Eu de Letras, ela de Irônicas escrita por Sr Devaneio


Capítulo 21
Capítulo 21 – Super Batida


Notas iniciais do capítulo

Olar!
Eu devo desculpas a vocês. O capítulo já deveria ter sido postado semana passada, mas acabou não dando. Têm sido muita coisa pra fazer com apenas 24 horas nesses últimos dias kkkk
Espero que gostem porque eu caprichei em alguns quesitos nesse capítulo. E particularmente (e modestamente também) gostei do resultado.
Boa leitura!



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Olhei para o bloco à frente com receio:

— Anna, você tem certeza de que isso é permitido?

Ela parou em seu giro, com metade do corpo na direção do bloco antes de se virar para mim:

— Você me acompanhar até o quarto pra eu pegar meu celular? Por que proibiriam isso?

Desviei o olhar do prédio para seus olhos e encarei-a com seriedade.

— Andrew, é claro que você pode adentrar no prédio. Fala sério! Nós somos independentes, sabia?!

— O reitor disse que era proibido.

Anna assumiu um olhar visivelmente perplexo.

— Andrew, eu não acredito que você caiu nessa. Francamente… – revirou os olhos enquanto suspirava, exasperada – Você acha mesmo que num campus fechado como esse de uma universidade fechada como essa o pessoal liga pra esse tipo de regra?

Não respondi. Não sabia o que dizer.

— Lindo, todo mundo aqui já é maior de idade, toma conta da própria vida e definitivamente não obedece esse tipo de restrição. Exceto você, ao que parece…

— Então as pessoas não estão nem aí para as regras de segurança feitas para si mesmas?

— Elas não estão nem aí pra esse tipo de regra desnecessária. Chamamos regras assim de fantasmas: servem só pra tentar assustar na teoria, mas na prática mesmo não existem. É só pra nos manter relativamente no controle e nada ficar muito feio pro lado deles. Às vezes universitários conseguem ser piores que adolescentes com a maior quantidade possível de hormônios borbulhando dentro de si.

Eu não acreditava que tinha realmente caído naquela, como ela falou. De fato… não fazia sentido algum uma regra daquele tipo. Estava me sentindo um idiota completo.

— Você tem certeza de que é seu segundo ano aqui? – ela perguntou e cruzou os braços.

— … tem razão. Não tinha regra mais nada a ver. Bem, vamos nessa… – desconversei passando por Anna tranquilamente como se nada tivesse acontecido. Eu tinha sido bobo, mas agora sabia.

Por isso haviam tantos gemidos praticamente toda semana nos quartos ao redor. Eu achava que os outros caras não davam a mínima em ter colegas de quarto presentes enquanto eles próprios (ou ambos no quarto) assistiam conteúdo pornográfico, mas agora eu sabia que a pornografia não tinha nada a ver com filmes ou qualquer mídia, nesse caso.

É… Eu tinha compreendido agora. E tinha sido tolo.

Logo subimos as escadas que davam acesso às duas enormes portas de entrada do Bloco B feminino. Anna cumprimentou um trio de garotas que passou por nós, rindo e conversando – grupo este que me olhou como se minha presença masculina ali de fato não fosse problema algum –, viramos à direita no pequeno corredor que seguia alguns metros à frente do andar térreo e subimos a escada colada à parede adjacente com a porta do primeiro quarto daquela ala - e que já estava visível logo que alcançamos o último degrau.

No primeiro andar, viramos à direita e seguimos até à escada que dava para o andar superior em silêncio. Eu porque observava todo o ambiente, absorvendo o máximo de detalhes possível, e Anna por algum motivo surpreendente – às vezes parecia que ela não conseguia ficar calada por cinco minutos. Era quase engraçada a mania de falar que ela tinha.

Enquanto subíamos os degraus, não pude deixar de reparar em como a estrutura dos blocos era a mesma tanto na ala masculina quanto na feminina. No segundo andar, seguimos andando pelo relativamente extenso corredor logo à frente até finalmente pararmos diante de uma porta de madeira, número 109.

Uma plaquinha cor-de-rosa ligeiramente brega estava pregada à própria porta, com os dizeres “Anna e Anabeth —  Amigas para sempre” escritos em uma tipografia cheia de curvas e com uma fonte no mínimo chamativa.

