Sob minha pele escrita por Bruna


Capítulo 60
Capítulo 60


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Reta final! O/



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Mel. 

Sempre fui muito cuidadosa em tudo o que me propus a fazer em toda a minha vida. Quando criança, eu morria de medo de decepcionar minha mãe, meus avós. Depois já na adolescência sempre tomei as mesmas precauções, pensando duas vezes antes de fazer qualquer coisa da qual eu pudesse me arrepender depois. Foi assim até o dia em que eu o conheci. Antes dele eu já tinha tudo planejado em minha cabeça. Eu iria para a faculdade na cidade vizinha, estudaria a semana toda e no fim de semana eu viria ficar com o meu avô. Eu terminaria minha faculdade depois de uns três anos, e então eu iria procurar um lugar para morar em Madri. Seria difícil me afastar de tudo isso, mas seria necessário, e meu avô entenderia, afinal, eu estaria morando bem perto. Encontraria um emprego, talvez nessa época eu poderia me apaixonar por alguém, mas nada sério. Eu nunca quis me casar cedo. Antes eu sempre pensei que eu deveria aproveitar bem a minha vida, aproveitar bem todas as oportunidades que ela tivesse para mim. Entretanto, de repente, tudo mudou. Meus planos não faziam mais sentindo. Não fazia mais sentido fazer nada disso se eu não poderia tê-lo por perto. Foi um belo de um tapa na cara. Sempre achei a maior bobeira esse negócio de se apaixonar, eu não entendia o que se passava na cabeça de algumas pessoas para largar tudo e correr às cegas atrás de um amor. Afinal, não tem como saber aonde o amor vai te levar, você apenas se joga e torce para que dê certo.

Foi o que eu fiz.

De repente eu não queria mais nada disso. De repente eu não tinha mais planos. De repente meu único plano era ele, e eu estava disposta a tudo, qualquer coisa por ele. E eu senti que ele queria o mesmo. E então eu me joguei, sem saber para aonde ele me levaria, me joguei e tive fé de que tudo iria dar certo.

Fiquei cega, deixei de ser cuidadosa, não pensei duas vezes, não pensei nem uma vez. Nada mais era controlado. Me lembro de pensar: Como uma coisa tão bonita poderia ser errada?

Não poderia.

Não podia ser.

Foi a maior queda da minha vida. Nunca havia sentido tamanha dor e decepção antes. Me senti traída. Ele não me amava o suficiente para esperar. Ele não me amava o suficiente para entender. Eu confiei nele. Deixei tudo de lado por ele. Eu faria qualquer coisa por ele, mas ele não faria nada por mim.

Como eu confiaria em alguém de novo?

Ele destruiu qualquer fé que eu pudesse ter em alguma coisa.

Depois que ele foi embora eu passei muito tempo triste, deprimida, me perguntando o porquê dele não ter me amado o suficiente para ficar. Me perguntava se eu tinha imaginado tudo. Talvez eu tivesse fantasiado demais, afinal, ele foi o único que chegou perto. O único que me teve. Talvez eu tivesse essa idealização de príncipe encantado dentro de mim. Talvez eu tenha idealizado o John perfeito. Talvez eu não tenha prestado atenção nos sinais. Me esforcei muito nessa teoria, mas a cada vez que eu repassava em minha mente tudo o que tinha acontecido eu não encontrava nenhum sinal de que eu estava errada.

Eu não tinha fantasiado nada. Foi real. Foi muito real.

Isso apenas me fez sofrer mais.

Eu não tinha uma desculpa para o que tinha acontecido.

Ele apenas não quis...

Foi difícil me reerguer, mas eu decidi que faria. Eu iria esquecê-lo, eu iria retomar meus planos antes dele – sem a parte de me apaixonar -, e tudo voltaria a ficar bem.

Mas não foi assim....

Eu engravidei. Meus planos foram pelo ralo uma segunda vez. John não me deixaria. Nunca. Eu teria que aprender a viver com sua lembrança.

Eu estava indo bem. Estava mesmo. Eu tinha uma pessoa a qual me amava, e a quem eu tenho certeza de que um dia eu chegaria a amar. Mas ele tinha que voltar. Ele tinha que bagunçar tudo. Ele tinha que me fazer lembrar o quanto eu o amava. E outra vez ele me vez esquecer de todos os meus planos...

Não fui cuidadosa. Outra vez.

Mas desta vez eu não me permitiria ser cega. Eu não me permitiria ser magoada outra vez, eu não me permitiria ser enganada, ser traída.

Não desta vez!

Nunca mais!

Rolo na cama sem conseguir pegar no sono. O travesseiro ao meu lado ainda está quente. Tem seu cheiro. Tudo em mim tem seu cheiro. Me agarro a ele. Fecho os olhos com força e a imagem que se forma a minha frente parte o meu coração.

Sua expressão desolada ao me encarar e ver que nada mudaria minha decisão. Seus olhos marejados me implorando para mudar de ideia. Sua voz rouca e triste. Sua cabeça cabisbaixa ao passar pelo corredor.

