Eu de Letras, ela de Irônicas escrita por Sr Devaneio


Capítulo 5
Capítulo 05 – Carteiras X Dietas


Notas iniciais do capítulo

GALERA! GALERINHA!!
Esse é um CAPÍTULO COMEMORATIVO. Nossa singela história ultrapassou, entre ontem e hoje, M.I.L VISUALIZAÇÕES!! :D
MIL GENTE, MIL. Eu pensei que isso não fosse acontecer comigo, mas... aconteceu! Eu queria agradecer bastante a todos. De verdade. E informar que ESTE CAPÍTULO COMEMORATIVO SERÁ DEDICADO PARA O NÚMERO 1.000. Infelizmente não dá pra saber quem é você mas sei que está aí e queria dizer de novo: ESSA É PRA VOCÊ! ;)
E ora vejam só: o(a) sortudo(a) pegou um dos meu capítulos preferidos (se não o preferido até agora).
Divirtam-se bastante assim como eu estou me divertindo. Mais uma vez obrigado e boa leitura!! :D



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Acordei antes de o despertador tocar graças a bastante presente luz solar matutina, que incidia diretamente em meu rosto.

Meu primeiro pensamento do dia foi “preciso urgentemente pegar cortinas para este quarto.”. O segundo foi, logo em seguida: “Hoje aquela ladra não me escapa!”.

Às nove horas, o enorme auditório da MCU estava lotado. Devido à quantidade absurda de pessoas no mesmo lugar, os simples burburinhos foram se aliando até tomarem uma proporção gigantesca de conversa.

Sentei-me logo na última fileira —  a mais distante do palco; ficava a uns bons duzentos e poucos metros à frente do mesmo —  a fim de ter em meu campo de visão o máximo de cabeças possível.

Cerca de dez minutos depois, vários alunos entraram juntos no espaço, ocupando as muitas cadeiras ainda vazias. Novatos vindos do tour de reconhecimento. Recordei-me imediata, mas brevemente de quando foi a minha vez. Como o tempo passa rápido! Parecia ter sido ontem e já tinha um ano.

Um homem bem arrumado, vestindo um elegante terno cinza entrou por uma porta lateral a passos rápidos, mas leves. Logo em seguida, uma fileira de outros homens e mulheres, igualmente bem vestidos subiu no palco em fila indiana e pararam lado a lado.

Havia uma mesa enorme ali, com cadeiras organizadas em fileira horizontal.

A começar do homem de terno cinza, elas foram preenchidas uma por uma. Pouco depois, uma mulher bastante arrumada, em um terninho social, adiantou-se e ficou em frente ao palanque que havia sido posto bem no meio de toda a superfície de madeira.

Os senhores e senhoras da mesa passaram a observar o espaço com atenção; neste momento todos os focos de conversa se extinguiram, deixando o ambiente em silêncio total.

O telão que havia acima de suas cabeças foi ligado, mostrando mais de perto o rosto anguloso de Martha, a vice-Reitora. Assim que ela começou a falar eu já estava inquieto e passei a procurar uma cabeça específica entre as demais, discretamente.

Onde ela teria se sentado?

— Sejam todos muito bem-vindos à excelentíssima Master College University – ela começou a falar pausadamente. Tinha com uma voz penetrante e falava como se escolhesse muito bem as palavras. — Meu nome é Martha Constantino, vice-Reitora desta renomada Instituição e gostaria de, antes de tudo, cumprimentá-los formalmente.

Ela fez uma pausa rápida, observando atentamente as fileiras com seus olhos cinza. Passava a impressão de ser o tipo de pessoa com quem não se brinca.

— Para começar, irei apresentar o nosso muito competente Corpo Docente, bem como nossa Secretaria e Direção, compostos por Doutores e PhD’s com os quais vocês conviverão por todo este ano letivo.

E então, ela começou a apresentar vários professores e professoras, dentre os quais eu já conhecia alguns do ano letivo anterior. Então meus olhos fixaram-se em uma cabeça de cabelos castanhos, inegavelmente femininos.

Meus olhos estreitaram-se instintivamente. Peguei meu celular — que tinha carregado, com o carregador de Chad, enquanto eu me arrumava (apenas três por cento) aquela manhã —  a fim de observar mais de perto e, acessando o modo câmera, dei um zoom centralizando-a em toda a tela.

Martha terminara as apresentações e mudou de assunto, falando pausada e bastante claramente sobre a missão, os valores e todas essas coisas da universidade.

