Sob minha pele escrita por Bruna


Capítulo 62
Capítulo 62 ÚLTIMO CAPÍTULO.


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Venho aqui postar o último capítulo desse romance que viveu apenas em minha cabeça durante muito tempo antes de eu finalmente decidir dividir com vocês.
Muito obrigado à todos que acompanham desde o inicio, e aqueles que começaram agora também. Espero que eu tenha feito vocês se emocionarem com essa estória, assim como eu mesma me emocionei.
Este é o último capítulo, porém como eu sou muito boazinha irei postar o epílogo no domingo. Aí sim iremos nos despedir desses dois.
Espero que nos vejamos logo em um novo romance. ♥



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Mel.

A melhor parte de todas com toda a certeza foi vê-lo pegar sua bagagem e voltar comigo de mãos dadas para onde eu nunca deveria tê-lo deixado sair. O caminho pareceu bem mais longo do que o de costume. Eu precisava estar com ele. Precisava senti-lo. Sentir em minha pele que ele realmente estava comigo. Sentir que desta vez, finalmente, seria para sempre.

Assim que descemos do carro meu coração implorou para que eu o levasse onde tudo começou. E é por isso que estamos na cabana. Onde nos entregamos um ao outro, há três anos atrás.

O cheiro ao nosso redor. Cada cantinho deste lugar me inunda de memórias, este foi o motivo para que eu evitasse a todo custo vir aqui. Mas estando aqui, agora, com ele, outra vez, me faz ver o quanto essas memórias aquecem o meu coração, e também me fazem perceber porque eu as odiei tanto. Foi simplesmente porque foram maravilhosas, inesquecíveis. O tipo de memórias que levamos até o último suspiro. São aquelas que dão valor a vida. Era doloroso me recordar, e pensar que eu nunca as viveria de novo. Ainda bem que as coisas não foram como eu pensei. Amo nossas memórias antigas, e mal posso esperar pelas que virão.

— Morri de medo de não ter chegado a tempo. – Digo de olhos fechados, relaxada, ouvindo apenas o som de sua respiração.

— Mesmo que eu tivesse pegado aquele avião. Se você me pedisse, eu voltaria.

Era o que eu precisava ouvir.

— Você fala espanhol?

John ri e me puxa mais contra seu corpo.

Estou deitada contra ele, admirando nossas mãos juntas e tentando controlar as emoções que me inundam por dentro. Preciso me controlar. Ou faremos amor pela quarta vez consecutiva.

— Eu aprendi. – Diz parecendo um pouco tímido. – Achei que se você falava a minha língua seria justo que eu também falasse a sua.

— Mas nós não estávamos mais juntos. – Murmuro.

John engole em seco.

— Nunca consegui pensar em você como uma pessoa que deixei no passado. Sempre que eu fechava os olhos e imaginava o futuro, você estava nele. Sempre esteve. Sempre foi assim, desde o momento em que entrei por aquela porta e te vi naquele balcão. – Sinto alguma coisa dentro de mim se derreter. – Acho que demorei tanto por medo.

— Medo? – Pergunto curiosa.

— Medo de voltar aqui e ver que aquele futuro não existiria.

— Mas agora existe. – Digo virando-me para encará-lo com um sorriso no rosto. Olhá-lo agora me transporta no tempo. – Nós vamos ficar juntos agora. Nós três.

John abre um sorriso encantador.

— Eu sempre soube que eu havia deixado algo muito importante aqui. Mas nunca passou pela minha cabeça que seria os meus dois maiores tesouros.

Sorrio ainda mais, se é que é possível.

Inclino-me para beijá-lo com tudo o que tenho. Juntando cada centímetro do meu corpo ao dele. Deixando que ele me aperte nesta cama pequena, exatamente como ele fazia há tempos atrás.

— Eu falei sério. – Murmura com os lábios colados aos meus. – Eu quero me casar com você. Quero que você tenha meu nome. Quero que todos saibam que você é minha.

Rio.

— Todos já sabem disso, John. – Digo rindo.

— Mas eu quero que seja real. Quero te ver vir até mim vestida de branco, todas as pessoas que nós amamos nos assistindo. Quero ouvir você dizer sim, e eu quero dizer sim para você também.

Olho para ele embasbacada.

Como ele pode ser tão romântico?

— Isso foi lindo. – Digo toda abobalhada. Tentando entender como é possível poder amar tanto uma pessoa. John sorri com orgulho. – Bom, sendo assim. Nós precisamos nos apressar. Por que eu quero que Ana e Julia estejam comigo.

— Por mim faríamos isso agora. – Diz colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

— Ah não! – Digo me levantando e sentando em seu colo, puxando o lençol para me cobrir. – Eu quero que seja perfeito. Como nos meus sonhos. Igualzinho como eu sonhava quando eu era criança.

Percebo que eu estou muito animada. Animada mesmo. Neste momento eu já quero começar a preparar tudo.

John me encara sem conseguir esconder o encanto estampado em seus olhos verdes.

— Como você sonhava? – Pergunta baixinho com os olhos cravados em meu rosto.

Sorrio mordendo o lábio, me sentindo tímida de repente. Me lembrando da garotinha que eu costumava ser. A garotinha que subia até o porão junto com a Julia, e vestia o velho vestido de casamento da minha avó. Imaginando que um diria seria eu.

Mal posso acreditar que realmente irá acontecer.

— Eu sonhava que seria nos campos. Em um dia muito bonito com muito sol, muito verde, muitas flores. – Praticamente posso ver a imagem em minha cabeça. – Perfeito.

John agarra minha mão e a aperta junto ao seu peito. Sorrio para ele, e me aconchego outra vez em seu peito. Ele passa os braços ao meu redor, e me mantém ali. Protegida.

— Quero que seja tudo como você quer. – Murmura beijando o topo da minha cabeça.

— Quanto tempo temos? – Pergunto fechando os olhos, e desfrutando do calor que emana do seu corpo.

—Acho que eu posso adiar alguns dias.

Não quero que ele se atrase muito. Ele é um homem importante que tem compromissos.

