Eu de Letras, ela de Irônicas escrita por Sr Devaneio


Capítulo 13
Capítulo 13 - Ponto pra mim!


Notas iniciais do capítulo

Olá, querid@s! Como vão todos?
Vocês devem ter notado que esse capítulo ficou sem nome. Não, não foi um erro haha, foi proposital mesmo. Aconteceu que eu acabei não tenho ideia nenhuma para nomeá-lo, então decidi deixar a cargo de vocês. :) Foi uma boa ideia? Hahaha
Antes que eu me esqueça: Algumas leitoras, há uns dois capítulos, deram uma sumida e por isso eu fui atrás nos grupos do Facebook. Bem, eu queria deixar oficializado aqui para todos: eu irei procurar quem sumir. Espero que não se importem. Vocês fazem falta.
A história chegou aos 4k de visualizações e eu não poderia estar mais satisfeito no momento! o/
Obrigado a todos novamente. :)
E até o momento é só. Tenham uma ótima leitura! :D

ESTE CAPÍTULO comemorativo É DEDICADO PARA LADY ALGUMA COISA, que igualmente retirou o meu ar quando recomendou a história usando palavras tão sinceras, gentis e carinhosas. Obrigadão moça! *-* Espero que goste do SEU capítulo! ^^

*Não deixem de ler as notas finais. Vai ter "algo novo" desta vez.*



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Após meu treino fui direto para casa. Tomei um banho e fiquei deitado, ouvindo minhas músicas no mp3 e navegando no Facebook pelo celular.

Havia quatro novas solicitações de Amizade. Quando fui conferir quem eram, me deparei com a foto e o nome de Anabeth, Gina e Charloth. Todas as amigas de Anna. Reconheci a última moça, Chloe Windsor, como sendo a que quase caiu na aula de Serviços Domésticos.

Me surpreendi mais com a última solicitação, mas aceitei todas.

Pouco depois, alguém me enviou uma mensagem no Messenger:

Chloe Windsor


Chloe: Boa noite! Tudo bem?

Boa noite. Tudo e com você?

Chloe: Estou bem, obrigada. Lembrei do ocorrido na aula de Serviços Domésticos e lembrei de que não te agradeci por ter me ajudado…

(...)

Ah sim. Sem problemas!

Chloe: Obrigada! Depois que a Granma passou na minha dupla foi que lembrei de te agradecer, mas você já tinha saído aí nem deu. *emoji com sorriso forçado*

Desculpe de novo pelo “acidente”. Sou muito estabanada às vezes...

Sem problemas! De nada. *emoji sorrindo normalmente*

Chloe: Bem, é isso. Boa noite, até mais!

Boa noite! Tchau, até!

Chloe: *emoji sorrindo normalmente*

Para ser sincero, eu nem me lembrava mais do ocorrido. Mas achei-a até meio simpática por ter pedido desculpas.

Voltei a navegar pelas redes sociais até que resolvi dormir. Quando estava começando a pegar no sono, meu celular apitou.

Mensagem no Whatsapp.


Piper online

Piper

Oi, Andrew! 21h54

Olá, Piper! Boa noite 21h54

Piper

Tudo bem? 21h55

Boa noite! *emoji com sorriso meigo* 21h55

Estou bem, obrigada. E você? 21h55

Bem também… 21h56

Piper

Desculpe a hora, eu sei que está ficando meio tarde, mas queria te perguntar uma coisa... 21h56

Sem problemas! *emoji sorrindo normalmente* 21h57

Pode perguntar 21h57

Piper

Bem, lembra do curso de fotografia que eu comentei que fazia quando nos conhecemos? 21h57

Busquei algo do tipo em minha mente.

Lembro, sim! 21h58

Piper

Então, vai rolar tipo um concurso de fotografia. O tema é “juventude” e eu já tenho uma ideia do que vou fazer… Só preciso de modelos para posarem para minha câmera. Está a fim de ser um? *emoji sorrindo travesso com a língua para fora* 21h59

Uau! Que honra! Piper me surpreendeu com o convite. Não era em todas as noites que, antes de dormir, alguém me convidava para dar uma de modelo.