— Que fofa sua plaquinha. Quantos anos vocês têm mesmo?

Anna procurava a chave em sua bolsa e respondeu sem olhar para mim, concentrada em sua tarefa:

— Vai me dizer que nunca teve uma dessas quando era criança?

— Já sim. Quando era criança.

Eu vi que ela tinha revirado os olhos, mas havia um sorrisinho ligeiro pintado em seus lábios.

— E o que estava escrito? – perguntou ela, finalmente achando a chave e inserindo-a na fechadura.

— Estava escrito “Andrew — O grande homem da mamãe”. Foi um presente.

Um som de destravamento precedeu o giro da maçaneta e a porta foi aberta.

— Ah, o seu é bem mais fofo! — disse Anna, virando o rosto para mim por um momento — Presente?

— Ganhei de uma tia quando nasci. Ela curte pintura e artesanato, então junto ou dois num pedaço de madeira de fábrica cortada de maneira personalizada.

— Sua tia tem um tino lindo para lembranças, pelo visto – ela respondeu antes de virar-se para a frente novamente e terminar de abrir a porta, anunciando nossa chegada para prováveis colegas de quarto.

Ela tinha ido procurar o celular enquanto eu havia permanecido parado à porta apenas observando o ambiente ricamente decorado, cheio de cores, objetos e itens organizados de uma extremidade à outra. Um cheiro feminino e até aconchegante muito bom vinha dali; o bloco inteiro tinha um ar levemente perfumado, na verdade, mas o quarto que havia diante de mim se superava.

Vi quando ela, no meio do cômodo, parou, pôs as mãos na cintura e olhou para mim:

— Ei, pode entrar. Vem conhecer nosso cantinho de perto. — fez um gesto convidativo com a mão.

— Ah não, eu estou bem… Obrigado.

Anna olhou para o lado enquanto bufou de leve uma vez, antes de desfazer sua postura e vir até mim:

— Deixa de coisa, moço! Pode entrar.

Dito isto, ela envolveu minha mão com a sua de maneira firme e me puxou para dentro. Suas mãos eram delicadas, macias e tinham um calor agradável. Paramos no centro do quarto — onde ela esteve momentos antes — de frente para a cama da esquerda, coberta com uma colcha amarela estampada com o que pareciam ser desenhos de ondas e estrelas-do-mar em formato de flores.

— Esse é o canto da Anabeth. — estendeu a mão livre e esperou que eu absorvesse a onda de itens e cores do forro de cama, escrivaninha e da prateleira de livros.

Anna trocou a mão que segurava a minha pela outra para poder se virar; acompanhei-a e ela, novamente, fez um gesto demonstrativo:

— E esse é o meu cantinho especial nesse campus.

Seu forro de cama era rosa e lilás, ambos suaves. A mesinha de estudos estava igualmente organizada, com livros empilhados e o notebook enfeitando o centro de um lado — à frente da cama — e seus calçados dispostos em pares e um ao lado do outro no canto oposto —  atrás da cama.

— O quarto de vocês é bem legal — falei, sendo sincero —. O meu não tem tantas coisas nem é tão… divertido.

Eu percebi que ela virou o rosto para mim:

— Acha meu quarto divertido?

Olhei para ela e vi sua expressão ligeiramente confusa:

— Acho.

Um momento de silêncio seguiu-se logo depois, com um olhando nos olhos do outro. Não acho que tenhamos demorado muito a repentina troca de olhares, mas eu estava começando a ficar embaraçado.

— Ah… Você ainda está segurando a minha mão. — Falei, desviando o olhar para a frente.

Anna pareceu notar só naquele momento. Com uma expressão surpresa, ela me soltou e desviou o olhar também.

— Desculpe. — Imendou, passando uma mecha de cabelo para trás da orelha.

— Não tem problema.

Então me lembrei do porquê de tê-la contatado.

— Ah! Anna? Preciso conversar com você...

Ela se voltou para mim de imediato.

— Hum, pode falar. — Sua expressão agora denotava curiosidade contida.

— Na verdade é um convite… da minha mãe.

Ela ficou surpresa de novo. Claramente não esperava que eu dissesse algo daquele tipo, mas permaneceu em silêncio apenas escutando.

— Ela perguntou se você não gostaria de passar o Natal lá em casa. Aparentemente ela teve um sonho com você… conosco... e isso despertou nela a vontade de te conhecer.