Eu não deveria tê-lo deixado se aproximar de mim. Eu deveria tê-lo afastado. Deveria ter me agarrado mais ao Rafael. Deveria ter lutado, mas por deus! Eu o amo tanto! Tanto! Este deveria ter sido mais um motivo para eu me afastar. Eu sabia o que ele faria comigo. Eu teria evitado tudo isso, mas foi mais forte que eu.

Eu aprendi a viver sem ele quando ele se foi na primeira vez. Eu irei aprender de novo. Claro que agora eu terei que ser mais forte porque entre nós existe o nosso filho. Tenho certeza de que ele não abrirá mão do Max. Ele fará parte de sua vida.

Eu não deveria tê-lo deixado sair a essa hora sozinho!

A forma como ele saiu daqui me deixa de coração apertado. Mas afinal, o que diabos ele estava pensando? Que ele iria me propor casamento e eu feito uma boba iria aceitar, e já no outro dia eu estaria pulando de alegria arrumando os detalhes da cerimônia?

Eu aprendi a lição John!

Eu não sou mais aquela garotinha bobinha. Você deveria saber disso. Eu não vou mais permitir que você me magoe.

Nunca mais!

Levanto-me da cama já que não consigo dormir. Caminho até o criado mudo e vejo que são quatro e trinta e três da manhã. Faz meia hora que ele saiu daqui. Ele já deveria ter chegado a cidade. Assim que ele saiu eu fui a varanda e vi que ele havia levado o carro, por um momento eu temi que ele tivesse sido cabeça dura demais e tivesse ido caminhando.

Resisto ao impulso de pegar o celular e ligar para ele. Eu não deveria fazer isso. Ele não me atenderia de qualquer jeito. E o que eu diria para ele? Que estou preocupada? Depois de tudo o que aconteceu acho que perdi esse direito.

Nossa história acabou essa noite.

Suspiro alto.

Olho ao redor. O quarto escuro parece muito frio, muito vazio. Sinto um calafrio atravessar meu corpo. Essa cama nunca mais vai ser a mesma para mim. Nada que está neste quarto.

— Droga. – Praguejo baixinho. – Eu preciso sair daqui.

Pego uma blusa de frio em meu guarda roupa e parto para o quarto do Max. Chegando lá, abro a porta devagar. A única luz que ilumina o quarto é a vinda de um abajur no canto. Meu pequeno anjo está em um sono profundo. O peito subindo e descendo, o som suave de sua respiração preenchendo o quarto, completamente alheio ao o que aconteceu a menos de uma hora. Caminho até a cama e me deito ao seu lado. Puxo o cobertor para me cobrir, e me agarro ao pedacinho de John ao qual eu nunca conseguiria me desfazer.

Eu estou fazendo o que é certo, eu sei que estou.

Mas porque dói tanto?

— Vai ser o melhor. – Murmuro baixinho me agarrando a Max. – É melhor que acabe de uma vez. Só assim, finalmente, eu vou poder viver de novo.

Nós precisávamos disso.

Precisávamos de um ponto final.

Não tivemos um ponto final antes. Foi tudo muito de repente. É o certo agora.

Sinto uma lágrima solitária descer por meu rosto. Sinto o vazio em meu peito doer, sinto a angustia de seus olhos apertarem o meu coração.

[...]

Entro na cozinha com um Max ainda meio sonolento em meu colo. O rostinho apoiado em meu ombro. Os bracinhos ao meu redor. Ana está de costas para mim mexendo algum tipo de massa com vontade.

Sorrio.

— Bom dia, Ana. – Digo puxando uma cadeira da mesa para me sentar. – Acordou muito cedo? – Pergunto enquanto ajeito Max em meu colo.

— Não. Levantei quase agora. – Diz secando as mãos no avental. – E você, meu amor. Como está? – Pergunta carinhosamente acariciando o rosto do Max.

— Ele passou a noite com um pouco de febre. Mas pelo menos já estava tão quente quanto anteontem.

— Tenho certeza de que logo você irá ficar bem, não é?

Max sorri, e enfia a cabeça na curvatura do meu pescoço.

— Acho que alguém não está para muito papo hoje. – Diz Ana deixando um beijo em sua bochecha. – Onde está o John? Está no banho? – Pergunta casualmente voltando a sua tarefa.

Sinto um nó se formar em minha garganta. Me inclino e coloco um pouco de café na xicara a minha frente.

Eu sei. Eu estou deliberadamente ignorando a pergunta dela. Mas eu só faço isso porque eu sei o que isso vai desencadear. Depois de todos esses anos eu ainda não entendo o porquê dela sempre ficar ao lado dele, e sempre achar que quem faz besteira sou eu.

— Não ouvi sua resposta. – Resmunga me olhando com curiosidade.

— Ele saiu cedo. – Respondo baixinho.

— Cedo? Mas agora é cedo. Aconteceu alguma coisa?

— Ana, por favor, será que eu posso tomar café sem ter que falar sobre isso? – Pergunto cansada de todo esse assunto. Cansada de ver todos agirem como se soubesse melhor do que eu o que é melhor para a minha vida.