— Então, vou começar tudo amanhã. – Digo com um gritinho, o que faz John rir. – Mal posso esperar para ver a cara da Julia e da Ana! Elas vão morrer do coração!

Nós dois rimos.

— Gosto de te ver animada desse jeito. – Diz contente, passando a mão em minha cintura nua sugestivamente.

— Eu vou me casar com o homem que eu amo. Com o pai do meu filho. Por que eu não estaria contente? – Pergunto sem conseguir desfazer o sorriso em meu rosto.

— Adoro ouvir isso. – Sussurra, baixinho. – Sou o pai do seu filho. E você é a mãe do meu. E eu ainda não desisti de ter uma garotinha moreninha como você.

Rio ao me lembrar de quando ele me disse isso pela primeira vez.

— Se eu fosse você eu não ficaria tão confiante. – Digo virando meu rosto para encará-lo enquanto falo. – Sabemos que virá uma garotinha loira, como você e como o Max. – John sorri. – Sempre achei injusto ele parecer tanto com você. – Digo fazendo bico. John ri ainda mais.

— Injusto? – Pergunta sem conter a gargalhada.

— Eu o carreguei por nove meses. Ele nasceu de mim. Doeu para caramba! Ele devia parecer comigo. Lembro da primeira vez que vi seus olhinhos. Antes disso eu já tinha visto que os cabelos dele eram loiros, e que ele era sua cara, mas quando ele abriu os olhos. – Suspiro me lembrando daquele momento mágico. – Quando eu vi que seus olhinhos eram verdes, como as folhinhas que caiam no quintal, exatamente como os seus, eu senti que meu coração fosse parar. Era como se eu estivesse olhando nos seus olhos de novo.

John me abraça mais forte. Sinto seu coração acelerar embaixo de mim. Sinto meu próprio coração acelerar no meu peito.

— Quero passar por tudo isso com você, muitas e, muitas vezes. – Sua voz soa rouca.

— Muitas e muitas vezes nem pensar John. Eu quero pelo menos mais dois. Quem sabe uma garotinha.

— Sabe o que temos que fazer antes disso?

— O quê? – Pergunto curiosa.

— Precisamos praticar. – Murmura em meu ouvido fazendo meu corpo inteiro se arrepiar, e tudo dentro de mim se contorcer como um nó.

John rola para cima de mim, deixando-me completamente imóvel. Esperando ansiosamente por ele. Com um sorriso sedutor junta seus lábios aos meus me beijando com delicadeza, deixando suas mãos explorarem cada pedaço do meu corpo embaixo dos lençóis. Escapam suspiros e mais suspiros do fundo da minha garganta. Enfio meus dedos entre seus cabelos e faço uma anotação mental para não o deixar cortar nunca mais. Logo minha linha de raciocínio está tomada, e nada mais passa por ela.

Somos apenas nós dois.

Mais uma vez.

[...]

Assim que trocamos de roupa decidimos que é a hora certa para contar a novidade. John não tira seus olhos de mim enquanto abotoo meu vestido.

Adoro isso.

Saímos da cabana de mãos dadas. O sol já está em seu fim dando lugar à noite. Ficamos aqui por muito tempo. Sinto minhas bochechas ruborizarem quando penso que todos saberão o que estávamos fazendo.

John aperta minha mão na sua à medida que vamos nos aproximando do restaurante. Assim que passamos pelas portas vejo que estão em um papo e tanto em uma das mesas.

— Ah! Aí estão eles! – Diz Ana se levantando da mesa com um sorriso enorme no rosto. – Por que demoraram tanto?

Ai droga!

— Precisávamos acertar algumas coisas. – Diz John com naturalidade.

Agradeço do fundo do meu coração que ele seja tão cara de pau.

— Espero que tenham se acertado! Você não sabe o alivio que me deu quando essa aí – diz aponta com a cabeça em minha direção – resolveu fazer alguma coisa certa!

— Se você ficou aliviada, nem deve imaginar como eu fiquei. – Diz John com um suspiro.

Sorrio e engancho meu braço no seu.

Caminhamos juntos até a mesa onde está Gabriel, Julia e Mark.

— Pensei que não viriam mais. – Diz Mark com um sorriso zombeteiro no rosto.

— Não se meta nisso. – Diz John apontando para ele em advertência, porém posso sentir a brincadeira em seu tom de voz.

Sento-me a mesa, e John se senta ao meu lado.

— Onde está o Max? – Pergunto olhando para todos os lados.

Fiquei tão envolvida em ir atrás de John, e depois tão envolvida em não querer me separar dele que nem ao menos pensei em meu filho.

— Não se preocupe, ele está na sala assistindo aquele desenho estranho que ele gosta tanto. – Diz Ana sem conseguir desviar seus olhos de mim e de John.

É até um pouco desconcertante o jeito como parece estar feliz por nós dois.

— Desenho estranho? – Pergunta John franzindo as sobrancelhas.

— Os Backyardigans. Não se preocupe. Logo você vai estar a par de todos os desenhos existentes neste mundo.

John sorri e se curva para sussurrar em meu ouvido.

— Mal posso esperar.

— Tudo bem, não aguento mais! – Explode Julia espalmando suas mãos na mesa. Gabriel tenta conter o riso. – Vocês estão juntos para valer agora? Ou daqui a cinco minutos vão se separar de novo?

Reviro os olhos.

— Bem, acho que estamos mais juntos que nunca agora. – John passa o braço em volta do meu ombro. E eu não consigo evitar o sorriso.

— Só isso o que vai dizer? – Pergunta Julia de boca aberta.

Eu a conheço bem e sei que ela não está se aguentando de curiosidade. Tenho vontade de jogar minha cabeça para trás e gargalhar.

— Julia, isso é assunto deles. – Diz Gabriel cravando seus olhos nela. – Pare de ser tão curiosa.

— Também é assunto meu, Gabriel. – Diz sem olhá-lo. – Eu vivo isso com a Mel há muito tempo.

— Você diz, ou eu digo? – Pergunta John com a sobrancelha arqueada.

Sorrio.

Respiro fundo.

Olho demoradamente para cada um sentado à mesa. Todos olham atentamente para mim e para John. Estou fazendo suspense de propósito e Julia sabe disso.