Anna piscou, permanecendo alguns instantes em silêncio apenas processando o que tinha acabado de ouvir.

A moça desviou o olhar, reflexiva:

— Andrew, estou lisonjeada com o convite. De verda — ela voltou a olhar para mim —... Mas combinei de ir para casa e ficar com meus pais. Sabe, faz um tempo que não os vejo.

Praxe. Como era de se esperar, pela lógica mais óbvia.

— Claro, eu imaginei que você iria ficar com sua família. É Natal e inclusive tinha dito isso para minha mãe, mas ela me pediu para perguntar mesmo assim.

— Mas diga a ela que me senti realmente honrada com a consideração. Quem sabe uma próxima vez não dê certo?

— Sim. Digo, pode deixar.

Ela sorriu.

— Obrigada de verdade pelo convite moço. Sua mãe é uma fofa!

Aquiesci.

— Bem, eu vou ligar e avisá-la logo antes que ela crie muita expectativa. Te espero lá embaixo.

“E pra te deixar mais à vontade no próprio quarto, também.”

— Beleza, já estou descendo. — Ela respondera.

Eu saíra do quarto com meu celular em mãos.

— Oi, mãe. Como estão as coisas por aí? — falei já descendo as escadas.

— Oi filho! Estão ótimas. Os preparativos estão a todo o vapor e seu pai está tão otimista quanto eu.

— Que bom. Eu ia mesmo tocar nesse assunto; liguei para isso, na verdade. Sobre o convite que a senhora pediu que eu fizesse à Anna…

— Sim? — Sua voz parecia mais atenta que antes agora. Devia ter parado o que fazia por um momento para me escutar.

— Como esperado, ela vai para casa ficar com a família. Já estava marcado, obviamente.

— Ah, que pena… Eu estava animada com a possibilidade de conhecê-la. Mas haverão outras oportunidades, sem dúvidas. — Havia uma pitada de desapontamento em sua voz?

— Ela pediu para agradecer, sinceramente, ao convite. Disse que se sentiu honrada e que a senhora é uma fofa.

Minha mãe riu.

— É, isso eu sei que sou mesmo. Quanto a você, bem, ainda ficará apenas uma semana?

Eu já estava quase no térreo agora.

— Ah, sobre isso: o sr. Barney veio me avisar que se eu quisesse mais uma semana em casa, não teria problema. Ficarei duas, pretendo comprar as passagens hoje mesmo — finalmente eu descia o último lance de escadas.

A voz da minha mãe animou-se perceptivelmente:

— Que fantástico Andrew! Agradeça ao sr. Barney por mim. Ele me deu o melhor dos presentes de Natal: meu filho mais tempo em casa.

— Ah… Agradecerei. Eu também fiquei bastante feliz com a extensão da minha folga. Bem, mãe, eu preciso ir agora. Sexta terei de comparecer a um evento de fotografia — lembra daquele que eu tinha mencionado?

— O que te chamaram para ser modelo?!

— Esse mesmo. Aquele trabalho ficou tão bom para minha amiga que ela conseguirá fazer uma exposição. Vou com a Anna comprar um terno.

— Entendi. Bem, obrigada por avisar logo que ela não vem, vai nos poupar trabalho. E fico muitíssimo feliz em saber dessa notícia! Tenha um excelente evento, querido. Seu pai e eu te amamos!

— Também amo vocês…

— E Dorothy também, ela pediu para dizer.

Não contive o breve sorriso que me acometeu.

— Eu também a amo… Ela sabe disso.

— Sabe sim. Beijos, filho! Até depois.

— Tchau, mãe. Até!

Esperei Anna descer, o que não demorou muito. Então, fomos ao estacionamento e entramos em seu carro.

— Eu conheço uma loja que é excelente no quesito roupas formais. Você vai gostar — disse ela, colocando o cinto de segurança.

— Então eu acredito. A propósito… obrigado por isso.

Ela olhou para mim, já com os óculos escuros no rosto.

— Pelo quê?

— Pela ajuda, pela carona, por aceitar ir comigo… Por tudo, basicamente.

— Ah, disponha, moço! Você merece estar magnífico no nosso evento de sexta. As roupas enobrecem a beleza.

Sorri.