Ana cruza os braços em frente ao corpo e me olha com a sobrancelha arqueada.

— O que aconteceu?

— Não quero falar sobre isso agora. – Resmungo. Coloco toda a minha atenção em Max. – Vamos comer alguma coisa, Ursinho? – Pergunto tirando uma mecha de seu cabelo loiro da frente de seus olhos.

— Não, mamãe.

— Você tem que comer Max. Lembra o que a mamãe disse? Você não quer crescer e ficar forte? – Pergunto delicadamente.

— Papai?

— Seu papai vai vir te ver a tarde. Quando ele sair do trabalho. Mas agora você precisa comer alguma coisa, por favor. – Deixo um beijo delicado em sua mãozinha.

Sinto os olhos de Ana me observando como os olhos de um falcão.

Depois de muito insistir eu consigo fazer Max tomar sua mamadeira. Assim que ele termina eu o levo até a sala e o deixo em seu cantinho preferido. Coloco seus brinquedos preferidos ao seu redor, mas ele parece não ter o menor interesse neles. Ele se agarra ao presente que John deu.

— Mamãe vai te deixar assistir seus desenhos. Qualquer coisa é só me chamar, tudo bem? – Pergunto.

Ele assente sem tirar seus olhos da Tevê. Deixo um beijo em sua testa e sigo para a cozinha onde encontro Ana e Julia cochichando.

— Não sabia que já estava aqui Julia. – Digo sorrindo.

Ela sorri e vem até mim, onde me esmaga em um abraço.

— Eu vim para ir na feira, mas estava lotada demais. Vou dar um tempo aqui, depois eu volto. E eu também estava preocupada com o Max. Como ele está? Ele já melhorou? Você está dando o remédio direito, não é?

Bem a cara de Julia fazer mil perguntas ao mesmo tempo.

Reviro os olhos.

— Ele está bem melhor. O remédio está fazendo efeito. E tenho certeza de que podemos arrumar alguma coisa para você fazer aqui. – Digo cutucando seu ombro para provocá-la.

Julia ri.

— Onde está o John? Está dormindo ainda? Você deve ter dado uma canseira nele ontem a noite. – Comenta rindo enquanto coloca um pouco de café em uma xicara. – Ou ele já foi trabalhar?

— Segundo a Mel, ele saiu cedo, mas ela não quer falar sobre o assunto. – Alfineta Ana.

Faço cara feia para ela.

Eu estava tentando manter meu humor intacto depois do que houve ontem à noite, mas vejo que vai ser impossível.

— Aconteceu alguma coisa? – Pergunta Julia bebericando seu café. – Vocês pareciam tão bem ontem. Vocês brigaram?

Sento-me na cadeira e enterro meu rosto em minhas mãos.

— Nós acabamos com tudo.

Uma horas elas vão ter que saber. Não tem porque eu esconder. Lá vem a chuva de perguntas.

— Acabaram? Assim de uma hora para outra? Como isso aconteceu? – Pergunta Julia sem conseguir esconder sua inquietação.

— Boa sorte tentando arrancar isso dela. – Diz Ana com sarcasmo.

— Acabou! – Explodo irritada. – Todo mundo aqui já sabia que uma hora isso iria acontecer. Não sei porque estão tão surpresas!

— Eu achei que vocês estavam juntos de novo, que iriam tentar. – Murmura Julia com as sobrancelhas franzidas. – Ele vai voltar para Nova Iorque?

— Vai. Na sexta-feira.

— Mas ela não falou sobre isso com você, quer dizer, vocês não entraram em um acordo?

— Ele vai, e eu vou ficar aqui com o meu filho.

Esse é o maldito acordo!

— Por quê? – Pergunta boquiaberta. – Isso está me parecendo muito mal contado. Ele estava tão empolgado. Eu realmente achei que ele iria te pedir em casamento. – Observo seu semblante se iluminar. – O que você fez? – Seus olhos estão me fulminando.

Essa pergunta me irrita além do limite.

Parece que todos se esqueceram de tudo o que ele me fez passar. De repente eu sou a doida varrida da história.

— Eu não fiz nada! – Retruco mal humorada. – Mas que droga! Parem de cuidar da minha vida!

— Nós não teríamos que cuidar da sua vida se você não fosse tão cabeça dura! – Diz Ana parecendo irritada.

Isso me espanta. Eu não a vejo irritada comigo há muito tempo.

— Não sou cabeça dura. – Cochicho.

— Pare de cochichar como se você tivesse dois anos de idade. – Me repreende Julia. – Mel, eu só quero te ajudar. Ajudar vocês dois na verdade.

Eu sei que é isso o que ela quer. Na verdade, é o que ela faz desde sempre. Mas eu não quero ter que ficar falando desse assunto, ter que explicar o que nem eu mesma entendo.

— Ele me disse que iria embora. – Digo baixando minhas guardas. – Ele me pediu para que eu fosse com ele. E eu disse que não iria.

— O quê!? – Exclama Julia.

— Meu deus! Ela perdeu a cabeça. – Diz Ana incrédula.