Falei exatamente isso para ela, que riu (pelo menos, mandou alguns emojis gargalhando) e acrescentei:

Aceito, sim seu convite. Como vai ser? 22h05


*Também vou levar, Modestamente, como elogio. 22h05

Obrigado *emoji piscando* 22h05


Piper

LOL de nada! *emoji piscando* 22h06

Bem, nesse sábado você já tem algum compromisso? Pela manhã? 22h06


Não. Estou livre haha 22h07


Piper

Ótimo! *emoji feliz* Podemos fazer algumas fotos no parque, algumas aqui mesmo e algumas em um outro local? 22h08

Não vai demorar tanto quanto parece (espero). 22h08

Por mim está tudo bem! 22h09

Fantástico! Obrigada, Andy! *emoji sorrindo com os olhos fechados* 22h09


Enviei um emoji piscando em resposta e perguntei o horário exato.

Piper

Por volta das 08h a.m. está bom para você? 22h11

Está ótimo. 22h11

Eu vou precisar levar mais de uma peça de roupa? 22h12



Piper

Por favor. É possível levar um conjunto mais casual, um mais “passeio em uma bela tarde de sábado” e um mais “festa sábado à noite”? 22h13

Sim, sem problema nenhum. 22h13

Piper

Maravilha! Agora, antes de parar de te perturbar, só mais uma coisinha: você tem alguma amiga legal que toparia vir conosco? Preciso de uns seis modelos, três moças e três rapazes. Já escolhi os três rapazes e faltam duas moças… 22h15

“Amiga legal”. Eu praticamente não tinha amigos ali, mas uma pessoa me veio à mente assim que li a mensagem de Piper. Fiquei um tanto incerto em falar dela, mas de qualquer forma, eu conhecia outras garotas legais e bonitas além dessa… apesar de não serem minhas amigas.


Hum… conheço. Conheço duas, inclusive. 22h15


Piper

Você tem o contato delas? Poderia me passar? 22h16


Claro! Eu tenho o contato de uma delas. 22h16

Vou procurar aqui, um momento… 22h16

Fui à lista de contatos e selecionei o da moça. Enviei para Piper logo em seguida.


O nome dela é Anna. Ela com certeza tem o contato da outra, seu nome é Anabeth. São amigas. 22h18


Piper

Andy, muito obrigada mesmo! Vou entrar em contato com elas. 22h19

Tenha uma ótima noite de descanso. Desculpe ter chamado tão tarde… 22h20



Sem problemas, Pip! Precisando de alguma coisa, só falar. 22h21

*emoji mandando um beijo* 22h21


Piper

Digo o mesmo! Beijinhos, até logo mais! 22h22


Beijos, até! 22h22

Então era isso. Até o momento, meu calendário era: Sábado eu seria modelo amador para ajudar uma amiga. Em duas semanas, seriam as provas bimestrais e em dois meses seriam as provas finais. Depois eu iria para casa passar o Natal e o Ano-Novo com minha família.


Com esse pensamento em mente e não muito tempo depois, adormeci.


*

Na manhã seguinte, acordei e me deparei com Chad dormindo na cama ao lado.

Desta vez era ele mesmo, pois, apesar de estar com o rosto virado para a parede, eu reconheceria aquele cabelo quase branco de longe.

Então, após quase uma semana, meu colega de quarto estava de volta. Era legal não estar sozinho novamente.

Segui com a rotina matinal até que, no café da manhã enquanto eu comia um sanduíche acompanhado de suco de laranja, captei uma movimentação acelerada vindo para o meu lado repentinamente.

– Bom diaaa, moço! – saudou com animação.

Eu só não levei um susto porque captei o movimento pouco antes dela brotar ao meu lado.

– Anna! - repreendeu Anabeth - Pare de assustar os outros assim logo cedo. Bom dia, Andrew! - ela sorriu para mim.

– Bom dia, garotas!

– Podemos nos sentar? - perguntou Charloth.

Mas Anna já estava ao meu lado, à vontade, com a mochila sobre a mesa.
– Por favor! - falei fazendo um gesto com a mão.