Logo depois, ela passou para a parte física. Nesse momento, figuras surgiram no telão, ilustrando tudo que ela falava com espaços virtuais em 3D. Martha começou a ler um papel, claramente colocado sobre o palanque bem à sua frente.

— Esta Instituição de Ensino possui capacidade para atender a sete mil e duzentos alunos. Os dormitórios são separados em cinco mil para alunos de graduação e dois mil e quinhentos para alunos de pós-graduação, distintos entre si. Estão em um total de seis blocos, quatro para a primeira categoria de alunos citada, divididos em dois masculinos e dois femininos. Estes são numerados de A a D e se encontram na parte leste da universidade. Os outros dois, destinados à segunda categoria de alunos citada, são igualmente divididos em blocos, masculino e feminino, possuindo a denominação das letras A e B respectivamente. Cada bloco, independentemente a qual categoria seja destinada, possui seiscentos e vinte e cinco quartos; cada quarto possui seu próprio banheiro, constituído por uma pia, um espelho e caixa de remédios, um vaso sanitário e um box com banheira simples e chuveiro. Existem treze casas de fraternidade dentro dos limites desta instituição. O número de quartos e banheiros destas variam. Agora, as regras de conduta, que deverão, sob pena de expulsão, serem cumpridas e respeitadas. Mas antes, um termo que acredito eu, todos já estão cientes, e estava bastante evidente nos contratos de admissão de cada um de vocês, mas é bom frisá-lo novamente: tanto esta universidade como os membros dela pertencentes não se responsabilizarão por quaisquer objetos extraviados nas dependências públicas da escola, que são: refeitório, áreas verdes, corredores, pátio, banheiros da área estudantil e salas de aula. É dever do aluno cuidar das próprias coisas enquanto permanecer nestes locais. As dependências particulares, cujo acesso e permanência são pertencentes e livres aos alunos, são: blocos, quartos e casas de fraternidade, bem como todos os cômodos e ambientes situados no interior e no exterior, num raio de dez metros, de cada um.

Neste momento, a garota que estava ao lado da cabeça em observação falou com ela, e a dona daqueles cabelos castanhos virou o rosto, revelando parte de seu perfil. Tirei uma foto para conferir ainda melhor e... O celular descarregou novamente, bem na hora.

— O quê? —  pensei um pouco alto demais — as pessoas ao redor me olharam feio. Pedi desculpas.

Tinha de ser ela! Não era possível. Droga de celular!

Marquei mentalmente o local onde a garota estava e comecei a prestar atenção de fato na vice-Reitora. Não iria adiantar nada ficar pensando nisso, o importante é que eu havia marcado o lugar onde a garota estava sentada. Quando a cerimônia acabasse, era só me apressar que eu a alcançava.

— Esta é uma instituição reconhecida mundialmente por seu padrão de excelência, como todos sabem. Para isso, existem leis que ajudam a manter a ordem e o bom funcionamento de nossas atividades. E para os que não conhecem, irei apresenta-los a todas neste exato momento.

Martha virou a folha diante de si e tornou a ler, pausada e claramente:

— 1- É terminantemente proibido o acesso e permanência dos alunos dentro da cozinha, do almoxarifado, depósitos e quaisquer ambientes situados fora da área estudantil;

— 2- É terminantemente proibido o acesso dos alunos do sexo masculino aos blocos femininos. Os mesmos devem manter uma distância de, no mínimo, dez metros;

— 3- É terminantemente proibido o acesso das alunas do sexo feminino aos blocos masculinos. As mesmas devem manter uma distância de, no mínimo, dez metros;

— 4- Não serão aceitos atividades ou comportamentos considerados ilícitos pela Lei dos Estados Unidos da América, sob condição de expulsão imediata e sem aviso prévio;

Conforme ela falava, as regras iam aparecendo no telão em formato de lista. Em suma: bastava se comportar e agir civilizadamente que nada de ruim acontecia.

— 5- Não serão aceitos quaisquer itens ou objetos, consumíveis ou não, considerados ilícitos pela Lei dos Estados Unidos da América. O aluno que for pego portando quaisquer deles será levado imediatamente à delegacia de polícia mais próxima e terá sua matrícula cancelada no ato, além de — sim — ter os familiares informados;

Houve alguns murmúrios quando a palavra “familiares” foi dita. Ouvi alguém reclamar e chamar aquilo de “atitude um tanto quanto exagerada”.

Esses caras não sabiam da missa a metade. Universitários podem e agem como imbecis infantis quando querem. Aquela medida claramente foi tomada para gerar constrangimento pesado no indivíduo.

