Stay With Me escrita por Queen Of Peace


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

oie



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/646191/chapter/2

Quando abro meus olhos minha cabeça dói tanto que imediatamente volto a fechá-los, preferindo a escuridão do que a dor que toda a claridade me provoca. E então eu fico deitado, em silêncio, escutando um "bip-bip-bip" que vem de algum lugar bem perto de mim e tentando identificar de onde esse som poderia estar vindo. Mas então várias coisas me atingem ao mesmo tempo. Eu sinto o colchão estranho que está sob meu corpo. Eu sinto cobertores ásperos me cobrindo. O cheiro forte de álcool e produtos de limpeza. Fios. Coisas presas na pele do meu braço que puxam meus pelos quando eu tenho movê-los. E o "bip-bip-bip" insistente que enche minha cabeça.

Arrisco abrir os olhos novamente mas está tudo tão claro que eu solto um gemido e volto a fechar os olhos. Tento abri-los aos poucos, me acostumando com a claridade e finalmente enxergando a grande lâmpada amarelada pendurada no teto. Meus olhos percorrem o lugar rapidamente e me dou conta de que estou num quarto de hospital, o que explica o cheiro, os fios, as agulhas e o "bip-bip-bip".

E perceber que estou num hospital me faz visualizar a última coisa da qual consigo me lembrar: O acidente. O beijo de Katniss. Nós dois parados para atravessar a rua e o carro sem controle que veio pra cima de nós dois. Eu procurei por ela pelo quarto, mas eu estava sozinho ali, e meu coração acelerou na hora, preocupado em saber como ela estava. Quando meu coração acelerou, o monitor cardíaco apitou mais rápido e logo uma enfermeira apareceu no quarto, acompanhada por meus pais que pareciam aliviados por me ver bem e vivo.

— O que aconteceu? — eu pergunto, tentando me sentar, mas tudo ao meu redor gira, e eu me sinto muito enjoado, ao ponto de querer vomitar.

— Você não se lembra? — Minha mãe parece preocupada enquanto se aproxima e agarra minha mão, apertando-a com gentileza.

— O acidente, sim. Eu me lembro. Mas e Katniss? O que houve com ela? Onde ela está, aliás? Está bem, não? — Eu sabia que soava confuso com tantas perguntas, mas eu estava tão preocupado que não conseguia me conter. Eu precisava saber se ela estava bem. Eu precisava saber o que tinha acontecido à ela.

— Peeta, bem... — Minha mãe manteve os lábios abertos mas não terminou de falar. E aquilo não poderia ser um bom sinal. Minha mãe nunca ficava sem palavras.

— O que aconteceu? — exigi.

— Peeta, você precisa se acalmar. — O monitor cardíaco apitava feito louco outra vez.

— CADÊ A KATNISS? — Dessa vez eu gritei, e minha voz conseguir abafar os bip-bip do monitor.

— A Katniss se machucou no acidente, Peeta. Mas ela se machucou muito. Mais do que você. Ela ainda não acordou.

Silêncio. Todos ficaram em silêncio enquanto eu absorvia aquela informação. A enfermeira perguntou se eu queria tomar meus remédios naquela hora, mas eu não respondi. Mas ela continuou tagarelando, dizendo-me o quanto era importante que eu tomasse meus remédios, que eles me fariam descansar e melhorar de forma mais rápida. Eu não era tão burro ao ponto de não saber que o "descansar" ao qual ela se referia era "dormir". Os remédios me fariam dormir e eu simplesmente não podia voltar a fechar meus olhos naquele momento.

— Onde Katniss está?

— Aqui mesmo, mas no andar de cima. Na UTI.

UTI. UTI. UTI. A palavra batucava na minha cabeça no mesmo ritmo que os "bip-bip-bip-bip" do monitor cardíaco que logo estava apitando feito louco outra vez enquanto "UTI" martelava na minha cabeça.

Isso era ruim. Mais do que ruim. Isso era péssimo.

— O que aconteceu? — Minha voz estava meio rouca. Acho que era isso o que acontecia quando se passa muito tempo sem falar.

— O carro a atingiu mais do que a você. A pancada que ela recebeu no peito e na cabeça foi forte demais. Quando a emergência chegou pra buscar vocês, você está acordado e parecia bem, mas apagou assim que te colocaram na ambulância. Mas Katniss não. Pelo o que disseram, ela apagou assim que foi atingida. E não acordou desde então.

