Black Angel escrita por summer


Capítulo 30
Morte na Família


Notas iniciais do capítulo

Tentei muito passar o sentimento real de uma dor como essa, mas ainda não tenho essa capacidade.
De qualquer forma, espero que façam uma boa leitura.



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Depois do meu expediente na lanchonete, fiquei na rua, esperando anoitecer. Estava nublado e escuro o suficiente para que eu não precisasse de uniforme, mesmo assim, eu o vesti. Não demorou para que eles começassem a aparecer. Ainda havia marcas de sangue na rua do que eu havia feito na noite anterior. Eu estava sem armas, apenas com os punhos fechados.

Depois de derrubar dois homens, me abaixei ao lado de um deles e o agarrei pelo cabelo.

– Quem vocês querem aqui? - Perguntei

Ele me ignorou, estava com o corpo mole e os olhos pareciam querer fechar. Dei um soco em seu rosto, sujando ainda mais a minha mão de sangue.

– Responde!

Ele resmungou alguma coisa que eu não pude ouvir, outra moto dobrava a esquina. Dessa vez, o piloto vinha com uma arma apontada para mim. Peguei o revólver do homem no chão e atirei no pneu da sua moto. Ele perdeu o controle e a moto bateu contra a parede. A velocidade era baixa, então os estragos também foram.

– O que está havendo aqui? - Asa Noturna perguntou antes mesmo de chegar ao chão

Ele vinha pendurado em um tipo de corda, segurando um dispositivo negro. Apontei a arma para um dos homens no chão, que começava a se mexer. Asa Noturna entrou na minha frente, e não parecia feliz.

– O que você está fazendo?

– Meu trabalho.

– Seu trabalho é espancar essas pessoas até a morte? Pensei que trabalhasse para a SHIELD.

– Esse não é o meu objetivo, Asa Noturna.

– Estou avisando que você está bem próxima dele. Black Angel, nós não batemos em alguém quando ele está no chão.

– "Nós"? Nós não trabalhamos juntos.

– Ótimo. Estou te dando um aviso: eu não posso permitir que faça isso. Você está agindo como eles.

– Você vai proteger esses bandidos?

– Estou protegendo você de si mesma.

– Não se preocupe com a minha proteção. Há pessoas nesse lugar que precisam de proteção de verdade. - Apontei na direção do meu prédio - Quer saber? Eu não ligo. Vou continuar fazendo o meu trabalho e, se você quiser me parar, vamos ver se consegue. - Comecei a andar para o fim da rua

Comecei a pular, de janela em janela, para o alto do prédio. Quando cheguei, vi Asa Noturna entrando na rua enquanto olhava para os lados.

Saí do banho ouvindo o toque do meu celular. Eu o peguei e vi quatro ligações perdidas do mesmo número.

– Suzi? Está tudo bem? - Tentei ouvir o que ela tinha a falar - Você está chorando? ... Sue, fique calma! ... O quê? ... Estou indo.

Comecei a vestir qualquer roupa enquanto discava o telefone de Dave no meu celular.

– Alô?

– Dave, vá para a casa dos Lane agora! Suzi está passando mal. Ela perdeu o bebê.

Deixei Dave ir na frente e peguei minha moto. Eu precisava ter certeza que ninguém tentaria nada no caminho até o hospital. Eu seguia os dois de longe, analisando todo o caminho. Por sorte, o caminho foi tranquilo e sem nenhum ataque. Quando chegamos ao hospital, os dois foram para a emergência e fui orientada a esperar nas cadeiras.

Meu estômago dava voltas em agonia. Suzana Lane era minha melhor amiga, minha irmã. E agora ela estava numa sala da emergência, com cólicas e sangramento.

Fiz o melhor que pude para me concentrar no chapéu branco da enfermeira que andava de um lado para o outro. Concentrei toda a minha atenção em coisas pequenas, me esforcei para engolir toda aquela angústia. As portas do hospital abriam e fechavam de vez enquando, deixando pessoas entrarem e saírem. Vi Dick entrar por aquelas portas e caminhas lentamente na minha direção, ele parecia sofrer. Torci para que ele não visse a angústia no meu rosto, ou o sofrimento nos meus olhos. Eu sabia que só ele poderia ver, e odiei-o por isso. Ele se sentou ao meu lado, e eu fingi não ter visto.

– Como ela está? - Ele perguntou

– Eu não sei. - Sussurrei, evitando seus olhos.

– Como você está?

– Eu não sei.