— 6- Os alunos não devem sair das dependências desta universidade fora do horário em que os portões estiverem abertos.

Dito isto, ela olhou para a frente:

— Creio que a maioria sabe o por quê. Se, porventura, houver alguém que não saiba — o que eu acho dificílimo —, digo-lhe: continue assim. Mas como a curiosidade será maior, pergunte ao seu colega quando esta reunião acabar.

Pode ter sido uma tentativa de piada, mas ninguém riu (exatamente por não saber se seria, de fato, isso mesmo).

Eu sinceramente não acreditava que houvesse vivalma naquele país que não soubesse do acontecido da altamente renomada Master College University. Foi notícia durante um mês ininterrupto.

Depois das regras, ela finalmente passou para os informes e avisos gerais, que eram a última parte daquele quase monólogo. Eu estava cada vez mais ansioso para ter meus pertences de volta.

— A área estudantil abrange este prédio, as salas de aula, os blocos, casas de fraternidade, as áreas verdes presentes entre todos e as áreas recreativas, que são: a academia, o salão de festas e o salão de jogos; quaisquer locais fora dos aqui citados são proibidos aos alunos. Temos mapas espalhados por todos os espaços físicos públicos, logo, será fácil não se perder.

— O período de aulas, totalizando cinco horas letivas diárias, foi disponibilizado via e-mail e memorando a todos esta manhã.

— Atrasos não serão aceitos sem justificativas, e o aluno não deve faltar mais que oito vezes por bimestre, caso contrário sofrerá penalidades em sua nota final —  salvo casos onde há apresentação de atestado médico ou justificativa do Conselho Estudantil;

— O café da manhã estará sendo servido a partir das seis e irá até às sete da manhã; o almoço terá início ao meio dia e meio e durará até uma e meia da tarde e o jantar começará a ser servido a partir das sete e meia e irá até às nove horas da noite.

— Do meio dia e meio até às duas da tarde, e das sete às nove e meia da noite os portões serão abertos; a entrada e saída, bem como a livre circulação, são permitidas apenas dentro dessas faixas de horários.

— A academia ficará aberta e disponível durante todo o dia, a partir das seis da manhã indo até às nove e meia da noite. Durante o dia, fechará apenas uma vez: do meio dia às duas da tarde, que é o horário de almoço de todos os nossos servidores.

— As aquisições das casas de fraternidade podem ser feitas em nossa Administração.

Então, ele fez uma pausa final e acrescentou:

— Este sistema entre em vigor a partir de agora, bem como o início do ano letivo. Ao término deste encontro, favor se dirigir às suas respectivas salas de aula. Avisos por escrito serão enviados a cada quarto de cada bloco bem como a cada casa fraternidade ainda esta manhã. As fraternidades ou grupos aqui presentes que gostariam de solicitar casas podem entrar em contato com a Administração a partir do meio dia e meio. Mais uma vez, sejam todos muito bem-vindos à MCU! Esta é a nova casa de vocês, então desde que respeitem as normas estabelecidas, vocês são livres e podem se sentir à vontade dentro dos portões. Desejamos um excelente ano letivo a todos e Frui Universitatis!

Finalmente, as palmas começaram. Martha se afastou discretamente do palanque e os professores, junto com o Excelentíssimo Reitor, desceram do palco.

Levantei-me rapidamente e comecei a descer as fileiras o mais rápido que minha mochila abarrotada de livros e cadernos me permitia, pedindo licença aos vários inúteis que entravam em minha frente e tentando não perdê-la de vista. Eu teria que ser rápido, pois ainda devia passar no armário para deixar todo esse peso lá dentro.

No corredor, vários alunos abriam e fechavam seus armários. O barulho de portas metálicas batendo misturado ao som de várias vozes era onipresente. Eu a procurava quase que freneticamente. Onde ela estava? Saiu apenas alguns instantes em minha frente...

E então, um vestido branco entrou em meu campo de visão. Cabelos castanhos que iam até as omoplatas, mais ou menos. Ali estava! E se distanciando...

Apressei o passo, decidido a ignorar o peso nas costas por mais uns instantes até que finalmente a distância entre nós se reduziu a um braço, que eu fiz questão de estender, puxando seu pulso de forma gentil, porém firme.

— Aí está você! — falei.

Mas o rosto assustado que se virou e me encarou feio não era o mesmo que caiu sobre mim de uma árvore no dia anterior.

— O quê? — a garota perguntou.

— Ah... desculpe! Achei que fosse outra pessoa.

Ela puxou o braço com força.

— Maluco!