— Isso parece a frase comercial de alguma loja fashionista.

Um sorrisinho escapou de seus lábios.

— Talvez seja. Vamos nessa! — Respondeu, girando a chave na ignição logo em seguida.

 

*

Sexta-feira. Era hoje, mais especificamente naquele momento.

Anna havia acabado de parar o carro na vaga do estacionamento reservada para a equipe da exposição e olhava para mim com expectativa:

— Preparado para receber os devidos méritos pelas fotos incríveis, sr. Desejado?

Olhei para ela. Seus olhos brilhavam. Anabeth parecia meio tensa no banco de trás — tanto que fizera questão de ir ali.

— Você parece animada, achei que já tivesse passado por isso antes…

— Já desfilei e fiz alguns ensaios aleatórios. Mas é a primeira vez que expõem fotos minhas em painéis maiores que as portas do meu bloco – ela disse dando de ombros –. E também… acompanhada é sempre mais divertido – me deu uma piscadinha em seguida. Retribuí com um sorriso.

— Mas e Anabeth?

— Ela sempre fica nervosa perto de muita gente num contexto onde a atenção vai para si. Mas logo, logo ela fica de boa.

— É, não se preocupe – disse Anabeth, meio receosa, saindo do carro.

— Certo, srta. Acompanhada-É-Mais-Divertido, vamos lá.

Depois de sair dei a volta pelo carro e abri a porta para Anna, que sorriu brevemente em resposta. Anabeth esperou na calçada. O estacionamento estava lotado. Ofereci o braço e Anna o envolveu com um dos seus. Seguimos juntos até a entrada do centro de eventos em que estávamos com Anabeth ao lado de Anna. Uma das ajudantes de Piper veio nos receber e foi nos indicando o percurso que deveríamos fazer para adentrar o evento conforme nos aproximávamos da entrada propriamente dita.

E eu não esperava por aquilo. Um longo tapete azul-marinho estava estendido até o portão do salão. Duas fileiras longas de cordas, divididas por organizadores de fila dourados unidos por tiras vermelhas, separava o percurso dos grupos de fotógrafos, deixando o tapete no meio daquele paralelo de flashes e microfones. Parecia um evento de gala.

Anabeth ficou ainda mais branca.

— Não imaginei que seria tão chique — falei quando começamos a atravessar o longo tapete. Flashes surgiram de todos os lados e pareceram ir se multiplicando a cada segundo que passava.

— Ainda bem que estamos à caráter — Anna respondeu com simplicidade.

— Ainda bem que a levei para me ajudar a escolher a roupa.

— Ainda bem que foi um prazer-sorria!

Um dos fotógrafos perguntou se eu e Anna éramos um casal, pediu que fizéssemos pose e fez-nos umas perguntas. Anabeth não respondeu a nenhuma delas e parecia extremamente tensa. Estava me deixando preocupado.

— Obrigado! — ele falou, antes de passar para a dupla que vinha logo atrás de nós - os gêmeos dos quais o nome eu não lembrava .

— Olá! Boa noite —  cumprimentou um.

— Bom revê-los novamente! — acrescentou o outro.

Sorrimos e apertamos as mãos que nos foram estendidas. Anabeth deu um sorriso amarelo e seu olhar não focava em nada.

— Tem certeza de que ela está bem? - perguntei à Anna, num cochicho.

Ela se soltou com leveza de meu braço e abraçou a amiga.

— Já fizemos isso antes e não foi uma nem duas vezes. Vai ficar tudo bem. Estou aqui com você!

Anabeth olhou para Anna e assentiu, dando um meio-sorriso. Parecia ter ficado um pouco mais relaxada.

— Estou surpreso. Não imaginei que teria tanta pompa! — disse um dos gêmeos, o mais baixo deles.

— Nem nós. Piper caprichou no marketing… — falei, revelando que tínhamos sido igualmente surpreendidos.

— Se aqui fora está assim, imagina como será lá dentro… — disse o outro gêmeo.

Enfim o tapete tinha acabado. Subimos os poucos degraus que davam acesso aos enormes portais para adentrar o interior do grande salão de eventos. Uma dupla de seguranças estava acompanhada por uma dupla de moças vestindo um terninho preto que checou nossos nomes numa lista e nos indicou o caminho que deveríamos tomar, embora uma delas tenha nos instruído a acompanhá-la enquanto ela mesma ia à frente. Anna seguia com Anabeth o tempo todo. Invejei levemente aquela cumplicidade, admirando mais uma vez a amizade sincera das duas.

