Mascarade escrita por Last Mafagafo


Capítulo 5
Capítulo 5 - Noite das garotas


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para vocês! Só queria avisar que este capítulo traz o consumo de bebidas alcóolicas, mas minha intenção não é nem incentivar, nem glamourizar isso. Álcool é só para maiores de 18.



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Blanche não se sentia bem. Talvez tivesse bebido um pouco rápido demais, ou fosse a própria emoção daquela noite, mas ela se sentia flutuar, um pouco mais leve que o normal, apesar de ter plena consciência do que estava fazendo. Ela se aninhou sob as araras de fantasias, sentindo-se assustada. Sem que percebesse, havia voltado a chorar desconsoladamente. Quando finalmente se acalmou, o camarim foi invadido por risadas altas e o barulho incômodo de móveis sendo derrubados. Era o corpo de ballet, as amigas de Blanche, que chegava. Blanche se irritou, mas decidiu se manter quieta, para que não percebessem que ela estava lá.

— Psssshhhiuu… Vocês estãuu gritaanduuu - Collete disse e soltou uma gargalhada.

Blanche não queria que ninguém a incomodasse, porém os gritos eram altos e as gargalhadas escandalosas demais para serem ignoradas. Alguém caiu sobre ela e teve dificuldades em se levantar, fazendo com que todas gargalhassem. Aquilo foi a gota d’água. Irritada, Blanche resolveu se manifestar.

— Que droga, será que não se pode ter paz? - gritou.

— Ei, meninas! Achei a Blanche - era Camille, que ria feito uma hiena.

— Estava se escondendo da Soliére? - riu Renée - Ou estava esperando alguém?

— Não sejam tontas! Estou mal, só isso.

— Mal? - perguntou Renée - Desde quando?

— Não interessa!

— Deixe de ser uma velha chata, Blanche. Venha beber com a gente - convidou Collete.

Lhe passaram uma garrafa na qual bebeu um longo gole, o líquido aquecendo a garganta, enquanto descia. Blanche havia desistindo de dormir.

— Vamos, o que vocês estavam falando, então?

Elas riram e se aproximaram de Blanche, cada uma com sua garrafa na mão. Já haviam perdido a sobriedade havia tempos. Falavam de tolices e besteiras. Comentavam sobre um ou outro dos homens da platéia que haviam encontrado aquela noite e riam feito idiotas. Blanche, que estava um pouco mais alegre que o normal, ria também, sem se lembrar ao certo do porquê. Uma batida na porta e todas pararam, assustadas. Se Mme Giry as pegasse seria o seu fim. No melhor dos casos elas teriam que ensaiar mais de quine horas por dia, sem jantar. No pior, rua para cada uma delas.

Ouviram-se sonoros suspiros quando a porta se abriu, mas quem entrou foi Jared. O bailarino era alto, de cabelos loiros e sorriso perfeito. Um príncipe dos mais encantadores. Sua camisa estava aberta deixando aparecer a marca roxa de algum pequeno caso com alguma bailarina. Ele era um homem bonito e sedutor, então as bailarinas não tinham o menor pudor de se insinuar para ele. Ele também não tinha pudores em aceitar as insinuações.

— O que estão fazendo? - ele perguntou.

— Falamos sobre homens - disse Camille, com um risinho, cheia de segundas intenções - O que mais gostamos em um homem.

— Oh sim? E o que vocês gostam? - ele perguntou, enquanto sentava-se no chão, ao lado de Blanche.

— De homens altos - respondeu Renée, sorrindo.

— E loiros - completou Colette, para o deleite de Jared.

— E quanto a você? - ele se virou para Blanche que deu um longo gole na sua bebida.

— Gosto dos ricos - sorriu, sabendo que ele não se enquadrava naquela posição.  As outras morriam de rir, concordando, sem perceber o sarcasmo de Blanche.

Blanche não tinha nada contra Jared, pelo contrário, o achava extremamente sedutor. Ela mesma já estivera apaixonada por ele quando entrou na ópera, mas havia algo na sua segurança arrogante que o fizera perder o charme aos seus olhos. Além de que Blanche se divertia muito mais testando a inteligência do bailarino do que entrando em um flerte com ele.

— Ah sim, como o Conde de Chagny! Ele é um homem tão bonito! - disse Camille, sorrindo - Pena que já tem dona.

— Soliére… - disse Renée - Que sorte ela tem!

— Aliás, Blanche, você e Soliére ainda estão brigadas? - perguntou Camille.

— Não sei. Ela não ficou muito feliz quando interrompi ela e o conde no camarim mais cedo, mas acho que a essa altura já deve ter se esquecido -  a moça riu, acompanhada pelas outras, que soltavam gritinhos.

— Ah, mas e o irmãozinho dele, o Visconde? Um docinho, não? - perguntou Camille.