Dito isto, se virou e sumiu. Era melhor assim.

Eu não acreditava. Ela havia me enganado duas vezes, e em uma delas nem foi intencional. Isso era totalmente humilhante. Irritado, decidi que era melhor procurar na troca de horários ou, em último caso, no almoço. Caso contrário, eu teria que perguntar à Piper qual era o número do bloco e quarto onde ela estava.

Como havia trago todos os livros e cadernos na mochila para já deixá-los no armário hoje mesmo e a mochila estava realmente pesada, me situei olhando os números nos armários mais próximos. Por sorte, pelo menos estava perto do meu.

Coloquei os livros e cadernos empilhados o mais rápida e organizadamente que podia, vendo minhas tentativas de me acalmar fracassarem bonito. Como alguém rouba outro alguém dentro de uma universidade?! E pior, alguém que estava oferecendo ajuda! Isso com certeza serviria para eu começar a pensar duas vezes na hora de mostrar-me disponível para os outros.

E então, a voz dela surgiu em minha mente falando sobre coisas aleatórias e me deixando mais nervoso ainda. Estava tão fulo que cheguei ao ponto de imaginar a voz daquela garota! Que droga, agora estava me perseguindo!

Acho que ninguém nunca havia me irritado tanto na vida!

A voz dela continuava lá, bem perto, por mais que eu tentasse afastar com outros pensamentos mais interessantes. Fechei o armário com força. A voz ficou mais clara e audível, como se estivesse bem ali, do meu lado.

“Calma, Andrew. Respira e não se deixe levar. Você vai encontrá-la, mais cedo ou mais tarde!”

Ao virar o corpo para ir à sala de aula, todas as minhas preces mais recentes foram atendidas naquele instante: Estava escorada em uma fileira inteira, nas portas de vários armários ao mesmo tempo. O cabelo castanho estava preso em um rabo de cavalo. Usava uma blusa verde escura com All Star combinando, jeans azul claro e sorria e conversava animadamente com o grupo de garotas que a rodeava.

Eu simplesmente não acreditava. Estava a pouco mais de dez passos de mim.

Aproximei-me devagar, pisando duro e contando rapidamente de um a dez e logo em seguida fazendo a contagem regressiva. Não estava adiantando muito...

— Finalmente. Te. Encontrei — falei tentando, em cada palavra, conter ao máximo minha irritação.

Ela se virou tranquilamente e ao me ver, ergueu as sobrancelhas e passou a me olhar diretamente nos olhos. O grupo de garotas parou de conversar e me encarou também.

— Hum? — então ela me encarou por uma fração de segundos. Logo depois, um lado de seus lábios se ergueu, criando um sorrisinho maroto e a expressão perfeita para sua próxima frase. — Oi, moço! Quer dizer, então, que estava me procurando?

Suas amigas começaram com sorrisinhos, cochichos e “huuuums” travessos, o que só aumentou minha raiva. Ignorei-as e encarei a garota friamente. Eu tinha tanta coisa pra falar que nem sabia por onde começar.

— Pare de se fazer de sonsa. Quero a minha carteira de volta agora.

Ela fez uma expressão confusa de início. Logo imediatamente, seu rosto se iluminou, ela desencostou dos armários alheios e exclamou, abrindo a mochila e pegando algo lá dentro:

— Ah, claro! Aqui está. Você não reparou quando caiu no chão naquele dia que eu caí em cima de você — ela me estendeu a carteira.

A última frase aumentou a excitação infantil de suas amigas, que riram e cochicharam malícias mais ainda, porém de forma audível o suficiente. Então ela se virou para o grupo e falou com ousadia:

— Nossa, é por isso que não somos amigas. Até poderíamos, mas vocês são tão infantis!

Dito isto, ela se afastou do grupo e me puxou pelo braço antes que eu pudesse puxá-lo de volta. Nos afastamos alguns passos, claramente tirando as outras garotas da conversa. Não que elas necessariamente estivessem participando... Porém eu ainda estava irritado. E estava mais ainda com aquela desculpa esfarrapada.

— Caiu no chão? Sério? Essa é sua melhor desculpa?! — perguntei, indignado, pegando minha carteira de sua mão.

Se ela achava que iria me enganar três vezes e com palavras baratas daquela forma, ela estava redondamente enganada.

— Ok, tudo bem, eu confesso. Peguei sua carteira, sim...

Suas amigas (ou o que quer que fossem), que escutavam tudo descaradamente, ficaram estupefatas:

— O quê?

— Não acredito que você fez isso!

— Que coisa terrível!

