iria querer se casar com uma garota gorda? Então todas as vezes que ela conseguia pôr as mãos em algo doce era uma alegria enorme. Ainda mais algo que fosse feito com amoras! Harriet amava de paixão amoras.

Começou a comer avidamente sua tortinha e logo seus dedos estavam todos roxos por causa das amoras. Aquele estava sendo um dia divino para Harriet. Foi então que todos em volta da garota e do avô, como se estivessem coordenados, começaram a se levantar e ir em direção a televisão de tela plana no canto da sala.

— Vovô. O que está acontecendo? – Perguntou Harriet alarmada

Os olhos de Afonso se arregalaram, o que só serviu para aumentar ainda mais o medo da garota.

— Está quase na hora do príncipe anunciar as selecionadas Harriet. Perdemos a hora.

Nesse momento a ansiedade transpirava por todos os poros da garota. Normalmente ela sabia esconder bem as emoções, mas nesse momento tinha certeza que seu nervosismo estava estampado na sua cara. O pai a mataria. Ele nem a deixava sair de casa e agora ela estava já a horas na rua. Harriet e Afonso trocaram um último olhar antes de saírem os dois praticamente correndo para a porta principal do hotel. Passaram um agonizante minuto esperando um táxi e quando conseguiram um, Afonso ordenou que ele fosse o mais rápido possível. As mãos de Harriet suavam compulsivamente durante todo o percurso e quando finalmente chegaram na porta de sua casa, ela mal esperou o carro parar e já abria a porta, correndo pela entrada de casa.

Ao abrir a porta da frente, se deparou com o pai falando com um trio de policiais, preocupação transbordando de suas feições.

— Papai... – Falou Harriet baixinho. Assim que os olhos dele pousaram nela, ele correu e a abraçou fortemente.

— Ah Harriet.... Eu estava tão preocupado! Achei que tivesse acontecido alguma coisa com você! Eu não ia aguentar perde-la, não depois do que houve com sua mãe... – A garota sentiu a voz dele ficando embargada ou dizer a última frase e imediatamente sentiu a culpa invadindo-a. Ela o amava muito e não queria ter deixado o pai preocupado. Não era nem para ele ter percebido sua ausência.

— Podemos ir embora então? – Disse um dos policiais, irritado por ter sido chamado por nada.

— Podem – Respondeu Tomaz, os olhos ainda fixos na filha.

Assim que os três passaram pela porta, ele disse:

— Como pôde fazer isso Harriet?! Você sabe o quão preocupado eu fiquei?! Inacreditável! – A voz que antes transmitia alívio, agora transmitia raiva.

— Eu não queria deixa-lo preocupado. É só que... – Harriet ia continuar mas se interrompeu quando ouviu seu nome ser anunciado da televisão. Ela e o pai viraram a cabeça imediatamente. Foi então que Harriet viu que se tratava do sorteio das selecionadas do príncipe Nicholas, e que sua ficha tinha acabado ser sorteada.

O sentimento de culpa sumiu em um segundo e foi substituído por um de pura felicidade. E nesse momento Harriet se sentiu a garota mais sortuda do mundo...

 

****************************************************

Melissa Dalla Costa, casta 3, província Allens

Como Melissa odiava essas festas. Tinha que fingir estar se divertindo e ser agradável apenas para que seu pai, que era advogado, arranjasse mais clientes. Mas tinha certeza que não estava fazendo um bom trabalho. Na primeira hora ela até tentou sorrir e conversar com os convidados, mas Melissa tinha sua cota e agora seu desgosto era evidente. A única coisa boa dessas festas eram os chocolates. Seu pai sempre comprava uma variedade de tipos diferentes, com o intuito de agradar todos os gostos, mas quem ficava mais satisfeita era Melissa. Ela simplesmente amava chocolate.

Tinha acabado de pegar uma mão cheio de trufas de caramelo e sentava em um dos sofás espalhados pela sala de estar quando uma figura parou na sua frente. Melissa levantou os olhos e se deparou com a mãe, que olhava para a filha com os olhos transbordando de decepção. “Lá vamos nós de novo”, pensou Melissa.