— O que vocês esperavam que eu fizesse? Que eu fosse com ele? Que eu mudasse minha vida toda por causa dele. Por causa do que ele precisa? Eu já fiz isso uma vez, e não vou fazer de novo!

— Você está sendo egoísta demais Melissa! – Diz Ana séria. – Olha, desde que toda essa história começou há três anos, eu tento não me envolver demais. Tento não meter o nariz em sua vida, mas eu estou vendo agora que eu preciso. – Suspira como se estivesse muito irritada. – Pare de tentar odiá-lo, porque você nunca vai conseguir. Eu vejo vocês juntos. Vocês se amam. Se amam demais. Você só vai atrair mais tristeza para a sua vida se você não se deixar tentar de novo. E também tem o Max. Ele idolatra o John. Você tenta se afastar do John, e vai acabar afastando o Max também.

— Então o quê? – Levanto-me sobressaltada. – Por que nós temos um filho, eu preciso ficar com ele?

Isso é tão medieval!

— Não leve as coisas por esse lado. – Julia está soltando punhais pelos olhos. – Ele faria qualquer coisa por você!

— Ele não fez nada por mim há três anos, quando eu precisei. – Digo secamente.

— Esquece isso! – Grita Ana me assustando. – Você se martiriza com isso há tanto tempo que acho que não consegue mais viver de outro jeito. Pare de ser orgulhosa menina! Se você o odeia como quer fazer parecer, então porque esteve com ele esses dias? Por que o brilho em seus olhos toda vez que estava com ele?

— Por que eu fui idiota e me deixei levar pelos conselhos da Julia! – Explodo.

— Não me envolva nisso Mel. Você foi porque você o ama.

Sento-me na cadeira outra vez e enterro meu rosto em minhas mãos. Sinto as lágrimas caírem e não posso fazer nada para contê-las. Eu estou tão cansada disso tudo. Eu o amo. Mas alguma coisa dentro de mim quer bloquear isso.

Ele me deixou aqui.

Nunca se importou.

Nem uma vez sequer.

Isso dói tanto.

— Por que ele nunca ligou, Julia? – Pergunto entre soluços. – Por que ele nunca tentou falar comigo? Por quê? Se ele me ama tanto quanto diz então porque demorou tanto.

Julia se ajoelha em minha frente com os olhos transbordando compaixão.

— Vocês dois não ligaram, vocês dois não voltaram atrás Mel. Nenhum de vocês deu o primeiro passo. Você tem que pensar que agora ele está aqui, e te ama, e quer ficar com você e com o seu filho. – Julia suspira como se estivesse sem paciência. – Já pensou que ele pode se apaixonar por outra pessoa? Que ele pode cansar de esperar você?

Esse pensamento faz meu estômago embrulhar. Faz meu sangue fervilhar nas veias. Se caso isso acontecesse seria mais uma prova de que ele é um mentiroso, e que sempre me enganou!

— Que ele arrume! Que seja feliz bem longe de mim! – Explodo.

— Não é isso o que você quer. Qualquer um percebe que você disse isso da boca para fora!

E mais uma vez ela tem razão. Por deus! Não é isso o que eu quero. Eu morreria se a parte minha que vive nele morresse.

— Eu não consigo perdoá-lo Julia. – Choramingo. – Não consigo.

Julia me abraça e eu me permito chorar em seus braços. Sinto os soluços fortes me machucarem por dentro. Sinto meu fôlego faltar. Sinto meu coração doer no peito.

Eu queria tanto poder esquecer tudo isso.

— Eu não reconheço você há muito tempo Mel. – Murmura Julia acariciando meu cabelo. – Você mudou muito desde a morte do seu avô, e desde tudo o que aconteceu com o John. Não deixe que isso te sufoque mais.

— Já sufoca Julia. E eu não sei como fazer parar.

[...]

Estou terminando de passar a cobertura de chocolate nos bolos que foram feitos essa manhã. Meus dedos estão cobertos de chocolate. Não resisto e os levo a boca. Limpando um por um.

— Já acabei esses aqui Ana. – Digo enquanto lavo minhas mãos na pia, e depois as seco.

Ela apenas aquiesce sem olhar para mim. Ela ainda está chateada.

Antes de ir para a sala eu caminho até a janela e me pego olhando para a estrada sentindo o coração bater desesperadamente no peito.

Ele disse que viria ver o Max. Não sei como vão ser as coisas agora. Como eu vou encará-lo? Não sei como agir, sem me sentir desconfortável. Eu vou ter que aprender. Eu preciso aprender porque eu terei que conviver com isso.

Paro na porta para observar meu garotinho brincando entretido. Ele está desenhando alguma coisa. Sorrio. Os olhinhos verdes focados nos papéis, os dedinhos pequenos segurando o lápis da melhor forma que ele consegue.

— Mamãe – diz quando me nota parada feito uma boba – olha! – Ergue o papel para que eu veja o que ele está desenhando.

Me esforço, mas não consigo identificar o que é. São muitas cores misturadas.

