~Pov Draco

A noite já havia chegado e logo eu teria que levá-lo para casa. Scorpius permanecia dormindo em meus braços, eu ainda não o havia levado para o quarto. Ele parecia tão calmo e sereno que seria um crime correr o risco de acordá-lo.

Assim que ouvi a campainha pensei em Hermione. Talvez ela pensasse que eu havia demorado demais e tenha vindo buscá-lo. Suspirei, queria ficar mais tempo com ele.

Minha mãe surgiu na sala fazendo um sinal para que eu continuasse onde estava e foi até a porta, atendendo-a. Surpreendi-me ao ver que era Theo. Ele sorriu quando seus olhos encontraram o pequeno adormecido e se sentou diante de mim.

—Parece que o discurso de “nunca vou me casar e muito menos ter filhos” que você fazia com tanto fervor desde o quarto ano não era sério já que você está babando pelo Scorp. –Ele disse baixinho para não acordá-lo e riu, me fazendo revirar os olhos.

—Sabe que eu só não queria ter filhos para poupá-lo dessa família problemática.

—Ainda pensa dessa forma?

—Como pode ver não me vejo mais sem ele. Mas e você? Quando vai desistir da vida de solteiro?

—Provavelmente nunca. –Eu ri. Parece que o tempo não havia mudado Theodore. –Quando terminei com Pansy no quinto ano percebi que relacionamentos não são o meu forte.

—Eu avisei que se fosse para magoá-la era melhor nem ter se aproximado. Pan não é qualquer garota, sempre soube disso.

—Saber disso não me impedia de sentir atração por ela. E Pansy nunca foi tola, sabia o que esperar de mim.

—Blás já descobriu sobre vocês?

—Não e nunca vai descobrir. –Eu revirei os olhos.

Foi quando Scorp começou a se mexer, abrindo os olhos acinzentados como os meus e de meu pai e bocejando. Theo e eu esperamos que ele dormisse de novo, mas não aconteceu. Desviando o olhar de mim para ele, o loirinho deitou sua cabeça em meu peito mais uma vez.

—Boa tarde, tio Theo. –Nós sorrimos.

—Quis dizer boa noite, não?

—Tanto faz. –Murmurou o preguiçoso, me fazendo rir. –Dormi muito?

—Dormiu. –Respondi.

—Então por que ainda estou com sono? –Falou arrancando mais risadas.

—Vou levá-lo pra casa, sua mãe deve estar preocupada e provavelmente querendo me matar pela demora. –Eu disse me levantando com ele nos braços. –Quer vir também? –Chamei Nott e ele se levantou.

—Espero que o Weasley não esteja em casa.

—Somos dois.

—Três! –Disse o mais novo.

Será que Hermione sabia o que o filho pensava a respeito de seu casamento?

*-*

Bati na porta esperando encontrar Hermione, mas quem nos atendeu foi Gina. A ruiva sorriu e me abraçou, acariciando os cabelos da criança em meus braços.

—Boa noite, tia Gina.

—Boa noite, querido. –Ela sorriu, cumprimentando Theodore com um aceno de cabeça e nos dando licença para entrar.

—Hermione está muito brava pela demora? –Perguntei ao ouvir o tom irritado da morena vindo da cozinha.

—Não, ela está irritada com outra coisa.

—Gina, por que está demorando tanto? –O Weasley disse vindo até a irmã. Quando pousou os olhos em mim imediatamente sua expressão mudou e eles faiscaram. Devolvi seu olhar na mesma intensidade. –O que faz aqui?

—Vim trazê-lo pra casa.

—Já o trouxe.

—Quer começar outra discussão, Weasley?

Mas antes que ele tivesse a chance de responder, sua esposa, seguida por Pansy, veio até a sala. Ambas olharam de mim para ele, e eu as cumprimentei com um aceno de cabeça.

—Eu o levo para o quarto. –O ruivo disse olhando brevemente para Hermione.

—Posso fazer isso, obrigado. Sinto muito pela demora, não acontecerá novamente. –Murmurei me forçando a tirar os olhos dela.