— Nós vamos nos casar! – Digo animada sem conseguir conter o tom estridente em minha voz.

Todos na mesa explodem em felicitações. Não consigo parar de sorrir. Não consigo parar de ter vontade de gritar para todo mundo ouvir o quanto eu estou feliz.

Ana e Julia se levantam às pressas e juntas me dão o melhor abraço de todo o mundo.

— Sabia que as coisas iriam se acertar. Estou tão orgulhosa de você Mel. – Murmura Julia com a voz embargada.

Sorrio ainda mais, porque eu também estou orgulhosa de mim.

— E quando vai ser? – Pergunta Ana se soltando de mim e indo abraçar John.

— John precisa voltar logo para Nova Iorque Ana. – Digo o encarando. – Eu e Max vamos com ele.

Ana abre os olhos o máximo possível e posso ver que ela está a ponto de chorar. Ela cuida de mim desde que eu nasci, e assim também foi com o Max.

Um sorriso melancólico se abre em seu rosto.

— Sabe que eu fico muito feliz por você, não sabe? – Pergunta baixinho. – Vou sentir muita saudade de vocês dois, mas eu sei que vocês vão ser muito felizes, então isso me conforta.

— Ana. – Digo indo até ela e a abraçando com força. – Eu vou vir sempre te visitar. Sempre que eu puder. E eu preciso de você para cuidar de tudo por aqui.

— Claro que sim. – Diz enérgica. – E você John. Você tem que me prometer que vai cuidar bem desses dois. Assim como eu prometi ao avô da Mel, quero que você me prometa isso agora.

— Eu prometo.

— Acredito em você. – Ana passa as mãos por debaixo dos olhos limpando as lágrimas e logo se recompondo. – Bom, então nós temos um casamento para preparar em tempo recorde. Onde vai ser? Na capela onde foi o da Julia?

— Não. Quero que seja nos campos. Perto do lago.

— Ah! Vai ser lindo! – Exclama Julia animada. – Mal posso esperar para começar a preparar tudo!

— É, eu não consigo controlá-la. – Diz Gabriel bufando e arrancando risada de todos.

— Espere até você ter uma mini Julia, Gabriel. – Digo rindo.

Gabriel fica vermelho feito um tomate, e todos caem na gargalhada.

— Eu preciso ligar para os meus pais. Com toda a certeza eles vão querer estar aqui no dia.

Sinto-me congelar em meu lugar. Eu ainda não tinha pensado nisso. Eu vou conhecer a família dele. E se eles não gostarem de mim? E se eles me recriminarem pelo o que aconteceu?

Engulo em seco.

— Sua mãe não vai querer perder isso por nada. – Comenta Mark parecendo muito satisfeito.

Gosto que ele goste tanto do John. Gosto como ele cuida dele. Acho que agora que não temos mais problemas, finalmente, as coisas voltaram a ser como quando nos conhecemos.

— Não mesmo. – Concorda John.

[...]

Tive que me livrar de John para começar a planejar as coisas o mais rápido possível. Ainda bem que eu conheço todo mundo na cidade, então eles estão mais que dispostos a ajudar a fazer tudo o mais rápido que puderem.

Já escolhi as flores, e os arranjos, e não foi nada difícil escolher as flores do meu buquê. A comida e o bolo vão ficar por minha conta, e pela conta da Ana. A parte mais complicada foi o vestido. Por que não tem como escolher um vestido de noiva em dois dias, mas para minha sorte, assim que entrei na quinta loja consecutiva e vi o vestido com pérolas no manequim, eu simplesmente me apaixonei. E vai ser ele que eu vou usar.

John está uma pilha de nervos, e eu não sei o porquê, já que sou eu que estou cuidando de todos os detalhes. Eu já disse para ele que tudo o que ele precisa fazer é estar lá na hora. Ele disse que isso não o ajuda em nada. Mark disse que talvez ele esteja com medo de que eu desista de novo. Talvez ele tenha razão. Ele só vai se convencer quando eu andar até ele no altar.

A cerimônia será na segunda à tarde. Espero que esteja sol. Por que seria o cumulo fazer sol quase que o ano inteiro e no dia do meu casamento estar chovendo.

John já comunicou seus pais e pelo o que eu pude ouvir eles ficaram muito felizes com a notícia. Isso foi um alivio para mim, eu estava morrendo de medo. Eles vão chegar na segunda de manhã, viajaremos para Nova Iorque na quarta de tarde, então, além de toda a bagunça com os preparativos da cerimonia, ainda tem a confusão de ter que fazer as malas.

Eu estaria mentindo se não assumisse que eu também estou nervosa pelo casamento, porém estou muito mais nervosa com a mudança em minha vida. Eu não vou estar mais aqui. Não vou mais acordar aqui todos os dias. Tudo vai mudar. Tudo para mim, e para Max também. Mas eu confio em John, e sei que ele vai fazer eu me sentir em casa. Ele estando lá, tenho certeza de que tudo será perfeito.

Estamos eu e Ana listando os preparativos quando noto pelo canto do olho Ana levantar a cabeça e paralisar seus olhos em direção a porta.

Viro-me e vejo Rafael parado a porta.

— Vou deixar vocês dois sozinhos. – Cochicha Ana.

Levanto-me e vou até ele. Ele está parado na porta com as mãos nos bolsos, a camisa azul que é quase da cor dos seus olhos o deixa mais bonito do que de costume. Ele parece um pouco sem jeito. Não quero que ele se sinta assim perto de mim. Quero que ele continue sendo um amigo para mim.

Ele é muito especial.

— Oi. – Murmuro o abraçando.

— Olá, Mel. – Responde me apertando em seus braços.

— Como estão as coisas? – Pergunto o agarrando pela mão e o puxando em direção a mesa. – Você já almoçou?

— Não se preocupe comigo. Eu tirei um tempinho no hospital e quis vir te ver. Ver o Max também. Aliás onde ele está?

— Ele foi para o trabalho com o John. – Respondo um pouco sem jeito. – Eu estou um pouquinho ocupada, e o John resolveu levá-lo.