Elas deixaram as mochilas sobre a mesa, à minha frente, e pediram licença para buscar o alimento.

Quando voltaram, eu já tinha terminado de comer, mas por educação permaneci à mesa fazendo companhia a elas (e Anna também havia sentado ao meu lado, logo ficaria estranho se eu saísse).

– Bettie não vem? - perguntei, notando a falta da morena. Era a única que não estava presente.

– Ah, ela foi matar a saudade de Chad. Parece que ele chegou hoje pela madrugada e eles não se vêem há um tempo e tal… - explicou Anabeth.

– Entendi.

– Você não o viu quando acordou, não? - perguntou Anna, após tomar um gole de suco.

– Na verdade, vi. Foi uma surpresa, estava até começando a me esquecer de que eu tinha um colega de quarto… - brinquei.

– Tadinho. Deve ser ruim ficar só à noite… - disse Anna. Ecarei-a mais por instinto que qualquer coisa e ela mudou de assunto - Enfim, você conhece alguém chamada Piper, Andrew?

– Conheço. É uma amiga que trabalha aqui.

– Ela entrou em contato conosco ontem. Falou que conhecia você, que precisava de uma ajudinha com umas fotos e que inclusive, foi você quem falou da gente - resumiu Anabeth.

– Ah, sim! Ela precisava de mais duas garotas para as fotos que vai tirar e me perguntou se eu conhecia alguém. Lembrei de vocês. - Analisei suas reações rapidamente e fiz uma pausa rápida antes de acrescentar - Espero que não tenha problema…

Anabeth sorriu:

– Não tem. Só queríamos confirmar, mesmo.

– Você lembrou da gente? Que fofo! - falou Anna, apertando de leve minha bochecha esquerda.

– É. Mas e vocês, como estão?

– Bem, obrigada - falou Anabeth.

– É… e animada para sábado. Vai ser legal fazer fotos com uma fotógrafa de verdade! - completou Anna.

– Então, vocês aceitaram? - perguntei.

– Obviamente. E nos lá somos bestas de perder uma oportunidade dessas? Vou até ver se consigo usar uns modelos que eu mesma desenhei… - falou Anna.

Assenti e logo após olhei para a garota mais calada da roda. Não me lembrava de seu nome, mas era a única amiga de Anna com quem eu não tinha trocado mais que algumas frases. Era a baixinha que acompanhou Charloth e eu na busca dos Cosmopolitans na festa da Beladona.

– E você? - perguntei quando ela não respondeu nada.

– Estou tranquila, obrigada. – respondeu, sorrido amistosamente.

– Preparada para as provas? - tentei fazê-la entrar na conversa.

– Até que estou. Sempre reviso as matérias e tudo o mais, então espero não ser pega de surpresa com nada.

– Entendi. - foi o que respondi.

Fizemos alguns instantes de silêncio até que Anna falou:

– Hum! Inscrevi a gente para a competição pela Casa Branca. Os trotes começam depois da semana de provas, daqui a duas segundas-feiras.

– Ah. Então você realmente seguiu em frente com essa ideia?? - falei.

– Nenhuma dessas aqui - ela fez um movimento com a cabeça mostrando as amigas, que comiam e fingiam ignorar a conversa - quis mesmo não. Então sim, segui em frente com a ideia.

Suspirei com certa exasperação.

– Relaxa ok?! Haverão grupos e grupos de universitários loucos pela casa e realmente dispostos a ganhar. Como já conversamos, só iremos pela diversão.

– Só não sei ainda como aqueles trotes idiotas podem ser divertidos… - Falei. - Mas tá, vamos nos “divertir” com tudo isso.

– Obrigada mesmo, Andrew! É importante para mim. - Ela agradeceu.

– Não há de quê. Mas saiba que só topei porque não tinha nada melhor para fazer.

– Sei disso. Mas vou preferir acreditar que você aprecia minha companhia e, no fundo no fundo, acha tentadora a ideia de ganharmos uma casa inteira só para nós dois em vez de perder tempo mandando “nudes” para alguma “inha” por aí.

Anabeth lançou um olhar mortal a ela depois dessa frase.

