Uma rápida olhada no espelho e ela estaria pronta para ir.

Depois de anos fugindo dos jornais e revistas, evitando lugares onde a mídia pudesse tirar uma foto que fosse, Hermione estava indo diretamente para os holofotes.

Sabia que sua presença naquele baile chocaria a todos e que com certeza se tornaria notícia, e sem Scorpius para confortá-la com um sorriso as coisas se tornavam ainda mais complicadas.

O pequeno havia ido para a casa do pai, iria com ele para o baile, e considerando todo o tempo que os dois haviam perdido, ela nunca poderia negar o pedido de Draco.

—Está pront... Uau! Mione, você é a mulher mais linda do mundo! –Ronald disse com um sorriso nos lábios, admirando sua esposa.

Ele beijou seu rosto, colocando uma das mãos em sua cintura e ela se virou para ajudá-lo com a gravata.

—Hey, se não quiser ir eu não me importo de ficar aqui, okay? –Falou segurando o rosto dela e fazendo-a olhar em seus olhos.

—Não, eu estou bem, quero ir. –E forçou um sorriso que não o convenceu nadinha, mas preferiu não tocar no assunto novamente.

—Prometo não deixá-la sozinha com jornalistas e muito menos deixá-los se aproximar de Scorpius. –Sabia que era exatamente o que a preocupava, pelo menos em partes, e ouvir aquilo lhe trouxe um pequeno alívio.

Deu um beijo demorado no marido e pegou sua mão. Estava pronta para voltar a Hogwarts, um lugar que sempre chamaria de casa, mesmo que suas últimas lembranças nele não fossem as melhores.

*-*

Draco estava cumprimentando os convidados, e Scorpius insistiu em ficar ao seu lado o tempo todo. Queria estar com o pai quando sua mãe chegasse. Estava com saudades, portanto queria ser o primeiro a vê-la.

Seu pai estava conversando com uma senhora mais velha e não parecia nem um pouco contente. Enquanto isso o pequeno loirinho tentava entender a estampa colorida do vestido dela e por que ela havia pensado que óculos vermelhos combinariam com ele. Foi quando os olhos dela caíram sobre ele e ela abriu um enorme sorriso.

—Então você é o famoso Scorpius Malfoy?

—Sim senhora.

—Não, por favor, pode me chamar de senhorita. –Ela riu e Draco revirou os olhos.

—Tudo bem, senhorita.

—Céus, quando me disseram que eram parecidos não imaginei que fosse tanto. –A loira disse olhando de pai para filho.

—Acho que já se esqueceu do trato que fizemos, não é Skeeter? –O mais velho perguntou colocando-se entre o filho e a mulher do vestido esquisito.

Skeeter? Aquele nome não lhe era estranho. Sua mãe já havia falado algumas vezes, será que eram amigas?

Ela levantou as mãos olhando para Draco. Aquele sorriso ainda em seus lábios. A mulher então pegou a gravata do pai e o olhou nos olhos murmurando algo que Scorpius não conseguiu ouvir e em seguida saiu, lhe dando visão ampla da porta, onde a mulher mais linda do mundo entrava procurando ansiosamente por alguém.

—Mamãe! –Gritou, atraindo a atenção de todos e fazendo Hermione corar. Correu até ela e pulou em seus braços, sendo recebido com um beijo demorado no rosto.

Rapidamente os jornalistas se juntaram em volta da mulher com inúmeras perguntas e flashes. Suas mãos ficaram trêmulas e apenas Ronald percebeu, colocou sua mão na cintura da mulher, segurando-a com firmeza e ela lhe lançou um sorriso em agradecimento.

Draco sabia que ela detestava ser o centro das atenções. Ver que aquilo não havia mudado quase o fez sorrir. Se aproximou reparando em cada detalhe dela. Ovestido, os cabelos, os lábios que um dia ele beijara com tanta intensidade e os olhos castanhos que pareciam vê-lo por dentro...

Scorpius ainda estava em seu colo falando animadamente sobre a “mulher do vestido estranho” e, infelizmente, havia um ruivo idiota segurando-a na cintura, ocupando exatamente o lugar que ele deveria ser dele.

—Estou feliz que tenham vindo.

—Dessa vez você se superou mamãe, até a tia Gina chegou primeiro! – Scorpius disse fazendo-a rir. Enquanto isso as câmeras continuavam a registrar todos aqueles momentos.

—Eu queria ficar bonita pra você. –Hermione murmurou, beijando-lhe o rosto.

—Não precisava se preocupar, você é a única menina bonita que eu conheço.

—A única?

—As outras são todas assustadoras.