Hermione balançou a cabeça e eu subi as escadas reparando em como os olhos dela faiscavam. O coloquei na cama e o admirei por mais alguns minutos. Quando voltei à sala encontrei todos conversando em um canto enquanto o cabeça de cenoura tentava acalmar Hermione.

Ele segurava o rosto dela próximo ao seu e murmurava coisas. Não percebi que eles tinham minha total atenção até que Gina disse algo ao meu lado:

—Não deveria se torturar assim. –Desviei meu olhar para os seus.

—Não estou me torturando.

—É mesmo? Por que eu tenho certeza que o que vi em seus olhos não era nada parecido com alegria.

—Você e Pansy resolveram se juntar contra mim? –Minha pergunta a fez soltar um risinho.

—Só quero o melhor para todos vocês.

—E o melhor pra mim seria ficar com ela? –Perguntei com as sobrancelhas arqueadas e um sorriso divertido nos lábios que a fez revirar os olhos.

—Ron, Mione, nós já vamos, preciso estar em casa quando Harry chegar e Draco disse que pode me levar. –Ela falou fazendo o casal se separar.

A olhei estranhando, mas ela não me deu mais que um sorriso. Theo disse que levaria Pansy para casa e eu saí, acompanhado da ruiva. Por algum motivo ela se recusou a aparatar, então tivemos que ir andando.

—Tem algum interesse em Daphne Greengrass? –Perguntou direta me fazendo franzir o cenho.

—Eu não sei, por quê?

—Porque parece que ela está muito interessada em você.

—E como você sabe disso?

—Ela deixou bem claro quando a encontramos na loja de vestidos. –Um sorriso surgiu em meus lábios e ela bufou, me dando um tapa na cabeça.

—Ai! Por que fez isso? –Disse levando a mão ao lugar.

—Não procurou saber o que aconteceu no período que esteve fora? –A ruiva cruzou os braços.

—A parte importante eu já sei: Hermione descobriu que estava grávida, pensaram que eu morri e ela se casou. –Dei de ombros. –Daphne não me parece estar envolvida nisso.

—Sei que este não é o momento e que o baile é amanhã, mas, por favor, procure os jornais e leia o máximo que puder. Você não pode continuar no escuro, Draco! –Ela suspirou.

—Tudo bem. –Balancei a cabeça mesmo confuso com todas aquelas palavras, o que pareceu bastar para Gina, que agora sorria.

—Obrigada. –E beijou meu rosto. –Nos vemos no baile.

Ela piscou o olho e seguiu até a casa diante de nós. As luzes já estavam acesas, o que significava que o Potter já estava em casa, mas ser vista comigo ali não pareceu preocupá-la.

Seu marido abriu a porta e lhe deu um beijo, pegando sua mão. Sorri, feliz por ela e quanto estava prestes a ir embora os dois acenaram pra mim, ambos com um sorriso no rosto.

Quando cheguei em casa fiz exatamente o que ela me falara. Liguei para Skeeter e pedi para trazer uma cópia de cada Profeta Diário que havia saído enquanto estive fora.

—Seja mais específico querido, você esteve preso por seis anos, faz ideia de quantos foram lançados nesse tempo? –Soltei o ar cansado. –Vamos, me diga o que está procurando e se tiver algo bom para me oferecer em troca posso levá-los ainda hoje.

—Quero todos que falem sobre Hermione ou Scorpius. –Esclareci após engolir meu orgulho e ela soltou uma gargalhada.

—E eu posso perguntar o motivo?  -Disse ainda rindo.

—Não. Qual o seu preço?

—Quero que permita minha entrada no baile que dará amanhã.

—Se ficasse longe do Scorpius eu com certeza poderia.

—Querido, não é comigo que tem que se preocupar. –Ela riu mais uma vez. –Não quero arrumar problemas, por isso ficarei longe dele.

—Ótimo.

—Então temos um acordo.

Quando ela chegou, eu já não aguentava mais esperar. Abri a porta e ela entrou, trazendo apenas uma bolsa consigo. Imaginei que estariam ali graças a algum feitiço de extensão. Ela tinha um sorriso nos lábios, diferente de mim, que estava ansioso para que ela saísse assim eu finalmente poderia entender o que Gina queria dizer.

—Trouxe?