— Está lindo. – Digo me aproximando e sentando-me ao seu lado. – Você fez para mim? – Pergunto me sentindo uma mãe muito boba e orgulhosa.

— Papai, mamãe. – Diz docemente.

Sinto um aperto no peito. Tenho medo de que ele sinta muita falta do John quando ele se for. Não quero ver meu menininho triste.

— Acho que ele vai adorar o seu desenho. – Murmuro sentindo um nó na garganta.

Meu anjinho abre o melhor dos sorrisos.

Ouvimos um barulho de carro do lado de fora e no mesmo instante Max se levanta afobado e passa por mim correndo.

— Papai! – Chama.

— Max! – Grito. Levanto-me e saio às pressas em seu encalço. – Max, você pode cair e se machucar!

Ele não me dá ouvidos. Parece um furacão loiro correndo entre as mesas. Tento agarrá-lo, mas não consigo. Ele é mais rápido.

Assisto tudo em câmera lenta. Max passando por entre as portas e o carro se aproximando. Sinto meu coração vir a boca. O carro freia, mas não a tempo de impedir o impacto.

— Max! – Grito.

Vejo meu garotinho ser arremessado com força e não posso fazer nada para impedir. Sinto meu corpo gelar. Não escuto nada ao meu redor tudo o que eu vejo é o meu garotinho no chão sem se mexer.

— Meu deus! – Recobro as forças de algum jeito e corro até ele. Ajoelho-me ao seu lado e ele não está se mexendo. Sinto o desespero me tomar. - Max. – Chamo sem saber o que fazer. – Ana! – Explodo em lágrimas.

— Meu deus, Mel, eu não o vi! – Diz Pedro. – Eu vim trazer as encomendas da Ana, eu não o vi passando, foi muito rápido!

Eu tenho medo de mexer nele. Tenho medo de machucá-lo, mas ele já está machucado. Vejo um corte em sua testa. O sangue escorrendo. É muito sangue.

Meu deus, eu não sei o que fazer.

— Meu deus Mel! – Grita Ana assim que vem ao meu encontro. – O que aconteceu?

Sinto as lágrimas molharem meu rosto por completo. Me sinto impotente sem saber o que fazer. Sinto uma dor intensa em meu peito.

— Ele ... – Digo entre soluços. - ... ele pensou que fosse o John. Ele saiu correndo eu não consegui segurá-lo Ana. Ele não acorda! – Grito em desespero. – Por que ele não acorda, Ana!

— Nós precisamos chamar um médico! - Grita Ana aflita.

— Mas vai demorar demais! Não quero esperar!

— O que houve? – Grita Julia se aproximando de mim. – O que aconteceu Mel?

— Eu não o vi chegando – diz Pedro. – Ele atravessou a frente do carro, eu tentei parar, mas não consegui.

— Vamos. Pegue-o Mel. Vamos levá-lo ao hospital agora! – Grita Julia me forçando a sair do meu estado de angustia.

Eu não posso ficar aqui. Eu tenho que fazer alguma coisa. Meu filho está machucado, e eu não tenho o direito de pensar em mim agora. Não tenho o direito de deixar o pânico me consumir. Eu preciso agir.

— Você pode nos levar Pedro? – Pergunta Julia ainda nervosa.

— Claro! Vamos!

Meu deus, não deixe nada acontecer com o meu filho.

Pego Max em meus braços com todo o cuidado do mundo. Meu anjinho. Corro para o carro onde Julia me espera com a porta aberta. Estou com medo. Estou com muito medo. Estou assustada. E no meio de tudo isso eu só consigo pensar que eu preciso de uma pessoa.

John.

[...]

Max acordou no meio do caminho. O que me deixou muito aliviada, mas também de coração partido. Ele chorou durante todo o caminho como se estivesse sentindo muita dor, e tudo que doía nele de algum jeito doía em mim também. Se eu pudesse eu sentiria tudo por ele. Eu tentei de todos os jeitos acalmá-lo, mesmo sabendo que não adiantaria.

Eu só quero que ele fique bem.

Assim que chegamos ao hospital eu não consegui segurar meu desespero. O jeito como meu garotinho chorava me dizia que alguma coisa estava errada. Rafael veio rápido, Julia havia ligado para ele no meio do caminho. Ele não esperou nem um minuto, e assim que ele tirou Max dos meus braços eu instantaneamente me senti vazia. Senti uma dor aguda de medo e desespero em meu coração assistindo a imagem do meu garotinho sendo levado enquanto chamava por mim.

De repente eu senti tudo de novo. Tudo o que senti naquela noite. Na última noite em que vi meu avô. Eu estou de novo aqui. Sentindo o mesmo medo. E eu só consigo pensar nele.

— Vai ficar tudo bem minha querida. – Murmura Ana passando os braços por sobre meus ombros. – Não fique assim. Você vai ver que tudo vai ficar bem.

— Ele estava muito machucado Ana. – Choramingo com sofreguidão. – Meu menininho. Foi tudo culpa minha. Eu devia ter segurado ele. Eu não consegui.

