Bianca simplesmente adorou o quarto de hotel que Percy reservara. Ele era, com toda a certeza do mundo, muito mais confortável que seu pequeno quarto na casa de seus pais, e até mesmo que sua casa em Londres, embora sentisse realmente muita saudade do lugar.

Reyna mandara uma mensagem naquela mesma manhã, avisando que Leo estava bem e pedindo a ela que agradecesse Connor pelas passagens – que, aliás, eram de primeira classe. Pelo que a italiana entendera, o homem acordou no meio da noite, contradizendo os médicos.

Jogou-se no sofá da pequena sala, deixando um grande suspiro escapar. Apesar de ter saído da casa que tanto abominava, nada havia realmente mudado; ainda não tinha nada para fazer, muito menos com suas amigas em outro continente novamente, e Nico saíra de manhã afirmando que voltaria logo – já fazia horas!

Pensou em passar numa livraria para comprar alguns livros, pelo menos ficaria ocupada por algumas horas e depois teria algo a fazer, mas se lembrou que estava sem carro – o seu ficara no outro país – e não tinha o telefone de nenhum táxi, nem sabia onde havia algum ponto.

Felizmente, seu estado de melancolia pós esperança de ter algo para fazer foi interrompido pelo som do interfone. Esticou sua mão por cima do encosto do sofá, se espreguiçando inteira para alcançar o aparelho, e agradeceu por ele não ter fio que o ligasse à base, levando-o de encontro ao seu ouvido.

Surpreendeu-se ao descobrir que Connor estava no saguão e logo estaria à sua porta. Se esquecendo totalmente que ainda usava pijama – uma regata branca e um short de gatinho – resmungou enquanto se levantava da sua confortável posição, tendo como consolo que agora certamente teria algo para fazer – nem que fosse comer os restos da comida japonesa que ela e o irmão pediram na noite anterior junto ao homem que subia.

Só lembrou-se de sua roupa constrangedora quando o homem lhe olhou de cima a baixo e a pequena garota em seu colo exclamou em alto em bom som: “gatinho!”. Ficou constrangida – ora, quem não ficaria? – mas disfarçou, ou tentou, abrindo um sorriso tímido e dando passagem para os dois.

— Eu fui pegar Brianna na casa da mãe de Luke e ela me pediu para ver você! – Sorriu também, tirando seus olhos do short curto que a mulher usava. – Eu pensei que poderíamos sair, nós três. Quem sabe ir ao cinema?

— Eu adoraria! – Seu sorriso aumentou, mas suas mãos continuavam cruzadas em frente ao corpo, tentando defender-se da própria vergonha. – Fique a vontade, eu vou me trocar e já volto!

Sem cerimônia, andou apressada até o quarto. Connor quase riu da maneira que a mulher saiu do cômodo, aos olhos dele ela era tão adorável! Ficou extremamente feliz quando Brianna lhe fizera o pedido, assim teria uma desculpa para ir vê-la mesmo que tivessem se despedido algumas horas antes.

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— Toc toc. – Luke pronunciou ao mesmo tempo em que batia na porta. Megan não se deu ao trabalho de virar-se, ou de fazer qualquer coisa minimamente amigável. Ainda estava irritada pelo dia anterior e não escondia isso; aliás, parecia uma criança, fazendo caretas e evitando o homem. – Vamos lá, Meg! Eu já pedi desculpas para você e para meu pai, e já até o agradeci pelo presente!

— Bem, não fez mais do que a sua obrigação! – Continuou sentada na cadeira giratória, à frente de seu monitor, provavelmente em mais um leilão de discos, sem se virar. Ela poderia sem bem insistente e irritante quando queria – exatamente como uma criança mimada.

O homem suspirou, entrando no quarto, andando até a mulher e virando sua cadeira para que ficasse de frente para si. Olhou para os olhos azul-escuros dela, sentando-se no chão.

— Eu realmente estou arrependido por não ter aceitado aquele presente, eu gostei muito dele! – Sua voz era mansa, como se falasse com algum tipo de fera – pensando bem, com o cabelo do jeito que estava, ela realmente se parecia com uma. – Talvez você tenha razão e eu esteja sendo totalmente mimado e egoísta. Mas, ei, se eu não tiver você para me mostrar isso, quem vai?