– Converse comigo. - Ele pediu

– Deixe-me em paz.

– O quê?

– Não haja como se você se importasse! Pedi que me deixasse em paz!

Quando terminei, me arrependi por ter deixado tanta mágoa escapar na minha voz. Dick encheu o peito, como se quisesse falar... E suspirou. Ficou calado por alguns segundos e depois se lavantou e foi até o balcão. Fechei os olhos e desejei estar sozinha. Ouvi seus passos voltando e depois se afastando outra vez. Sucumbi à curiosidade e abri os olhos a tempo de vê-lo se afastando. E, agora, havia um copo de café na cadeira onde ele estava.

Dave saiu da sala e seu rosto parecia contorcido de dor. Senti meu estômago revirar. Levantei e corri pelo pouco espaço que nos separava, olhei em seus olhos e o abracei. Ele abaixou sua cabeça no meu ombro e chorou de uma maneira frágil. Eu conhecia aquele choro, ele estava guardando todo o sentimento que conseguia para si, esperando o momento que estivesse sozinho para poder sentir aquela dor como devia ser sentida.

Há algumas noites eu havia me perguntando o que faria se eu estivesse no lugar deles e senti medo. Dessa vez, eu sabia que estaria no lugar deles e sofreria a dor deles. Ver meu irmão sofrer daquela maneira me fazia ter vontade de guardar sua dor para mim, de sentir por ele, apenas para vê-lo parar de chorar. Eu odiava admitir, mas sentia a mesma coisa por Suzi e Dick. Desejei tanto recolher toda aquela dor dos olhos azuis que me observavam de longe.

Dave levantou o rosto e apontou para o corredor onde estava o quarto. Dick se aproximou de Dave e eu caminhei para o corredor. A porta estava entreaberta e vi Suzi deitada na cama de hospital, olhando para a janela. Empurrei a porta devagar e esperei que ela olhasse para mim, mas não olhou. Nem mesmo me notou.

– Sue? - Me aproximei de sua cama

– Oi - Ela olhou para mim com surpresa. - Obrigada.

– Eu sinto tanto... - Peguei sua mão

– Eu tenho certeza que sente. - Vi seus olhos encherem d'água

Eu me abaixei e a abracei. Ficamos daquela maneira até que a enfermeira avisasse que Suzi podia ir para casa. Voltei para a sala de espera enquanto ela se arrumava. Dick e Dave estavam sentados lado a lado. Nenhum dos dois falava nada.

– Ela já recebeu alta. - Informei

– Vou levá-la para o meu apartamento. Ela pode precisar de mim.

– Eu sei.

– Vou levar você para casa. - Dick se levantou - Está mais do que perigoso lá fora.

– Não. - Falei e Dave olhou para mim, com olhos suplicantes - Eu sei me cuidar. - Peguei sua mão

Dave se levantou e nos abraçamos mais uma vez. Afastamos nossos rostos e depois encostados nossas testas.

– Fique bem, Dave.

– Se cuide, garota.

– Te vejo amanhã cedo, tá? - Nos afastamos

Dick continuava a esperar por mim.

– Vou sozinha.

– Alicia, por favor... Está um caos lá fora.

– Desde quando você se importa? - Perguntei e passei por ele

Secretamente, eu esperei que ele fizesse alguma coisa. Esperei que retrucasse ou me fizesse esperar, mas ele se calou. Voltei direto para a minha casa, ansiosa para ficar sozinha.

Atravessei a minha sala de estar meia hora depois. Caminhei até o sofá, mas me sentei no chão, com a cabeça apoiada no estofado. Nada era capaz de tirá-la da minha mente. Suzi passou pelo trauma de descobrir que havia um ser crescendo dentro dela e passou pelo trauma de descobrir que não havia um ser crescendo dentro dela. Ela sofreu pela vida e pela morte, sofreu pelo medo e pela felicidade. Eu a conhecia o suficiente para saber que, agora, ela sofria pela culpa. Levantei daquele sofá apenas quando me dei conta que aquela sombra na minha janela estava lá. Asa Noturna devia estar me vendo chorar como uma garotinha frágil. E, com muita sinceridade, eu não me importava. Aqueles laços que me tornavam humana estavam sendo dissolvidos pela dor. Primeiro Dick, e agora, o meu sobrinho que nem chegou a nascer. Deixei que toda aquela dor me tomasse por toda a madrugada, eu estava sozinha o suficiente para senti-la.


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Notas finais do capítulo

Comentem o que vocês acharam! ♡



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