- Tem certeza que nós precisamos de tudo isso?

  - Absoluta.

Eu sorria orgulhosa para a casa que estava à minha frente. Rodeada por um bosque e um pouco distante da cidade era um belo disfarce para quem havia acabado de mudar. A casa era grande e lindíssima, com todos os mínimos detalhes devidamente perfeitos e harmoniosos.

  - Você tem certeza mesmo?

  - Ai Perséfone, eu disse que sim. Vamos entrar e você vai ver o tanto que essa casa é linda!

Entrei na casa puxando pela mão e ela ficou um tempo em choque quando entramos. A casa em que ela vivia era muito maior não sei por que o espanto. Mas eu gostava ainda mais quando ela ia percorrendo os olhos por todos os cantos, surpresa com tudo. Depois de apresentar todos os lugares, fomos fazer algumas compras e depois voltamos para casa.

  - Artêmis?

  - Sim?

  - Quando você vai encontrar com Hermes para saber sobre a Macária?

  - Oh meu Deus, eu havia esquecido completamente, muito obrigada por lembrar.

  - Eu realmente tenho medo... você esquece tudo!

  - É a ansiedade ok? Já venho.

Segui correndo para a porta e antes de sair gritei:

  - NÃO ABRA A PORTA PRA NINGUÉM OK?

  - Ta sete anõezinhos, a branca de neve vai ficar aqui.

Eu ri e corri para o interior do bosque, assim que me certifiquei que não havia ninguém, levantei vôo e segui em direção ao lugar combinado com Hermes. Demorou algum tempo e cheguei até uma gruta coberta por árvores, um lugar de difícil acesso. Assim que meus pés encostaram-se ao chão senti minhas asas entrarem em meu corpo e se esconderem completamente e então entrei na gruta.

  - Hermes?

Estava tudo muito escuro e silencioso. Chamei por ele só que mais uma vez eu encontrei o silêncio e o vazio. De repente ouvi um estrondo forte e uma chama intensa e quente e no meio dela surgiu as ultimas mulheres que eu queria encontrar. Atrás delas vi Hermes amarrado e amordaçado e se debatendo inutilmente.

  - Achou mesmo que conseguiria fugir de nós?

  - Pode fugir de Hades, mas não de nós.

Eram as Erínias e eu tinha caído na armadilha delas. Sem pensar eu corri tentando encontrar a saída da gruta e fugir das três, só que elas pararam em minha frente me impedindo de passar.

  - Aonde vai Artêmis?

 - Você não pode passar por nós, você tem de nos enfrentar se quiser atravessar.

  - O que querem?

  - Onde está Perséfone?

  - Não sei de quem vocês estão falando.

  - Não? Então porque está fugindo de nós?

  - Temo a vocês. Não é isso que querem?

  - Sim. Então nos responda... o que sabe sobre ela?

  - Nada. Sei apenas que ela fugiu, só isso.

  - NÃO MINTA.

Uma força me empurrou em direção à parede da gruta fazendo com que meu corpo batesse e caísse ao chão.

  - Onde está Perséfone?

  - Não sei.

O chicote que Tisífone segurava abateu sobre minha carne fazendo com que involuntariamente um grito saísse de minha boca. Em segundos me vi rodeada por fogo e as três se mantinham atrás dele com risadas maléficas e me fitando com seus olhos vermelhos. Me vi encurralada pelas chamas e a cada segundo ficava mais quente, impossível até de respirar direito.

  - ELA FOI PRA IRLANDA.

  - Como?

  - EU A MANDEI PRA IRLANDA, ELA FOI PRA LÁ.

O fogo apagou e eu respirei fundo várias vezes tentando me acalmar para que eu não deixasse claro a minha mentira.

  - Tudo bem, muito obrigada pela sua ajuda.

  - Mas antes, temos a sua penitência por ajudá-la.

Meu coração bateu acelerado e eu comecei a suar frio. Eu já sabia disso, tinha ouvido falar sobre a fúria das Erínias e o quanto elas eram vingativas, mas eu nunca esperava sentir isso na pele. E as vi aproximando de mim e uma tirou um punhal de seu vestido e cortou minhas asas. A dor era intensa e eu não pude deixar de gritar, mas logo me recompus com medo de que alguém pudesse ouvir, e, antes delas irem, bateram em mim e não tive tempo para gritar, pedir socorro ou qualquer coisa inútil que eu fizesse e as vi indo embora para longe. Minha visão estava fraca e eu sentia o sangue escorrendo pelo meu rosto e das minhas costas, então tudo ficou muito escuro e eu não vi mais nada. 

Essas são as Erínias: