P.O.V Hermione

Senti algo úmido na minha testa, algo que me fez acordar, tentei abrir meus olhos mas os mesmos pareciam colados, então eu fiquei consciente das dores do meu corpo, deixei um gemido me escapar pelos lábios e pensei se não era um efeito do ritual, minhas memórias estavam vívidas, eu tinha noção do que havia acontecido e, ou tinha dado certo, ou eu estava presa e prestes a ser torturada e morta.

Senti a coisa úmida passar para minhas orelhas, bochecha e pescoço de modo suave e cuidadoso.

– Mamãe, a Mione vai acordar logo? – Perguntou uma voz preocupada e surpreendentemente conhecida por mim, era a voz de alguém importante, notei ao sentir um carinho e um amor enorme pelo dono da voz. Não era algo romântico, era algo fraternal, quase o mesmo que eu sentia por Harry e Ronald, talvez até mais forte.

– Calma, James. Logo sua irmã acordará. – Falou uma voz feminina e suave, algo no meu peito se aqueceu ao escutar aquela voz, mas espera... Irmã?

– A nossa Hermione sempre foi estrambelhada, mas dessa vez ela se superou. – Ouvi uma voz grave e risonha, mas logo depois um som de tapa e uma reclamação de dor. – Ai, querida. Você sabe que é verdade, amor, como ela conseguiu cair da escada?

– Provavelmente estava lendo algum livro e não lembrou da escada. – Explicou James e eu resmunguei baixinho.

– Eu escorreguei. – Ouvi os três sugarem o ar e tentei abrir meus olhos sentindo uma dor latejante na minha cabeça, não sei porque, mas tive a necessidade de dizer que não era culpa dos livros... Mesmo sendo, eu estava lendo um romance trouxa quando escutei mamãe me chamando para o jantar e caí da escada. Droga, como eu me lembro disso? Era algo estranho, eu sabia que era Hermione Granger, mas também tinha memórias dessa vida, era uma sensação irritante, estranha e incomoda. Era como se eu estivesse assistindo duas coisas ao mesmo tempo e ela se contradissessem, e eu não sabia em quem acreditar. No fundo eu sabia que já fui Hermione Granger, mas agora sou Hermione... James Potter? Aquele é James Potter?! O pai do meu melhor amigo quando criança?! Espera... Eu sou uma Potter?!

– Mione! – Exclamou James pulando na cama para me abraçar e eu prendi o gemido de dor lhe abraçando de volta, para não machucar seus sentimentos.

– James! – Ralhou mamãe enquanto papai ria. – Ela deve estar doída, vai machuca-la assim!

– Está tudo bem, mãe. – Tentei me sentar e senti as dores incomodas no meu novo corpo, que agora olhando mais parecia de uma criança... Igual a minha voz... Deus, eu voltei a ter 10 anos, isso explica a inocência. – Quanto tempo eu dormi? – Perguntei bocejando e segurando a mão de James, que sentara ao meu lado na cama.

– Apenas algumas horas, você nos deu um susto enorme, querida. – Falou carinhosamente Charlus Potter, senti minhas bochechas corarem e ele deu um beijo em minha testa.

– Vou pedir para que Pops que traga comida para você. Descanse, meu amor. – Minha mãe alisou meu rosto e se levantou levando com ela o pano úmido que ela passara em meu rosto.

– Ah, mãe! – Ela parou na porta se virando e eu continuei. – Que dia é hoje?

– Uh, parece que a Mione perdeu alguns parafusos na queda! – Brincou James me fazendo lhe dar língua e fazer uma carranca enquanto mamãe ria.

– Hoje é dia 26 de março, meu amor. – Eu sorri de modo contagiante e comecei a quicar na cama.

– Amanhã é nosso aniversário, James! – Meu irmão gêmeo começou a quicar comigo animado e mamãe riu saindo do quarto e nos deixando na nossa bagunça, então ele simplesmente parou e me olhou preocupado.

– Nunca mais saia rolando da escada, Mione. – Pediu numa voz chorosa e com os olhos brilhando por detrás dos óculos. – Você me assustou, pensei que você ia morrer. Tinha tanto sangue perto da sua cabeça... – Ele soluçou e eu lhe abracei encostando a testa em seu ombro.

– Vou tentar não cair... De novo. – Falei tentando fazer graça para que ele melhorasse.

