Sob minha pele escrita por Bruna


Capítulo 61
Capítulo 61


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!
Obrigada LilianeABM pela linda recomendação! Amei demais! Você não sabe o quanto me deixou feliz!
Nossa estória está chegando ao fim. Este é o penúltimo capítulo! :(
Na próxima semana postarei o último capítulo e o epílogo.
Capítulo ENOOORME porque muitas coisas precisavam acontecer, mas tenho certeza de que vocês não se importam! kkkkk
Já estou de coração apertado!

Boa leitura!



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Mel.

Não quero mais nenhum café. Na verdade acho que eu não conseguiria tomar de qualquer jeito. Se John já havia me deixado desconcertada, Mark acabou de terminar o trabalho. Estou sem ação. Me sentindo uma criança birrenta depois de ser repreendida.

Mas quem diabos ele acha que é para jogar isso tudo em cima de mim?

Ele com toda a certeza é a última pessoa da terra que poderia dar lição de moral em alguém.

Bufo irritada.

Ele veio defender o amiguinho. É óbvio que ele faria isso. É isso o que ele faz desde que eu o conheci.

Eles são iguaizinhos.

Ele ainda teve coragem de falar sobre o fato de eu ter escondido a gravidez.

Isso não é assunto dele!

Não é mesmo. Eu sei quais foram os motivos que me levaram a tomar aquela decisão. Nem se eu tentasse explicar eles conseguiriam entender.

Ninguém pode.

Viro-me e volto a entrar no quarto. A enfermeira está sentada na mesma cadeira em que eu estava. Ele sorri quando me vê. Sorrio de volta, mesmo sorrir sendo a última coisa que eu quero no momento. Eu gostaria de voltar àquela cadeira e de me encolher até sumir. Ou até que essas malditas lágrimas acabem. Nos últimos tempos parece até que eu sou feita delas. De malditas lágrimas.

— Você não demorou nadinha. – Diz se levantando.

Penso em dizer que nem ao menos eu cruzei o corredor, mas desisto.

— Já o examinei como o doutor pediu. Agora eu preciso voltar ao trabalho.

Caminho até a cama de Max e acaricio seus cabelos. Sinto um aperto no peito em vê-lo desse jeito. Tão indefeso. Mesmo Rafael me garantindo que está tudo bem, que a observação é apenas uma precaução, eu ainda me sinto desolada. No fundo eu me culpo pelo o que aconteceu.

Se eu tivesse sido mais rápida.

— Por quanto tempo ele ainda vai dormir? – Pergunto preocupada sem tirar os olhos do meu maior tesouro.

— Acho que até de manhã. Mas é melhor assim. Ele está bem, mas se ele estivesse acordado ele iria sentir muito desconforto, ele é muito pequeno, talvez o gesso também o incomode.

Sinto um nó em minha garganta.

Não quero que ele sofra.

— Obrigada. – Murmuro prendendo o choro.

— Qualquer coisa é só chamar. – Diz enquanto passa pela porta.

Assim que ela se vai eu me sento na cadeira e enterro meu rosto em minhas mãos me sentindo extremamente cansada.

É como se o peso do mundo estivesse em minhas costas. Além de toda a preocupação com Max ainda tem o John.

Nas últimas horas ele deu uma surra em meu coração. É difícil me afastar dele, mas está sendo muito mais difícil ter que encarar aquele olhar. Ter que vê-lo me ignorar. Ser frio comigo. Ele nunca tinha agido assim antes. Não pensei que fosse doer tanto.

Estou tentando evitar que você acabe comigo outra vez. Ele disse.

Como assim outra vez?

Ele que acabou comigo quando foi embora. Quando me deu as costas. Ele sempre teve a vida perfeita. Nenhum tipo de preocupação a não ser com ele mesmo.

Mark disse que ele sofreu por anos, mas eu não consigo imaginá-lo assim. Não consigo. Se ele sofreu mesmo porque não me procurou? Por que deixou passar tanto tempo?

Não consigo entender isso. Eu o esperei por muito tempo, nutrindo a esperança dentro de mim de que um dia ele voltaria, esperei por dias, por semanas, por meses, por anos... Até finalmente perceber que ele não voltaria.

De repente a porta se abre e eu levanto a cabeça abruptamente. John entra no quarto com um embrulho em sua mão.

— Você disse que não queria nada, mas mesmo assim. – Diz dando de ombros e me entregando o embrulho, e um copo que acho que seja café.

Sinto meu coração doer.

— Obrigada. – Murmuro mantendo meus olhos no chão.

Não quero olhar para ele. Não quero enxergar o desprezo em seus olhos. É demais para mim. Ele mal me olha, e quando faz isso, eu posso ver que ele preferiria estar em qualquer outro lugar. Menos perto de mim.

Ele caminha até a cama e se senta ao seu lado de Max, pegando uma de suas mãozinhas no meio das suas.

— Você vai dar queixa? – Pergunta num tom casual.

Arregalo meus olhos.

— Queixa? – Pergunto.

— Sim, Mel, queixa. Ele foi atropelado. Poderia ter acontecido algo pior. – A expressão em seu rosto me diz que ele nem gosta de pensar nessa hipótese.

Muito menos eu.

— Não. Foi um acidente John. E o Pedro ainda nos trouxe até aqui. Foi tudo muito rápido, mas ele não teve culpa. Ele tentou frear. Eu vi.

De repente aquele muro está entre nós dois de novo. Eu o sentia mais perto mesmo ele estando longe. Porém agora ele está ao meu lado, e o mais distante possível.

