Mascarade escrita por Last Mafagafo
Renée chegara na ópera carregada de sacolas. Havia algumas semanas desde que aparecera na última vez, mas ela parecia mais animada que nunca. Chamou Blanche, Colette e Camille para se juntarem a ela no camarim, depois dos ensaios e entregou uma sacola a cada uma delas. Com seu rosto efusivo, esperou a reação. Cada uma abriu sua sacola e retirou a fantasia que havia dentro. Blanche se deparou com uma colorida divertida fantasia de borboleta. Haviam “asas” atadas ao vestido e às luvas, que abriam quando levantava os braços e uma tiara de arame que imitava antenas. Camille, por sua vez, recebeu um vestido com saia de pétalas, apesar de um pouco mais curto, e uma toca de flor na cabeça. Colette tinha uma cauda de sereia e um arranjo dourado na cabeça, algo que Renée chamou de peixinho dourado.
— E então? - perguntou ansiosa.
— Ficou divino! Como você conseguiu? - perguntou Camille.
— Eu disse que era talentosa. Mas ainda não estão prontas. Preciso que experimentem para que eu faça alguns ajustes, principalmente na cintura, no peito e no quadril.
— As moças colocaram as fantasias, enquanto Renée fazia alguns ajustes com alfinetes que trouxera.
— E então, temos alguma novidade por aqui? - perguntou.
— Parecem que já decidiram o próximo espetáculo depois do baile. Pelo que ouvi Mme Giry falar, será Fausto - disse Colette.
— Fausto? Esperava algo maior - disse Renée, um alfinete entre os dentes.
— Como o que? - perguntou Blanche e a outra deu de ombros - Teremos também novas medidas de segurança. Nossas fantasias serão lavadas em químicos, para evitar que peguem fogo.
— Não acredito! Isso ficará medonho! - replicou Renée.
— Eu sei, mas minha mãe está me obrigando a usá-las - disse Camille.
— Pois eu não usarei! Prefiro morrer queimada a aparecer desalinhada sobre o palco. E quanto à perfeição? - disse Renée.
— Mas é o jeito. Teremos que usar e ponto final - disse Blanche.
— Hey, cuidado! - disse Camille, sentindo uma pequena alfinetada.
— Desculpe, querida, mas já estou acabando.
Depois que as três foram devidamente medidas, Renée recolheu novamente as fantasias e se pôs a caminho de casa. Disse, animadíssima, que trabalharia sobre elas durante a semana. Camille também se foi, disse que a mãe estava esperando. Colette também saiu. Ela já havia esquecido Jared e começava a frequentar a casa de um artista, ao lado do teatro.
Blanche havia ficado com a tiara de borboleta. Ela colocou na cabeça e ficou se admirando. Ela gostava de se imaginar como uma borboleta em Le Papillon e começou a dançar como em um dos números do ballet.
— O que está fazendo? - era Erik, se aproximando.
— Você me assustou - ela disse, parando de dançar - Eu estava aproveitando um pouco a minha fantasia para o baile.
— Ah sim, o baile… - ele disse.
— Você vai? - ela perguntou, se aproximando.
— Aquele baile celebrado pela minha ausência na ópera? O mesmo baile que estará repleto de pessoas? - seu tom era de ironia.
— Oras, qual o problema? Você nunca sai lá de baixo e essa é uma ótima oportunidade para interagir com outras pessoas. É um baile de máscaras, ninguém vai te reconhecer, nem te julgar, mesmo se for sem a máscara.
— Eu não tenho interesse - ele disse.
— Vamos lá! Você não pode ser assim. Todos da ópera estarão lá - ela disse.
— Christine estará? - ele perguntou.
— Creio que sim…
— Então eu vou.
Blanche se sentiu magoada. Ele só iria por causa de Christine.
— Isso é bom. Você poderá comer no banquete e dançar um pouco também.
— Eu não danço - ele disse.
— Nem com Christine?
— Ele engoliu em seco. Erik adoraria dançar com a cantora.