— Ah, o casamento. – Diz mantendo os olhos na toalha da mesa.

De algum jeito eu já sabia que ele já tinha sido informado. Todos já estão sabendo. De algum jeito eu já sabia também que ele apareceria por aqui. Mas mesmo sabendo de tudo isso eu ainda não estava preparada para encará-lo.

— Eu ia te ligar hoje à tarde, porque eu quero muito que você venha. Quero que todas as pessoas que são importantes para mim estejam presentes. Você é uma dessas pessoas Rafael. – Aperto sua mão entre as minhas em cima da mesa. – Mas se você não quiser, eu vou entender.

Rafael coloca sua mão por cima da minha e abre um sorriso contente em minha direção. Solto o fôlego que eu nem sabia que estava segurando.

— Eu vou adorar. Quero muito que você seja feliz Mel, mesmo que não seja comigo.

— Você é a pessoa mais especial de todo o mundo. – Digo emocionada. Emocionada por uma pessoa tão boa ter sentimentos tão lindos por mim.  – Sinto muito se te magoei de alguma forma. Não foi minha intenção.

— Você nunca me enganou Mel. Foi um privilégio quando você decidiu me dar uma chance. Obrigado por isso. Eu sempre soube que seu verdadeiro amor estava longe daqui, e agora que ele está perto, eu desejo de todo o coração que você seja feliz com ele.

— E eu desejo de todo coração que um dia você encontre uma pessoa especial, que te mereça. Não é qualquer pessoa que pode te ter Rafael. Ela vai ter que ser a melhor pessoa do mundo para competir com você.

Nós dois rimos.

— Quem sabe daqui há um tempo nós dois estaremos rindo de tudo isso.

— Espero que sim. – Digo rindo. – Olha, a cerimônia vai ser na segunda às cinco da tarde. Eu quero pegar o pôr do sol.

— Vocês vão viajar quando?

Não estranho sua pergunta. Ele sabe que John precisa voltar para o seu país.

— Na quarta. Vamos ficar uns dias ainda, porque preciso organizar algumas coisas. Ana vai tomar conta de tudo por mim aqui. – Digo suspirando.

Rafael me observa por alguns instantes.

— Vai sentir falta daqui, não vai?

— Vou. Muita saudade. Mas eu sei que onde quer que eu esteja, estando com o Max e com o John, eu vou ser muito feliz.

— Vou torcer para que sim. – Diz com carinho, e eu sei que ele está sendo sincero. – Bom, preciso voltar para o hospital.

Rafael se levanta e eu o acompanho até o carro. Antes de partir eu lhe dou outro abraço forte.

— Por favor, não se esqueça. Eu quero muito te ver aqui na segunda. É importante.

— Pode deixar.

Deixa um beijo delicado em minha testa e logo parte.

Sinto meu coração mais leve, porque eu sei que terminamos tudo de um jeito bom. Manter a amizade dele era tudo o que eu queria.

Quando volto para o restaurante Ana está me esperando na cozinha.

— Ele é um bom rapaz.

— É sim. – Concordo. – Um dia ele ainda vai encontrar a pessoa perfeita para ele. Mas essa pessoa não sou.

— Por que não é você? – Pergunta Ana com curiosidade.

— Por que eu amo o John, e nós somos perfeitos um para o outro.

— Acho que ele pode não ser perfeito para você, mas você era perfeita para ele. Eu conheço um amor verdadeiro quando eu vejo um Mel, e o que ele sente com toda a certeza é verdadeiro. Ele não vai te esquecer de uma hora para outra, porque ele passou muito tempo te amando.

— Não quero que ele sofra por mim. – Choramingo.

— Mas isso você não pode evitar. É a vida. Nem sempre somos correspondidos. Mas Rafael é um menino muito bom, só por ele ter vindo aqui hoje e desejado que você seja feliz já mostra o tamanho do coração que ele tem.

Sinto uma lágrima escorrer por meu rosto.

— Por que a gente nunca pode ter tudo? – Pergunto encarando meus dedos. – Mesmo estando muito feliz com tudo o que está acontecendo, eu fico de coração apertado por ele Ana.

Ana aperta minha mão em uma forma de consolo.

Ouvimos um burburinho vindo em direção a cozinha, e já sei que meu mini furacão já chegou.

— Boa tarde. – Diz John entrando na cozinha com meu ursinho nos braços.

Max ainda está se acostumando com o gesso. Ele odeia usar, por isso todos os dias temos que lembrá-lo o porquê de ser tão importante que ele não o tire de jeito nenhum.

— Oi ursinho! – Digo animada o pegando em meus braços. – Fico morrendo de saudade quando você passa o dia longe! – O aperto em meus braços, até ele reclamar.

— Eu não ganho um abraço? – Pergunta John passando seus braços em volta da minha cintura e beijando meu pescoço.

— Claro que sim. – Digo ficando na ponta dos pés para lhe dar um selinho.

— Não, mamãe. – Diz Max emburrado. – Na boca não.

Todos nós rimos.

— Papai não pode beijar a mamãe? – Pergunta John contendo o riso.

— Bochecha. – Diz Max puxando John para que me dê um beijo na bochecha.

— Gostei disso. – Murmura John. – Ele cuida de você também.

— Estou ferrada com vocês dois no meu pé.

— Com certeza amor. Para o resto da vida. – Diz John nos abraçando.

[...]

O casamento já está próximo. Acordei uma pilha de nervos. Mesmo estando tudo pronto, sinto um frio na barriga e uma angustia no peito. Sonhei com o meu avô na noite passada. Sinto muita falta dele todos os dias da minha vida desde que ele se foi, mas estranhamente hoje essa saudade está apertando demais. Bom, talvez não seja estranhamente, porque hoje é o dia do meu casamento. É natural que eu sinta falta dele.

Caminho até seu quarto porque de uma certa forma sinto como se ali eu estivesse mais perto dele.