O assunto morre ali. Ajeito-me na cadeira tentando pegar no sono. Porém o silêncio no quarto está me deixando inquieta. O silêncio de John está me deixando irritada.

Caramba!

Ele evita me olhar. Evita começar qualquer assunto comigo a não ser que seja sobre o Max. Se eu faço qualquer tentativa ele me responde com resmungos como se eu o estivesse irritando. Como se preferisse não ouvir minha voz.

Ele está fazendo isso de propósito. Ele quer me irritar, e está conseguindo!

Muito engraçado. Há menos de um dia ele estava dizendo que me amava, e não perdia nenhuma oportunidade de me dizer isso, de me tocar, de me beijar...

Isso apenas me irrita mais.

Como os sentimentos dele desapareceram rápido. Se ele quer brincar disso, eu quero que ele saiba que eu posso ser melhor ainda.

Ouço algumas batidas na porta antes de Rafael entrar no quarto.

Sorrio quando o vejo. E quanto ao John, faz uma careta ainda pior do que aquela com a qual ele vem desfilando durante toda a noite.

— Vim ver como você estava. – Diz se referindo a mim.

Vejo que ele se sente um pouco desconfortável por estar aqui, mas sua preocupação comigo é maior que isso.

— Eu estou bem Rafael, obrigada pela preocupação. – Digo carinhosamente.

De repente sinto uma necessidade enorme de abraçá-lo. Quando dou por mim meus braços já o estão envolvendo, e ele corresponde, com um carinho que conforta pelo menos uma parte da dor imensa que eu estou tendo que suportar.

Abro os olhos e vejo John nos fulminando com os olhos. Sinto um pinguinho de vergonha por estar me sentindo muito bem com isso. Eu quero que ele sinta ciúmes de mim. Quero que ele veja que não estou sozinha.

— Obrigada por tudo. – Digo me recompondo e me separando de Rafael.

Ele pigarreia como se estivesse sem graça. Acho que minha explosão de afeto o pegou de surpresa.

— Você não tem que agradecer. – Diz com um sorriso enorme no rosto. – Eu faria qualquer coisa por vocês dois.

John tenta nos ignorar ao máximo. Mas seus punhos cerrados, e suas costas tensas me dizem que ele está a ponto de explodir. Eu o conheço bem. Conheço como a palma da minha mão.

— Eu sei disso. Sei que sempre posso contar com você. – Digo com a total intenção de que John ouça.

Rafael sorri.

— Bom, .... Ah ... eu já vou indo. Passo aqui cedo para dar alta ao Max. Boa noite.

Assim que ele se vai eu sinto o meu humor ter um salto. E então espero, espero e espero. Qualquer coisa. Uma explosão, um comentário sarcástico, qualquer coisa. Mas ele não faz isso. Ele nem ao menos me lança um olhar furioso.

Nada!

Apenas esse silêncio ensurdecedor.

Não aguento mais isso!

— Qual é o seu problema? – Pergunto tentando manter o meu tom de voz o mais baixo possível. Ele ignora. Isso faz meu sangue ferver. – John! Eu estou falando com você! Qual é o seu maldito problema?

Ele está me ignorando como se eu fosse invisível. Não suporto isso. Eu estou aqui. Eu prefiro qualquer coisa a isso. Prefiro que ele grite comigo assim como ele fez antes. Qualquer coisa que me mostre que ele está sentindo algo.

Qualquer coisa...

Ele solta um suspiro longo antes de cravar seus olhos em meu rosto.

— O quê? Você quer que eu comente sobre essa ceninha ridícula que eu acabei de ver? – Pergunta ríspido. – Quem está agindo como criança agora?

— Quem está agindo como criança? – Pergunto incrédula, e extremamente irritada. – Você está agindo feito criança! – Acuso irritada. – Desde que você chegou você mal olha para mim, você mal fala comigo.

Odeio que eu esteja parecendo magoada. Odeio estar sendo magoada. Odeio mais ainda que ele tenha o poder de me magoar.

Ele ri.

— É ruim estar do outro lado, não é? – Pergunta com um sorriso cretino no rosto.

— Outro lado?

— O outro lado. Quando é você quem está sendo pisoteado. Desde que eu cheguei tudo o que eu tenho feito é correr atrás de você, é implorar... e você sempre me dando as costas. Pensei que pudéssemos resolver nossas diferenças que ficaram para trás, mas você me fez enxergar que isso sempre vai ficar entre nós.

Ele coloca as mãos atrás da cabeça puxando o cabelo com força se esforçando a encarar a parede, deliberadamente me ignorando outra vez.

A temperatura do quarto parece ter caído muito.

Ouço suas palavras sentindo meu coração bater tão forte que sinto como se ele estivesse subindo pela minha garganta.

Ele já desistiu?

— Ah! Você superou bem rápido. – Digo com sarcasmo.

Morrendo de raiva. Morrendo de ódio. Eu gostaria de pular em seu pescoço. Eu gostaria de bater nele. Quer dizer, eu amaria bater nele.

— Eu superei rápido? – Pergunta com a sobrancelha arqueada voltando a me olhar furioso. – Não era eu quem estava pendurada no pescoço do médico há poucos minutos! – Diz secamente.

Finalmente!

Alguma coisa!

Me repreendo por ter vontade de pular como uma garotinha.

Ele está com ciúmes.

Eu sei que está.

— E isso te irrita? – Pergunto sentindo uma esperança irritante.

Eu não deveria me importar com o que ele acha. Nós terminamos. Não vamos mais ficar juntos. Sua indiferença nem deveria me incomodar.

Mas porque me incomodo?