Megan deixou a cabeça pender para um lado, suspirando. Ele jogara realmente sujo, sabia, desde a primeira vez que ela agira assim, que isso iria funcionar – mesmo que depois viessem mil e uma reclamações por parte da mulher.

Luke sabia também que nunca conseguiria viver sem Megan o apoiando; provavelmente já estaria totalmente perdido se ela não estivesse ao seu lado todos esses anos. Talvez essa fosse a razão de, alguns anos antes, tê-la perdoado por partir seu coração ao entrar em um avião no meio da madrugada, e também de ter trancado seu amor por ela – no fundo, sempre soube que não iriam dar certo, de qualquer maneira.

E, ao ver o sorriso derrotado da mulher, não pôde deixar de sorrir também.

— Penteie esse cabelo e vista algo decente, nós vamos a qualquer lugar que queira ir! – Se levantou e estendeu a mão para que ela fizesse o mesmo. – Você conseguiu algum disco hoje?

— Eu estava conseguindo até você me interromper! – Andou até o closet, tirando a blusa e a jogando em cima da cama. –Tudo bem, não é como se eu o quisesse tanto; Elvis nunca foi um dos meus preferidos, de qualquer forma!

Luke se sentou na cadeira, sabendo que demoraria algum tempo até ela encontrar uma roupa que quisesse vestir – não por vaidade, mas por seu closet ser uma bagunça. Olhou para a página da internet que estava aberta; alguém já havia comprado o disco.

— Aliás, o que você quer? – A mulher perguntou, sua voz abafada pela parede do closet. – Geralmente você não vem tão cedo quando estou irritada com alguma coisa que fez!

— Eu estou precisando de uma amiga para conversar. – Suspirou, virando a cadeira mais uma vez. Megan apareceu, as sandálias em uma das mãos e puxando a blusa pelo corpo com a outra, enquanto segurava uma bolsa pela alça com os dentes.

— Aqui estou! – Já havia terminado de colocar a blusa e segurava a bolsa com a mão; seu cabelo conseguia estar mais bagunçado do que antes. Ela se sentou na cama para poder colocar as sandálias sem cair.

— Você acha que Nico ainda pode ter algum sentimento por Thalia? – Perguntou, sua voz vacilando um pouco. – Eles pareciam tão próximos ontem, como se esses cinco anos nunca tivessem existido!

Megan deixou a sandália de lado e olhou para o amigo, pensando no que acontecera na noite anterior. Sim, ele tinha razão: os dois pareciam realmente próximos, quase como ela e Luke. Mas, surpresa! Os dois não estavam juntos, assim como eles.

— Sinceramente? Eu acho que sim. – Voltou sua atenção para a sandália. – Um amor igual a esse não acaba assim, de um dia para o outro, principalmente porque eles foram forçados a se separar. – Levantou levemente os olhos para ver a expressão do amigo. – Mas isso não quer dizer que vão voltar a ficar juntos. Antes de serem amantes eles eram amigos, podem muito bem apenas ser isso. Veja nós dois, por exemplo. Nenhum problema, certo?

Luke pensou por um instante no que ela dissera, até chegar à conclusão que era verdade. Realmente, as histórias eram muito semelhantes. Sorriu levemente para a mulher, que se levantou.

— Eu vou apenas pentear meu cabelo e já volto. – Anunciou. – E, se você continuar tratando seu pai como ontem, te coloco para dormir no jardim e roubo seu quarto para mim!

O home deixou uma risada sair. A parte de ir dormir no jardim não lhe agradava muito, mas não era como se ela já não estivesse com a posse de seu quarto – por ter banheiro e por Luke não passar muito tempo no lugar, ela apenas levava seu notebook (que, aliás, lhe acompanhava em todo o canto que ia) e passava o dia lá, às vezes chegando a dormir e obrigando Luke a ir dormir no dela.