Draco e Hermione riram e ela o colocou no chão, segurando sua mão logo depois. Percebendo que era o intruso ali e que talvez os dois precisassem conversar, Rony resolveu que talvez seria bom se afastar um pouco – mas não o bastante para não ver o que estava acontecendo.

—Vou procurar a Gina. –Rony perguntou cumprimentando o loiro com um breve aceno de cabeça. –A festa está ótima Malfoy. –E saiu, deixando-a sozinha com os dois.

—Está linda. –Draco murmurou, se retirando logo em seguida. Não queria problemas em seu próprio baile, portanto seria bom não ficar sozinho com ela.

—Eu sabia que este era o certo pra você. –Pansy apareceu com um sorriso no rosto, assustando a amiga que seguia Draco com os olhos.

Rapidamente Hermione a abraçou apertado, enquanto sussurrava um “Por favor, não me deixe sozinha com essa gente”.

*-*

Draco observava a festa atento a todos os detalhes, mas bastava uma rápida olhada em Hermione para se esquecer completamente de tudo. A morena estava dançando com o cabeça de cenoura e Scorpius estava brincando com Hunter próximo a Pansy e Blásio.

—Vai chamá-la para dançar? –Theo surgiu ao seu lado com uma expressão divertida no rosto.

—Não. –O amigo respondeu bebendo o que restava em seu copo.

—Deveria.

—Não, eu não deveria. Você só está me incentivando para irritar o Weasley. –Draco disse com um sorriso.

—Sei que não sou o único que quer isso.

Malfoy riu junto com o amigo e Harry Potter se aproximou. Tinha algo nas mãos e uma expressão indecifrável no rosto. Theodore logo se afastou, poderia perguntar o que era aquilo depois.

—Sei que não é a hora e muito menos o lugar certo, mas achei uma coisa pra você e sei que vai querer ver agora. –Potter disse lhe entregando a pasta.

—O que é isso?

—O único auror que não compareceu a reunião que marcamos. –Draco se apressou para abrir aquilo, não acreditando no que estava acontecendo. Finalmente estavam perto de descobrir o responsável por tudo o que havia acontecido.

Olhou bem para a foto que acompanhava a ficha do homem e sorriu ao ver que era exatamente quem procurava. Harry percebeu a expressão no rosto do Malfoy, estava satisfeito por finalmente terem encontrado.

—Evan Zender.

—Pela sua expressão vejo que encontramos o cara certo.

—Não acredito que finalmente vamos descobrir o motivo pelo qual esse filho da mãe fez isso. –Murmurou suspirando aliviado. –Quando podemos falar com ele?

—Esse é o problema. –Harry disse suspirando. Draco não gostou nem um pouco do rumo que a conversa estava tomando. –Invadiram a casa de Zender ontem à noite. Se os medibruxos tivessem chegado um pouco mais tarde ele estaria morto.

—Invadiram? Para quê? Roubar? –Draco disse se controlando para não começar a gritar e atrair atenção.

—Não encontramos nada fora do lugar. Temos que esperar até que ele acorde e possa receber visitas.

—Então tem alguém tentando nos atrasar.

—Foi a primeira coisa que pensei. Sinto muito, Malfoy.

—E se tentarem de novo?

—Coloquei aurores no St. Mungus, eles vão impedir que qualquer coisa aconteça até que ele acorde.

Draco balançou a cabeça, pegando um copo de champanhe que um garçom lhe ofereceu. Percebeu os olhos castanhos de Hermione em sua direção, não sabia se por estranhar que ele e Potter estivessem conversando, ou se porque a expressão dele não era das melhores. Gina Potter se aproximou, segurando o braço do marido e sorriu.

—Se importa se eu roubá-lo para uma dança? –A ruiva perguntou. Estava deslumbrante.

—Vai lá, Potter. –Draco disse indicando-a com a cabeça. –Guarde uma dança pra mim, eu preciso falar com você.

Ela balançou a cabeça e os dois saíram. “Algumas coisas nunca mudam”, pensou ao ver que o sorriso que Gina tinha nos lábios era o mesmo que ela o lançava quando estavam em Hogwarts e ele não estava olhando.

Notou Daphne Greengrass olhando-o e rapidamente todas aquelas palavras que ela havia escrito sobre Hermione e Scorpius invadiram sua mente. Será que ela sabia que ele havia lido as notícias?

Ela estava ao lado da irmã, que parecia entediada enquanto comia. Caminhou na direção das duas com um sorriso nos lábios, fazendo com que a mulher perdesse o fôlego por alguns segundos. Ele sabia bem o poder que tinha sobre ela.

—O que a mais linda da festa está achando? –Perguntou ao se aproximar.