A garota apenas ignorou enquanto eu, imediatamente, abria a carteira e conferia minhas coisas. Os vinte dólares que eu tinha haviam sido reduzido a alguns trocados.

Encarei-a perigosamente estreitando os olhos.

— Você gastou o meu dinheiro?!

Ela me olhou com uma cara mais culpada ainda. Então se voltou para as outras e exclamou como se confessasse um crime:

— Eu confesso! Meninas, eu saí do combinado. Gastei o dinheiro em um Big Mac e uma Coca Cola grande!

Algumas gritaram histericamente enquanto outras a olhavam feio, em sinal de reprovação.

— Você não fez isso! — afirmou uma morena bonita. — Nós entramos nisso juntas!

Outra perguntou:

— Então, quando você saiu ontem à noite...

Ela apenas assentiu tristemente e disse com a voz carregada de sentimentalismo:

— Foi mais forte do que eu. Me perdoem!

Eu estava sem reação e estupefato. Minha raiva, por um breve momento, se esvaiu totalmente dando lugar à confusão e incompreensão.

— Você gastou o meu dinheiro comprando um Big Mac?! — perguntei novamente, ainda descrente. Aquilo nunca teria me passado pela cabeça.

Ela voltou seu olhar culpado para mim e completou com uma voz dengosa:

— E uma Coca grande.

— Como você tem coragem de roubar os outros assim sua sociopata? — perguntei indignadíssimo.

— Eu estava com fome, tá legal?! Experimenta ficar um mês à base de salada, molho shoyo e suco detox e depois conversamos! — ela levantou o tom de voz, subitamente irritada.

— Eu precisava do dinheiro! — respondi, controlando meu tom de voz. — Fiquei sem poder comprar um adaptador de tomadas e um carregador e, por causa disso, meu celular descarregou. Além do mais, por sua culpa fiquei distraído demais ontem e acabei não ligando para a minha... — eu ia dizer mãe, mas iria quebrar minha moral. – Uma pessoa muito importante. E é também graças a você que essa pessoa deve estar tendo um ataque uma hora dessas porque não tem notícias minhas, já que eu não liguei ontem. Adivinha só o motivo: estava atrás de você e hoje não dá mais, porque adivinhe novamente: estou sem bateria de novo!

Parei para respirar. Cristo, quase morro agora! Acho que nunca falei tanta coisa de forma tão rápida em toda a minha vida. Estava parecendo a Rashley.

Ela bufou irritadiça e fez-se um momento de silêncio. Aparentemente, eu havia tirado seus argumentos com minha última afirmação.

— Ligar para quem? — ela perguntou, com a testa franzida.

— Hã?

— Ligar para quem? — ela repetiu a pergunta, só que desta vez ligeiramente preocupada.

Relutei um pouco. Pensei em responder algo como “não lhe devo satisfações”. Mas mesmo sem saber por que, respondi contrariado e apenas para ela ouvir:

— Minha mãe.

O sinal tocou neste momento. Ela então deu um suspiro, tirou o celular do bolso e me estendeu. Como me mantive observando o aparelho em sua mão, novamente confuso (pra variar), ela ergueu minha mão e, após colocar o aparelho em minha palma, fechou-a. Encarei-a ainda confuso.

— Preciso ir para a aula agora. Ligue para quem você precisa ligar e depois eu te acho para pegá-lo de volta. Não importa se é interurbano, eu te devo uma —  explicou —. E… — ela se aproximou de uma vez, me dando um sobressalto com a surpresa — a senha é vinte e seis, zero nove — cochichou perto do meu ouvido. Com a proximidade, foi inevitável sentir seu cheiro. Era bom...

Depois, simplesmente se virou, afastou e sumiu com as amigas pelo corredor, me deixando com cara de idiota no meio do pátio.

 

Quinze minutos depois, na sala de aula, parei um momento para conferir mais uma vez minha carteira. Além dos documentos e dos trocados, havia algo mais: um pedaço pequeno de papel branco. O abri e, ao me deparar com um número de telefone, não pude conter a surpresa.

Toda a minha irritação (que agora já estava mais branda) milagrosamente se reduziu a quase nada naquele momento. A confusão aumentou um pouco e outros sentimentos se juntaram aos dois primeiros.


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Notas finais do capítulo

E então? EU PRECISO saber o que acharam! Comentem, comentem, comentem!!
Mil visualizações... Uau! Obrigado mais uma vez, galera. Sinceramente.
Nos vemos no próximo capítulo, vou explodir um pouco de alegria ali... Hahahaha