Eu de Letras, ela de Irônicas escrita por Sr Devaneio


Capítulo 6
Capítulo 06 – Bons motivos


Notas iniciais do capítulo

Boa noite minha gente!
Aqui o novo capítulo da história. Curto, mas espero que gostem!
Boa leitura a todos.
E, antes que eu me esqueça: vou começar a selecionar os comentários mais maneiros para imprimir e pregar na parede do meu quarto. Portanto, caprichem hahaha ♥



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—  Alô? – era perceptível certa aflição em sua voz.

—  Oi, mãe...

Assim que me ouviu, dona Margoth encheu-me de perguntas. Preocupada, seu tom de voz subiu um tom:

—  Andrew?! Meu filho, onde você está? Seu pai e eu estamos quase comprando passagens para ir até aí!

— Mãe, calma. Estou bem, sim. Cheguei ontem à tarde, porém tive alguns... contratempos que me impediram de ligar para a senhora. Meu celular descarregou e eu esqueci tanto meu adaptador quanto meu carregador aí em casa. Desculpe por preocupá-la.

Ela estava mil vezes mais tranquila quando me disse:

—  Você deve ter tido um motivo muito bom para não ligar, mesmo... Seu pai avisou que provavelmente tinha acontecido algo, porém nada muito grave e que você ligaria assim que possível. Mas sei lá... Esse mundo está tão cruel hoje em dia que não confio de jeito nenhum. Acha que é coisa da minha cabeça?

“Tenho certeza.”

—  Não, mãe. A senhora está certa... De qualquer forma, me desculpe por não ter ligado.

—  Tudo bem. Agora que ouvi sua voz, estou mais calma... Será que eu posso saber por que ou o que impediu meu filho de falar comigo? – ela perguntou com o tom de voz um tanto sentido.

Expliquei o ocorrido de ontem e o de hoje mais cedo tomando o cuidado de ser o mais eufemístico possível, já que eu sabia que a cabeça dela iria aumentar o grau de tudo instantaneamente.

—  Roubado? Que horror, querido!

—  É, mas é como acabei de falar para a senhora: já está tudo resolvido. Tudo não passou de uma distração boba. Já recuperei a carteira e meus documentos e está tudo bem.

—  Por uma menina, você disse? Jesus, onde este mundo vai parar...? – ela continuou a falar, ignorando o que eu acabara de dizer.

—  É... mas já falei com ela. Na verdade, ela é até... simpática, eu acho.

—  Simpática?! Filho, ela é uma ladra.

Suspirei exasperado.

— Mãe, desculpe por não ligar. Está tudo bem, ok? Por favor, fique tranquila. E quanto à ladra: ela não é uma ameaça real. Apenas estava com fome.

—  E rouba os outros para poder comer? Até me lembrou daquele caso que passou na tevê da mulher que se prostituía para comprar hambúrgueres.

—  Mãe, tenho que desligar. Preciso almoçar ou chegarei atrasado ao trabalho.

— Certo… Tudo bem então. – ela respondeu, com o mesmo tom melodramático de antes.

—  Mande um abraço pro meu pai. Assim que meu celular estiver carregado eu retorno. Amo vocês.

—  Também te amamos.

Ufa! Me surpreendia como dona Margoth conseguia ser exagerada assim.

Uma brisa fresca soprou em meu rosto, me refrescando. Fechei os olhos e inspirei profundamente, aproveitando o momento na área verde em que me encontrava. Senti um pouco da tensão se esvair lentamente, até uma voz surgir do nada:

—  Quando é que começam os brilhinhos?

Abri os olhos. Alicia estava de pé bem na minha frente, me observando com uma curiosidade divertida e nada contida.

—  Não entendi. – respondi, fazendo uma expressão confusa.

—  Você nunca assistiu a “Crepúsculo”?

—  Hum... Não. – menti.

—  Credo. Enfim, vim buscar meu celular – ela deu alguns passos, extinguindo a distância que havia entre nós.

Estendi o aparelho envolto na capinha rosa.

— Conseguiu falar com sua mãe? – ela perguntou, guardando o aparelho no bolso.

Eu ainda não estava indo muito com a cara dela, então fui o mais sucinto possível em minhas respostas:

—  Sim.

—  Ela está bem? – perguntou de novo.

—  Sim.

—  Certo, então... – olhou para os lados de forma distraída momentaneamente, como se estivesse tentando se lembrar de algo —  Ah! Já almoçou?

—  Não.

—  E tem companhia para almoçar?

Neguei com a cabeça.

—  Gostaria de vir comigo e com as meninas? – ela indicou o grupo de garotas —  que até então eu não tinha reparado e era diferente do primeiro —  à nossa frente.

Pensei por um momento. Será que eu poderia confiar? Eu já havia sido roubado e enganado duas vezes por esta mesma senhorita, era possível que um raio de azar caísse três vezes sobra a mesma pessoa?

