Mascarade escrita por Last Mafagafo


Capítulo 6
Capítulo 6 - À Procura de Christine


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo... Espero que gostem :)



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Blanche entrou no camarim as pressas e se deparou com o espelho. Se assustou ao vê-lo. Por mais que não fosse novo para ela, parecia mais assustador agora, que sabia que havia algo do outro lado. Havia uma fenda sutil, uma abertura entre o vidro e a moldura que só confirmaram que Christine estava lá, no esconderijo do Fantasma. Sentiu urgência de encontrá-la e salvá-la do perigo. Talvez o Fantasma se mostrasse menos piedoso com Christine, uma vez que já o importunaram naquela noite. Ele provavelmente não seria tão misericordioso com um segundo visitante.

Antes de entrar, porém, parou. Por que ela teria que ir buscar Christine? Valia a pena se arriscar sem saber se a outra estava realmente correndo perigo? E mesmo se estivesse, duvidava que Christine ou qualquer outra garota da ópera tivesse coragem de se sacrificar daquela forma. Talvez fosse melhor voltar para o quarto e fingir que nada acontecera. Mas sua consciência a impediu. E se Christine precisasse realmente de sua ajuda? E se ela fosse encontrada morta no dia seguinte? E se Blanche pudesse protegê-la? Ela jamais se perdoaria se Christine morresse por causa de sua covardia. Seria melhor morrer em vão, mas sem culpa, do que passar o resto de sua vida se arrependendo do que não fez.

Munida de uma vela, arrastou o espelho e passou para o corredor escuro. Seguiu, sem ver ao certo para onde ia, atenta a qualquer sinal do homem mascarado. Ratos passavam ao seu lado, gotas caiam em sua cabeça, baratas fugiam do caminho, até que ela conseguisse chegar ao lago novamente. Entrou na água fria, se arrependendo de ter ido procurar por Christine e tentando convencer a si mesma que a garota não estava lá. Apesar disso, sentia que seu primeiro instinto estava correto e Christine poderia ser a próxima vítima do Fantasma.

Chegou à ilha onde ele se escondia, o coração aos pulos. Órgão, papéis largados por todo lado, uma cama com dossel e velas com suas luzes bruxuleantes que aumentavam o mistério. Tudo exatamente como antes, sem por ou tirar. E lá estava, a caixinha de música de macaco. Talvez fosse o efeito de sua embriaguês, mas não resistiu e deu corda novamente  na caixinha, escutando sua doce melodia. Foi então que viu um vulto atrás da cortina. Com o susto, derrubou a caixinha, mas para sua surpresa o Fantasma não apareceu para agarrar seu pescoço. Parecia o vulto de uma mulher.

— Christine? - perguntou, pegando a caixinha do chão.

Puxou a cortina e viu um manequim, muito parecido com Christine, exibindo véu e grinalda. Parecia uma noiva cadáver ou algum personagem das histórias góticas. A manequim era branca, com cabelos longos e o vestido branco e rendado. Blanche estava assustada, mas se calou para não despertar a atenção do Fantasma, seja lá onde ele estivesse. Observou de perto o manequim, sentindo a textura do tecido. Aquilo era bonito e assustador ao mesmo tempo.

Passos se aproximaram, chamando a atenção de Blanche. Rapidamente, ela se jogou no chão para se esconder sob a cama, batendo sua cabeça mais que uma vez, enquanto rezava para não ser encontrada. O Fantasma estava chegando, e não ficaria feliz em vê-la novamente. Os passos cessaram e ouviu a voz angelical do Fantasma. O coração estava em disparada, de nervoso pela possibilidade dele encontrá-la. O que ele faria ao vê-la em seu esconderijo mais uma vez? E quanto a Christine, onde ela estaria? A resposta veio rápido. O Fantasma guiava Christine para aquele quarto, embalando-a com sua voz profunda e grave.

Talvez fosse coragem ou curiosidade que fizeram Blanche levantar a  barra do lençol, e presenciar o momento exato em que Christine desmaiou nos braços dele. O Fantasma a levantou no colo delicadamente, a pousou na cama e ficou observando-a por um bom tempo. Talvez ele tivesse passado apenas alguns minutos ao lado de Christine, mas para Blanche, que estava em uma posição demasiadamente desconfortável, pareceram horas. Logo começava a sentir o sono dos bêbados tomando conta da sua mente sonolenta.