Eu gemi quando a imagem de uma Katniss atropelada e caída no chão encheu minha cabeça. A enfermeira perguntou se eu estava bem e minha mãe afrouxou o aperto na minha mão. A enfermeira parecia ansiosa pra me dar uns remédios e ir embora dali. E eu quase aceitei, sabendo que apagar e não poder pensar naquilo seria melhor do que enfrentar tudo aquilo.

— Eu preciso vê-la — disse por fim, tentando me levantar.

— Você não pode. Acabou de acordar e ainda não está cem por cento recuperado. — Minha mãe parecia tão aflita, como se estivesse prestes a chorar.

— E eu acho que você precisa tomar seus remédios agora e descansar um pouco — a enfermeira interrompeu.

— EU NÃO VOU TOMAR MERDA DE REMÉDIO NENHUM! EU NÃO QUERO DORMIR. EU QUERO VER A KATNISS. EU NÃO POSSO DORMIR E ACORDAR COM A NOTÍCIA QUE ELA MORREU. EU PRECISO VÊ-LA!

Todos arregalaram os olhos, até mesmo meu pai que não era do tipo de se assustar facilmente. Minha mãe finalmente soltou minha mão e a enfermeira saiu do quarto, falando alguma coisa em espanhol que não era compreensível pra mim. Eu podia apostar que ela estava me xingando.

— Eu preciso vê-la, mãe. Eu preciso.

— Você precisa se recuperar e ficar bom. É disso que você precisa agora, Peeta.

Mas assim que meus pais saíram do quarto eu pulei pra fora da cama, arrancando todas aquelas coisas que estavam plugadas em mim, e todas as agulhas que perfuravam meus braços. O "bip-bip" do monitor parou assim que eu terminei meu trabalho e eu corri pra fora do quarto, sem nem ao menos me preocupar se seria seguido ou não.

O chão estava frio sob meus pés, e aquela camisola do hospital realmente não era feita pra deixar os pacientes aquecidos. Pelo menos eu estava de cueca e não precisava me preocupar com as pessoas vendo minha bunda pelada enquanto eu corria por aí.

O maior problema era que eu não fazia ideia de onde Katniss estava. Aquele lugar era imenso e eu não poderia simplesmente sair abrindo porta por porta até encontrá-la. Isso levaria muito tempo e todo segundo era importante demais pra ser desperdiçado de forma boba. Então eu corri até o balcão de informações e precisei implorar pra que a mulher de óculos me dissesse onde ficava a UTI. Mas ela só continuava repetindo que aquela informação não era importante pra mim no momento, e que eu deveria voltar pro meu quarto. Ela ameaçou chamar um enfermeiro e eu corri pra longe dali antes que me obrigassem a voltar pro quarto e me fizessem dormir.

Perguntei a outra enfermeira onde ficava a UTI, mas ela apenas perguntou o que eu estava fazendo fora do meu quarto e descalço ainda por cima. Eu rolei os olhos, reprimindo minha vontade de gritar. Por que todos naquele lugar pareciam estar dispostos a me torturar ainda mais?

— É realmente importante. A minha namorada está lá e eu não faço ideia de como ela está. Se está bem ou muito mal... — Dei um suspiro cansado, me sentindo exausto demais pra continuar. Toda aquela corrida tinha acabado comigo. Acho que isso de alguma forma acabou amolecendo o coração da enfermeira.

— Sei que é importante pra você. Mas de qualquer forma, se sua namorada está na UTI, acho que será difícil deixarem você vê-la. O melhor seria voltar ao seu quarto e descansar um pouco.

— Eu não posso. Eu preciso vê-la. Por favor. — E então ela acabou cedendo, me dizendo que eu precisava ir até o andar de cima e que conseguiria achar Katniss por lá.

E eu voltei a correr. Eu estava exausto e meus pulmões ardiam pelo esforço que faziam, e continuava sem fôlego por mais que eles estivessem trabalhando com esforço. Eu peguei um elevador, que pareceu levar uma eternidade pra chegar no andar de cima e voltei a correr assim que saí dele, passando por enfermeiras, médicos e pacientes que enchiam os corredores.