Suspirei exasperado.

— Por que não? – respondi tentando soar o mais natural possível –. Mas se tentar alguma outra gracinha...

Ela sorriu travessa:

—  Você pode ter um beijo meu. – afirmou – Uma aposta bem universitária.

Franzi o cenho:

— Como?

Ela lançou-me uma piscadinha e mudou o contexto da conversa:

— Relaxa. Só quero conversar mesmo.

Dito isto, ela simplesmente virou o corpo e foi em direção ao grupo de garotas sorridentes. Comecei a andar também, pensando em como uma pessoa poderia ser tão convencida.

*

Às 17h30, meu turno estava quase se encerrando. O dia foi tranquilo, apesar de movimentado e eu até que havia vendido bem. O mais novo best-seller de um escritor brasileiro havia chegado à loja e mal recolocávamos nas prateleiras, já apareciam leitores procurando por “ApocalipZe”, um livro que falava sobre um Apocalipse Zumbi no mundo.

Ellie, assim que me viu, perguntou como eu estava. Acabei por contar a ela todo o meu primeiro dia também.

No almoço, apenas havia conhecido as amigas de Alicia e conversado com elas. Sem gracinhas ou mais surpresas (ou quase, se eu não tivesse descoberto que seu nome verdadeiro não era “Alicia”, e sim “Anna”). Também descobri que, segundo Anabeth — a melhor amiga e colega de quarto de Anna — eu ficava fofo e mais atraente quando estava com raiva. Meus olhos “meio que adquiriam um tom mais vivo e brilhante, lembrando muito duas chamas azuis”.

A primeira parte, obviamente eu já sabia de cor. Só parei um momento para tentar entender como alguém pode ser “fofo e mais atraente” com raiva.

Confesso que isso me surpreendeu. Apesar de escutar comentários desde sempre sobre meus olhos, nunca ninguém tinha os comparado a um elemento da natureza – o que achei um tanto quanto estranho.

Ellie disse que isso não podia confirmar, pois nunca me vira com raiva, mas que meus olhos já eram de um azul bastante vivo e de uma tonalidade intensa naturalmente. E tudo graças ao papai...

Contei também que Anna finalmente pediu desculpas por seus atos (de uma forma um tanto indireta) e que eu respondi que não a perdoaria tão facilmente, pois ela ainda estava em dívida comigo e precisaria de um bom motivo para se desculpar – fato que ela aceitou numa boa, dando de ombros. Ela pareceu mais aliviada em saber que eu já havia recuperado o objeto.

— Essa moça parece ser bastante segura de si – Ellie comentou quando terminei meus relatos.

— Sei que, pelo contato que tivemos até agora, ela é bem convencida, isso sim. – respondi.

Ellie riu. Um cliente chegou, ela foi atendê-lo e a conversa foi suspensa.

Fora a grande procura pelo livro e minha breve conversa com Ellie, não houve mais anormalidades durante o resto do dia.

Despedi-me dela e dos outros funcionários quando meu turno acabou, às seis e meia da noite; fiz um lanche rápido ali perto e voltei para meu quarto, onde troquei de roupas rapidamente para ir à academia. Não queria começar o semestre no sedentarismo, muito menos perder meu ritmo diário de exercícios.

Por volta das oito terminei minhas sessões e enfim retornei ao quarto, cansado. A primeira coisa que notei foi que ele estava escuro, sem mais luzes do céu noturno entrando pela janela. Liguei o interruptor e a primeira coisa que vi no quarto foram as cortinas de aparência pesada atrás de nossas camas. Chad deveria ter feito o pedido. Fiquei satisfeito com aquilo.

Após tomar um banho, coloquei o celular para carregar e fui direto para a cama. Chad não estava no apartamento.

Verifiquei o Facebook pela primeira vez no dia, e após alguns minutos navegando pelo celular, ouvi alguém bater na porta.

Levantei-me preguiçosamente.

Quando abri a porta tudo o que me aguardava era apenas a escuridão do corredor deserto. Coloquei a cabeça para fora do quarto tentando ver se a pessoa ainda estava pelas redondezas; as luzes acima de minha cabeça foram ligadas graças aos sensores de movimento.

Não havia ninguém. Olhei para ambos os lados, confuso, quando algo no chão chamou minha atenção.

 

“Você mencionou que precisava disso hoje mais cedo. Eis a parte final de minha dívida. P.S.: Isso não irá se repetir (não é um pedido de desculpas, mas uma afirmação) e esses são bons, não, ótimos motivos.”

 

Debaixo do bilhete havia um adaptador de tomadas rosa com duas entradas acompanhado de um carregador.

—  Dívida saldada... Perdoo você. – falei baixo, meio incrédulo com tudo aquilo.

A essa altura eu já sabia quem havia batido.

Então voltei para dentro do quarto, fechando a porta atrás de mim.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, apesar da miudez.
Valeu galerinha! ^^