— Na verdade, não. Não me importo nem um pouco. – Diz e sinto meu estômago se revirar. – Seja feliz com ele. Se é o que você quer, você está livre para escolher. Você deixou bem claro que eu não faço mais parte da sua vida.

A indiferença. O pouco caso que ele faz. Como se eu não fosse importante. Como se ele não desse a mínima se eu tivesse agarrado o Rafael em sua frente.

Por que isso está me ferindo tanto?

Sinto as lágrimas queimarem meus olhos, mas me recuso a chorar, me recuso a deixá-lo saber o quanto ele está destruindo o meu coração.

Ele está muito sereno. Ele deve ter alguém em Nova Iorque. Com certeza é isso. Veio aqui e pensou que podia me conquistar, mas como não conseguiu, decidiu seguir o plano B.

— Eu sou muito idiota. – Rosno irritada. – Com certeza você deve ter alguém em Nova Iorque. Alguém que está sempre disponível, não é?

Odeio a parte minha que implora para que ele diga que não!

— Não. Não tenho. – Diz com sinceridade e sinto meu coração descer da garganta e voltar ao seu lugar. – Mas não é difícil de encontrar. – Termina com deboche.

Não é difícil me substituir.

— Você é um cretino! – Choramingo e me viro de costas para que ele não veja as lágrimas molharem meu rosto.

Que inferno Mel!

Por que diabos você está chorando?

— Não entendo você. – Sinto meus braços se arrepiarem quando ele se aproxima de mim. – Por que isso tudo? Não fui eu quem terminou com tudo.

Não quero que ele saiba o quanto isso tudo me afeta. Não quero que ele saiba o tamanho da minha dor sempre que penso nele estando com outra pessoa. Quando penso que ele pode beijar outra, estar com outra, amar outra.

Eu não quero amá-lo. Não quero. Mas eu amo tanto, tanto. O meu medo de ficar com ele é grande, mas o medo de ficar sem ele é insuportável.

— Você precisa tomar uma decisão Melissa. Você diz que não quer ficar comigo, que é melhor que fiquemos separados, mas age completamente diferente do que diz. Arma essa cena ridícula com esse médico para me irritar. Chora com a menção de que eu possa ficar com outra mulher. – Sinto sua mão segurar meu braço. Fecho meus olhos com força. Sinto ele se movendo até parar em minha frente. Não consigo parar as drogas das lágrimas. Elas continuam caindo. Me sinto tão ridícula. – Se você não quer fazer isso dar certo, é bem provável que um dia eu me envolva com outra pessoa.

Não!

Por favor, não me diga isso. Por favor, não faça isso comigo. Por favor, não deixe de me amar. Meu deus! Eu não sei como fazer. Eu não consigo deixar de sentir tanta raiva dele. Não consigo.

Acabo dizendo o que eu sei que irei me arrepender pelo resto da vida.

— Espero que você encontre.

Abro os olhos e ergo a cabeça até encara-lo. Seus olhos estão inexpressivos. Sinto mais vontade de chorar ainda, quando começo a memorizar cada detalhe do seu rosto. Cada pedacinho dele.

É tudo o que eu vou ter.

— Ótimo. – Murmura encerrando o assunto.

Então se vira e caminha até a cadeira ao lado da cama do Max, onde permanece por toda a madrugada.

[...]

Max acordou há uma hora. Ele acordou inquieto e chorando muito. Acho que ele ainda está assustado por causa de tudo o que aconteceu. John está tentando acalmá-lo. Ele anda de um lado para o outro no quarto com Max em seu colo. Ele acaricia suas costas e sussurra em seu ouvido. Não consigo ouvir o que ele diz. Mas está funcionando.

Passei o resto da madrugada me sentindo a mais estupida das mulheres. Me encolhi no canto e fiz de tudo para ignorar a vontade que eu sentia de ir até ele e dizer que eu sentia muito. Dizer que eu o amo mais que tudo. Dizer que eu preciso dele para viver. Preciso dele para ser feliz outra vez.

Mas é claro que não fiz isso.

Não trocamos mais nenhuma palavra. Ignoramos a presença um do outro. Tento ignorar a dor enorme que está me rasgando por dentro neste exato momento.

Sinto um aperto por dentro. Max vai sentir muita a falta dele quando ele não estiver mais aqui. Uma vozinha diz dentro de mim que eu também vou.

Por mais que eu ame meu filho, por mais que eu dedique todo o meu tempo para ele, eu sei que nunca vou conseguir suprir a ausência do pai dele. Eu estou tento a prova disso agora. Faz muito pouco tempo que eles se conheceram, mas Max já está muito apegado a ele.

Rafael veio examinar Max uma última vez, e eu me senti um lixo pelo o que eu fiz há algumas horas. Ele não merece que eu brinque com ele desse jeito, e tudo para irritar John.

Estou me sentindo esgotada, tanto fisicamente, quanto mentalmente e sentimentalmente. Eu não fechei os olhos durante toda noite, além de não ter comido direito. Estou sentindo meu corpo cobrar essas minhas falhas. Preciso fechar meus olhos e descansar, quem sabe talvez depois disso eu recomece a pensar com coerência nas coisas. Sinto que não estou em meu juízo certo, caso contrário eu não teria feito tanta besteira. 

Preciso arranjar um jeito de me desligar de John. De desligar qualquer sentimento que eu ainda sinta por ele, caso contrário Ana teria razão. Terminar com ele só iria trazer mais tristeza para a minha vida. E eu já estou de saco cheio disso.

Estou recolhendo algumas coisas de Max que Ana trouxe ontem. Faço tudo mecanicamente. Max está deitado na cama com os olhinhos pidões. Seus olhinhos ainda estão vermelhos por conta do choro. Está encolhidinho entre as cobertas me observando andar de um lado para o outro feito um robô.