— Mel, nós bem sabemos como o Max pode ser. Não foi culpa sua, não foi culpa de ninguém. Foi só um susto. Tenho certeza de que vai ficar tudo bem. – Diz Julia apertando minha mão com força. – Vou ligar para o Gabriel, ele deve estar aqui em algum lugar. Também preciso ligar para o John.

Claro. Por favor, faça isso.

 Eu tenho vontade de falar, mas fico quieta. Não digo nada. Por que eu sou uma mula que gosta de se martirizar.

— Estou com tanto medo. – Murmuro. – Se alguma coisa acontecer com o meu filho eu não sei o que vai ser de mim.

Eu sou uma péssima mãe. A Pior de todas.

— Não vai acontecer nada. – Diz Ana enérgica.

E eu quero com todas as minhas forças acreditar em suas palavras.

[...]

Estamos na sala de espera e até agora ninguém apareceu. Eu estou muito nervosa, muito apreensiva. Odeio esperar. Ainda mais quando são notícias da pessoa mais importante no mundo para mim. Estou tentando segurar o choro, porque eu sei que preciso ser forte, e eu sei como se faz. Eu venho desempenhando esse papel há muito tempo.

Mas porque demoram tanto?

Eu quero saber como está o meu ursinho!

De repente ouço um burburinho no corredor. E assim que a voz está perto o suficiente para que eu saiba de quem se trata sinto uma onda de alivio me invadir.

Ele está aqui!

Não estou sozinha desta vez.

Assim que John aparece em meu campo de visão, eu perco a linha de raciocínio. Perco tudo. Tudo o que eu quero é que ele me prenda em seus braços e faça tudo de ruim ir embora. Quero que ele me abrace e me diga que tudo ficará bem. Ele parece assustado. Preocupado. Ele é o meu retrato nesse momento. Antes que eu perceba minhas pernas já estão correndo em sua direção. Meus braços já estão o envolvendo com força. Meu rosto já está enfiado em seu peito. E eu já estou chorando descontroladamente. Sinto seus braços me envolverem. Ele repousa a cabeça sobre a minha.

E agora eu estou segura.

— O que aconteceu Mel? – Pergunta ofegante. – Julia disse que aconteceu alguma coisa com o Max, mas não quis me dizer o quê. Onde ele está? – Posso sentir o medo em sua voz.

Afasto minha cabeça de seu peito e o encaro. Posso enxergar a preocupação inundando o verde. Eu nunca o vi assim antes.

— Ele foi atropelado John. – Dizer essas palavras faz a bile subir por minha garganta.

Odeio essa palavra!

Odeio!

— Atropelado? – Exclama arregalando os olhos. – Onde? Meu deus! Como?

— Ele estava em casa. Estava na sala. Ele estava desenhando. E nós ouvimos barulho de carro, ele achou que fosse você e saiu correndo. Eu não consegui segurá-lo. Foi horrível John. – Enterro meu rosto em seu peito de novo.

Eu preciso senti-lo perto.

Não o quero longe agora.

Eu preciso dele.

— Meu deus! – Exclama como se não soubesse o que dizer. Ele parece tão perdido quanto eu.

— Ele estava muito machucado. – Murmuro com a voz abafada. – Ele ficou desacordado, e depois quando acordou ele chorou muito, e eu não sabia o que fazer. – John aperta mais seus braços ao meu redor.

— Vai ficar tudo bem. Eu sei que vai. Nosso garotinho vai ficar bem. – Diz como se quisesse com todas as forças acreditar nas próprias palavras.

E eu também quero. Quero muito.

Deixo que ele me abrace, porque é aqui que eu quero estar. Foi aqui que eu sempre desejei estar quando as coisas ficaram ruins. Esse é o lugar onde tudo parece ficar bem. Onde nada pode me atingir.

De repente me lembro de nossa briga, e tudo parece tão distante, tão sem importância agora.

Ficamos mais alguns minutos esperando, e durante esse tempo Gabriel e Mark se juntam a nós. John está andando de um lado para o outro. Inexpressivo. Ele não diz nada, apenas não consegue ficar parado. Enquanto a mim, eu poderia segurar meu coração nas mãos agora. Ele me abraçou quando chegou, mas agora está distante, além disso, agora eu consigo ver. Tem algo em seus olhos. Algo no jeito como ele olha para mim. Não gosto daquele olhar.

De repente vemos a porta sendo aberta e uma enfermeira vem em nossa direção. John sai em disparada e antes que eu consiga abrir a boca ele já está despejando um caminhão de perguntas em cima da mulher. Perguntas. Em espanhol! Ele não sabe falar espanhol. Pelo menos não sabia quando esteve aqui pela primeira vez. Eu poderia passar mais tempo mantendo minha atenção nesse assunto, mas eu quero saber do meu filho.

Eu preciso que ele esteja bem.

Aproximo-me dos dois.

— Ele quebrou o braço – a ouço dizer e sinto o fôlego me faltar. – Ele estava com muita dor então tivemos que ceda-lo. Ele está desacordado então não se assustem quando forem vê-lo.

