Mascarade escrita por Last Mafagafo


Capítulo 17
Capítulo 17 - Natal


Notas iniciais do capítulo

Sei que estamos longe do Natal, mas achei que seria interessante :)



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A Ópera estaria fechada para o Natal, o que significava que não haveria ninguém no prédio pelos próximos cinco dias. Ninguém além do Fantasma. Assim sendo, muitas garotas passariam aquele período com suas famílias ou sozinhas em suas casas. Blanche planejava passar o Natal na Maison, com Colette, Mme Giry e Meg. Camille estaria com sua mãe e o restante da família e Renée iria ver parentes de outra cidade próxima. As garotas se juntaram no camarim para uma singela troca de presentes.

Meg abriu um pequeno embrulho branco para encontrar uma lista fita azul de cetim.

— Obrigada, Blanche! Ela é linda! - ela disse, sorrindo.

— Azul combina com você - Blanche explicou.

— Blanche, você não tem a menor criatividade. Deu fitas a todas nós - reclamou Renée.

— Se não quer a sua, pode me devolver - disse Blanche, tentando puxar a fita cor-de-rosa que Renée agarrou no ar.

— Já está dado - ela disse.

Blanche sorriu, considerando-se vitoriosa. Ela havia dado fitas a cada uma de suas amigas. Uma azul para Meg, rosa para Renée, verde para Camille e amarela para Colette. Das amigas havia ganhado um lenço bordado de Camille, ameixas cristalizadas (sugarplum) de Meg, um livreto de Colette e um leque de Renée. Acabada a troca de presentes, Blanche e as amigas saíram do camarim, com intenções de sair da ópera e se despedir na porta. Todas menos Blanche, que esperava falar com o Fantasma antes que a ópera fechasse.

Caminhando pelo hall, ela deu de cara com o Persa, praticamente ignorado pelas outras bailarinas. Blanche parou, para a surpresa das amigas, e se aproximou dele. As outras ficaram apenas assistindo a interação dos dois, sem muito entender. Nenhuma delas sabia que Blanche conhecia aquele homem e nem se importavam muito com a presença dele. Ao menos até aquele momento.

— Espera - Blanche disse e ele se deteve - Eu sei que você não deve comemorar o Natal, mas eu queria te dar um presente - ela entregou um lenço bordado para ele.

— Obrigado - ele disse, surpreso - Um presente é sempre bem-vindo, mas temo que não tenha comprado nada para a senhorita.

— Não é preciso. Aceite como um agradecimento por me ajudar nesses últimos meses.

Ele sorriu e olhou para o lenço. Era de um tecido macio, apesar de não muito nobre, com um enorme D bordado em um dos cantos.

— É um lenço muito bonito, mas apenas por curiosidade, por que o D?

— D de Daroga. É o seu nome, não é?

O Persa se pôs a rir, enquanto Blanche ficou sem nada entender, assim como suas amigas. Percebendo sua indiscrição, ele limpou a garganta antes de explicar-se.

— Meu nome não é Daroga, senhorita.

— Não? Mas eu pensei que… - ela disse, pensando em como Erik o chamava. Ela estava quase certa que era Daroga, com D.

— Eu entendo sua confusão. Meu nome é Nadir. Daroga é apenas minha profissão na Pérsia, um título.

— Entendo. Desculpe pelo meu erro. Se quiser, posso refazer o bordado.

— Não há necessidade, eu gostei dele assim - ele disse - Vai me lembrar de um certo “fator em comum” que nos tornou amigos.

Ela assentiu, sorrindo.

— Boas festas! Nos vemos no baile - ela disse e o Persa assentiu.

Ele se afastou e Blanche voltou a caminhar com as amigas, que a olhavam surpresas. Ela percebeu que as outras olhavam para ela, pedindo explicações.

— Blanche, não vai me dizer que o Persa é seu “patrocinador”? - perguntou Colette.

— O que? - Blanche quase tropeçou ao ouvir aquilo - De onde tiraram isso?

— O seu presente, o lenço - disse Camille.

— Isso explica tudo! O Persa está sempre por aqui, com passe livre para todos os cantos da ópera. E dizem que é rico também - disse Renée.

— Não seja boba! Ele não é um patrocinador. Ele é meu amigo - as outras olhavam incrédulas - É sério.

Elas não comentaram nada, mas não haviam sido convencidas. Quando chegaram na porta cada uma rumou para um lado. Meg e Colette íam em direção à Maison, mas pararam ao perceber que Blanche não as acompanhava.

— Onde você vai? - perguntou Meg.

— Preciso voltar, esqueci uma coisa. Encontro vocês na pensão. Aliás, podem levar isso para mim? - ela disse, entregando seus presentes nas mãos de Meg e voltando à ópera.