Sorrio para ele.

Sento-me ao seu lado na cama e acaricio sua testa, evitando a área onde está o curativo. Ele me presenteia com um sorriso doce no rosto. Abaixo-me e encosto meu rosto ao lado do seu.

— Mamãe sente muito. – Murmuro baixinho segurando sua mãozinha na minha.

Uma parte minha sabe que eu não estou me desculpando apenas pelo o que aconteceu, mas estou me desculpando também por não ser capaz de dar uma família para ele. Por não conseguir esquecer aquilo que me magoou há tanto tempo.

Talvez se eu me esforçasse...

Lembro-me de Mark dizendo o tanto que ele sofreu, assim como eu, o tempo que ele demorou para superar o que tinha acontecido entre nós dois. Uma pequena parte minha reconhece que eu o magoei mudando nossos planos. Eu vi em seus olhos quando ele me disse adeus. Sei que estava sendo difícil para ele, assim como foi para mim. Talvez Ana tenha razão e eu me amargurei demais.

Mesmo assim eu ainda tenho medo. Tenho medo de ir com ele e não conseguir superar. Seria bem pior. Muito pior. Mas e se der certo? E se viver com ele esse amor agora fosse a melhor coisa de todos os tempos?

E se...

— Mel. – Chama John entrando pela porta. Sobressalto-me por ser pega de surpresa. – O carro já está lá fora.

Levanto-me tentando me recompor. Tenho certeza de que minha aparência não é das melhores. Bom, pelo menos foi isso o que eu vi no espelho há menos de vinte minutos. As bolsas embaixo dos meus olhos me dizem que o corretivo que tenho em casa não será o suficiente.

Passo as mãos pelos meus cabelos alvoroçados tentando, em vão, controlá-los. Bufo ao pensar no sacrifício que será desembaraçá-los depois.

— Eu preciso pagar o hospital. – Murmuro distraidamente procurando por minha carteira dentro da bolsa.

— Já fiz isso. – Diz John simplesmente.

Viro-me para encará-lo e ele me olha como se estivesse me desafiando a dizer alguma coisa. Ele me conhece. Sabe que eu vou dizer.

— Não precisava ter feito isso.

— Precisava sim. Ele é meu filho. – Diz desviando seus olhos de mim e indo até Max. Ele tira os lençóis de cima dele e o pega no colo com cuidado. – E além disso, eu pretendo depositar uma quantia de dinheiro para os gastos dele todo mês.

O QUÊ!?

— Isso com toda a certeza não será necessário. – Digo secamente.

Não quero a porcaria do dinheiro dele!

— Isso não está em discussão Melissa. – Diz com autoridade, não me deixando espaço para discussão. – Não é para você. – Enfatiza. – É para ele. Sei que esse não é o melhor momento para tratar disso, mas eu não tenho muito tempo. Eu viajo amanhã.

Tão cedo?

Esforço-me para engolir o nó que se formou em minha garganta ao ouvir estas palavras.

Viajo amanhã.

Ele vai embora.

Para longe de mim.

Outra vez.

Tento manter meu rosto impassível, e esconder o máximo possível o quanto essas palavras me feriram. Acabaram de abrir um buraco em meu coração. Ele foi nocauteado. Está aos meus pés. De algum jeito ele acabou de pular do meu peito e se espatifar bem na minha frente.

— Você vai voltar? – Pergunto sem conseguir me conter. O problema é que eu não consigo imaginar outro dia sem vê-lo. – Quer dizer. Você vai voltar para ver o Max?

Ele não é idiota. Posso ver a confusão brilhando em seus olhos. Ele deve achar que eu sou maluca. E eu estou me sentindo assim agora. Ele me deixa assim. Não tenho controle sobre os meus sentimentos, nem por nada que eu digo.

— Não sei quando. Não posso me ausentar por muito tempo do trabalho. – Murmura taciturno. – Mas eu quero manter contato com ele. Quero fazer parte da vida dele.

Eu sei que quer. Mas e quando ele se apaixonar de novo? Quando ele decidir que quer ter uma família? Eu e Max estaremos aqui. E quando ele tiver outros filhos? Ele vai esquecer de nós.  Nem vai se lembrar. De algum modo ele acaba de pisotear meu coração caído no chão.

— Não estou te pedindo nada John. – Digo ignorando o tornado de emoções que está se desenvolvendo dentro de mim.

Dentro todos os sentimentos emaranhados, um deles eu consigo identificar muito bem.

O medo.

Tenho muito medo de não estar mais perto dele. Nem que seja apenas para olhá-lo. Nem que seja para me certificar de que não existe mais ninguém em seu coração, mesmo que eu não pretenda viver lá. É egoísta. É muito egoísta. Mas é o que eu sinto. Não quero que ele ame outra pessoa, mas eu estou deixando o caminho aberto, e isso está acabando comigo.

— Você nunca me pediu, Mel. – Murmura, e sei que há muitas coisas por trás dessas palavras. – Mas isso nunca me impediu de te dar.

Nunca impediu de me dar. Ele sempre me deu tudo. O espaço em seu coração, seu amor, seu carinho, mas tudo o que ele me deu sempre teve prazo de validade.

[...]

Chegamos em casa depois do que parece ser uma eternidade. Max ainda está estranhando muito o gesso em seu braço, e como é muito pequeno ele ainda não entende o porquê de ter que usá-lo.

John está com ele em seu colo, tendo uma conversa de pai para filho.