— Não me diga que não sabe dançar? - ela perguntou, brincando. Logo percebeu que era verdade - Não sabe dançar?
Erik não respondeu.
— Venha, eu lhe ensino. É fácil.
Blanche colocou a mão dele em sua cintura e apoiou a sua em seus ombros. A outra mão agarrou a mão enluvada do Fantasma e olhou fundo em seus olhos. Erik demorou para esboçar alguma reação, assustado pelo contato com a bailarina, mas quando tentou se soltar, ela o segurou. Ele olhou para ela e ela mantinha seu olhar nele. Ele tentou desviar o olhar, mas ela não deixou.
— Nunca olhe para baixo ou para os lados. Olhe apenas para mim. Um… dois… três… quatro… Isso…
Ela começou a guiá-lo devagar. Às vezes ele tentava olhar para baixo, distraidamente, mas ela era tirânica como Mme Giry quando ensinava. Ela começou guiando-o, para marcar o compasso, mas o Fantasma era mais travado do que ela imaginava. Não demorou para que ele pisasse em seu pé. Uma fisgada de dor atravessou seu corpo.
— Desculpe - ele disse baixinho.
— Está tudo bem. Continue - mentiu.
Entre um, dois três, quatro, o Fantasma começou a se soltar e pegar o jeito. Porém, como ainda principiante, ele ia um pouco fora do compasso. Sem que ele percebesse, Blanche passou a condução para Érik, que acabou se atrapalhando. Em um desencontro dos dois eles acabaram se aproximando mais que o normal. As bocas próximas uma da outra, os dois conseguiam sentir a respiração do outro.
— Com licença, Srta Blanche - era o Persa, que entrava no camarim. Erik se separou rápido de Blanche e se escondeu nas sombras.
— Persa? - ela perguntou, ainda em posição de dança.
— Erik, o que faz aqui? - perguntou Nadir de modo repreensivo, vendo o Fantasma mal escondido entre as araras. Tinha medo que Erik insistisse em perseguir Blanche.
— Estava o ensinando a dançar. Consegui convencê-lo a ir ao baile! - Blanche disse, animada.
— Você o que? - perguntou o Persa, gargalhando.
— Não há graça nisso, Daroga - respondeu Erik, constrangido.
— Não, claro que não… - o outro concordou, mas ainda continuava a rir.
— Sabe dançar? - perguntou Blanche, tentando minimizar o desconforto de Erik.
— Um pouco - o outro respondeu, com orgulho. Erik apenas revirou os olhos.
— Venha - Blanche puxou seu braço e posicionou-se com o Persa. Ele estava corado, mas não reclamou.
O Persa puxou uma valsa sem som que ele conseguia conduzir muito bem. Blanche estava impressionada. Erik ficou no canto, apenas observando. Ele começou a se sentir incomodado ao vê-los dançando juntos e perceber que se divertiam.
— Não estou aprendendo nada - resmungou Erik, do canto do camarim.
— Está bem - ela disse - Vamos tentar algo diferente - Ela posicionou o Persa e o Fantasma frente a frente, sugerindo que os dois dançassem juntos.
— Estou farto destas banalidades! - disse o Fantasma e desapareceu em uma sombra.
— Blanche riu e o Persa, que ainda estava confuso, riu também.
— Espero que não tenha se irritado - ela disse.
— Acho que não. Devo lhe parabenizar, senhorita. Nunca havia visto Erik dançar e já o conheço há pelo menos 20 anos.
— Sempre há uma primeira vez - ela riu - Mas porque me procurava?
— Estava procurando Erik. Quando desaparece sempre temo pelo pior. Vejo que desta vez foi a pior de todas - ele riu.
— Mas porque veio procura-lo aqui? - ela respondeu.
— Ultimamente eu só o vejo compondo. E quando não está compondo, está vigiando a senhorita. Espero que não veja isso como algo ruim. Creio que ele esteja preocupado depois do episódio com o bailarino.
Ela assentiu.
— Se for assim, fico feliz.
— Creio que deva deixar-lhe sozinha, então. Obrigado pela dança - ele reverenciou e saiu.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!