— Não é nada mais sério, não é? – Pergunta John sem deixar de encará-la. – Ele bateu com a cabeça. Ele estava desacordado!

— Nós fizemos uma tomografia Senhor ... – ela olha para John com um ponto de interrogação praticamente estampado em sua testa.

— Ackes. – Diz John secamente.

— Senhor Ackes. Você pode fazer as perguntas ao médico. Ele está esperando na sala.

Então gira em seus calcanhares e sai desfilando pelo corredor.

John não me espera e sai em disparada até a sala do médico. Ele parece surpreso ao ver que é Rafael, porém a expressão de surpresa não dura mais de dois segundos.

— Como ele está? – Pergunta sem rodeios.

Rafael pisca algumas vezes como se fosse desconcertante nos ver juntos. Nós dois. Como os pais do Max.

— Ele está bem. Vocês podem se acalmar. Ele quebrou o braço, e eu tive que dar alguns pontos na testa, foi um corte profundo. Ele deve ter machucado com o impacto. Ele está dormindo agora.

— Eu quero ver meu filho. – Diz John com autoridade.

Posso ver em seus olhos que ele está sofrendo tanto quanto eu.

— Vou levá-los até ele. – Diz Rafael apontando para a porta.

Sinto um vazio enorme. John me abraçou quando chegou, ou eu o abracei, mas isso não importa. Porém nos últimos minutos ele não fez nenhum esforço para se aproximar de mim. Na verdade parece que ele construiu um muro entre nós dois.

Isso está machucando. Muito mais do que eu posso suportar.

Assim que Rafael abre a porta do quarto eu me esqueço de mim e John. Meu garotinho está deitado com a cabeça encostada em um travesseiro muito grande para ele. Os cabelos loirinhos bagunçados, os olhinhos fechados, o biquinho mais lindo do mundo. Solto o fôlego que eu nem sabia que estava segurando.

Corro até a cama e seguro sua mãozinha. Tem um curativo em sua testa, e bracinho direito engessado. Sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto. John está do outro lado da cama. Ele olha para Max com os olhos injetados como se quisesse ter certeza de que ele está realmente aqui. De repente ele faz algo que me deixa encantada. Ele se debruça sobre o nosso filho. Apoia a cabeça ao seu lado no grande travesseiro. E chora. Mas não é um choro contido. É um choro de dor, como se ele estivesse prendendo isso desde o momento em que chegou aqui. Tenho vontade de consolá-lo. Mas alguma coisa me diz que eu não devo fazer isso. Talvez seja o fato de ele estar evitando olhar para mim. Me ignorando.

Permito que os dois tenham esse momento, e me torno apenas uma espectadora.

— Sinto muito. – Ele murmura com a voz entrecortada – Se eu pudesse eu te protegeria de tudo. Sinto muito por não ter estado ao seu lado, sinto muito por não poder fazer isso agora.

Isso parte o meu coração. Eu quase posso ouvir os caquinhos caindo no chão. Engulo em seco.

John levanta o rosto, passa a mão pelo cabelo do Max, e eu morro de vontade de fazer o mesmo.

Mas com os dois...

Tenho vontade de dizer que ele pode estar com ele. Mas eu sei ao que suas palavras se referem. Ele vai estar longe. Ele não vai estar perto.

Devagar eu me deito ao lado de Max, e ficamos assim, com ele entre nós. Em nenhum momento John tira seus olhos de Max.

Ele é o nosso mundo.

[...]

John está olhando o celular com o cenho franzido. Max ainda não acordou e já está de noite. Tenho a impressão de que ele precisa fazer alguma coisa.

— Você pode ir se precisar John.

— Quero estar aqui quando ele acordar.

— Eu estou vendo que você está inquieto. Se você tiver alguma coisa para resolver, pode ir.

— Não quero deixar vocês dois sozinhos. – Diz caminhando até a janela. Parando ali e observando a rua. Dando as costas para mim.

Engulo em seco.

— Não vou ficar sozinha. Julia e Ana ainda estão aqui. – Respondo me levantando e caminhando até estar logo atrás dele. Respiro fundo. – Você está estranho.

— Estranho? – Pergunta sem se mover.

— Você mal olha para mim. – Digo baixinho.

Ele dá um longo suspiro. Permanece quieto, como se quisesse fingir que eu não estou aqui. Como se quisesse ignorar minhas palavras.

É como um soco muito forte em meu coração.

— Eu não sei o que você quer. – Diz e pelo seu tom de voz eu sei que ele não está muito contente. – Você diz que não quer nada comigo. Deixa bem claro que não existe a menor possibilidade de ficarmos juntos. Como você quer que eu haja com você? – Pergunta ríspido.

Isso meio que me assusta.

Dou um passo para trás.

— Não precisamos ficar desse jeito, nós...

— Não sei de que outro jeito eu poderia ficar. Estou tentando me manter afastado Mel. Estou tentando evitar que você acabe comigo outra vez – outra vez?— você deveria fazer o mesmo.