— Melissa, o que está fazendo? – Perguntou Mônica.

— Comendo. O que parece que eu estou fazendo?

— Você devia estar conversando com os convidados. Há um monte de filhos de possíveis clientes de seu pai que adorariam falar com você.

— É uma pena que eu realmente não queira falar com eles...

— Não seja respondona Melissa. Isso é importante para seu pai.

— Por que? Ele já tem um monte de clientes, para que precisa de mais? – A garota deu um longo suspiro antes de continuar - Você pode uma vez na vida me deixar em paz e permitir que eu aja como a adolescente que eu sou invés da adulta que você quer que eu seja?

Imediatamente os olhos de Mônica se encheram de lágrimas e Melissa ao vê-la assim não conseguiu deixar de revirar os olhos. Era a cara da mãe fazer uma coisa dessas, pensava a garota. Ela sempre exigia o máximo da filha e quando ela não conseguia cumprir com os mínimos detalhes, Mônica simplesmente lhe lançava aquele olhar de decepção com o qual Melissa já estava tão acostumada. Ou pior ainda, começava a chorar.

— Quer que eu vá falar com os convidados? Está bem mãe. Eu vou – Disse Melissa, já andando para longe da mãe. É claro que ela na verdade não faria aquilo, mas àquela altura falaria qualquer coisa para evitar ouvir mais uma palavra sequer vinda da boca de Mônica.

Melissa começou a passear em meio ao monte de pessoas que circulavam por sua sala de estar. Reparando nos convidados, ela concluiu que os que devia realmente conhecer eram menos da metade. E a mãe ainda queria que ela saísse por aí conversando com eles! Não que Melissa fosse tímida, pelo contrário, mas não tinha nenhuma vontade de passar o tempo com homens com mais de o dobro da sua idade.

Caminhava distraída pensando em quando aquela festa iria acabar e ela poderia ir para o quarto, e em meio a sua distração, acabou batendo de frente com alguém. Levantou os olhos e já se preparava para pedir desculpas quando viu em que havia batido. Era um homem de meia idade, com os cabelos grisalhos e usando um terno feito sob medida. Mas não foi isso que chamou a atenção de Melissa, e sim seus olhos carregados de malícia e que a examinaram de cima a baixo. Em um segundo todo o ar saiu de seus pulmões e ela estacou, completamente apavorada. Melissa reconheceria aqueles olhos em qualquer lugar. Eram os mesmos que antes a olhavam quando tinha dez anos, os mesmos que antes a olhavam enquanto seu dono a violentava. A garota se sentia transportada pera seu pior pesadelo e teve que forçar a si mesma a não sair correndo para o mais longe possível. Se recusava a dar essa satisfação para Carlos.

— Olá Melissa! Nossa, é você mesma? Você está tão crescida... – Carlos comentou passeando seus olhos por todo o corpo da garota.

“Calma, Melissa, calma. Não lhe dê essa satisfação...”, repetia ela para si mesma de novo e de novo.

— É o que normalmente acontece quando se fica mais velha. Você cresce. Menos você, é claro, que continua com uma mentalidade pré-histórica. Se bem que nem na pré-história as pessoas podiam ser tão nojentas assim...

Ele riu, o que só serviu para aumentar ainda mais o desconforto de Melissa.

— Eu até poderia ficar bravo se não soubesse por que você está fazendo isso. Porque está sendo tão áspera comigo.

— E por que então gênio? – Disse Melissa, tentando imprimir o maior tom de desprezo possível na voz.

Carlos se aproximou um passo, diminuindo consideravelmente a distância entre os dois, e disse:

— Medo. Você mascara seu medo com sarcasmo. Ou você acha que eu não reparei em quão apavorada você ficou ao me ver?

Melissa andou vários passos para trás procurando se afastar de Carlos o máximo possível, até que bateu numa parede e foi obrigada a parar.