—Lembrando que só vou dá-los a você quando me der o que prometeu.

Revirei os olhos e fui até a mesa de centro. Só de ver o convite seus olhos brilharam de satisfação e um sorriso malicioso se instalou em seus lábios. Antes de entregá-la, avisei:

—Se eu vê-la perto de Scorpius a colocarei pra fora na mesma hora.

—Já disse que não é comigo que deve se preocupar. -Entreguei-lhe o convite e ela abriu a bolsa, jogando uma pilha perfeita de exemplares diante de mim, seguindo até a porta. Quando cheguei até lá para abrí-la ela me puxou, me dando um selinho. Assim que percebi o que estava acontecendo me afastei. –Sua obsessão por Hermione Granger ainda vai matá-lo, Malfoy.

E Skeeter saiu, me deixando um tanto atordoado. Me aproximei dos jornais, percebendo que estavam organizados em ordem cronológica dos acontecimentos, ainda bem, mas ainda sim eu teria muito trabalho a fazer.

*-*

Já havia perdido a conta de quantos jornais eu havia lido. A raiva em mim triplicava a cada palavra, insinuação ou mentira que eu lia. Não demorou para que eu entendesse o que Gina queria dizer quando me deu aquele tapa: “Não se aproxime da  Greengrass”.

Daphne havia escrito mais da metade daquelas mentiras sobre Hermione, sobre mim e até Scorpius, que era apenas um bebê na época. E eu queria saber o motivo.

Quantas vezes Hermione Granger, nossa adorável sabe-tudo, teria nos entregado aos Comensais? Quantas mortes foram provocadas por informações que ela compartilhou com seu amado? Será que a Ordem da Fênix sabia de seu caso amoroso com Draco Malfoy?

Aquelas perguntas com certeza a destruíram. Ela nunca me contou nada, preferia morrer a isso, eu sabia. Ainda me perguntava quantas pessoas haviam acreditado no que Daphne publicara e em como reagiram a tudo. Pelo jeito como Hermione odiava o Profeta percebi que da pior maneira possível.

O herdeiro Malfoy, fruto de uma relação amorosa entre um Comensal da Morte e um membro da Ordem da Fênix, acaba de nascer. Seu nome? Scorpius Hyperion Granger Malfoy. E neste dia maravilhoso tudo o que se passa em minha cabeça é: Será que a existência da criança é conhecida pelo pai? Será que ele ficaria feliz com a notícia de que seu primeiro herdeiro acabou de nascer? O que a senhora Narcisa Malfoy pensa sobre isso?

Conheci Draco no meu primeiro ano em Hogwarts e ainda me lembro claramente do que dizia aos amigos quando conversavam no salão comunal da Sonserina sobre o futuro. Lembro-me das vezes em que ele disse que nunca teria filhos, que não se casaria. Draco com certeza nunca gostou da ideia de ser pai e ter uma família. Infelizmente tudo o que podemos fazer agora é esperar para ver como ele reagirá ao saber o que aconteceu.

Entretanto eu não me surpreenderia se ele se arrependesse de todas as palavras ditas, afinal, uma das coisas que ele costumava dizer em alto e bom som para todos em Hogwarts era o tamanho de seu ódio por Hermione Granger. Será que a guerra o mudara tanto a ponto de se esquecer destes pequenos detalhes?

Amassei aquele papel jogando-o na lareira. Não aguentava mais. Como Daphne teve a coragem? Como pôde atacar um recém-nascido desta maneira? Será que no futuro essas notícias chegariam à Scorpius e ele pensaria que eu nunca o quisera?

Não, as coisas eram diferentes agora. Ele rapidamente se tornou a pessoa mais importante para mim, e eu deixaria isso claro a ele.

E também faria Daphne pagar por essas mentiras estúpidas. Ela estava interessada em mim, Gina contou, nada mais justo do que usar isso contra ela. Começaria fazendo-a pedir desculpas à Hermione.

Tudo o que eu sempre quis, os segredos que você guarda
Tudo o que você sempre quis
A verdade que eu não pude falar
Pois eu não posso ver o perdão e você não pode ver o crime
E nós dois continuamos esperando por
Aquilo que deixamos pra trás