Eu não mudei nada aqui com o passar dos anos. Algumas de suas roupas foram doadas, mas algumas coisas eu fiz questão de guardar. Coisas como o relógio de pulso que foi presente de casamento. Eu mantenho ele no mesmo lugar em que ele costumava deixar. Alguns de seus suéteres ainda estão aqui, e por incrível que pareça ainda tem seu cheiro. As fotos que tiramos ainda estão espalhadas pelo quarto. Fotos de quando eu era criança, fotos do meu primeiro dia de aula, fotos da primeira vez em que andei de bicicleta. Está tudo aqui. Ele sempre esteve em todas as minhas memórias felizes. É muito triste que ele não esteja nessa.

Sento-me em sua cama e fecho os olhos tentando senti-lo de algum jeito. Não quero me despedir dele. Eu nunca quis. De repente me lembro de algo que eu não poderia de jeito nenhum ter esquecido.

 Antes de ir embora eu preciso passar em um lugar muito importante.

Levanto-me e caminho até o meu quarto, pego um casaco e saio pela porta sem dizer nada a ninguém. Passando pela cozinha eu consigo ouvir a voz de Ana completamente atrapalhada tentando organizar tudo.

Eu preciso ser rápida. Eu preciso me trocar, e a maquiagem vai levar quase uma hora. Julia vai enlouquecer quando perceber que eu dei uma fugidinha. Mas é por uma boa causa. Não preciso me preocupar com Max, porque John o levou para onde quer que ele tenha ido. Ele disse que era coisa de homem. Não me preocupo muito porque Gabriel e Mark foram junto.

Pego o carro e antes de desviar meu caminho para o cemitério da cidade passo na banca de flores da dona Mercedes. Compro lírios. Eram as preferidas da minha mãe.

— Obrigada. – Murmuro inalando o perfume das flores.

Volto para o carro e parto para o cemitério.

Eu venho quase em todas as semanas. Gosto de cuidar do lugar onde minha família está enterrada. Sei que eles não estão aqui de fato, mas me traz um conforto saber que ainda posso cuidar deles.

Assim que chego perto das lápides que estão uma ao lado da outra me agacho e troco as flores velhas pelas novas. Sento-me de pernas cruzadas na grama e encaro meus dedos.

— Não sei se vocês sabem, mas eu vou me casar hoje. – Murmuro sentindo meus olhos encherem de lágrimas. – Queria que estivessem aqui. Todos vocês. – Engulo o nó que se formou em minha garganta. - Eu vou para longe, mas eu nunca vou deixar de pensar em nenhum de vocês três. Eu vou pedir para a Ana continuar trazendo as flores toda as semanas e sei que ela vai fazer isso.

Passo os dedos pelas letras que formam o nome do meu avô e sinto algo desmanchar dentro de mim.

— Eu não estou abandonando vocês. – Digo secando minhas lágrimas com as mãos. – Mas vocês sabem que eu preciso seguir o pai do meu filho. Ele é o homem que eu amo, e eu sei que vou ser muito feliz. – Sorrio entre as lágrimas. – Eu posso sentir também que vocês sempre torceram por isso. E já que vocês sempre cuidaram de mim aí de cima, vão poder cuidar de mim lá em Nova Iorque também. – Já não consigo mais conter os soluços involuntários.

É meio triste pensar que muitas pessoas especiais vão estar no meu casamento hoje. Menos a minha família. Queria muito que eles estivem por perto. Queria muito poder abraçar todos eles hoje. Queria que eles pudessem ver o quanto eu estou feliz.

Sinto mãos quentes me abraçando por trás, mas não me assusto com elas. Eu conheço este toque.

— Quem te disse que eu estava aqui? – Pergunto fungando.

John enterra o rosto em meu pescoço cheirando meu cabelo.

— Eu cheguei com o Max, e a Julia estava louca te procurando. Ela não sabia onde você estava, ninguém sabia. Pensei que você tinha fugido.

— Eu não fugi. Eu só precisava fazer uma coisa. – Murmuro triste.

— Ana me disse que tinha quase certeza de que você estaria aqui. – Diz me abraçando forte, fazendo eu me sentir mais segura, e um pouco menos triste. – Não gosto de te ver chorar.

— Me desculpa. – Digo envergonhada.

Eu devo tê-lo deixado preocupado.

— Não precisa se desculpar. Se era importante para você estar aqui, você fez bem em vir.

Sorrio para ele, e ele sorri para mim.

John se levanta, e eu faço o mesmo. Passo meus braços em volta dele e enterro meu rosto em seu pescoço.

— Acho que eu precisava me despedir antes de ir embora. – Murmuro baixinho.

John acaricia meu cabelo.

— Foi bom eu ter vindo também. – Diz de repente. Ergo meus olhos para encará-lo, mas seus olhos estão focados nas lápides a nossa frente. – Assim eu posso prometer para eles que eu vou cuidar muito bem de você.

Assim que essas palavras saem de sua boca eu sinto algo dentro de mim ir embora. Com toda a certeza foi a insegurança. Volto a abraçá-lo e choro com meu rosto encostado ao seu peito. John beija o topo da minha cabeça.

— Eu te amo muito. – Murmura. – Quero te fazer muito feliz. Quero compensar tudo de errado que eu fiz antes.

— Eu te amo John.

John limpa minhas lágrimas com ternura e sorrio quando ele beija a ponta do meu nariz. Eu devo estar toda vermelha, mas ele parece não se importar. Inclino-me para beijá-lo, porque é tudo o que mais quero nesse momento. Ele retribui o beijo com tanto carinho, me beijando como se eu fosse quebrar a qualquer instante. Acaricia a parte de trás do meu pescoço com os dedos e eu sinto minha alma ir à lua e voltar.

— Temos que voltar. – Murmuro passando meu dedo pelo contorno dos seus lábios. – Eu preciso me arrumar. Eu quero estar bem bonita.

— Mel, você fica linda de qualquer jeito. – Diz sorrindo. Seus olhos estão brilhando, e eu sei que ele está muito feliz. – Você é linda quando está brava, é linda quando dorme de boca aberta, - jogo minha cabeça para trás e gargalho quando ele diz isso. – é linda quando acorda toda descabelada, é linda até mesmo agora quando está com o rosto todo vermelho.

Sabia!