– Anna! - censurou enquanto a outra dava de ombros. Logo após, acrescentou olhando para mim - Desculpe. Às vezes ela fica impossível pela manhã.

– Não me importo com isso. Mas obrigado. - Falei para Anabeth.- Não se importa em mandar nudes? U.á.u! - falou Anna fingindo surpresa.

– Anna, está sendo infantil! – Anabeth repreendeu-a.

– Totalmente. - Acrescentou a baixinha caladona.

–Ah, ele não se importa. Vocês ouviram! E é só uma brincadeirinha para descontrair.

– Não, não é para descontrair. Isso constrange as pessoas. Se eu não te conhecesse… - rebateu Anabeth.

– Bem, primeiro eu posso saber se esta expressão quer dizer o que eu imagino que seja? - Perguntei.

– Se for mandar fotos de si mesmo nu para alguém, é isso mesmo. - explicou Charloth do nada.

– Ah. Bem - olhei para Anna. Se ela queria brincar, iríamos brincar - e se eu preferisse realmente fazer isso a entrar na competição com você?

– Já estamos inscritos. - Rebateu.

– Só que eu posso sair se quiser. - Trepliquei.

– Não faria isso. Não tem por que e seria mais infantil ainda.

– Considerando todas as piadinhas que você já fez somadas a esta eu realmente acho que posso me dar ao luxo.

Ela me olhou surpresa.

– Devastadora sua resposta, tô falecida com isso!

Aquilo me desarmou.

– Como?

– Ela ficou sem argumentos. - Traduziu Charloth.

Ponto para mim.

– Entendi. Obrigado.

– De nada!

Fiquei encarando Anna, que me encarava de volta com uma expressão ligeiramente derrotada. Então mudou subitamente para uma parecida com pedinte:

– Ah, por favor moço! Para com isso, só queria brincar um pouquinho. Nunca te pedi nada!

Suspirei.

– Admita que você foi infantil e eu marquei um ponto.

Ela me olhou num misto de indignação e confusão:

– Tá. Fui infantil. Ponto para você. Satisfeito?

– Sim.

Vamos ver se assim a senhorita Goldson aprende a pensar melhor nas palavras antes de dizê-las.

– Continuamos na competição, então? - Ela perguntou com certa ansiedade.

– Claro. Por quê não?

– Ufa! Obrigada. Agora posso voltar a comer em paz, afinal.

E foi o que fez.


*

– Você viu os novos títulos?! Cada um mais tentador que o outro! - disse Ellie a respeito da remessa que havia chegado.

Conversávamos atentamente enquanto aguardávamos clientes novos surgirem na livraria.

– Ainda não. Não tive tempo - sorri.

– Pois eu digo que você precisa fazê-lo. Vai querer pelo menos uns cinco. - Ela acrescentou e sorriu.

– Beleza! Vou olhar, assim que puder. Como está sendo o mês para você? - perguntei por curiosidade.

– Estou vendendo um pouco mais graças ao livro dos zumbis. Céus! É incrível o sucesso que está fazendo, não?! - ela respondeu olhando para mim.

– Sim. Mas quando a ideia é muito boa, inevitavelmente a história faz sucesso.

– Olha, eu te confesso que esse negócio de zumbis não é a minha praia, mas… estou até curiosa com relação à história. Acho que darei uma chance.

– Hum… é. Deve ser muito boa mesmo. Se eu não encontrar um título que me atraia logo de cara, vou fazer o mesmo. - falei.

Nesse momento, um grupo de adolescentes entrou pela porta.

– Opa, clientes! E aos montes. Vamos nessa antes que os outros cheguem primeiro. - falou ela, animada e brincando.

– Vamos nessa! - concordei.

O grupo se dividiu pela metade. Fiquei com uma parte, Ellie com a outra.

Minha parte procurou por títulos variados, incluindo romances, ficções, uma distopia e, claro, mais exemplares de “ApocalipZe”.

Quando o grupo se foi, comecei a reorganizar os livros que não foram levados, devolvendo-os cada um ao seu próprio lugar quando sinto alguém se aproximando.

– Com licença! - disse a voz aguda e familiar.