Se vira e caminha até a cama onde Max está e deposita um beijo em sua testa. Pega a jaqueta que estava jogada em uma cadeira e a veste, e então fixa seus olhos em mim. Eu preferiria que ele não tivesse feito isso. Sinto-me encolher sob seu olhar. Sinto-me sem chão.

— Eu volto mais tarde. – Diz e então sai do quarto.

Permaneço ali no mesmo lugar, embasbacada com sua indiferença, embasbacada com a forma fria com a qual ele me olhou. Ouço um som abafado e demoro a perceber que ele veio de mim. É um soluço. Está doendo. Está despedaçando tudo dentro de mim.

[...]

Já passa das duas da manhã. Ana e Julia estiveram aqui, mas já foram. Max vai ficar em observação. John voltou, mas fez questão de me ignorar como se eu fosse a coisa mais insignificante que já pisou nesse mundo. Talvez eu esteja exagerando, mas é assim que me sinto.

Nas poucas palavras que trocou comigo disse apenas que iria comprar um café. Perguntou se eu queria um, e eu disse que não. Começo a me arrepender disso.

 Uma enfermeira entrou no quarto para examinar Max há alguns minutos. Estou encolhida em uma das cadeiras.

— Você vai demorar muito aqui? – Pergunto para ela.

— Um pouco.

— Eu queria ir até a lanchonete comprar um café, mas não quero deixá-lo sozinho.

— Eu fico com ele. – Diz com um sorriso amigável no rosto.

— Obrigada. – Digo agradecida.

Levanto-me da cadeira desconfortável e antes de sair deixo um beijo demorado no rostinho do meu anjinho loiro. Saio do quarto e antes de dar dois passos dou de cara com Mark. Ele parece querer me dizer alguma coisa. Decido falar quando se torna constrangedor.

— Não sabia que estava aqui.

— Vim trazer um recado para o John, o pai dele estava preocupado.

— Claro. – Murmuro. – Eu vou comprar um café.

Mark passa as mãos por entre os cabelos e suspira alto.

— Eu não devia me meter, mas que se foda. – Diz decidido. – Não gosto do meu amigo quando ele está com você. Não gosto de como você o deixa. Ele chegou aqui com medo, e depois confiante, e então você deu uma chance e ele ficou feliz como eu não o via há muito tempo, e então de repente você decide que não pode ser. E antes que eu possa piscar ele está no fundo do poço de novo.

Do que ele está falando?

— Você o fez sofrer por anos sabia? Sabe quantas vezes eu o encontrei chorando como uma criança por sua causa nesses últimos anos? Sabe quanto tempo ele demorou até conseguir viver de novo como uma pessoa normal? – Ele parece irritado, e eu sinceramente não sei o que dizer. – Ele demorou muito tempo Mel. Eu o conheço desde criança, e eu nunca o vi tão mal por nada. Só por você.

Abro minha boca para dizer algo, mas não encontro nada.

— Tenho uma novidade para você. Você não é a única pessoa nesse mundo que tem um coração. Você não é a única pessoa que pode ser magoada.

— Eu nunca quis magoá-lo. – Digo desconcertada tentando me defender.

— Mas você magoou. Magoou antes, e está magoando agora. Eu não vou ficar quieto dessa vez assistindo o seu egoísmo. – Diz secamente. – Você escondeu um filho dele! Isso não se faz! Eu conheço bem o meu amigo para saber que ele nunca vai se perdoar por não ter feito parte da vida do Max desde o primeiro momento, e não vai ter nada nesse mundo que tire essa culpa dele, mas nós dois sabemos que a culpa é unicamente sua.

Ele não tem o direito de jogar isso sobre mim!

— Você não entende. Eu não tive escolha. – Digo irritada. – Você não sabe de nada, você nunca sequer amou alguém, não sabe do que está falando.

Mark suspira e encara suas botas.

— Posso nunca ter me apaixonado, mas eu amo o meu amigo porque ele é como um irmão para mim. Este é um dos motivos de eu estar aqui tendo essa conversa estranha com você. – Volta a me encarar. – Sei que as coisas entre vocês foram complicadas, acredite eu tive que ouvir muito sobre você, mas vocês podem acertar tudo agora, e eu realmente estava torcendo por isso. Por que você se aproximou dele afinal?

Por que eu o amo.

Não respondo sua pergunta. Não tenho coragem. Permaneço o encarando.

— Não o faça sofrer mais Mel. – Diz baixinho. – Você não foi a única que sofreu durante esses anos. Não pense que a dor foi só sua. Aquele cara te ama mais que tudo, de um jeito que eu nunca vou entender. Você é uma idiota se deixá-lo ir. E se caso você deixar, eu vou torcer para que ele encontre uma pessoa que saiba valorizá-lo. E quando ele for feliz, quando você estiver completamente apagada do coração dele. Nesse dia Mel, eu vou ter pena de você.

Antes que eu possa responder ele já me deu as costa, me deixando ali, desconcertada no meio do corredor.


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Notas finais do capítulo

Tadinho do Max! :(
Acho que a Mel mereceu esse choque de realidade, não é?
Palmas para o Mark! ♥