— Os super heróis precisam usar isso quando se machucam nas batalhas. – Diz com paciência, encarando seus olhinhos que não perdem nada. – Você é um super herói, não é? Então você precisa usar até estar forte de novo.

— Sim. – Diz animado com os olhinhos brilhando.

John sorri como se estivesse muito orgulhoso.

Sorrio.

— Então você precisa ter paciência. E obedecer a sua mamãe. Me promete isso? – Pergunta e sei que ele está se esforçando o máximo para não desabar. – Sempre vai obedecer a mamãe, e vai cuidar dela também.

— Sim, papai. – Concorda Max com inocência.

Isso é demais para mim. Sem que os dois percebam eu saio e subo as escadas em direção ao meu quarto. Entro e encosto a porta. Deito em minha cama de barriga para baixo e enfio meu rosto nos travesseiros. Assim ninguém irá ouvir os meus soluços. Assim ninguém irá ouvir o som do meu coração se despedaçando dentro de mim.

Não quero que ele vá.

Não quero que as coisas acabem.

De repente começo a perceber que talvez eu tenha feito muita besteira. Eu queria tanto que meu avô estivesse aqui. Ele saberia o que me dizer. Ele saberia o melhor para mim.

Será que eu o estou fazendo sofrer?

Por que nunca percebi isso antes?

Eu sei que eu sempre sofri muito por ele. Antes de tudo sempre tive muito medo de perdê-lo, e depois de perdê-lo tive muito medo de nunca mais conseguir esquecê-lo. E não consegui mesmo. Ele ainda está bem vivo dentro de mim, e nestes últimos dias em que estivemos juntos ele conseguiu dar um jeito de me fazer amá-lo mais.

Aquele cara te ama mais que tudo, de um jeito que eu nunca vou entender.

Essa frase fez muito sentido para mim, porque em todo esse tempo eu não consegui descobrir o que fez eu me apaixonar tão intensamente por ele. O que me fez querer a ele, e a ninguém mais.

Estou muito confusa. Não quero que ele vá, mas depois de tudo o que eu disse eu não tenho mais o direito de pedir que ele fique. E eu não poderia fazer isso se caso eu não tivesse a intenção de ficar com ele.

Eu quero ficar com ele?

Eu quero tentar outra vez?

Não paro de me fazer essas perguntas. As duas respostas estão brigando dentro de mim, e sinceramente não sei qual está vencendo.

E ele?

Será que ele quer ficar comigo?

Sinto um frio na barriga ao me recordar do modo distante e frio com que ele vem me tratando nos últimos tempos. É como se ele estivesse buscando um meio de se afastar de mim. Não sei se ele tem noção do quanto isso me magoa. Não sei se ele tem noção do medo que isso destravou em mim. É como se eu estivesse enxergando pela primeira vez que caso ele for embora, não terá mais volta. E isso me aterroriza.

Tenho medo de que ele não me ame mais.

Sei que ele sente. Sei que ele me ama. Por trás de toda a dureza dos seus olhos eu ainda consigo enxergar o quanto ele está lutando com ele mesmo.

Se protegendo.

Do mesmo modo que eu faço.

Não tinha ideia que isso podia magoar tanto.

O jeito doce com que ele cuida do Max. A atenção que ele dá a ele. O amor que posso sentir transbordar quando os dois estão juntos. Isso me faz amá-lo mais, e de repente me dou conta de que esse amor todo já está ocupando todo o espaço dentro de mim.

Levanto-me da cama e vou em direção ao banheiro. Faço uma careta assim que vejo meu reflexo. Parece que eu envelheci uns dez anos. Lavo meu rosto com água fria, me recomponho o máximo que posso. Respiro fundo, e saio do quarto.

Assim que estou descendo as escadas ouço a voz do Gabriel. Ele está conversando com Max. Respiro fundo antes de entrar na sala.

Julia e Gabriel estão sentados juntos no sofá com Max entre os dois, Ana está na poltrona com uma xicara de café nas mãos.

Nada de John!

Sinto meu coração murchar. Eu tenho muito pouco tempo com ele.

Sento-me ao lado de Gabriel.

— Esse garotinho nos deu um belo de um susto, não é? – Diz Gabriel brincando com Max e arrancando gargalhadas dele.

— Nem me fale. – Murmuro ainda em estado de choque.

Acho que minha alma ainda não voltou para o corpo. Ela saiu para dar um passeio no momento em que vi Max no chão.

— Mas agora está tudo bem, e é isso o que importa.

Gabriel aperta minha mão, e o carinho que sinto por ele praticamente triplica se é possível. Julia fez uma ótima escolha.

— Onde está John? – Pergunto baixinho tentando com todas as minhas forças não parecer ansiosa demais.

Ana e Julia trocam olhares o que não passa despercebido por mim.

Ana pigarreia.

— Bom, ele disse que tinha algumas coisas para acertar antes da viagem.

— Ah. – Deixo escapar.

— Mas ele disse que virá se despedir do Max amanhã. – Diz Julia me encarando sem querer esconder o quanto ela me acha idiota.

Ele nem esperou por mim. Nem ao menos para me desejar uma boa noite. Ele simplesmente foi embora. Sinto meus olhos se encherem de lágrimas.

— Tudo bem. – Murmuro.

A sala fica em silêncio completo pelo o que parece uma eternidade. Sei muito bem o que as duas pensam. Gabriel prefere não se envolver e eu agradeço muito por isso. Eu já estou confusa o suficiente. Sinto as duas me recriminarem, e me julgarem, e para ser sincera comigo mesma eu já não tenho tanta certeza de que elas estão erradas.