— Você sabe onde está Travis? – Megan entrou novamente no quarto, agora com seus cachos perfeitamente arrumados e maquiagem no rosto. – Ele pegou meu fone de ouvido emprestado e ainda não devolveu.

— Ele foi levar Katie em casa ontem e não voltou. – Luke deu de ombros. – E Connor também, foi buscar Brianna e me mandou uma mensagem dizendo que passaria o dia fora.

— Ele realmente ama essa garotinha, não é? – Ela sorriu, pegando a bolsa e parando na frente dele, indicando que estava pronta. – Desde que ela nasceu, eles sempre foram muito apegados.

— Ele vai ser um bom pai algum dia. – O homem se levantou e se aproximou dela, colocando as mãos em seus braços. – Está linda! – Deu um beijo em sua bochecha, antes de acompanha-la para fora do quarto, ignorando a careta que ela fizera; nunca iria entender o porquê de a mulher não se achar bonita.

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Assim que chegou em casa, depois da conversa que teve com Percy, encontrara Annabeth fazendo o almoço – o que a assustou, primeiro porque esperava que a loira ainda estivesse chorando de raiva do homem e segundo porque a comida dela era realmente ruim.

— Você está bem, Annie? – Perguntou enquanto entrava na cozinha. – Sabe, eu acho que poderíamos dar uma volta na cidade, encontrar alguma coisa para fazer. Isso poderia te animar.

— Eu até gostaria, mas tenho trabalho para fazer. – A loira se virou para a amiga com um pequeno sorriso, antes de voltar a mexer freneticamente a panela. – E você tem que ligar para Nico. Ele veio até aqui te procurando.

— Eu tenho que me assustar por esse sorriso aparecer enquanto você fala do Nico? – Perguntou num tom de brincadeira, mas estava preocupada de verdade. Já até imaginava Annabeth quebrando uma vassoura na cabeça do homem.

— Não, ele só passou aqui porque queria te fazer uma surpresa e, quando eu disse que você não estava, me pediu para te avisar. – Era bem mais complexo que isso, claro. Aliás, Nico nem ao menos sabia que ela estava falando aquilo, mas, depois de ele ter perdido seu tempo apenas para que ela não ficasse com raiva, não poderia deixar o homem na mão.

— Não está tentando cuidar da minha vida apenas para esquecer a sua, não é? – Thalia conhecia muito bem a amiga para saber que ela estava fugindo. E deu uma pequena risada quando a loira se virou para ela com uma expressão ofendida.

— Acredite, Grace, se eu estiver cuidando da vida de alguém aqui, além da minha, é a de Nico. – Deu de ombros logo depois. – A sua é desinteressante, de qualquer forma. E, se você prefere ficar aqui e comer minha comida a sair com ele, eu não me importo.

Thalia se levantou – mais motivada pela ideia de não ter que comer a comida da amiga do que qualquer outra coisa.

— Minha vida não é desinteressante! – Foi a vez de Annabeth dar uma pequena risada.

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É muito fácil saber quando Luke está realmente arrependido de algo que fez Megan ficar realmente irritada: ele sempre a deixava ir onde quisesse, e ela sempre escolheria os mesmos lugares – um restaurante no centro da cidade que iam desde que eram crianças, uma loja qualquer de produtos de cabelo e, por fim, uma loja de discos.

Luke era o único que Megan conhecia que poderia ouvi-la falando sobre discos de vinil por horas e ainda opinar, ou argumentar, ou apenas concordar com o que ela dizia. E talvez esse fosse mais um dos fatos encantadores sobre o homem que ela guardava em algum lugar de sua mente.

Ela nunca crescera realmente aos olhos de Luke. Às vezes ele ainda a via como aquela pequena garota chorando porque sua mãe morreu, aquela que ele faria de tudo para que um sorriso – por menor que fosse – aparecesse em seu rosto triste. Por isso, adorava cada sorriso que Megan dava desde então, conhecia cada um deles. E, apesar de ela ter se tornado uma mulher incrivelmente sorridente e brincalhona, ele ainda faria qualquer coisa para os cantos de seus lábios se levantarem.