— Eu durmo de boca aberta? – Pergunto arqueando minhas sobrancelhas. – Pois saiba que você ronca. – Acuso de brincadeira.

— Ah! Então você vai ter que aprender a conviver com o meu ronco. – Diz me encarando. – Por que eu pretendo dormir e acordar todos os dias da minha vida ao seu lado.

Ai! Filho da mãe!

Ele sabe o que dizer para me deixar embasbacada e de pernas bambas. Ele deve planejar isso muito bem. Ele deve ter um livro chamado “Como fechar a boca da Mel” na sua cabeceira.

Ele é incrível!

E é só meu!

— Seu ronco até que é bonitinho. – Digo num muxoxo.

Isso o faz gargalhar. John joga a cabeça para trás e ri em alto e bom som, e é lindo de se ver. Eu amo vê-lo sorrir, amo que eu seja a pessoa que o deixa tão feliz. Amo ser a pessoa que o deixa com um sorriso encantador no rosto, amo ser a pessoa que deixa seus olhos brilhando.

— Vamos. – Diz me puxando pela mão. – Quero me casar logo com você. Não aguento esperar mais. Já esperei três anos, não aguento mais nenhum minuto.

Rio de sua pressa.

Lanço um último olhar para trás antes de olhar para frente e caminhar em direção a minha felicidade.

[...]

Estou me olhando em frente ao espelho há mais de dez minutos e ainda não consigo acreditar que isto está realmente acontecendo.

Todos já foram para o lugar onde vai ser a cerimônia, menos eu Julia e Ana. Eu quis me arrumar em casa. Gabriel também ficou pois vai ser ele quem vai nos levar.

— Você tem que ver o Max Mel. Ele está a coisinha mais linda do mundo de gravata borboleta. - Comenta Julia ajeitando a barra do meu vestido. – Claro, que eu tive que brigar com ele para que ele ficasse quieto, e para que ele não arrancasse a gravata.

Rio.

Tenho certeza que ele já deve ter arrancado essa gravata assim que Julia deu as costas.

— Uau! – Diz Ana levando o lenço ao rosto pela milésima vez desde que eu comecei a me arrumar. – Você está tão linda Mel.

— Está mesmo! – Exclama Julia dando pulinhos.

Escolhi um vestido em um tom mais perolado. Com mangas curtinhas e um decote modesto. É um vestido bem romântico, e é a minha cara.

— Deixa eu só retocar o seu cabelo. – Diz Julia enrolando outra vez meus cachos em volta do seu dedo.

Optei por deixar um cabelo solto. Ele está comprido outra vez. Escolhi uma das antigas coroas da minha mãe. A mais simples de todas, mas a que eu sempre tive um carinho especial. Ela é cheia de pequenas pérolas, e elas se destacam muito em meu cabelo escuro.

— Acho que estou pronta. – Digo prendendo o fôlego. – Onde está meu buquê?

— Aqui. – Diz Ana me entregando.

— Bom, acho que chegou a hora. – Digo nervosa, sentindo meu estômago dar mil cambalhotas como um ginasta profissional.

Achei que eu iria tirar de letra, mas eu estou muito nervosa.

— Vamos. – Diz Julia apertando minha mão. – Eu queria muito te abraçar, mas não quero te amassar. Deixo isso para o John mais tarde. – Julia me lança uma piscadela maliciosa.

— O que eu faço com você Julia? – Pergunta Ana rindo.

Saímos as três do quarto e tomo o maior cuidado do mundo para não enroscar meu salto no vestido enquanto desço a escada. Com certeza seria o ápice da pessoa sem jeito que eu sou. Gabriel está nos esperando mais elegante que nunca.

— Diz aí se meu marido não é uma gostosura. – Cochicha Julia.

Gargalho alto.

— O meu é mais. – Respondo com petulância.

— Deixo você ter um pontinho a mais, apenas porque o seu é produto internacional. – Resmunga.

Rio mais alto ainda se é que é possível.

— Vocês duas não tem jeito. – Diz Ana.

— Do que estão rindo? – Pergunta Gabriel.

— Nada amor. – Desconversa Julia enlaçando seu braço. – Acredite em mim, você não vai querer saber.

— Você está linda Mel. – Diz Gabriel beijando minha mão.

— Obrigada. – Murmuro com timidez. – E muito obrigada por me levar ao altar.

— Acredite, estou me sentindo muito importante. – Murmura ele como se fosse um segredo.

[...]

Vou o caminho todo contando os minutos para chegar logo. O caminho nunca pareceu tão longo. John enviou uma mensagem para Julia dizendo que seus pais e sua irmã já haviam chegado. Não acredito que vou conhecê-los.

— Nervosa, Mel? – Pergunta Gabriel me olhando pelo retrovisor.

— Muito. – Respondo apreensiva, e muito, muito radiante.

Acho que eu só sorri tanto assim no dia em que segurei Max em meus braços pela primeira vez.

Gabriel estaciona o carro, e pela janela do carro já posso ver que fizeram um ótimo trabalho. Muitas flores espalhadas por todos os lados. Do jeito que eu queria. O sol já está quase se pondo. O laranja entrando em contraste com o amarelo antes de dar vida ao azul intenso da noite.

Respiro fundo.

— Vamos lá.

Saio do carro e Julia me dá um último beijo antes de correr para o seu lugar, e anunciar aos berros que a noiva já havia chegado.

Gabriel revira os olhos.

— Você vai precisar me segurar bem. – Murmuro sentindo o ar me faltar. – Acho que vou desmaiar.

— Nesse caso te levo no colo, mas te entrego para aquele cara. Não conheço muito ele, mas pelo pouco tempo que passamos juntos já deu para perceber que ele é louco por você.

Sorrio contente.

Era tudo o que eu precisava ouvir antes de me casar com ele!

Assim que a marcha nupcial se inicia, eu e Gabriel começamos a caminhar em direção aos convidados. Sorrio o ver o enorme número de pessoas conhecidas, inclusive Rafael. Todos parecem estar muito contentes. Fico aliviada por estar saindo tudo tão bem – foi tudo tão em cima da hora. Sinto meu coração bater desesperado dentro do peito, como se de algum jeito quisesse escapar e chegar antes de mim até John.