Talvez eu seja mesmo uma idiota!

Logo eles começam a desenrolar o assunto sobre o novo cargo de Gabriel no hospital. Estamos todas muito orgulhosas dele. Ele trabalhou muito por isso. O brilho nos olhos de Julia me diz que ela está quase transbordando de tanta felicidade.

Queria estar sentindo o mesmo.

Max começa a adormecer e logo Julia e Gabriel começam a se despedir. Acompanho os dois até a porta e antes de entrar no carro Julia me surpreende com um abraço muito forte. Acaricia meu rosto e com um sorriso que me parece um pouco triste diz:

— Espero que você não me decepcione, Mel.

Suas palavras me atingem como um soco. E assistindo os dois irem embora sinto um vazio imenso dentro de mim. Não quero sentir esse vazio. Mas tenho a impressão de que vai ser a única coisa que vou sentir por muito tempo.

[...]

Pensei que assim que eu caísse na cama eu conseguiria fechar os olhos e viajar para a terra dos sonhos instantaneamente. Me enganei. Toda vez que fechava meus olhos seu rosto aparecia em minha frente. Toda vez que me esforçava para apagá-lo de algum modo ele parecia mais vivido, e me levava as lágrimas.  

Quando o sol entrou pela janela me fazendo lembrar que esse seria outro dia terrível para mim, relutei em levantar da cama, relutei em me arrumar, relutei em descer para o café, porque quando eu passasse por todas essas fases do meu dia, logo chegaria o momento em que ele me diria adeus outra vez. E talvez agora fosse um adeus definitivo. 

Deixo Max assistindo seus desenhos como de costume, e depois de tomar meu café da manhã, começo a fazer minhas tarefas do dia mecanicamente. Rezando que para de algum modo ele venha e me diga que não vai mais embora.

Depois do horário do almoço eu e Ana estamos no restaurante reorganizando as mesas como de costume, quando ouvimos o barulho de pneus derrapando no barro. Meu corpo congela. Minha respiração fica presa na garganta. Tenho vontade de correr daqui para bem longe, para não ter que reviver tudo outra vez.

Não preciso nem levantar meus olhos para saber que ele já está aqui. Eu o sinto. Sinto ele como nunca consegui sentir qualquer outra coisa em toda a minha vida. Ele está em cada fibra do meu ser, em cada batida do meu coração.

— Boa tarde.

Os pelos dos meus braços se arrepiam ao ouvir sua voz. E tudo o que eu consigo pensar é que eu não quero nunca parar de ouvir essa voz.

Tomo coragem e finalmente obrigo meus olhos a fazerem o caminho doloroso até ele. Assim que encaro seu rosto eu posso ver o quanto ele está se mascarando. Eu conheço muito bem seus olhos, e sei que ele está sentindo o mesmo que eu.

Ele está usando a camisa azul que eu guardei por tanto tempo.

— Boa tarde. – Murmuro sem nem ao menos reconhecer minha própria voz.

— Não podemos demorar John. – Diz Mark atrás dele.

— Eu sei. – Murmura John. – Eu vim me despedir. – Ele engole em seco e desvia seus olhos dos meus. – Onde está o Max?

— Lá dentro. – Digo automaticamente.

Ele assente e então passa por mim em direção a sala.

Encaro o chão antes de olhar para Mark, e ele não faz nenhum esforço para disfarçar o quanto continua irritado comigo. Não o culpo. Eu estou irritada comigo mesma.

Pensei muito durante toda a noite, e cheguei à conclusão de que eu não quero ficar sem ele. Cheguei a conclusão de que não quero passar nem mais um minuto da minha vida sem ele. Porém agora que ele está aqui as palavras simplesmente sumiram.

Saio a passos rápidos até a sala e encontro John com Max nos braços. Ele está de olhos fechados e o abraçando com força. Parece não querer soltá-lo. John junta seu rosto ao de Max e o encara bem de pertinho, acariciando seu cabelo loiro. Fico paralisada apenas admirando o quanto eles são parecidos.

As duas pessoas que mais amo no mundo.

— Eu vou te ligar sempre. E quando eu puder eu vou vir te ver. – Diz baixinho com a voz embargada. – Deixar você vai ser a coisa mais difícil que eu já tive que fazer. – Diz de um jeito que faz eu me sentir pior ainda.

Ana passa um dos seus braços pelos meus ombros. E eu sinto que vou desmanchar bem aqui no chão. Agora. Nesse exato momento.

— Obedeça a mamãe, e nada de sair correndo por ai. – Diz John rindo arrancando risinhos de Max.

Max parece não entender. Acho que nem se passa por sua cabeça que ele está indo embora. E de que não sabe quando vai voltar ao vê-lo. Isso faz uma lágrima descer pelo meu rosto.

— Te amo tanto. – Murmura John. – Tanto. – Antes de soltá-lo deixa um longo beijo em sua bochecha.

John limpa o rosto antes de caminhar até mim e Ana. Antes que ele chegue até nos Ana o amassa em um abraço. Ele sorri. E Ana já está em lágrimas.

— Ainda bem que você não fez como da última vez, e não foi sem se despedir. Eu iria ficar muito brava. – Choraminga ainda o abraçando.

— Eu não faria isso de novo. – Diz John se afastando.

Ele me parece tão triste, e isso me destrói por dentro.

Quando seus olhos se dirigem a mim eu sinto como se o chão me faltasse. De repente parece que nada mais pode me manter de pé. Tudo isso está me enfraquecendo.

Eu estou morrendo de medo de ficar sem ele.

Mas não sei como dizer.