— Você é um monstro. Me assombrou durante dois anos da minha vida e quer que sua presença não me afete?

Ele abriu um sorrisinho e começou a se aproximar da garota.

— Não! – Seu grito surpreendeu Carlos e ele parou – Fique longe de mim! Se você ousar se aproximar mais um passo sequer eu juro que vou te machucar!

O tom alto em que Melissa falou se sobressaiu ao som da música, e logo todos os olhos da festa se voltaram para ela e Carlos. Os pais da garota logo atravessaram a multidão e se aproximaram dos dois.

— Melissa! Não fale assim com o Carlos. Ele é um grande amigo do seu pai e um de seus melhores clientes— Mônica, a mãe da garota, falou, frisando as palavras melhores clientes.

Melissa deu uma risada carregada de ironia.

— Mas é claro mãe! Onde eu estava com a cabeça? Não podemos nos dar ao luxo de perder um cliente, mesmo que ele seja a pessoa mais repulsiva que eu já tive o desprazer de conhecer. O dinheiro é tão escasso para nós. Afinal, semana passada você nem estava em um cruzeiro pelo mar mediterrâneo, né?

Mágoa atravessou o rosto de Mônica, e estranhamente isso fez Melissa se sentir satisfeita.

— A filha de vocês é extremamente descontrolada. Nós estávamos tendo uma conversa casual quando ela simplesmente começou a gritar... – Disse Carlos, para os pais de Melissa.

Ao ouvir seu estuprador dizer isso, Melissa não conseguiu aguentar e bateu com as duas mãos no peito de Carlos, fazendo-o perder o equilíbrio e cair de bunda no chão.

— Cale a boca! Como ousa mentir na minha cara? Eu sei o que você fez! Seu idiota, covarde, filho da pu....

— Melissa! – Seu pai gritou a interrompendo – Já chega! Vá para o seu quarto agora!

Sem dizer mais uma palavra, ela virou-se e passou correndo pelos convidados, e só parou quando já estava em seu quarto e a porta estava fechada. Melissa se odiava naquele momento. Se odiava por deixar-se atingir tão facilmente por Carlos. Já haviam se passado cinco anos desde a última vez que ele a violentara mas toda a dor e humilhação ainda estavam vivas no coração de Melissa. Logo lágrimas encheram seus olhos. Melissa se deixou cair na cama e perdida em pensamentos, levou um susto quando o celular começou a tocar. Ela esticou o braço em direção ao criado onde repousava o telefone e o pegou. Teria desligado na hora se não fosse a Beatrice que estivesse ligando. Ela bem que precisava ouvir a voz da melhor amiga nesse momento. Ao atender, teve que afastar o telefone do ouvido devido ao grito que a amiga soltava.

— Meu Deus Beatrice! Quer furar meus tímpanos?

— Eu nem acredito Melissa! Você é tão sortuda!

— Sortuda? – O dia de Melissa estava sendo tudo, menos cheio de sorte.

— Vai me dizer que ainda não sabe?

— Sabe do que? Fala logo Beatrice, ou vai me matar de curiosidade.

— Você foi sorteada Mel! Você foi sorteada para a seleção do príncipe Nicholas!

— O quê? Você está brincando, só pode estar brincando.

— Ligue a TV Mel – Ordenou Beatrice.

Melissa se esticou para pegar o controle jogado no chão e ligou a televisão do seu quarto. Ela conseguiu vislumbrar sua foto por um segundo antes dela sumir quando o príncipe anunciou a próxima selecionada. Um sorriso enorme se espalhou pelo rosto de Melissa, mas ainda sentia a tristeza presente no seu coração. Nem a melhor notícia do planeta era capaz de espantar por completo aquele sentimento da garota.


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Notas finais do capítulo

Eintopf e Apfelstrudel são comidas típicas alemãs


E então, o que acharam? Donas das selecionadas, está tudo ok? Acharam que suas personagens foram bem retratadas? Caso não, me avisem que na próxima vez que elas aparecerem vou tentar fazer de modo que as agrade mais.



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