A música continua suave, até que eu o vejo parado a minha frente. Olhando para mim como se eu fosse a pessoa mais importante em seu mundo. Tudo o que eu quero fazer é correr até ele e me atirar em seus braços. Meu sorriso é tão grande que parece que vai partir meu rosto em dois. Faço um esforço incomum para não chorar. E isso é bastante já que eu sou uma manteiga derretida.

Corro meus olhos pelos outros rostos tentando me recompor. Avisto Max junto a Ana perto do altar. Ele está lindo e como eu desconfiei já está sem a gravata.

Eu sabia que ele não aguentaria muito.

Tem uma mulher sorrindo para mim, eu não a conheço, mas não preciso tê-la visto antes para saber de quem se trata.

Ela é a cara do meu filho!

Isso me deixa chocada. Com certeza é a mãe do John. Ela é muito bonita. Intensos olhos verdes, cabelos loiros. O homem ao seu lado parece mais sério, mas mesmo assim está sorrindo. Seus cabelos são pretos entre os fios brancos e os olhos de um azul intenso. A garota ao seu lado é sua cópia perfeita. Ela sorri para mim também. Retribuo o sorriso.

Direciono meus olhos até o dono do meu coração que está impecável em um smoking. Ele está mais gostoso que nunca. Ruborizo.

Em que diabos eu estou pensando?

Sorrio para ele e sinto a emoção do momento me inundar. Não acredito que finalmente estou aqui. Depois de tudo eu estou aqui e vou me casar com ele. É tudo surreal demais. É tudo perfeito demais. A felicidade é tanta que não consigo segurar as lágrimas por mais tempo, elas simplesmente fluem no momento em que John segura a minha mão. Seu sorriso aumenta ainda mais assim que nos viramos um para o outro. Gabriel aperta a mão de John e se senta ao lado de Julia na primeira fileira. John leva as mãos ao meu rosto acariciando com ternura antes de secar minhas lágrimas, assim como fez essa tarde. Nos viramos para o juiz que dá início a cerimônia. 

Meu coração batendo forte no peito, minhas pernas tremendo, minhas mãos suando é tudo o que eu sinto enquanto ouço as palavras do juiz. Parece que estou assistindo a um filme de romance. Aqueles que eu amava assistir antes de conhecer o amor de verdade.

Em minha mente passa um filme que conta toda nossa história. A primeira vez que eu o vi, a primeira vez que percebi que eu poderia sim gostar daquele americano metido a besta, a primeira vez que ele me beijou, a primeira vez que fizemos amor, tudo. Tudo até agora.

Quando chega o momento de trocarmos as alianças o encarregado de trazê-las até nós é Max. É o momento mais fofo de toda a cerimônia. Claro que ele não conseguiu trazer as alianças do modo tradicional por estar com o bracinho direito engessado. Ele ajudou John a colocar a aliança em meu dedo. O sorrisinho em seu rosto puxa as cordas do meu coração. Ele passou o resto da cerimônia nos braços do John.

— ... eu os declaro, marido e mulher. – Diz o juiz finalmente. – Pode beijar a noiva.

Sorrio.

— Vou dar um beijo na mamãe. – Diz John para Max como se estivesse pedindo sua permissão. – Depois nós damos os dois juntos, tudo bem?

Max faz que sim, e todos riem.

John segura meu rosto com a mão livre e acariciando minha bochecha aproxima seu rosto do meu.

— Finalmente. – Murmura antes de me beijar com doçura. Quando se afasta cochicha para Max. – Agora somos nós dois, campeão. – Os dois deixam um beijo demorado em cada lado do meu rosto.

Sorrio ainda mais apaixonada por esses dois. Nesse momento eu tenho ainda mais certeza de que me casar com John foi a melhor coisa que eu poderia ter feito. Nós somos marido e mulher agora. E eu não estou me aguentando de tanta felicidade.

Depois de cumprimentar todos, John finalmente me leva para conhecer sua família. Sinto um frio na barriga ao me aproximar dos três. Max vem logo atrás. Segurando a barra do meu vestido.

— Mãe, Pai, Kelly, quero lhes apresentar a minha esposa. – Diz John orgulhoso.

Sorrio para ele, mas logo sou engolida em um abraço pela Senhora Ackes.

— É tão bom finalmente conhecer você. Ouvi muito sobre você. Você é linda, vocês fazem um casal lindo. – Gosto dela. Gosto muito dela. – Não acredito que meu bebê se casou. – Termina fungando como se estivesse segurando as lágrimas.

— Mãe. – Diz John envergonhado.

Rio.

— Você é muito bonita, igualzinha a foto que tem no escritório dele. – Diz o Senhor Ackes piscando para John. Olho para John com a sobrancelha arqueada e ele dá de ombros. – Tenho certeza de que meu filho escolheu bem. Fico muito feliz por vocês terem se acertado.

— Obrigada.

— Posso te dar um abraço? – Pergunta timidamente.

— Claro! – Digo.

Quando nos separamos sou envolvida por uma cabeleira loira e por braços pálidos.

— Estou tão feliz de finalmente te conhecer! –Tenho certeza que essa é a irmã dele. – Mal posso esperar para sermos vizinhas. John já disse que vamos ser vizinhas, não é?

— Na verdade Kelly, isso era uma surpresa. – Diz John com repreensão em sua voz, mas eu posso ver o carinho enorme que ele sente por ela.

— Ops! – Diz colocando as mãos na boca, como se fosse para evitar que mais segredos escapassem dali. – Mesmo assim. Já que eu já disse, sem querer, mal posso esperar para sermos vizinhas. Vou te levar em vários lugares legais.

— Eu vou adorar. – Digo adorando a animação dela.

Nós devemos ter a mesma idade. Me lembro vagamente de John dizer isso uma vez, na primeira vez que esteve aqui.

— E esse garotinho escondido aí atrás? – Pergunta o senhor Ackes se dirigindo a Max.

Ele se esconde ainda mais atrás de mim. John vai até ele e o pega nos braços.

— Você não precisa ter vergonha. Eles são sua família também. – Murmura John para ele.