De maneira frustrante, nossa guia nos conduziu por detrás dos grandes painéis brancos que circundavam todo o salão. Tive tempo apenas de olhar rapidamente a movimentação dentro do contorno de lona. Vi uma área bastante organizada, com fotos enormes dispostas de forma definitivamente estratégica e várias pessoas em roupas formais conversando, observando as fotografias e caminhando pelo recinto.

Ficamos ouvindo o som do evento que não eram nem um pouco abafados pelos grandes painéis até entrarmos num corredor e subir dois lances de escada. Piper estava lá junto com um grupo de pessoas e parecia nervosa - ao mesmo tempo em que estava estonteante em um bonito vestido preto, saltos combinando, brincos, pulseiras e um colar que não parecia barato. Ela sorriu de orelha à orelha quando nos viu.

— Ah! Meus modelos chegaram! - veio rápido até nós e cumprimentou a cada um com felicidade genuína estampada no olhar -. Tudo está uma correria por aqui, mas vê-los me acalma…

— Uau, lá fora está simplesmente animadíssimo! Não imaginava que teria tantos fotógrafos - Anna comentou.

— Ah, pois é. Descobri que meu tio ficou sabendo do evento e resolveu vir. Ele fez questão de anunciar em todas as redes sociais e eu só soube quando recebi um telefonema de Kaytlin, minha assistente. Tudo tem estado um frenesi desde então. Desculpem a surpresa…

— Pela quantidade de fotógrafos lá fora, seu tio é alguém realmente importante.

Piper sorriu amarelo.

— Vocês já irão conhecê-lo; ele avisou há pouco que acabou de desembarcar. Mas deixando isso de lado, esta é a nossa noite. Aproveitem!

Então, Piper nos levou até o outro lado da sala, onde uma moça de cabelo colorido estava ao lado de outra, extremamente loira. Jessica e Sahra, as modelos que fotografaram conosco no último tema aquele dia.

— E aí, galera! - cumprimentou-nos Jessica, a de cabelo colorido, de maneira animada – Quanto tempo…

— Olá! - disseram os gêmeos quase em coro e dando um sorriso espelhado à moça.

— Oi! - respondeu Anna.

Anabeth e eu assentimos com um leve movimento de cabeça.

Sahra, a moça que era loira até nos cílios, deu um abraço em cada um de nós de maneira tão calorosa quanto e fôssemos velhos amigos.

— Animados para hoje? A noite está só começando, acreditem! - disse Sahra.

— Mal posso esperar para ver o resultado dos nossos cliques! - completou Jessica.

— Inclusive, logo após o nosso evento, haverá coquetel. Foi um agrado de um dos patrocinadores. E não se preocupem com o volante, outro patrocinador se encarregará de levar-nos de volta em segurança, bem como os nossos veículos. Então apenas desfrutem do momento! - explicou Piper.

— Piper, dez minutos! - uma moça baixinha surgiu, avisando-a. Segurava uma prancheta.

— O.k., pessoal. Dez minutos para entrarmos e vocês finalmente verem o resultado do nosso trabalho. Espero que gostem tanto da surpresa quando do resultado assim como eu e, novamente, eu gostaria de agradecer imensamente a colaboração e disponibilidade de cada um. Essa noite é um sonho pra mim e é por causa de vocês que está se tornando realidade. Então… obrigada, de todo o coração! Foi uma honra tê-los como modelos e eu espero que portas de novas oportunidades se abram a todos nesta noite. Temos alguns convidados especiais na casa.

— Ah, que lindo! O prazer foi nosso. - disse Sahra, sorrindo de maneira genuína.

— Convidados especiais…? - ouvi Anna pensar em voz alta, baixinho.

— Certo, uma última foto antes de entrarmos no salão?! - sugeriu Piper.

Claro que a resposta foi sim.

Afinal, aquilo nem mesmo fora uma pergunta.

Click.

O.k., oito minutos.



A música estava alta e animada. Aquela noite prometia!