Controlei o impulso de revirar os olhos e expirar com exasperação enquanto me virava.

– Oi, Rashley! - saudei sem muita animação.

– Olá, Andrew! - ela disse de forma simpática.

Estava bonita, como sempre. Hoje usava um vestidinho rosa-claro e sapatilhas combinando. Desta vez o perfume estava na medida certa e isso já era mais que o suficiente para me deixar com um pé atrás.

– Precisa de ajuda com algum título?

Apesar de ser bem… ela, Rashley lia bastante e de tudo - traço que eu, para ser sincero, admirava em si.

– Hum… sim. Você pode me mostrar um exemplar de “Filha do Inverno”, por favor?

– Claro! Venha comigo.

Levei-a até a respectiva estante e mostrei os exemplares do belo livro de capa branca.

– Ouvi falar bem dele. Pode me dizer se vale mesmo a pena? - ela perguntou com sinceridade.

– Eu gostei. De verdade. A história é bastante original e me surpreendeu.

– Certo. Vou dar uma olhada nele. Obrigada! - ela sorriu e pegou o livro.

– Não há de quê.

Então ela simplesmente se dirigiu ao caixa. Nada de gracinhas para o meu lado. Aquilo foi bastante surpreendente de um jeito bom, e vindo de Rashley eu não poderia estar menos desconfiado.

Eu não entendia por quê ela sempre pagava os livros que gostava, já que seu pai era o dono da livraria e, aparentemente, ela deixar de pagar não faria diferença alguma no fim do mês.

Pensei que ela iria embora logo depois, mas então ela foi até a área de leitura, sentou-se em uma das poltronas macias e, após colocar a pequena bolsa sobre a mesinha em frente, começou a ler sem delongas.

Sem agarrar o meu pescoço, sem exageros, sem chatice… Aquela era mesmo a Rashley?

– Finalmente de olho na filha do chefão?

– Hã? - falei virando o rosto e dando de cara com Ellie, que me encarava com uma sobrancelha erguida.

– Você está bem? Está olhando demais para… ela - cochichou a última palavra.

– Eu, sim. Estou ótimo na verdade. Agora não sei se posso dizer o mesmo de Rashley…

– O que ela aprontou dessa vez?

– Nada. E é isso que está me preocupando. Ela não fez nada demais desde que chegou a não ser pedir ajuda para achar o livro.

– Sério?! - Ellie parecia tão surpresa quanto eu.

– Sim.

– Ela está tramando alguma coisa… fiquei de olho, rapaz! - ela me alertou e então se afastou.

– Hum… Aprontando? Mas o que exatamente? - pensei alto, mas felizmente em voz baixa.

O jeito era esperar para ver.

*

Quando meu expediente terminou, Rashley ainda estava na loja. Ela tinha permanecido ali o tempo todo, saindo apenas duas vezes e retornando para exatamente a mesma poltrona.

Despedi-me do pessoal que ficara e, antes de sair, ouço ela me chamar:

– Andrew, tem um minuto?

Parei de caminhar e esperei até que ela me alcançasse.

– Hã, oi… tenho sim.

– Bem, vai parecer um tanto pretensioso, mas eu queria perguntar: você está livre algum dia neste fim de semana?

Olhei-a com desconfiança de imediato.

– Eu sabia. Bem, eu só queria dar uma volta e conversar mesmo. Nada demais, juro. Mas você já deve ter algo mais importante… - ela falou notando o meu olhar e desanimando um pouco.

– Só conversar? - perguntei ainda desconfiado.

– Sim. Quero dizer, desde que você chegou aqui eu tenho tentado… - ela pensou um pouco - hum… me aproximar. Mas parei para refletir e vi que estou fazendo tudo do jeito errado.

Continuei sondando-a por suas palavras. Como eu não disse nada, ela continuou:

– Você tem uma impressão ruim minha, e eu não o culpo por isso, mas gostaria de mostrar que essa não sou exatamente eu, entende? Em resumo: eu gostaria de te conhecer melhor, sim, mas também gostaria de apresentar meu lado que pouca gente conhece. A verdadeira Rashley, se é que me entende...