Max olha para os três por sob os cílios. Os olhinhos verdes estão curiosos, mas diferente de como foi com John ele não é de muito papo com quem ele nunca viu. Ele é muito tímido.

— O que aconteceu com o seu bracinho, meu amor? – Pergunta Kelly fazendo um biquinho engraçado. – Meu deus, mãe, ele é sua cara! – Termina rindo.

— Ele nos deu um belo de um susto. – Diz John beijando sua bochecha.

— Nem me fale. – Reitero.

— Olha se você vier com a vovó, eu te dou um grande pedaço de bolo.

Ela é esperta. Talvez agora ele vá. Não tem nada que um belo pedaço de bolo não consiga.

Max olha de mim para John como se estivesse decidindo, e então, estica seus bracinhos – até mesmo o engessado - em direção a senhora Ackes. Ela o pega no colo e vejo seus olhos marejarem.

— Você é o garotinho mais lindo do mundo. – Diz quase aos prantos. – Você é igualzinho ao seu papai quando ele era pequenininho assim como você. – Ela fala com tanta doçura que me faz sorrir.

Sim, vamos ser muito felizes lá!

— Vocês podem ficar com ele enquanto eu e Mel vamos dar uma volta? – Pergunta John enlaçando minha cintura por trás.

— Claro que sim! – Diz o Senhor Ackes.

— Obrigado Senhor Ackes. – Murmuro.

— Nada disso! Pode me chamar de Clayton. – Ele tem um sorriso amigável no rosto. Seus olhos são risonhos.

— Isso mesmo, e eu sou a Claire.

— Nem preciso dizer nada porque com toda a certeza você não me chamaria de senhora. – Diz Kelly, e todos rimos.

Já simpatizei com ela. Ela parece bem espontânea, e divertida. Acho que minha vida não vai ser um tédio em Nova Iorque.

Deixamos Max com eles, e eles parecem gostar muito da ideia. Eu e John nos afastamos um pouco da festa. Ele se senta ao pé de uma árvore, e eu me sento entre suas pernas. Apoio minhas costas em seu peito e ficamos os dois encarando as estrelas.

— Foi tudo perfeito. – Murmuro encantada. – Adorei seus pais. Tive medo de que eles não gostassem de mim por causa de tudo o que aconteceu.

John passa os braços ao meu redor me abraçando com força.

— Eu contei tudo para o meu pai, e ele sempre deixou bem claro que me achava um idiota pelo o que eu fiz. Ele gosta de você, todos eles gostam, e estão encantados com o Max. Você tinha que ter visto a cara deles quando eu os apresentei antes de você chegar. – Diz rindo. – Meus pais sempre quiseram ser avós. Eles vão mimar muito ele.

— Então nós vamos morar perto deles?

— Sim. Era uma surpresa, mas minha irmã tem a boca grande.

Rio com seu comentário.

— Eu gostei muito dela. Ela é divertida.

— Ela é doida. – Resmunga.

Rimos os dois.

— Dá para acreditar que nós somos casados agora? – Pergunto ainda sem acreditar.

— Somos casados, e agora você é a senhora Ackes.

— Ackes. – Digo testando o nome.

John ri.

— Agora somos oficialmente uma família, e eu vou amar, e cuidar de vocês pelo resto da minha vida. – Sussurra John em meu ouvido.

— Eu estou tão feliz.

— Também estou. – Murmura ele passando o nariz pelo comprimento do meu pescoço. – Muito feliz.

Viro meu rosto para que eu possa beijá-lo e é como se estivéssemos nos beijando pela primeira vez. Eu sinto tudo igual. As mesmas borboletas no estômago, a sensação de estar sendo beijada por um anjo. Acaricio seu rosto com ternura, sentindo seus lábios se moverem sobre os meus.

— Eu te amo. – Meus lábios roçam nos seus quando falo.

— Eu te amo mais, e mal posso esperar até voltarmos para casa. Quando eu for ter você só para mim.

Mordo meu lábio e sorrio envergonha antes de dizer:

— Nem eu.

John emaranha seus dedos em meus cabelos me beijando com força, me deixando totalmente sem fôlego.

— Pensei que eu fosse desmaiar quando te vi vindo até mim. Tem noção do quanto você está linda? Eu sou mesmo um filho da mãe sortudo.

— Você é mesmo. – Digo de nariz empinado.

Volto a beijá-lo com tudo o que tenho. Sem o menor pudor. Estamos sozinhos, e está escuro. Não aguento nem mais um segundo sem tê-lo. Agarro seu pescoço o puxando com mais força até mim. De algum modo suas mãos encontram o caminho para debaixo da saia do vestido. Afasto-me para encarar seus olhos verdes, e eles estão radiantes. Rio assim que me lembro da frase que eu vivia dizendo em minha cabeça todas às vezes no dia em que colocava meus olhos nele.

— Do que está rindo? – Pergunta tirando uma mecha do meu cabelo da frente do meu rosto.

— Eu acabei de lembrar de uma coisa meio boba que eu vivia dizendo em pensamento todas às vezes que te via. – Cochicho sem jeito.

John sorri.

— O que era? – Pergunta com doçura.

— É bobo demais.

— Quero saber o que é. – Insiste.

Sorrio sem jeito me ajeitando até estar com o rosto colado no seu.

— Eu estou tão apaixonada por você, John. – Sussurro com meus olhos grudados nos seus.

John sorri como se fosse a frase mais bonita que ele já ouviu em sua vida.

— Eu estou tão apaixonado por você, Mel. – Murmura.

Rio e volto a beijá-lo. Agradecendo por tê-lo encontrado. Agradecendo o momento em que ele colocou seus pés aqui. Agradecendo o momento em que ele roubou o meu coração.

Agora eu sei, mesmo depois de tudo, o meu amor por ele é para sempre, e o seu por mim também. É para a vida inteira. E mal posso esperar para viver esse amor com ele. Mal posso esperar para viver toda a minha vida com ele.

Nós demos um jeito.

 

                                                                           Fim.


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Notas finais do capítulo

Comentários são bem-vindos! ♥