O Fantasma se levantou, finalmente, e saiu do local. Poucos segundos depois, escutou uma suave melodia, que para uma Blanche exausta parecia uma canção de ninar. Seus sentidos começaram a deixa-la e, se esquecendo do estado deplorável em que se encontrava, se deixou envolver pela música. O Fantasma era um pianista, hábil, compenetrado, tomado por um frenesi artístico, mas de uma delicadeza admirável. Era como se ele e o instrumento fossem um só, um extensão do outro. Aquela alma perturbada ainda tinha algo de bom, pensou Blanche antes de adormecer.

Sem perceber, chutou a mesa ao lado da cama, derrubando a caixinha do macaco sobre Christine que acordou com o movimento e se levantou da cama. Já em estado de alerta, Blanche tentou chama-la, mas a moça não conseguia ouvir. Ela observou a caixinha com curiosidade olhando o macaquinho por demorados minutos, mas ao ouvir o Fantasma tocando, se levantou para procurá-lo. Christine se aproximou dele por trás, acariciando suavemente a parte do rosto que a máscara não cobria. De repente ela arrancou a máscara que ele usava, surpreendendo tanto ao Fantasma, quanto à própria Blanche, que assistia a cena à distância. O rosto deformado, repleto de cicatrizes do fantasma e os olhos fundos lembravam a própria morte o tornavam mais assustador. Era uma visão horrível e lastimável. Num gesto de fúria ele a repeliu e gritou, um urro de dor e medo. Com um forte tapa em sua face, Christine foi para o chão e desmaiou de novo.

— Sua pequena víbora - ele gritou - Dalila mentirosa e traiçoeira!

Naquele momento Blanche foi tomada por sua coragem (ou burrice) e saiu do esconderijo sob a cama para colocar entre ele e Christine. No impulso de proteger a amiga, não pensou em sua própria vida que estava em perigo. Quando reparou no olhar surpreso e enraivecido do Fantasma percebeu seu erro. Infelizmente não havia mais escapatória. Ao ver seu rosto mais de perto, a moça viu-se frente à frente com a feiura. A visão era impressionante e assustadora. Teve que se conter para não gritar também. Temia que o fantasma se irritasse ainda mais com sua reação.

— Como se atreve a entrar aqui de novo! – ele gritou, escondendo o rosto deformado.

— Christine… – tentou se justificar, sem pensar bem no que dizia.

— Você veio ver minha face deformada? Aqui está! - ele usou a mão que escondia seu rosto para segurar seu pescoço e lhe forçar a encará-lo. Sentiu medo e tentou empurrá-lo.

— É isso o que queria ver? - ele falava, mas não parecia mais falar com a bailarina. Era como se descontasse sua raiva pelo atrevimento de Christine.

— Você a machucou - ela disse, quase sem ar. Ele afrouxou um pouco os dedos  – Você bateu nela - reforçou a moça.

— Eu nunca tive a intenção – ele balbuciou, confuso, a soltando.

O Fantasma se virou para trás, recolocando a máscara novamente. Quando voltou a olha-la estava mais calmo.

— Saia daqui e leve sua amiga.– ele agarrou os pulsos de Blanche, a levantando, e a atirou em um barquinho sobre o lago. Pegou Christine com cuidado e a deitou no mesmo barco. Com um pontapé, colocou-as em movimento e tudo o que Blanche pode fazer foi remar para longe.

A moça teve que arrastar Christine por todo o caminho, mas depois de muito esforço, impulsionada pelo medo do Fantasma, conseguiu levá-la em segurança para o camarim. Se por medo ou precaução, Blanche se apressou a tapar o espelho com o biombo tão logo entrou no camarim com a cantora. Era um gesto infantil, mas a deixava mais calma.  Deixou Christine deitada em um divã, pois já não conseguia carregá-la mais. Depois, saiu pelos fundos da ópera e atravessou a rua em direção à pensão em que ela morava. Além dela, a casa também abrigava Mme Giry e Meg, a própria Christine, e outras bailarinas. Era chamada Maison de la Ballerine (Casa da Bailarina). Tudo o que Blanche conseguiu fazer foi se atirar em sua cama.


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Notas finais do capítulo

Comentem :)



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