Não foi difícil achar Katniss. Na verdade, eu só soube onde ela estava porque vi Prim e sua mãe sentadas no corredor em frente ao quarto onde ela estava. Prim correu na minha direção assim que me viu. Abraçou-me com força e imediatamente começou a chorar, molhando com suas lágrimas a camisola fina do hospital.
— Você está bem — ela disse com sua voz baixinha, mas a frase soava mais como uma acusação do que como se ela estivesse feliz por eu estar ali. Eu estava bem. Katniss não.

— Sim, eu estou bem. — Abaixei-me até ficar da mesma altura que ela e baguncei seus cabelos com um cafuné. — E você não precisa chorar. Logo Katniss também ficará bem e nós três vamos naquela sorveteria que você tanto ama.

Ela deu um sorrisinho triste e nós dois nos juntamos à sua mãe, que parecia muito cansada. Ela não sorriu pra mim. Ela nem olhou na minha direção. Eu tinha a estranha sensação de que ela me culpava por tudo aquilo. E pra ser bem sincero, eu também me culpava pelo acidente. Se não fosse por mim, se eu não tivesse insistido pra que eu e Katniss fossemos jantar fora pra comemorar nosso aniversário de namoro, nada daquilo teria acontecido. Eu podia entender a raiva que sua mãe sentia pois era o que eu também sentia.

Mesmo assim eu me sentei ao seu lado, com Prim ao meu lado agarrada a meu braço, chorando quietinha. Eu me sentia péssimo por ela. Katniss e Prim eram muito ligadas. Katniss me contou que mesmo que Prim tivesse um quarto só pra ela, elas faziam questão de dormirem juntas quase todas as noites. Elas tinham um tipo de relacionamento que eu invejava. Sempre quis ter irmãos, mas minha mãe nunca quis ter mais filhos.

— Como ela está? — Eu precisava quebrar o silêncio que já se tornava insuportável. Minutos haviam se passado desde que eu me sentara ali e a única coisa que cortava o silêncio entre nós era o choro baixo de Prim que ainda estava agarrada ao meu braço. Sua mãe não fez qualquer esforço pra olhar pra mim. Apenas balançou a cabeça e torceu a boca, como se ouvir minha voz fosse ruim demais pra ela.

— Como você acha que ela está? — Eu podia entender suas palavras rudes e aceitava isso. Eu estaria da mesma forma se estivesse em seu lugar. — O que você faz aqui, aliás? Não deveria estar no seu quarto?

— Deveria. Mas ver Katniss parecia mais importante do que ficar no quarto.

Ela resmungou alguma coisa que eu não consegui entender e fez uma careta. E aquilo me irritou. Eu sabia que aquele era um momento difícil, mas ela não precisava fazer tudo aquilo e ser tão rude comigo e com Prim, que foi rejeitada por ela quando buscou seus braços em busca de consolo.

— Sei que você está mal, mas não nos trate como se não estivéssemos no mesmo barco. Eu estava lá. Eu estava ao lado dela quando tudo isso aconteceu. E se você acha que eu não estou mal, que não estou triste e me amaldiçoando por ter levado-a pra sair naquela noite, saiba que você está errada.

Eu me levantei e Prim ergueu seus olhos, assustada, observando-me do seu lugar no banco. Eu queria gritar. Eu queria xingar e bater em alguma coisa.

— Eles me disseram que ela pode não acordar. — E então ela chorou. Minha sogra chorou e enterrou o rosto em suas mãos, soluçando e todo seu corpo tremia por causa do choro. Prim a abraçou, dessa vez consolando a mãe que há pouco havia se recusado a consolá-la. Eu não podia assistir àquilo. Eu não podia continuar ali.

Eu queria ver Katniss mais do que tudo, mas eu não estava pronto. Eu não estava pronto pro que eu poderia encontrar quando entrasse em seu quarto. Eu não fazia ideia de como ela estava e tinha medo do que isso poderia provocar em mim. E eu não podia presenciar a tristeza que pairava sobre Prim e sua mãe. Aquilo me afetava mais do que tudo.

Então eu corri de novo. Corri pelos corredores até encontrar um banheiro e me prender lá dentro. Entrei numa das cabines, sentando-me sobre a tampa fechada do sanitário e reprimindo um grito que estava agarrado na minha garganta.

Não conseguia deixar de pensar que aquilo era minha culpa. Que eu era o culpado por Katniss não ter acordado ainda. Eu era o culpado pelo acidente.

E se ela não acordasse, eu jamais me perdoaria por isso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

comentem ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Stay With Me" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.