– Você disse isso da última vez... E antes... E antes. – Dei um soquinho em seu braço e ele começou e rir novamente, James era bonito, alto para um garoto da sua idade com cabelos negros indomáveis e olhos castanhos. Ouvimos o famoso craque de aparatação e olhando a elfa que trazia uma bandeja de comida, e então, só ai eu senti a fome. Ela veio até nós e colocou a bandeja sobre minhas pernas.

– Obrigada, Pops. – Falei sorrindo e a elfa começou a fungar chorosa e fazer uma profunda reverencia.

– Se a senhorita Potter quiser algo é só chamar Pops. – Falou com a voz esganiçada e eu acenei com a cabeça sorrindo enquanto James rolava os olhos, Pops foi embora e meu irmão começou a tagarelar.

– Se a senhorita Potter quiser algo é só chamar Pops. – Resmungou tentando imitar a voz fina da elfa, e eu lhe dei um tapa no braço começando a atacar a comida na bandeja. – Hermione, as vezes você parece um trasgo. – Foi minha vez de rolar os olhos e falei com a boca cheia de biscoitos.

– Eu sou você de saia, Jamie. – James riu e eu lhe acompanhei quase engasgando, depois que eu terminei de comer, deixei a bandeja na cabeceira e voltei a me deitar, ficando ao lado do James e o sentindo fazer cafuné em meus cabelos. Me lembrei dos meus amigos mortos na guerra e senti meus olhos se encherem de lágrimas e meu peito doer, mas nenhuma caiu, lembrei de todos que matei e que vi morrer na minha vida passada – ou seria futura? – me causando náuseas ao lembrar do cheiro que pairava no ar, naquele campo de batalha.

James então começou a tagarelar sobre quadribol me fazendo rolar os olhos e me distrair, quando comecei a reclamar que por causa dele sabia todas as táticas e regras do jogo ele bufou.

– Eu queria que o Stephan fosse meu irmão, assim eu podia falar de quadribol com ele. – Se isso me magoou? Estranhamente, sim. Bufei sentindo as lágrimas chegarem aos meus olhos e retruquei com a voz estrangulada.

– Então sai daqui e vai lá para o nosso vizinho falar de quadribol. – O empurrei da cama socando o travesseiro e lhe dando as costas, deixando uma lágrima escorrer por meu rosto emburrado. Senti raiva de Stephen, ele era o nosso vizinho, era bruxo e tinha 13 anos. Por vezes o garoto tirava James de mim para falar de quadribol e o que mais me irritava, era que James ia de boa vontade.

– Mione... – Lhe ignorei fechando os olhos ainda com uma carranca no rosto e ele repetiu. – Mione... Você está brava?

– Não sei, pergunta para o Stephen já que você preferia ter ele como irmão. – Retruquei me cobrindo até o rosto. – Quem sabe da próxima vez que eu cair eu não morra e você possa chamar o Stephen de irmão e falar sobre quadribol com ele! – Dramatizei com raiva e com a voz esganiçada.

– Nunca mais diga isso! – Gritou arrancando meu lençol de vez.

– Porque?! Você não se importa mesmo. – Bufei vendo-o fazer uma carranca.

– É claro que me importo!

– Não se importa não, se você se importasse não iria querer Stephen como irmão! – Exclamei falando com raiva o nome do garoto, James se calou me olhando divertido. – Quer saber? Eu queria que Alice fosse minha irmã! – James fez uma carranca e bufou cruzando os braços junto comigo.

– Ótimo!

– Ótimo! – Lhe imitei e ele saiu do quarto em passos pesados enquanto eu fazia um “humf” emburrado enchendo as bochechas, fiquei por três minutos desse jeito até que comecei a sentir falta de James e suspirei me xingando mentalmente, nunca conseguia ficar com raiva dele. Me levantei da cama e andei descalça pelo quarto parando na frente de um espelho e abrindo a boca surpresa, era eu, mas não era eu. Tinha alguns traços meus, mas também havia os comuns traços Potter, os dentes brancos e perfeitos, os cabelos muito negros e um tanto bagunçados, iam até o meio das minhas costas e era liso na raiz e quando chegava na metade formava cachos modelados. Olhos castanhos claros com um pouco de verde e um nariz forte, mas ao mesmo tempo delicado, como Granger e quando eu tinha 10 anos eu não tinhas essas pequenas curvinhas que tenho agora.

Suspirei sorrindo um pouquinho e andei até a porta decidida a pedir desculpas para James, quando eu abri a porta, eu vi James com a mão levantada como se fosse bater na mesma e um olhar envergonhado, sorri para ele envergonhada e ele falou.

– Me desculpa? – Pulei em cima dele o abraçando apertado e ele passou os braços por minha cintura me abraçando de volta, senti a cabeça e meu corpo doer mas ignorei a dor, que não era nada comparado as dores que tive na guerra.

– Só se você me desculpar. – Ele me deu um beijo na testa e corremos de volta a minha cama e voltamos a conversar, dessa vez sobre nosso primeiro ano em Hogwarts.

– E eu vou ser o melhor artilheiro que a grifinória já viu! – Eu o olhei um pouco cautelosa e soltei devagar.

– James, você sabe que alunos do primeiro ano não podem entrar para o time, não é? – Ele deu de ombros e brandiu ficando em pé na minha cama.

– Eu então vou treinar para que no segundo ano eu vire artilheiro! – Eu ri quando ele estufou o peito e rolei os olhos bocejando. James me vendo bocejar me imitou automaticamente nos fazendo rir, ele pulou na cama caindo sentado e encaramos o relógio ansiosos para o tempo finalmente passar. Quando faltavam apenas um minuto para meia-noite, nós começamos a contar os segundos em voz alta.

– 8... 7... 6... 5... 4... 3... 2... 1... FELIZ ANIVERSÁRIO JAMIE/MIONE! – Gritamos em uníssono nos abraçando e a porta foi aberta por nossos pais, mamãe trazia um grande bolo de chocolate, nosso favorito. Os dois entraram cantando uma canção de aniversário e eu e Jamie apagamos as velinhas recebendo beijos e abraços de nossos pais.

– Oh, meus bebês estão fazendo 11 anos. – Choramingou mamãe me fazendo corar junto com James e murmurar “não somos mais bebês”. – São os meus bebês!

– Meu pestinha já está virando um homenzinho e minha princesa uma mocinha. – Falou Papai com o intuito de nos constranger, e não é que deu certo? – Logo, logo Mione vai estar namorando... – Falou agora com os olhos arregalados e parecendo assustado de verdade com a possibilidade. – James! Fique de olho na sua irmã! – Exclamou desesperado e James assentiu determinado. Mamãe rolou os olhos e sorriu para mim de modo terno, eles não eram tão jovens, mas eu os achava lindos. Ouvi barulhos de leve na janela e olhei sobre o ombro saltando da cama ao encontrar uma coruja bicando o vidro e corri para lá sentindo os olhares da minha família em minhas costas, e não sei porque, não me assustei ao notar que eram as nossas cartas de Hogwarts.

– Jamie! São as nossas cartas de Hogwarts! – Exclamei correndo de volta à minha família depois de fazer carinho na coruja, James começou a quicar na cama e pegou sua carta limpando a garganta e lendo em voz alta a mesma coisa que continha na minha, apenas trocando o “senhorita” por “senhor”.

– Dumbledore nunca falha. – Riu minha mãe vendo a lista de materiais enquanto eu e James saltitávamos pelo quarto junto com nosso pai. Comemos o bolo quase todo até que nossa mãe exclamou. – Está bem, já é tarde. Durmam que amanhã iremos ao beco diagonal para comprar tudo que está aqui.

Acenamos com a cabeça e os dois saíram depois de nos dar beijos na testa e nos desejarem feliz aniversário novamente, eu abracei James e deitei na cama o escutando sair e fechar a porta. Fiquei deitada um tempo pensando como eu podia mudar tudo, se não me engano, o diadema já deve estar na sala precisa, eu posso pegar a espada com Dumbledore... O diário deve estar com Abraxas Malfoy ou Lúcio, a taça... Droga, eu tinha muitos anos para achar todas as Horcruxes e talvez, quem sabe, impedir Tom de criar mais. Mas pelo menos o diadema eu podia destruir, já que já deve estar em Hogwarts.

Hogwarts... Será que eu estava preparada para voltar para o lugar onde meus amigos morreram? Não, eu não estava. Mas eu faria o necessário para que eles vivessem, para que Neville não perdesse os pais, para que Harry conhecesse meu irmão e Lily... Para que Sirius e Remus sobrevivessem. Eu iria mudar tudo, nem que no final, eu tivesse que morrer para que meus planos se realizassem. Eu iria mudar o destino.