Anna, Anabeth e todas as outras garotas haviam ido ao banheiro logo que chegamos. Eu e os gêmeos tínhamos ficado esperando já sentados à mesa da área de alimentação da boate. Ficamos conversando qualquer coisa até que as garotas apareceram ainda mais radiantes.

— O.k., meninos, estamos indo dançar. Alguém nos acompanha? – perguntou Anabeth, que felizmente já tinha deixado sua instrospecção para lá no momento em que os “convidados especiais” do tio de Piper apareceram. Não era para menos, até eu tinha ficado boquiaberto quando soube que o tio, na verdade, era Armando Fiorinni, um dos “maiores estilistas daquele tempo”, segundo Dorothy. Ela era fãzona do cara e eu havia descoberto o porque.

— Bom ver que você continua animada! - Um dos gêmeos comentou - Eu aceito dançar se for com você - lançou uma piscadela.

Anabeth estendeu a mão e falou, enquanto o puxava com delicadeza:

— Depois de conhecer pessoalmente o Armando Fiorinni é impossível continuar retraída. Acredite. Vamos balançar!

Dito isto, os dois foram em direção à pista de dança sozinhos.

Jessica animou-se ainda mais deu um jeito de tirar o outro gêmeo. Ela e o cara saíram juntos.

— Também não vão dançar? - perguntou Sahra, sentando-se onde o segundo gêmeo estava poucos instantes antes.

— Agora não. Preciso absorver o que foi aquele evento primeiro - disse Anna, sentando-se ao meu lado.

Pode parecer estranho, mas eu senti o calor de seu corpo no instante em que ela sentou. O ambiente meio que esquentou  perceptivelmente. Fiquei observando para ver se era só comigo e aparentemente a resposta era sim. Os poucos drinks que eu havia tomado no evento deviam estar fazendo efeito…

Sahra olhou para mim:

— E você, Andrew, não vai?

— Ah, não agora também. Estou bem aqui.

Acho que Anna sorriu discretamente ao meu lado.

— Será que a Piper demora? - perguntou Sahra.

— Provavelmente. Já estive em eventos parecidos algumas vezes e, com quase a totalidade das vezes, o fotógrafo-anfitrião sempre era um dos últimos a sair - respondeu Anna. E eu me perguntei por que estava reparando novamente em como ela estava linda naquela noite.

Seu vestido preto de várias camadas de um tecido liso e fino caíram com perfeição juntamente ao sapato de salto preto e os adornos dourados no braço direito e orelhas. Nesse momento percebi que ela tinha dois furos na orelha esquerda, pois o brinco que usava atravessava a ambos, ligado por uma fina corrente igualmente dourada. O cabelo castanho estava preso em um penteado maneirro que o segurava de lado.

Ela checava algo em seu celular tranquilamente.

— Hum… acho que agora me animei para a dança – Sahra falou, observando a pista de uma maneira diferente desta vez.

— Vai lá? Boa sorte… – comentei.

Ela olhou para mim e sorriu.

— Obrigada. Bem, se precisarem de mim – Sahra disse levantando-se – estarei lá.

Assenti. Anna olhou para a moça e também o fez, com um sorrisinho.

— Andrew? – ela chamou, assim que Sahra saiu.

— Hum?

— Minha mãe quer ver uma foto nossa – tirou os olhos da tela luminosa e os focou nos meus –. Se importa?

— Depois do tanto de cliques que tivemos hoje, o que é uma foto a mais? – falei e Anna sorriu logo antes de posicionar o aparelho para uma selfie.

— 1, 2… Ficou ótima! – falou, mostrando-me a imagem capturada.

— Ficou mesmo.

Nesse momento, me dei conta do quanto estávamos próximos, visto que ela diminuiu a pouca distância que havia entre nós tanto para tirar a foto quanto para me mostrar nossa imagem sorridente. Coincidentemente, meus olhos pararam em seus lábios. Fui subindo o olhar até os castanhos dela ao mesmo tempo em que captei movimento neles pouco antes de focarem nos meus.

O clima literalmente esquentou naquele momento.

— Me responde uma coisa? Notei que, ao que parece, você gosta de me observar… estou certa, moço? – e ela ainda olhava diretamente nos meus olhos.

— Talvez eu tenha pegado o costume de uma certa pessoa, moça… – respondi, observando-a com a mesma intensidade.

Anna franziu um pouco as sobrancelhas.