E talvez essa fosse a razão de leva-la à loja de discos sempre que ela ia visita-lo. Era como uma promessa silenciosa entre eles. E ela sempre saia de lá com um sorriso enorme, falando tudo o que sabia sobre cada um que comprara, e já imaginando onde os colocaria em sua estante.

— Não tem nenhum problema você estar aqui, comigo, um dia depois do seu aniversário, quando era para estar com sua namorada? – Perguntou-lhe, interrompendo seu falatório sobre discos dos anos sessenta e o olhando fixamente. Estavam no restaurante e tiveram de pedir uma cadeira a mais apenas para as compras.

— Não, não. – Ele abriu um sorriso. – Ela sabe que eu tento passar a maior parte do meu tempo com você quando volta para cá. E parece que Annabeth não está bem, ela foi até Percy, para conversar com ele.

— Ele é um idiota! – Apoiou a cabeça em uma das mãos e deixou um grande suspiro escapar. – Consegue ser pior do que você, Luke. Acho que eu tenho péssimo gosto para melhores amigos.

Luke deixou uma risadinha escapar, olhando para a mulher que tinha sua atenção focada no cardápio com um pequeno sorriso no rosto. Não percebia o quanto sentia sua falta até que ela estivesse ali do seu lado.

— Por quanto tempo você vai ficar dessa vez, Meg? – Ouviu-se perguntar. Geralmente guardaria essa pergunta para si, não queria que parecesse que ele não queria que ela fosse embora nunca mais – o que era verdade, ele nunca fora a favor dela viajando por aí.

— Eu não sei. – Tirou seus olhos do cardápio e piscou-os para Luke, pensando um pouco. – Não pretendia ficar muito tempo, só a semana do seu aniversário, então voltaria para a casa de Percy. Mas ele está aqui e seu pai também, eu não acho que deveria ir agora.

— Poderia ficar até o mês que vem! – Sua voz estava suplicante. Ela pensou por alguns instantes na sugestão, antes de abrir um pequeno sorriso.

— Só porque você é o aniversariante! – Concordou e o olhou por alguns instantes antes de votar sua atenção para o cardápio.

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Nico se surpreendera com a mensagem que Bianca deixara com os recepcionistas do hotel, avisando que tinha saído, e mais ainda com a ligação de Thalia. Tinha planejado passar o dia inteiro com sua irmã, já que não poderia ser considerado o melhor irmão do mundo nas semanas anteriores, mas, para sua surpresa, tudo fora arruinado.

Não que estivesse triste por sair com Thalia – ele gostava muito da mulher – ou por Bianca estar fazendo algo de sua vida – ultimamente ela apenas andava de um lado para o outro, sem nada para fazer e extremamente ansiosa.

Seu primo não tinha ligado, ou mandado mensagem, o que queria dizer que Annabeth não contara nada da conversa de mais cedo para ele – para o alívio de Nico, claro. Sabia que Percy ia pirar se soubesse, e sabia que ele e Megan estariam encrencados se isso acontecesse (o que o deixou com um pé atrás antes de contar para a loira, sabia que ela não gostava de nenhum dos dois, não seria esforço nenhum deixá-los para morrer nas mãos de um Percy furioso).

No rádio de seu carro tocava uma música gostosa, daquelas que dá vontade de dançar, enquanto ele esperava Thalia descer os quatro lances de escada até o térreo. Abriu um pequeno sorriso ao vê-la, o cabelo preso num rabo de cavalo, uma blusa simples branca e um short preto. E, quando ela sorriu de volta, o homem foi levado ao passado, quando ele sempre ia busca-la em casa, os destinos mais criativos que alguém poderia pensar.

E, pela segunda vez em uma semana, sentira saudade daquele tempo. Mas algo incrivelmente confortável e familiar invadiu seu peito enquanto a mulher entrava no carro e lhe cumprimentava.

Talvez nem tudo do passado estivesse completamente nele. Algo como seu amor por aquela mulher ainda estava ali, um pouco mais fraco e encoberto por uma camada de anos de tristeza, mas estava.

E Nico, um pouco apavorado, percebeu isso ao pisar no acelerador.