— Eu quero manter contato com ele. Sempre. – Diz e vejo a suplica em seus olhos para que eu não impeça isso. – Quero que você me diga qualquer coisa sobre ele, e por favor, qualquer coisa eu vou estar no telefone.

— Eu vou. – É tudo o que eu consigo dizer.

Mantenho meus olhos vidrados em seu rosto. Memorizando outra vez cada detalhe seu. John mantém seus olhos em mim e é como se fossemos apenas nós dois aqui. De repente não existe mais nada ao nosso redor.

Ele não quer me demonstrar fraqueza.

Por favor, diga qualquer coisa. Me peça qualquer coisa uma última vez e eu juro que nunca mais sairei do seu lado. Irei para onde você for. Serei sua até o meu último suspiro.

Diga alguma coisa.

— Adeus, Mel.

São suas últimas palavras antes de sair da minha vida.

Sinto vontade de gritar e implorar para que ele não vá. Mas as palavras não saem. A dor é insuportável. Ele está indo embora, e a culpa é toda minha. Cubro minha boca com as mãos e deslizo até estar sentada contra a parede.

— Mamãe. – Diz Max me olhando com curiosidade.

 E então caminha até mim e me abraça como se quisesse me consolar. Eu o abraço forte e choro sem conseguir conter meus soluços. Sem conseguir suportar mais nenhum segundo sequer dessa angustia que está me tomando por dentro. Fico assim por um longo tempo. Me sentindo a pessoa mais infeliz, e burra do mundo.

Eu procurei por isso.

— Mel – murmura Ana se agachando em minha frente – será que agora você vê o tamanho da besteira que você está fazendo?

— Mas ele já foi Ana. – Choramingo entre soluços. Ana coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e sorri docemente para mim. – Eu o amo tanto, mas tenho muito medo.

— Se você não arriscar você nunca vai saber.

— O que eu posso fazer agora? É tarde demais.

— Só será tarde quando ele pegar aquele avião. Antes disso, você ainda pode fazer alguma coisa. – Arqueia uma sobrancelha. – Por que você ainda está aqui?

Sinto-me aterrorizada, mas estranhamente animada.

— Mas o que eu vou dizer para ele? Eu não sei o que dizer. E se ele me mandar embora?

— Apenas aja Mel. As palavras vão vir na hora. Tenho certeza disso. É sua vez de ir atrás dele Mel. Faça isso. – Diz enérgica.

Eu preciso confiar que ela está certa. Eu preciso ir atrás dele. Levanto-me rápido, passo as mãos embaixo dos meus olhos e sorrio para Ana. Lhe dou um abraço forte antes de pegar a chave do carro. Saio pela porta sabendo que essa é a coisa mais certa que já fiz em toda a minha vida.

[...]

Tento me manter calma e pensar no que vou dizer. Tenho certeza de que ele irá se assustar ao me ver. Eu praticamente o expulsei da minha vida e agora irei implorar para que ele não saia dela.

Estaciono o carro no estacionamento do aeroporto. Sinto meu corpo inteiro tremer assim que coloco meus pés no chão, mas não deixo que isso me impeça de correr atrás do homem que amo.

Espero que não seja tarde.

Entro no aeroporto e o mar de pessoas andando de um lado para o outro faz meu coração se apertar.

Como diabos eu vou achá-lo aqui?

Pensa Mel!

Você precisa pensar!

Vejo uma fila enorme e antes de concluir meu pensamento já estou correndo em direção a ela. Passo correndo por todas as pessoas, posso ouvir todas reclamarem por eu estar furando fila, mas eu só preciso de uma informação.

— Preciso de ajuda! – Praticamente grito afobada.

— Ei, mocinha. – Diz uma senhora baixinha cutucando meu ombro. – Você não pode furar fila. – Ela parece zangada.

Todas as pessoas atrás de mim parecem concordar com a senhora.

Ignoro.

— Eu preciso de uma informação. – Imploro para a moça atrás do balcão com maquiagem demais para o meu gosto.

Ela me olha com cara de poucos amigos.

— Você precisa pegar a fila. – Diz secamente.

— Moça, por favor, eu estou implorando. Eu só preciso de uma informação, e depois vou embora. – Suplico quase em lágrimas. – Por favor!

— Não posso ajudar.

— Olha! O amor da minha vida vai pegar um avião agora e eu não quero que ele vá embora antes de ouvir o quanto eu o amo, e o quanto eu fui uma completa idiota com ele! – Esbravejo sem conseguir me conter. – Eu só preciso saber em que avião ele está. Em que portão ele irá embarcar! Por favor! – Imploro.

Agarro o balcão com força. Sinto meus dedos doerem, mas eu me recuso a tirar meus olhos dela até que ela faça o que eu estou pedindo.

Será que ela não percebe o quanto eu estou enlouquecendo aqui?

— Vamos mocinha. – Diz a senhora ao meu lado se dirigindo a moça com muita maquiagem atrás do balcão. – A mocinha aqui tem um homem para agarrar. Ande logo com isso. Não a faça perder tempo.

Sorrio entre as lágrimas para a senhora ao meu lado que retribui com afeto.

A moça pisca algumas vezes antes de dizer:

— Em que voo ele está?

Exalo em alivio.

— Não sei, mas ele vai para Nova Iorque. – Engulo em seco sentindo o nervosismo tomar conta de mim. – Por favor, veja rápido.

Ela mexe no computador com pressa, e eu agradeço muito por isso.

— O voo para Nova Iorque mais próximo sai daqui há oito minutos. Portão seis.

Arregalo meus olhos e sinto meu coração bater desesperado no peito.