Aquilo era muito repentino. Eu precisava de um tempo para pensar.
E foi isso que eu respondi, tomando o cuidado para não soar grosseiro.

– Entendi. Tome seu tempo, eu não tenho pressa, na verdade… - ela falou e eu notei certa tristeza em sua voz e expressão - Enfim, quando tiver uma resposta pode dizer ao meu pai que quer falar comigo. Ele me avisa.

– Farei isso. - respondi.

– Obrigada pelo seu tempo. Desculpe o incômodo… - ela recuou devagar - Tchau.

Acenei brevemente e então ela se virou e voltou para dentro da loja.

O que foi isso, meu Deus?

Eu estava confuso. Precisava pensar.

Apressei o passo para voltar à MCU. Troquei de roupa e desci direto para a academia. Coloquei os fones e uma música aleatória para tocar em volume baixo e comecei a sessão do dia pelos halteres.

Rashley aparece do nada depois de duas semanas, completamente diferente. Pede ajuda e depois fica a tarde inteira sem perturbar. No fim do dia, pergunta com educação se eu aceitaria ir a um passeio consigo. Ela simplesmente parecia outra pessoa.

Teria acontecido alguma coisa?

Lembrei de Ellie me alertando. Depois relembrei a conversa com Rashley enquanto mudava de aparelho.

Eu poderia confiar? Ela foi até… legal. Isso era muito estranho. Por outro lado, ela tinha reconhecido a conduta não muito boa do último ano e pareceu sincera quando falou sobre seu “lado oculto”.

Eu queria confiar? Queria conhecer o outro lado de Rashley? E, o mais importante: eu deveria fazê-lo?

Bem, sem dúvidas eu não saberia se não tentasse. Em todo caso, poderia ficar em alerta máximo durante o passeio e qualquer gracinha que ela viesse tentar, eu poderia pular fora na hora.

Então era isso. Eu daria uma chance para a moça. Afinal, se ela estivesse realmente falando sério, poderia descobrir uma pessoa bacana dentro de uma casca de mimo e aparência.

Quando me dei conta, estava no leg extension. Sentia que alguém me observava e essa era uma sensação bastante incômoda.

Olhei ao redor discretamente e então eu os vi.

Aqueles olhos castanhos. Me encarando, como sempre.

Ela estava em uma das bicicletas e deu um tchauzinho acompanhado de um sorriso amarelo como se estivéssemos nos visto por acaso e não como se eu não estivesse sob seu olhar já a um tempo.

Acenei com brevidade antes de me perguntar o que ela estaria fazendo aqui.
Então lembrei que o espaço era público e me senti meio idiota.

Eu tinha que parar com essa mania de perseguição...

Terminei minhas séries e fui para o supino vertical.

Quando estava terminando a primeira série com ele, ela se aproximou e sentou-se ao meu lado, porém não disse nada.

– Olá, Anna. - cumprimentei casualmente entre uma puxada e outra.

– Oi, boa noite! - ela respondeu soando contente.

Terminei a primeira sessão e descansei os braços sobre meus joelhos, suspirando. Fechei os olhos para respirar por um instante.

– Nossa, quinze quilos?! Agora faz sentido você ser tão definido… - a ouvi comentar.

Virei o rosto na direção de sua voz e abri os olhos enquanto perguntava:

– Hã?

Anna estava sentada com as pernas juntas, os calcanhares erguidos e apoiados no ferro do aparelho; suas mãos descansavam em seu colo e ela me observava atentamente com os cantos dos lábios ligeiramente elevados. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo e ela vestia roupas de ginástica: legging preta, uma blusa folgada regata amarela com um top por baixo e aberturas nas laterais e tênis de corrida.

– Nada, não! - Ela deu uma risadinha - É que sei lá… É diferente te ver com os braços expostos assim…

Ela claramente se referia à minha regata. Inspirei antes de responder:

– Não é como se você já não tivesse me visto um pouco mais exposto.

– Ah, é verdade! – Ela comentou com um tom ligeiramente malicioso – Que dia! Acho que nunca vou esquecer aquilo...