—Achei que não viria falar comigo nunca. –Daphne murmurou e Astória revirou os olhos. –Está tudo maravilhoso, inclusive o dono dela.

—Me desculpe, mas você é...? –Aquela pergunta fez a mais nova soltar uma gargalhada, enquanto a mais velha arqueava as sobrancelhas. –Quer saber, não importa. Poderia dizer a esta bela dama que quando me referi a mais linda da festa era dela que eu estava falando? Parece que ela ainda não percebeu.

—Oi? –As duas perguntaram juntas e Astória se deteve antes de colocar outra coisa na boca.

—Draco Malfoy. –O loiro estendeu sua mão para a mulher, que pegou mesmo estranhando tudo o que estava acontecendo e ficando ainda mais surpresa quando ele levou sua mão até os lábios, beijando delicadamente.

—Astória Greengrass.

—Me daria a honra desta dança? –Ela olhou para a irmã, vendo um enorme ódio crescer em seus olhos. Daphne a lançava um olhar ameaçador, mas ela não se importava com isso.

Não pensou duas vezes antes de ir com ele até o centro do salão com um sorriso nos lábios e a certeza de que recebiam toda a atenção dos convidados. A música que tocava era lenta, e ele a puxou pra perto para que ficassem mais próximos. Sabia que sua irmã estava morrendo naquele momento, o que só tornou tudo ainda melhor.

—Então, como estava o mini quiche? –Draco perguntou direcionando seus olhos acinzentados para ela, fazendo-a rir.

—Ótimo, deveria provar.

—Pode ter certeza que eu vou. –Murmurou.

—Fez isso para irritá-la?

—Fiz. Isso é um problema? –Respondeu sincero, arrancando mais um riso dela.

—Você sabe que não, Draco. –A loira piscou o olho. –Mas fingir que ela não existia... Foi golpe baixo.

—Nada que ela não mereça.

—E esse tom significa que você andou lendo jornais.

—Digamos que não fiquei muito feliz.

—Não ligue para o que as pessoas falam, o garoto é adorável, e acho que ninguém deveria dizer à Hermione o que fazer, só deveriam cuidar de suas vidas.

O tempo passou e os dois continuaram conversando. Daphne se retirou ao ver que não receberia nenhuma atenção de Draco, e Astória sabia que ao chegar em casa teria que ouví-la fazer um escândalo, mas não se importava, para quem achava que o baile seria entediante, ela até que estava se divertindo.

O momento do discurso chegou e ele teve de pedir licença para a mulher. Se levantou e seguiu até o palco que ali havia, usando um feitiço para amplificar sua voz.

—Boa noite! –Começou. –Antes de tudo eu gostaria de agradecer a presença de todos vocês nesta noite tão importante não só pra mim, mas para o futuro desta empresa. –Os bruxos aplaudiram. -Vejo muitos olhares confusos em minha direção, mas não os culpo, afinal não é todo dia que vemos alguém que todos achavam estar morto simplesmente dando uma festa. –Todos riram e ele logo continuou.

“Eu, Draco Malfoy, os trago aqui nesta noite para dizer que tudo vai mudar. A empresa Malfoy está com um novo projeto, e eu tenho que dizer, realmente esperei muito tempo para que acontecesse. Portanto é com muito orgulho que lhes apresento a vassoura mais rápida do mundo: Constallation!”

Todos aplaudiram ansiosos e com um movimento de varinha uma vassoura preta passou voando sobre todos os convidados, indo exatamente até a mão direita de Draco. Era preta como a Nimbus 2001, porém na ponta do cabo havia a pequena constelação de dragão.

No momento em que viu aquela vassoura simplesmente parou de ouvir a explicação do pai sobre a velocidade da vassoura e do que era feita, olhou para a mãe como se implorando por uma. Sabia que seu pai não o deixaria subir sem que sua mãe concordasse, então se apressou para convencê-la. Até Ronald parecia maravilhado.

Os convidados pareciam impressionados demais para olhar para outra coisa, mas Draco, que estava de frente para todos, viu exatamente o momento em que um homem com uma máscara como a que os comensais usavam durante a guerra, levantou a varinha em sua direção e gritou:

—Avada Kedavra!

O feitiço iluminou todo o local, preenchendo-o com medo e desespero. Todos começaram a correr, tentando encontrar formas de sair dali, mas Hermione estava em choque. Não sabia se o feitiço o havia acertado e não estava pronta para perdê-lo de novo, não daquela forma.

 Ela sabia que não estava pronta para outro adeus.

Não diga adeus
Porque eu não quero ouvir aquelas palavras esta noite
Porque talvez este não é o fim para você e eu
E apesar de sabermos
Que este tempo viria para nós dois
Não diga nada esta noite
Se você for dizer adeus