Colette olhou para Meg e sorriu maliciosamente. Para ela estava óbvio que Blanche iria se encontrar com o Persa, que ela ainda acreditava ser seu patrocinador. Mesmo assim, ela não disse nada para Meg, a loirinha era nova demais para entender aquele tipo de brincadeira. Ela ainda olhou para onde partiram Renée e Camille, mas elas já estavam longe. Daquela vez a piada teria que ficar só para ela. Foi com esse pensamento que ela atravessou a rua com Meg ao seu lado e entrou na pensão.

Ao contrário do que pensava a amiga, Blanche estava ansiosa por encontrar outro homem. Ela queria ver o Fantasma antes do Natal e entregar seu presente também. Ela entrou na passagem do espelho, caminhando até o lago. Para sua sorte havia um barquinho na margem, o mesmo em que ela levou Christine de volta ao camarim naquela noite. Ela remou até o meio do lago, mas começou a ouvir um barulho, como uma canção. Ela não sabia de onde vinha e se encolheu assustada. Demoraram alguns minutos, mas uma mão se levantou do lado, agarrando a lateral do barco, e puxou, desequilibrando-o.

Blanche deu um grito, assustada e a mão soltou o barco. Tudo ficou calmo e ela olhou para a água, esperando enxergar algo. Com um grande susto, pela segunda vez, um homem subiu no barquinho, fazendo com que ele balançasse violentamente. Com as roupas molhadas, ajeitando a máscara, era Erik. Ela finalmente soltou o ar, tranquilizando-se.

— Você quase me matou de susto - ela reclamou.

— O que veio fazer aqui? - perguntou ele, assumindo os remos.

— Vim falar com você - ela respondeu.

— Não gosto que venham aqui sem meu consentimento - ele disse.

— Essa é boa! Hora sim, hora não você aparece de surpresa no meu camarim e eu não reclamo - ela disse.

Erik apenas revirou os olhos, enquanto descia do barquinho e o segurava próximo à margem, para que Blanche pudesse descer. Ele não estendeu sua mão a ela, mas Blanche já esperava por aquilo. Havia vezes em que ele era extremamente infantil.

— E então, o que quer falar? - ele perguntou, cruzando os braços.

— Não sei se comemora o Natal, mas eu sim, então queria te deixar um presente.

— Um presente? - ele riu, algo que magoou Blanche.

— Sim. Você disse que compunha, então eu lhe trouxe isso - ela estendeu um pacote para ele.

O Fantasma se surpreendeu. Ele jamais esperaria ganhar um presente em sua vida, muito menos de uma mulher. Ele abriu o pacote para encontrar uma caneta de pena com o cabo de madeira.

— Eu sei que é simples, mas aceite, por favor.

Ele não sabia o que dizer, como aceitar aquele mimo. Ele nunca havia ganhado um presente de verdade e não sabia como se portar.

— Eu já tenho uma caneta - ele disse.

— Eu sei, mas eu queria te dar algo que fosse usar. Eu dei fitas para minhas amigas e bordei um lenço para o Nadir, então…

— Você bordou um lenço para o Daroga?

Erik ficou chateado em saber aquilo. O incomodou um pouco saber que ele não havia sido o único a ganhar um presente. Ela também tinha dado algo ao Persa, que aparentemente era mais especial que ele por ganhar algo feito por ela mesma.

— Sim - ela corou, lembrando da confusão com o nome dele - Imaginei que pudesse ser útil, assim como a caneta seria para você. Eu queria dar algo bom para me despedir dos meus amigos.

— Despedir? - ele se voltou a ela - Você vai embora?

— Bom, a Ópera ficará fechada pelos próximos cinco dias e eu só volto para o baile de Ano Novo. Como o Natal já terá passado, e eu troquei presentes com as meninas mais cedo, resolvi deixar isso para você.

— Como eu disse, já tenho uma caneta - ele devolveu para ela.

— Eu não vou te obrigar a aceitar, mas queria que ficasse com ela. Se não por amizade, que seja como retorno por me proteger de Jared.

— Está bem - ele disse, pegando a caneta de volta.

— Eu preciso ir agora. Só queria te deixar isso mesmo - ela disse - Bom Natal - ela voltou para o barquinho, remando em direção à outra margem.

Erik nada disse, apenas fingiu que voltava a compor no enorme órgão que mantinha em seu refúgio subterrâneo. Entretanto, ele olhava a caneta de pena simples, com cabo de metal, que tinha nas mãos. Não era nada especial, a que ele usava era bem melhor que aquela, mas ele sorriu. Aquele era o primeiro presente que ele ganhava em sua vida e havia algo de feliz e acolhedor naquele objeto que o fez guardar sua outra caneta e testar a nova na partitura que escrevia. Ele molhou a ponta da caneta em um vidro de tinta e desenhou uma nota na partitura. Ao menos ela escrevia bem.


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