— Você não tem muito tempo. – Diz a senhora agarrando meu braço e me colocando na direção certa antes de começar a me empurrar. – Vá logo! Anda! Se você for rápido você ainda conseguirá agarrá-lo!

— Obrigada. – Murmuro.

De repente estou correndo entre o mar de pessoas, me desculpando com aqueles que não consigo me desviar. Sigo as placas em direção ao portão seis. Apresso meus passos o mais rápido que posso. Pergunto a uns dos seguranças se estou no caminho certo e ele diz que sim.

Corro tanto que sinto meus pulmões pegarem fogo. O ar me falta, mas me recuso a parar de correr, não vou parar até estar em seus braços de novo.

Quando dou de cara com uma placa enorme no alto da parede com o número seis, eu me apresso em olhar ao meu redor. Vejo muitos rostos, mas nenhum deles é o que eu estou procurando. Sinto o desespero começar a se apoderar de mim.

Ele já foi.

Ele já foi.

As lágrimas começam a inundar meu rosto, os soluços começam a vir. Eu cheguei tarde demais. Eu deveria ter dito quando ele estava em minha frente.

Eu o perdi.

Perdi para sempre.

Cubro minha boca com as mãos e tento ignorar os olhares de espanto ao meu redor. Algumas pessoas me olham com espanto, e outras me olham com pena. Abraço-me me sentindo desolada. Quando me viro para ir embora me sentindo completamente derrotada me dou de cara com ele. Me olhando de longe com a alça da bolsa jogada sobre o ombro.

Os mesmos olhos verdes, o mesmo cabelo loiro, o homem da minha vida.

Sem pensar nem mais uma vez eu corro até ele e jogo meus braços ao redor do seu pescoço. Ele deixa a bolsa cair no chão e passa os braços com força ao meu redor me levantando do chão, me abraçando com força. Enterro meu rosto na curvatura do seu pescoço e choro. Choro muito porque o medo de perdê-lo é forte demais para suportar.

— Não vá John. – Suplico o agarrando com força. – Por favor, eu sinto muito. Eu fui uma idiota. Eu te amo, te amo muito. – Choramingo grudando meus olhos nos seus. – Eu vou para qualquer lugar. Eu e Max vamos para onde você for, mas por favor, não me deixe de novo. – Imploro entre soluços.

Seus olhos estão marejados. Ele sorri e encosta sua testa a minha.

— Graças a deus você está aqui. – Murmura ainda me olhando depois do que pareceu um século. – Você diz que eu sou cabeça dura, mas você é muito mais Mel. – Rio ao ouvir isso. – Mas eu quero passar o resto da minha vida com você e com a sua cabeça dura.

Nós dois rimos e eu não suporto mais a vontade de beijá-lo. Grudo meus lábios aos seus o beijando com força, derramando nele toda a minha angustia e meu medo de perdê-lo. Seguro com força seu cabelo entre os meus dedos. Suas mãos agarram minhas costas com força me puxando até ele. Eu quero me fundir a ele. Quero que sejamos um só. Bem aqui. No aeroporto.

— Ah, ah. – Pigarreia Mark.

Nos separamos relutantemente.

— Acho lindo esse momento, mas vocês estão chamando atenção demais. – Diz olhando ao redor.

E então percebo que há muitas pessoas paradas nos olhando de boca aberta. Rio ainda mais, e John também.

Estamos dando um show e tanto.

— Obrigada. – Digo olhando para Mark com gratidão.

Suspeito que tudo o que ele me disse tenha sido para abrir os meus olhos. Eu precisava ouvir aquilo de alguém. John nos olha sem entender nada, mas eu sei que Mark entende. O sorriso em seu rosto diz que eu não o decepcionei.

Acaricio o rosto de John e respiro fundo antes de dizer as palavras.

 Eu quero dizer sim para ele. Quero dizer sim para um futuro juntos. Quero dizer sim para viver o resto da minha vida com ele. Quero dizer sim para a família que vamos ter. Quero dizer sim para dizer que o amo todos os dias.

— Me peça de novo. – Murmuro. – Por favor, me peça de novo.

Seus olhos brilham, e sei que ele sabe do que eu estou falando. Deposita um beijo delicado em meus lábios, e então ainda mantendo seus olhos nos meus se ajoelha a minha frente.

O sorriso em meu rosto é tão grande que parece que vai partir meu rosto em dois.

Meu deus! Como eu pude achar que poderia viver sem ele?

— Melissa, – diz com a voz rouca segurando minha mão entre as suas – eu amo você, e não quero passar mais nenhum segundo da minha vida sem você. Quero você ao meu lado. Quero que seja minha esposa. – Sorri e vejo uma lágrima descer por seu rosto, mas sei que é de felicidade. Chega de lágrimas tristes!— Quer se casar comigo?

Sim!

Mil vezes sim!

Digo as palavras que vão me fazer a mulher mais feliz desse mundo.

Sim para qualquer coisa John, desde que seja com você.

— Sim.

Ele abre o sorriso que conquistou o meu coração. Me pega em seus braços e me gira como se eu fosse uma garotinha. Bem ali, enquanto todos batem palmas e assobiam entusiasmados. Mas de uma coisa eu sei. Ninguém aqui está mais entusiasmado que eu.

John segura meu rosto entre suas mãos enquanto espalha beijos por todo o meu rosto.

Não sabia que alguém poderia ser tão feliz.

Se eu estou tão feliz agora, mal posso esperar pela felicidade que vou ter ao seu lado. Todos os dias daqui em diante.

— Nunca mais vou me separar de você. – Murmura com os lábios roçando nos meus.

— Nunca mais.

E isso é uma promessa.


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