Ergui uma sobrancelha. Ela balançou a cabeça em negativa:

– Não, não vou, rapaz.

Dei um meio-sorriso e endireitei-me.

–Não duvido… - falei, voltando a segurar os pegadores do aparelho para continuar com meu treino.

– Hum... Eu não estou atrapalhando não, estou? - ela perguntou, me observando.

– Não.

– Posso continuar aqui, então?

– Tanto faz... Pode.

– Certo.

Fizemos um momento de silêncio e então resolvi perguntar, enquanto me exercitava:

– O que… você faz aqui?

Ela ainda me fitava, então respondeu prontamente:

– Ah! Antes que você pergunte: não, eu não estou te seguindo. – Ela começou com uma brincadeira e riu da própria - Vim com as meninas. Elas me prometeram que se eu as acompanhasse por duas semanas aqui, entrariam comigo na aula de dança.

– Interessante. Então você gosta de dançar? - perguntei novamente, terminando a segunda série de exercícios.

– Adoro. Eu já fiz aulas há um tempo, mas parei. Agora quero voltar com tudo.

Soltei os pegadores e olhei para ela:

– ”Maneirro”.

Ela riu.

– Você também dança? – perguntou, pendendo a cabeça um pouquinho para o lado sem se dar conta. Aquele gesto me chamou a atenção. Foi bem… charmoso.

– Não… não sei dançar… - respondi e era verdade.

– Típico. Se quiser, te ensino qualquer dia desses.

– Beleza! Vou cobrar heim. – brinquei, com um sorriso.

– Cobra. Cobra mesmo. E se der outro sorriso desses, não me responsabilizarei pelos meus atos...

Então ela olhou para o lado e acrescentou:

– Opa! Estão me intimando com o olhar ali. – Ela se levantou - Vou nessa. Quando quiser as aulas, me avisa que marcamos o dia.

– Aviso, sim. Obrigado!

– Disponha fofo! Beijinhos. - ela respondeu me mandando uma pescadinha.

E saiu. Sorri com um canto da boca quando ela se afastou o suficiente.

Essa Anna…

*

Naquela noite, quando já estava deitado, acabei repassando mentalmente a conversa com Rachel. Logo depois, o aparecimento de Anna.

Curiosamente, flagrei a mim mesmo lembrando e admirando o momento em que ela pendeu levemente a cabeça para um lado. Foi bonitinho, admito. E ela nem se deu conta...

Então, automaticamente voltei um mês e algumas semanas atrás, quando nos conhecemos. Quando ela caiu em cima de mim. Lembrei de seu rosto a centímetros do meu, de sua expressão envergonhada e bochechas coradas.

Teria sido aquilo tudo algum tipo de teatrinho? Se fosse, admito: a moça era uma atriz das boas. Me convenceu.

Então me lembrei dos momentos em que passamos juntos até então: o momento em que a encontrei, a conversa na área verde, a ida ao shopping, a aula de Serviços Domésticos – quando segurei o riso ao lembrar de Anna envergonhada e indignada -...

Então perguntei a mim mesmo se ficar relembrado aquilo não era suspeito de alguma forma.

Acabei decidindo que não. Afinal, que mal havia em repassar mentalmente, até pegar no sono, alguns momentos com uma pessoa estranha, mas legal, que eu havia conhecido?

Acho que talvez eu estivesse propenso a me tornar um amigo da moça ligeiramente desajuizada...

Não contive o sorriso ao pensar nisso.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que vocês acham? Só amizade mesmo?! Me digam porque eu realmente preciso saber! Hehehehe
Ah! Esse capítulo é meio que uma ponte para ligar com o próximo. Ele talvez tenha ficado um pouco extenso e eu peço perdão por isso, mas espero que tenha valido o tempo de vocês hehe

Eu particularmente amo essa nossa interação, por isso vou perguntar: Vocês têm Snapchat? Quem tiver, pode adicionar lá se quiser: ezurah.ezu
Só avisem depois que são daqui pra eu ficar ciente hahaha
Obs: Não mando nudes e adoraria não receber também. ;)
Grato pela compreensão e respeito. Do seu amigo,
Sr Devaneio