— Você tem cílios fora do lugar, sabia? – observou mudando o foco de sua visão.

— Eles são meio rebeldes… – respondi sem saber por que tinha dito aquilo e me sentindo um idiota.

Então ela fez o que eu sabia que faria. Estendeu a mão com delicadeza e apoiou os dedos em minha têmpora direita antes de tocar meus cílios com suavidade. Eu sempre me surpreendia com o quanto  seu toque era macio.

Fechei um dos olhos enquanto a observava, com o outro, concentrada naquela pequena tarefa. Porém, antes de começar, ela olhou para o outro olho e tornou a olhar para mim:

— Ih, parece que desta vez serão ambos. O senhor ficará no escuro por um curto período de tempo.

— Não tem problema. Não tenho medo.

— Jura? Mesmo comigo aqui? – seu olhar mudou de inocente para ligeiramente travesso.

— Estarei em suas mãos. Confio, apesar de tudo – respondi, antes de tudo escurecer (não sem antes eu captar rapidamente o olhar surpreso  que Anna fizera) e meu cérebro concentrar suas atenções em meus outros sentidos.

Percebi que tocava um remix de Super Bass estava em uma parte bem animada:

“Can't you hear that boom, badoom, boom

Boom, badoom, boom, bass

He got that super bass

Boom, badoom, boom, boom, badoom, boom, bass

Yeah that's that super bass”

Sentia Anna mexendo em meus cílios por um instante. E no meio do cheiro de suor, álcool e gente animada e bêbada da boate, consegui distinguir o cheiro que vinha dela. Perguntei-me por que estava reparando naquilo ao mesmo tempo em que aproveitava para distingui-la do restante do ambiente. Ela estava ali, de fato.

Então, Anna parou. Suas mãos deslizaram para os lados do meu rosto e o cheiro ficou mais forte, como se estivesse se aproximando ao mesmo tempo em que eu percebia sua presença de fato menos distante de mim.

Meu coração acelerou. Suas batidas se misturando com as da música.

Mil coisas passaram por minha cabeça. Pensei em abrir os olhos mas uma parte de mim relutava. Mais mil coisas passavam pela minha cabeça até que senti algo… no nariz. Uma risadinha sinceramente divertida. Abri os olhos.

Anna estava com uma das mãos meio fechada e sobre a boca, escondendo, com visível insucesso, uma risada. Ela ria de olhos fechados pela primeira vez junto comigo (ou melhor, de mim)e eu percebi o misto de inocência, malícia e divertimento puros, como uma adolescente que acabara de aprontar algo pequeno, mas significativo para si.

— O que aconteceu? – perguntei, tentando entender tudo ao mesmo tempo. Meu coração ainda estava acelerado.

Anna abriu os olhos marejados de rir, abaixou a mão e disse:

— Nós nos beijamos. Como perfeitos esquimós!

— Nossa, que susto! Eu achei que… Anna! – repreendi-a – Quero dizer, meu coração acelerou de verdade! – coloquei a mão no peito para tentar passar a agitação que acontecia dentro de mim.

— Sério? – ela falou, esticou a mão e a passou por debaixo da minha.

E ela sentiu meu coração também. Junto comigo.

Sua mão debaixo da minha, mais próxima do meu coração que qualquer outra coisa. Não repeli o toque. Curioso...

— É… você se agitou, moço – desviei o olhar de nossas mãos em meu peito para tornar a olhar para ela –. Mas fica tranquilo, você vai ficar bem – ela sorriu.

“Você não tá ouvindo esse boom, badoom, boom

Boom, badoom, boom, bass

Ele tem essa super batida

Boom, badoom, boom, boom, badoom, boom bass

(Essa super batida)”

— Esse coração é mais forte do que pensa! – ela acrescentou com uma piscadinha para mim.

Senti meu rosto corar.

O.k., o que estava acontecendo?

Anna arregalou os olhos e os cantos de sua boca se ergueram mais uma vez.

— Ei, é impressão minha ou você está vermelhinho? – claro que ela não deixaria passar.

Me afastei até encostar no vidro que separava a área de alimentação, onde estávamos, da queda direta para o andar de baixo, a pista de dança.

— O q-que? – Pigarreei – São as luzes daqui. Não tem porque eu estar vermelho.

