A Vencedora escrita por LadyBelli


Capítulo 2
Não vá.


Notas iniciais do capítulo

...Sem spoiler. Só digo que trabalhei bastante nesse capítulo.



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Me sentei na cama, olhando para a janela. Eu já estava bem melhor. Fiquei relembrando cada detalhe de minha história para contar a Antoine. Tentando achar uma forma de contar a ele.

De qualquer forma, aquele garoto me intrigava. O que fazia ele vivendo em uma cabana no meio da floresta? E não era uma cabana fraca ou pequena. Fora feita com cuidado(pelo que pude ver do quarto).

Depois de algum tempo, Antoine apareceu.

–Sarah? Está melhor?

–Sim. Você me perguntou como fui parar na guerra?

–Bom, se não for incomodo, eu queria saber...

–Meus... Meus pais... Morreram. Nenhum orfanato me aceitou, ninguém quis me adotar. Então, fui para o exército. Só me aceitaram porque meu pai era um soldado. Eu fui muito discriminada por ser uma garota. Mas, mesmo assim, dois anos atrás, fui condecorada soldado. Foi a única vez em que estive no palácio, aliás.

–Entendo... Sinto muito- Ele me lançou um olhar triste.

–Sabe, sempre tive que me virar sozinha desde os onze. E, mesmo quando meus pais eram vivos, eu tinha que me virar para conseguir alimento. É a primeira vez que alguém me ajuda. Obrigada.

Antoine desvia o olhar

–Não foi nada

–E você? O que faz, vivendo em uma cabana no meio da floresta?

–É uma longa história

–Então, conte

–Eu... Fugi de casa. Nasci em uma família nobre, eu era herdeiro de terras. Mas... Você vai achar estranho, só que eu não queria isso. Não importava o quanto eu protestava, meus pais iriam me obrigar a assumir os negócios. Então fugi. Contratei pedreiros escondido de minha família para construírem essa cabana, e comprei móveis. Faz uns... Três anos que moro aqui. Só vou até a cidade para comprar livros e vender o que caço e colho. Me sustento sozinho, e posso dizer que essa é a melhor fase da minha vida.

Fiquei olhando para ele, impressionada.

–Por que você não queria?

–Minha irmã, Anna, queria assumir os negócios. E eu nunca achei que tinha talento pra isso. Sempre quis ser médico, curandeiro. Li muito sobre isso. Tem mais um motivo... Eu era prometido para uma garota. Só que eu não gostava dela. Queria encontrar o amor verdadeiro. Não importando o quanto isso demorasse.

Bom, isso explicava muita coisa. A educação dele, suas habilidades com medicina, o porquê de viver isolado. Depois de um longo silêncio, tomei coragem para falar:

–Antoine, eu... Não quero ser um fardo para você. Então, se você me levar para a cidade,eu me viro a partir de agora.

–Não! De jeito algum! Você não é um fardo, Sarah. E... Pode ficar aqui por quanto tempo precisar. Por favor. Não vá. Não agora.

–Não gosto de ser dependente assim...

Ele me abraça.

–Você está ferida. É natural que precise de ajuda.

–Eu já estou melhor. Acredite.

–Escute. Se realmente é grata a mim, fique aqui até melhorar. Por favor- Antoine parecia estar entrando em desespero. Depois de pensar um pouco, murmurei:

–Certo. Mas só até eu melhorar. Nada mais que isso.

–É o suficiente. Obrigado. Muito obrigado- Ao dizer isso, ele pega minha mão.

–Por que está me agradecendo?

–Eu não quero que você vá. Não quero pensar em nunca mais te ver, uma pessoa tão incrível. Não posso deixar que volte a lutar estando ferida desse jeito. Eu não aguentaria se algo acontecesse por minha culpa.

–Por sua culpa! Eu só estou viva agora graças a você!

–Acredite, seria horrível para mim ouvir que você está morta porque deixei você lutar estando assim.

–Mas eu não vou ficar parada aqui como uma inútil. Eu vou ajudar no que precisar enquanto estiver aqui. E não poderá impedir minha partida quando eu estiver melhor.

Antoine vira o rosto para o outro lado

–Tudo bem... É uma escolha sua- Dito isso, ele sai do quarto.

O que foi isso? Por que ele é tão preocupado comigo?

E... O que eu estou sentindo? O que foi esse arrepio de alegria quando ele me abraçou?

Também... O que me faz pensar que não vou querer partir quando chegar a hora?

Com alguma dificuldade, me levanto. Eu já estava boa o suficiente para andar. Dou uma olhada no resto da cabana, até que chego na cozinha. Sentado em uma cadeira, escrevendo, estava Antoine.

–O que você tem aí?- Perguntei, o surpreendendo. Fazia parte do treinamento do exército aprender a ler e escrever, pois tínhamos a ‘’obrigação de ser cultos’’. Foi um dos poucos benefícios(além de ter ganhado força e habilidade) que recebi ao começar a treinar.

–Sarah?- Ele corou- Eu... É pessoal. São somente anotações sem importância.

–Claro...

–Mas, mudando de assunto... Já consegue andar?

–Sim, embora não muito rápido... Se for rápido demais, dói.

–Interessante...- Ele pega outro livro- Um já escrito, não aquele em branco que ele estava fazendo anotações- E começa a folheá-lo, até chegar na página que queria. Então, começa a grifar algumas linhas:

–Acho que o ferimento não era tão profundo como eu tinha especulado... Embora tenha sangrado bastante. E tenha sido com uma espada enferrujada, o que só piorou a situação.

–Esse é um livro de medicina?

–Sim... Foi com esses- Ele me mostra uma prateleira- Que aprendi o que sei. E continuo aprendendo.

–Posso lê-los?

–Sabe ler?- Ele pergunta, impressionado. Geralmente os mais pobres não conseguem aprender, em especial mulheres.

–Aprendi no quartel. Nós, do exército, precisamos ser cultos.

–Entendo... Pode lê-los, então. Tudo que está nessa prateleira e naquela- Ele aponta para uma outra, no canto oposto da cozinha, com o que parecia ser livros de fantasia- É seu. Só peço que não pegue aquele em que eu estava escrevendo.

–Claro...- Vou até a prateleira de fantasia e tiro um livro grosso, com uma capa vermelha. Antoine sorri.

–Aladim. Vai adorar.

Sorrio de volta e vou para o quarto, não sem antes perguntar:

–Posso ajudar em algo? Limpeza, comida, qualquer coisa.

–Apenas descanse. Como sei que vai insistir- Acertou em cheio- Depois eu vejo algo para você.

Ao chegar no quarto, começo a ler, sentada na cama. Era realmente uma história incrível. Antoine tinha um bom gosto.


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Notas finais do capítulo

O nome da irmã do Antoine é em homenagem á leitora Anna Luiza Rodrigues. Você merece!



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