— Outro que já tem dona. Estava esperando aflito por Christine -  completou Blanche.

— Agora é tudo Christine, não é? Desde quando Christine se tornou a melhor cantora? A diva mais adorada? Alvo de um dos melhores pretendentes da França? - reclamou Renée.

— Meninas, vocês tem a mim - Jared tentava voltar a conversa para si, mas foi completamente ignorado pelas moças.

— Essa inveja! Você deveria se envergonhar. Ela é nossa amiga! - defendeu Blanche.

— Até quando, Blanche? Me dê um mês e Christine Daée será uma diva empavoada assim como a Carlotta. Pode escrever - Renée se levantou e saiu.

Colette, que havia um tempo não se pronunciava, se levantou de supetão e saiu correndo, prestes a vomitar. Camille a seguiu sem pensar e, quando Blanche tentou seguí-las, foi barrada por Jared, que travava sua saída. Ela não conseguiu esconder sua irritação.

— Você está certa em defender sua amiga - ele disse.

Blanche assentiu e tentou se levantar novamente, mas ele se aproximou. Colocou a mão no rosto da moça, que ficou sem reação. Ela não esperava aquele tipo de aproximação.

— Sabe, Blanche, você é muito bonita…

Talvez fora o efeito da bebida ou o incomodo da situação, mas Blanche explodiu em uma crise de riso, se desmanchando em gargalhadas. Depois de treinar o dia todo, se perder em passagens por trás de um espelho, quase ser morta pelo fantasma e se acabar na bebida, era cômico ver Jared tentando a impressionar com uma cantada tão fraca. Era ridículo. Ele pareceu não entender e se afastou depressa. Parecia constrangido, mas tentou disfarçar rindo junto, passando as mãos nos cabelos loiros de forma sedutora. Foi então Mme Giry entrou no camarim e o riso parou pelo susto, enquanto a moça tentava esconder, desastradamente, uma garrafa de bebida. Meg seguira sua mãe e acabou por se sentar em frente a um dos espelhos, próxima a Blanche. Madame Giry manteve seu olhar em Jared, o obrigando a sair.

— Boa noite, monsier.

Ele assentiu e se foi. No fundo, todos temiam e respeitavam Mme Giry. A madame era o tipo de mulher austera que conquistara seu posto com mãos de ferro. Pobre Meg, que nunca se permitia descontrair com as outras por medo de sua mãe. Mme. Giry se virou para Blanche, desconfiada.

— Onde esteve, moça? - ela perguntou.

— Não passei bem, Mme Giry. Estou sendo sincera.

— Ela torceu a boca e fechou os olhos resignada.

— Que isso não se repita, não haverá uma segunda chance. Terminem de se arrumar logo, vocês precisam dormir.

Olhou para Meg e saiu. Blanche retirou a garrafa de trás de si e a colocou no chão, sob uma das penteadeiras, sentando-se ao lado de Meg. Mme. Giry tinha razão, ela não podia ficar a noite toda chorando naquele camarim, precisava dormir e descansar. Ouviu alguém abrir a porta do quarto. Blanche tentou esconder a garrafa, que caiu e, apesar de não ter se quebrado, molhou todo o piso de madeira. Ela esperava ouvir os gritos da Giry, mas quem viu aparecer por uma fresta na porta, visivelmente constrangido pela falta de decoro, foi o Visconde de Chagny.

— Monsier Visconde! O que faz aqui? - disse Meg, se levantando.

— Vocês viram Christine? - ele perguntou, aflito.

Blanche negou e Meg também, mas a amiga percebeu algo estranho no jeito da loirinha. Estava preocupada com algo, era certo. Havia algo furtivo e angustiado em seu olhar. O Visconde agradeceu e saiu apressado, da mesma maneira como entrara. Algo havia acontecido. Blanche olhou para Meg, que parecia perdida em pensamentos.

— Meg, o que houve? - perguntou.

— Estou com uma sensação ruim… Acho que ela está lá… - ela balbuciou, quase sem pensar.

— Lá onde?

— No espelho.

A moça sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Christine estava no espelho? Imagens do Fantasma surgiram sua mente e ela congelou de medo, mas riu, disfarçando seu estado. Meg logo voltou a se ajeitar, talvez duvidando das próprias palavras e, quando terminou de tirar a fantasia e a maquiagem, saiu, desejando “boa noite” à amiga. Blanche desejou o mesmo, fingindo calma, mas  seu coração batia apressado enquanto a moça enfrentava um dilema moral. Imaginava Christine com o Fantasma e por mais que eu tentasse se convencer de que deveria ir dormir e esquecer aquela maluquice, a imagem de Christine sendo enforcada a assombrava. Sua consciência a fez sair da cama e voltar ao camarim de Carlotta.


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Notas finais do capítulo

O que acontecerá com Blanche? Não perca o próximo capítulo de... Mascarade.
Comentem! Critiquem!



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