Mas o que…

— Ah, claro. Tem mesmo luzes coloridas brilhando na nossa cara o tempo todo… Bem, foi legal sentir seu coração.

Estava…

— … Certo.

Acontecendo ali?

Eu estava claramente desconfortável – droga!—, a uma distância perceptível de Anna – droga! droga!—, corado – luzes coloridas? Que raio de desculpa foi essa?— e claramente abalado. Ah! E confuso, pra fechar o pacote. Maravilhoso!!

Seguiu-se um instante de silêncio e foi daquele tipo constrangedor.

— Ah… Desculpe. Por te assustar, no caso – ela falou sem olhar para mim.

Relaxei um pouco. Cerrei os olhos por um instante e inspirei. Estava de volta! Ótimo.

— Não se preocupe com isso. Foi uma bobeirinha. Nem sei por que me surpreendi tanto, na verdade.

Anna deixou uma risadinha mal-contida escapar. E olhou para mim:

— Ah, mas que você ficou fofo, isso ficou.

Opa!

Calma, rapaz. Controle-se. Não dê mais brechas e perca mais ainda a dignidade...

— Obrigado – respondi simplesmente.

Ela suspirou. E virou o rosto para o lado, pensativa.

— Então é assim. O estado pedra voltou. Certo – Anna falou baixo e com um ar reflexivo, mas claramente era para eu ter ouvido e logo depois falou em alto e bom tom – Desculpe por ficar te tocando sem aviso prévio. Concordo que não deve ser muito legal. Bem, eu quero dançar.

Dito isto ela deslizou para o lado a fim de sair da mesa e ficar de pé. Franzi o cenho.

— Anna? Está tudo bem?

Ela sorriu como se nada tivesse acontecido (e tinha?).

— Sim, claro. Hoje tivemos uma noite fantástica, conheci Armando Fiorinni em carne, osso, fama e luxo e ainda fiz contatos profissionais. É uma das melhores noites da minha vida, obrigada por perguntar.

E ela não tinha sido irônica dessa vez. Mas eu havia visto sem nenhuma cobertura o ar ligeiramente decepcionado que seu  rosto tinha assumido pouquíssimos segundos antes.

Mas espera… por que isso? Por que fugir assim?

— Certo. Bem, divirta-se! Se precisar de mim, estarei aqui… – falei antes que pudesse tomar controle das minhas palavras.

Ela assentiu, animada e confiante como sempre.

— E se você precisar de mim, estarei lá.

Assenti de volta. Ela saiu.

Parei para pensar em tudo o que estava acontecendo logo em seguida.

O mais intrigante era: por que eu havia agido daquela forma? Sério, por quê? Por que ela havia feito o que fez?  Por que  não me beijar logo de uma vez, se era a vontade que ela transparecia ter vez ou outra?

Ou será que eu havia julgado mal? Talvez não fosse nada daquilo e eu estivesse imaginando coisas… Mas ela mesma já assumiu que se sentia atraída. Argh! Eu estava confuso e a música alta não me ajudava a pensar.

Em suma e o que definia toda aquela confusão: o que estava acontecendo? O que havia acontecido? O que eu deveria ter feito ou fazer?

A promessa continuava de pé, não? Sim, isso sim. Isso definitivamente sim, continuava de pé! Mas então…

Por que eu me importava daquela maneira?

“Garota, você fez as batidas do meu coração acelerarem

Batendo como um tambor e estão pulsando por você

Você não tá ouvindo esse boom, badoom, boom

Boom, badoom, boom, bass

Ele tem essa super batida

Boom, badoom, boom, boom, badoom, boom bass

(Essa super batida)

 

(Boom, badoom, boom, boom super batida)

(Boom, badoom, boom, boom super batida)

Boom, badoom, boom, boom

Badoom, boom, ele tem essa super batida

Boom, badoom, boom, boom

Badoom, boom, sim, essa super batida”

Nicki Minaj - Super Batida (Super Bass) - Ligeiramente adaptado


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Notas finais do capítulo

"Super Bass", 2011, possui todos os direitos reservados à Cash Money Records, Inc e à Onika Tania Maraj, popularmente conhecida como Nicki Minaj.

Feedbackem-me, por favor. Preciso saber a reação de vocês com esse capítulo!
Perdão pela demora de meses novamente.